sexta-feira, 5 de março de 2021

M608 - O ATAQUE A ANGOLA – 15 DE MARÇO DE 1961. EVOCAÇÃO (I PARTE)

Ao aproximar-se o 60ª aniversário do miserável ataque a Angola em 1961, a I parte de uma evocação sobre a efeméride. Para que a memória não se apague e a mentira não perdure!



O ATAQUE A ANGOLA – 15 DE MARÇO DE 1961

EVOCAÇÃO (I PARTE)
5/3/21
INTRODUÇÃO
“A soberania reside em a Nação”,
“Tudo pela Nação, nada contra a Nação”.
(Frases que consubstanciam o espírito fundamental
da Constituição de 1933).
No próximo dia 15 de Março faz 60 anos que se deu início a uma acção em vasta
escala para expulsar politicamente Portugal de África. Nesse dia ocorreu um verdadeiro
genocídio no Norte de Angola que marca, de uma forma repugnante, o início do
terrorismo e de acções de guerrilha (há quem lhe chame movimentos emancipalistas), que
visava suprimir ao nosso país as suas parcelas territoriais fora do Continente Europeu e
retirar aos nativos desses territórios a sua condição de portugueses.
Tal acção tinha começado no Estado Português da Índia, logo após a independência da
União Indiana, da Grã – Bretanha, em 1947, a qual, a propósito de coisa nenhuma,
resolveu reivindicar esses territórios para si. Reivindicação que carecia de qualquer base
de legitimidade ou fundamento e que acabou com um brutal e infame ataque militar,
seguido de ocupação e anexação, por ordem do miserável governo de Nova Deli, dos
portuguesíssimos e centenários territórios de Goa, Damão e Diu.
Aqui fica uma evocação dos eventos ocorridos em Angola, na efeméride citada e uma
homenagem a todos os portugueses de então que, altaneira e corajosamente, fizeram
frente á barbárie internacional que se abateu sobre a Nação Portuguesa e levaram de
vencida tão escabrosos actos.
ENQUADRAMENTO GEOPOLÍTICO
O MUNDO APÓS A II GUERRA MUNDIAL
“Não deixeis que ninguém toque no território
nacional. Conservar intactos na posse da na-
cão os territórios de além-mar é o vosso
principal dever. Não ceder, vender ou trocar
ou por qualquer forma alienar a menor par-
cela de território, tem de ser sempre o vosso
mandamento fundamental. Se alguém passar
ao vosso lado e vos segredar palavras de desânimo, procurando convencer-vos de que não podemos manter tão grande império, expulsai-o do convívio da Nação”
Norton de Matos
(“Exortação aos novos de Portugal”, 1953)
No fim da guerra Portugal era um país mais coeso e próspero do que no início da
mesma e não perdera nada de seu. Apenas Timor tinha sido invadido e ocupado, primeiro
por holandeses e australianos e, depois, por japoneses. Virtuosismo diplomático e firme
determinação do governo português, de então, fê-lo retornar à nossa soberania plena, em
29 de Setembro de 1945, quando uma força militar portuguesa ali desembarcou, ida de
Moçambique.
Terminada a guerra era preciso reorganizar o mundo. Nesse sentido foi assinada,
em Julho de 1945, a “Carta” que criou a Organização das Nações Unidas, durante a
Conferência de S. Francisco.
No fim da guerra emergiram duas super potências: os EUA e a URSS.
Com a Europa em ruínas e os exércitos desmobilizados a Oeste, veio o mundo
ocidental a ser confrontado com a ameaça ideológica e imperialista da URSS e dos seus
satélites. De facto este país, que tinha feito uma aliança contra - natura, primeiro com a
Alemanha nazi e, depois, com as democracias ocidentais, manteve os seus exércitos,
recusando-se a sair de todos os territórios que tinha ocupado na sua ofensiva sobre
Berlim, ao mesmo tempo que manobrava para colocar regimes comunistas em todos os
países de Leste.
A guerra civil na Grécia, entretanto deflagrada, foi desfavorável ao PC grego e os
Aliados negociaram com os Soviéticos um acordo, ainda hoje algo obscuro, que levou a
que todos abandonassem a Áustria em troca da sua neutralidade futura.
Deste modo foi criada a NATO, em 1949, para fazer face à nova ameaça militar, e
deu-se início ao plano Marshall para ajudar a recompor a vida económica e social na
Europa, que estava fora do jugo soviético.
Do outro lado desenvolveu-se o Pacto de Varsóvia, em 1955 e o COMECON.
A situação política militar entrou num impasse, com os diferentes exércitos
alinhados frente a frente pois, entretanto, tinha surgido a arma atómica cujo efeito
destruidor era de tal forma poderoso que, há partida, garantia a destruição mútua dos
contentores. Entrou-se, deste modo, numa espécie de equilíbrio do terror.
Para obviar a este impasse desenvolveram-se diferentes estratégias indirectas de
fazer a guerra, a mais importante das quais foi a capacidade de influenciar países
terceiros.
Para tal tornava-se necessário obrigar à retirada política dos países europeus, ditos
colonialistas, de todos os territórios que tutelavam fora da Europa. Tal desiderato foi
facilitado por três grandes ordens de razões: primeiro porque as derrotas ocidentais no
Oriente tinham quebrado o mito da invencibilidade do homem branco; depois porque
quase todas as potências ocidentais fizeram promessas aos povos indígenas de autonomia
progressiva, se estes os ajudassem contra as potências do Eixo; finalmente e mais
importante, porque a saída dos europeus de África e da Ásia interessava, por razões
diferentes mas confluentes no propósito, à URSS e aos EUA e, mais tarde, à China.
Na América Central e Sul o conflito entre as duas super potências prolongou-se
através da política da canhoneira e protecção a ditaduras que defendiam os interesses
capitalistas dos EUA, e à criação de movimentos subversivos por parte da URSS. Cuba é,
ainda hoje, o expoente vivo deste confronto.
Estas posições vieram a confluir no movimento anti - colonialista e terceiro-
mundista que teve o seu ponto alto na conferência de Bandung, em 1955, onde
pontificaram três líderes mundiais da causa: Nasser, do Egipto; Tito, da Jugoslávia e
Sukarno, da Indonésia.
Começaram, assim, a surgir um pouco por todo o lado movimentos
emancipalistas, normalmente liderados por naturais dos diferentes territórios, formados
na respectiva Metrópole. A esmagadora maioria deles era de inspiração marxista com
pendor, estalinista, trotskista ou maoísta. A luta no terreno passou, também e
progressivamente, para a ONU.
Portugal, que não tinha em rigor, nada a ver com tudo isto, foi apanhado na
tormenta e sofreu-lhe as consequências.
Primeiro no sub - continente indiano, onde após a sua independência da
Inglaterra, a União Indiana - sem qualquer razão da sua parte - começou a reivindicar a
posse dos nossos territórios de Goa, Damão e Diu; depois, quando entrámos para a ONU,
em 1955, e nos foi perguntado se, ao abrigo do artigo 73 da Carta, tínhamos a declarar
algum território não autónomo sob a nossa administração.
A resposta negativa e pronta de Portugal desencadeou uma tempestade política e
diplomática dentro daquela organização, que pretende ser a fonte principal do Direito
Internacional, e que nunca mais parou até ao 25/4/1974.
(Continua)
João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav (Ref.)
NOTA. Para informações mais detalhadas e abrangentes sobre os assuntos ora
explanados, favor ler (passe a propaganda), os meus livros “Evolução do Conceito
Estratégico Ultramarino Português”, Da Conquista de Ceuta á Conferência de Berlim de
1884/5 (Ed. Atena), e (com o mesmo titulo) da Conferência de Berlim à Descolonização
(Ed. Hugin); “Em Nome da Pátria” (Ed. Oficina do Livro-Leya) e “Guerra d’África –
1961-1974 (Ed. Fronteira do Caos), em co - autoria com Humberto Nuno de Oliveira.

quinta-feira, 4 de março de 2021

M607 - O QUE ELES QUEREM DESTRUIR... ESTAMOS RODEADOS DE RATOS, COBARDES E TRAIDORES, REGRA GERAL LIGADOS A QUADRILHAS PARTIDÁRIAS PULHITICAS... 8 segredos sobre o Padrão dos Descobrimentos

O QUE ELES QUEREM DESTRUIR...
ESTAMOS RODEADOS DE RATOS, COBARDES E TRAIDORES, REGRA GERAL LIGADOS A QUADRILHAS PARTIDÁRIAS PULHITICAS... EU JÁ ABRI OS OLHOS.
8 segredos sobre o Padrão dos Descobrimentos
By Valter Leandro •
Há poucos monumentos em Lisboa que contam melhor a história de Portugal do que o Padrão dos Descobrimentos.
Vamos desvendar os seus segredos?
Quem passa pela zona de Belém, em Lisboa, vai com certeza dar de caras com um dos mais bonitos e ornamentados monumentos da cidade, o Padrão dos Descobrimentos.
E até podes saber o que significa este ícone para o país, mas será que conheces todos os seus segredos? Vem daí à descoberta!
1 – Foi “construído” duas vezes
A primeira vez, em 1940, foi erguido de forma efémera, através de uma leve estrutura de ferro e cimento, pelo arquiteto Cottinelli Telmo e pelo escultor Leopoldo de Almeida, integrado na Exposição do Mundo Português.
Só em 1960, por ocasião dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique foi reconstruído em betão e cantaria de pedra rosal de Leiria, sendo as esculturas em cantaria de calcário de Sintra.
Depois, só em 1985 é que vê todo o seu interior ser remodelado, dotando-o de um miradouro, de um auditório e de salas de exposição.
2 – Imponente obra de pedra que “rasga” o Tejo
O Padrão dos Descobrimentos evoca a expansão ultramarina portuguesa e o seu formato de caravela tem 56 metros de altura e 46 metros de comprimento.
A figura do timoneiro Infante D. Henrique apresenta uns majestosos 9 metros de altura, enquanto os seus companheiros de viagem, 7 metros cada um.
3 – Quem acompanha o Infante D. Henrique?
O elemento central deste monumento é o pai das Descobertas Portuguesas, o Infante D. Henrique, e está acompanhado por 32 figuras, todas elas associadas aos Descobrimentos, desde navegadores, cartógrafos, guerreiros, colonizadores, evangelizadores, cronistas e artistas.
Do lado oeste estão representados: o Infante D. Fernando, o Infante Santo, filho de D. João I, morto em Marrocos; a rainha D. Filipa de Lencastre, mulher de D. João I e mãe da Ínclita Geração dos Infantes e Princesas da Casa de Avis; Fernão Mendes Pinto, o escritor da Peregrinação; Frei Gonçalo de Carvalho, missionário dominicano; Frei Henrique de Coimbra, missionário franciscano; Gil Eanes, navegador e explorador da costa ocidental africana; Gomes Eanes de Zurara, cronista; o Infante D. Pedro, o Das Sete Partidas, filho de D. João I e Regente do Reino; Jácome de Maiorca, cosmógrafo; João Gonçalves Zarco, navegador e quem descobriu a Ilha da Madeira; Luís Vaz de Camões, o maior poeta nacional; Nuno Gonçalves, o pintor dos Painéis de São Vicente; Pedro Nunes, matemático;
Pêro da Covilhã, viajante e espião; Pêro de Alenquer, navegador; e Pêro de Escobar, navegador.
Já do lado este estão representados: Bartolomeu Dias, o primeiro navegador a passar o Cabo das Tormentas, mais tarde conhecido como Cabo da Boa Esperança; Cristóvão da Gama, capitão militar; Afonso de Albuquerque, conquistador do império oriental português; Afonso Gonçalves Baldaia, navegador; António de Abreu, navegador; o rei D. Afonso V, o Africano; Diogo Cão, navegador e explorador da costa africana; Estevão da Gama, capitão militar; Fernão de Magalhãe, o primeiro navegador a dobrar o Estreito de Magalhães; São Francisco Xavier, missionário da Índia; Gaspar Corte-Real, navegador e explorador do Canadá; João de Barros, escritor; Martim Afonso de Sousa, navegador; Nicolau Coelho, navegador; Pedro Álvares Cabral, navegador e quem descobriu o Brasil; e Vasco da Gama, navegador e primeiro enviado e conquistador português na Índia.
4 – A Rosa dos Ventos que não passa despercebida
No terreiro de acesso ao Padrão dos Descobrimentos vais encontrar uma gigante Rosa dos Ventos, construída em cantaria de calcário liós negro e vermelho.
Possui 50 metros de diâmetro, um planisfério de 14 metros de largura e é decorada com elementos vegetais, cinco pequenas rosas dos ventos, três bufões, uma sereia, um peixe fantástico e o Neptuno com o tridente e trombeta montado num ser aquático. Ao fundo podes ver as ondas já características da tradicional calçada portuguesa.
Esta rosa dos ventos foi também inaugurada em 1960, dia 5 de agosto, desenhada pelo arquiteto Luís Cristino da Silva e oferecida pela República da África do Sul.
5 – O mastro, as velas, os escudos e as esferas armilares
Cada uma das faces do mastro que rasga o céu possui dois escudos portugueses, com cinco quinas rodeadas por 12 castelos e quatro flores-de-lis.
Junto a estes, vais ainda ver três estruturas curvas em forma de triângulo que criam a ilusão de velas sopradas pelo vento.
E, de cada lado do monumento, vais ainda encontrar duas esferas armilares em metal, sobre duas plataformas paralelepipédicas.
6 – O
No topo do Padrão dos Descobrimentos tens um miradouro com vistas únicas para o rio Tejo, para a Praça do Império e, claro, para a Rosa dos Ventos situada à entrada do monumento, onde podes captar fotografias fantásticas.
7 – Os símbolos do monumento: a 1a bandeira, a bandeira e o padrão
O Padrão dos Descobrimentos está carregado de simbolismos relacionados com a época dos
Descobrimentos, mas existem três que são destacados:
A 1a Bandeira: segurada por Nicolau Coelho, pensa-se ser do tempo de D. Afonso Henriques.
A Bandeira: transportada por Martim Afonso de Sousa, foi a bandeira usada desde o reinado de D. João I ao de D. Afonso V.
O Padrão: já deves ter visto um destes padrões pelo país fora, e noutros países também.
Este marco destinava-se a assinalar a presença dos portugueses nos locais por onde passavam.
8 – O Padrão dos Descobrimento recebe visitas
Em virtude do confinamento obrigatório, as visitas ao Padrão dos Descobrimentos encontram-se suspensas. Em situações normais este será o horário deste monumento:
• 3a a 6a feira das 10h00 às 18h00 (última entrada 17h30)
• sábados e domingos das 10h00 às 13h00 (última entrada 12h30)
• março a outubro – todos os dias das 10h00 às 19h00 (última entrada 18h30)

• Dias de encerramento: 1 de janeiro, 1 de maio, 24, 25 e 31 de dezembro 





M606 - Tenente-Coronel Brandão Ferreira: visão sobre o Ultramar

PELA PARTE QUE ME TOCA, OBRIGADO SR. TCOR BRANDÃO FERREIRA, PELA SUA CORAGEM E PATRIOTISMO, EM DIZER AS VERDADES NA CARA DE UMA CAMBADA DE COBARDES E TRAIDORES.
A Verdade sobre o 25 de Abril…

sábado, 13 de fevereiro de 2021

M605 - Marcelino da Mata, o vírus foi mais forte que as balas /premium (por HELENA MATOS, 12 de Fevereiro de 2021)

 Marcelino da Mata, o vírus foi mais forte que as balas /premium

HELENA MATOS
FEBRUARY 12, 2021

“Eu não fico cá. Ou me mandam para uma zona operacional ou fujo daqui”. Corria o ano de 1964. Marcelino da Mata não aguenta mais a tranquilidade da vida no quartel-general, em Bissau. Na verdade não precisou de fugir do quartel-general de Bissau pois conseguiu ir para Farim, onde em escassos dias convenceu o Tenente-Coronel Agostinho Ferreira a dar-lhe autorização para constituir um grupo de operações especiais.
“Quando me apresentei ao comandante, o Ten-Coronel Agostinho Ferreira, afirmei-lhe querer formar um grupo de operações especiais. Ele não concordou… Então, para mostrar que podia fazer tal actuação, num determinado dia peguei em cinco homens e saí do quartel em direcção a uma base do PAIGC, situada a 3,5 kms de Farim, numa destilaria de aguardente. Atacámos à noite e trouxemos nove presos, carregando 65 armas apreendidas. Às 6 horas da manhã já estava a bater à porta do quarto do comandante, a chamá-lo. Ele não queria aparecer, mas insisti. Quando surgiu, perguntou o que é que eu queria dele. Disse-lhe: “É para mostrar armas”. Ripostou: “E quais são as armas que eu não conheço?”. Respondi: “Estas não conhece, pois são do PAIGC”. Espantado, perguntou-me como tinha sido a actuação. Respondi-lhe: “Olhe! Eu nunca digo como faço as minhas operações. Fui lá, matei alguns e trouxe estes”. Disse ele: “Então deixa os prisioneiros andar com armas?” Retorqui eu: “Não faz mal; então não são homens como nós?!…”
Nos dias seguintes, Marcelino da Mata continuou a levar a cabo o que designava como “suas operações”, operações essas que descreve a Amaro Bernardo quando este o entrevista para o livro “Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros. Guiné”. Até que o inevitável acontece. Uma manhã, o Tenente-Coronel Agostinho Ferreira chamou o 2.º comandante: “Diz lá àquele tipo que pode formar o grupo de operações especiais”. Marcelino da Mata lembra: “Foi a partir daí que formei o grupo Os Roncos”.
Pode parecer estranho, mas a carreira militar de Marcelino da Mata começou por acaso: a 3 de Janeiro de 1960, quem devia ter entrado no CIM-Bolama era um seu irmão. Mas Marcelino foi ao centro de recrutamento informar-se sobre a situação do irmão e já não saiu. Tinha então 19 anos. Inicialmente, a sua principal mais-valia não é a forma como combate mas sim o domínio dos vários dialectos falados na Guiné.
Em 1963 vai para Angola fazer um curso de comandos. Já em 1964, regressa à Guiné a tempo de participar na “Operação Tridente”, que visava expulsar a guerrilha das ilhas da região do Como. Foram dois meses e meio entre pântanos, mato e lodo. Do Como, as tropas portuguesas trouxeram uma vitória — e Marcelino da Mata as suas primeiras cruzes de guerra.
A Torre e Espada vai ganhá-la anos mais tarde por ter resgatado uma companhia que fora aprisionada na zona da fronteira com o Senegal. Marcelino da Mata chefia um grupo de 19 homens que consegue não só enfrentar os guardas do PAIGC mais os soldados senegaleses como ainda levar os soldados portugueses pelos mais de 40 quilómetros que os separavam da Guiné. Diz quem lá esteve que o grupo de Marcelino da Mata não só fez tudo isto como, uma vez colocados os soldados a salvo, ainda voltaram atrás para repelir o PAIGC. Não será a única vez que o seu arrojo o leva a operações fora do território da Guiné.


Na noite de 21 para 22 de Novembro de 1970, Marcelino da Mata é um dos militares portugueses que entram secretamente em Conakry para levar a cabo uma das mais audaciosas e arriscadas operações concebidas pelas forças armadas portuguesas, a “Mar Verde”. O grupo de Marcelino da Mata tem 40 homens e é chefiado pelo alferes Abílio Ferreira. O objectivo deste grupo, designado Oscar na operação Mar Verde, é o quartel da Guarda Republicana, transformado em prisão.
“Seguimos para a porta de armas do quartel e ali demos com três civis que estavam a avisar as sentinelas de que tinham visto um grupo armado em direcção ao quartel. A sentinela fugiu e fechou o portão. Atirei-me de cabeça contra a janela da casa da guarda e matei o sargento com o meu sabre. Dei a volta e abri o portão, mas o alferes foi morto à entrada, com uma rajada na cabeça disparada por uma das sentinelas.” Foi desta forma que Marcelino da Mata recordou o episódio na entrevista que deu a António Luís Marinho e que este incluiu no seu livro “Operação Mar Verde”. Morto o alferes Ferreira, Marcelino da Mata assumiu a liderança do grupo.
O grupo Oscar cumpriu o que se esperava dele. No fim, Marcelino e os seus homens carregaram com o corpo do alferes para o levarem para as embarcações que os reconduziriam à Guiné (a operação “Mar Verde” era uma operação secreta levada a cabo num país estrangeiro, logo era muito reduzido o tempo que os militares portugueses podiam permanecer em Conakry). No caminho para o porto, o carro avariou. Sob o comando de Marcelino da Mata, os homens do grupo Oscar voltam ao quartel, combateram de novo, venceram de novo e arranjaram a viatura que lhes permitiu chegar in extremis ao porto onde as embarcações portuguesas já se preparavam para partir.
Em 1973, Marcelino da Mata constitui Os Vingadores, um grupo de tropas especiais constituído por 18 negros.


Operam com grande autonomia. Fazem operações de grande risco: quatro ou cinco homens entram no Senegal e colocam minas em locais estratégicos, fazem apoio às tropas regulares e marcam presença em operações históricas como a “Ametista Real”. Esta operação com nome de joia teve lugar a 19 de Maio de 1973, o objectivo era a base do PAIGC em Kumbamory, no Senegal. Marcelino da Mata está com seis homens do seu grupo. Combatem, mas sobretudo conseguem fazer ir pelos ares um importante paiol. No fim, Marcelino e o seu grupo carregam às costas com um dos seus que ficou ferido e acabam quase a ser vítimas do fogo amigo – eles eram todos negros e não vestiam fardamento regular pelo que eram frequentemente confundidos com guerrilheiros do PAIGC.


O piloto Miguel Pessoa ao ser resgatado pelo grupo chefiado por Marcelino da Mata, que na foto empunha uma catana. Imagem de marca de Marcelino era também o cantil com Fanta ou Coca Cola. *Foto do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
“Sou o Marcelino”– terá gritado para dentro do quartel. Dois meses antes foi também com um “Sou o Marcelino” que se apresentou ao piloto Miguel Pessoa que se ejectara do seu avião atingido por um míssil e que ele e o seu grupo acabavam de resgatar no chamado corredor da morte.
Nos palcos de guerra, Marcelino da Mata não precisava de indicar patente, companhia ou aquartelamento. Bastava-lhe dizer “Sou o Marcelino”.
Quando chega 1974, a sua folha de serviço é impressionante: participou em 2414 operações militares que lhe valeram meia centena de louvores por actos de bravura em combate. Recebeu a Torre e Espada, três Cruzes de Guerra de 1.ª classe, uma de 2.ª e outra de 3.ª. Mas para Marcelino da Mata vai começar um combate bem mais traiçoeiro e doloroso do que qualquer um dos que travou na Guiné.
Salvo pelo estilhaço de granada
Apesar de ter participado em mais de duas mil operações militares, algumas delas muito violentas, Marcelino da Mata nunca foi gravemente ferido. A única vez que precisou de tratamento hospitalar de maior cuidado aconteceu por causa de uma granada, inadvertidamente rebentada por um homem do seu grupo, para mais dentro do quartel. No Hospital de Bissau detectam-lhe um estilhaço alojado junto à rótula. É enviado para Lisboa. Só que entretanto acontecera o 25 de Abril. Há quem veja na transferência de Marcelino da Mata para Lisboa um estratagema do MFA para o manter longe da Guiné e, desse modo, ser facilitada a transferência do poder para o PAIGC. Afinal, uma das grandes preocupações do PAIGC era terem de enfrentar a resistência das três companhias de comandos negros que faziam parte das Forças Armadas portuguesas, mais a mais se estes comandos tivessem a chefiá-los um militar com as características de Marcelino da Mata. Ou, pelo contrário, terá sido a transferência de Marcelino da Mata para Lisboa a forma possível de o salvar do pelotão de fuzilamento que na Guiné “libertada” se estava a tornar o destino dos comandos negros?
Tivesse o ferimento justificado ou não a sua transferência para Lisboa, Marcelino da Mata rapidamente percebe que já não pode voltar à Guiné, pois está proibido de aí entrar pelas novas autoridades. Pior, caso regressasse tinha sérias razões para temer pela sua vida. A Marcelino da Mata chegam informações que confirmam os piores temores sobre o futuro da Guiné: ainda antes da independência daquele território, Marcelino da Mata sabe do fuzilamento de 1.º sargento Zeca Lopes, um dos membros dos Vingadores.
Depois é a vez do tenente Tomás Camará, que ao regressar à Guiné foi preso no aeroporto, levado para Cumeré e fuzilado.
Pouco depois da meia-noite, Marcelino da Mata começa a ser torturado. A tortura arrasta-se durante mais de sete horas, ao longo das quais os interrogadores-torturadores vão mudando. Por vezes chamam-se entre si, o que permite a Marcelino da Mata dar nomes aos civis e militares que o interrogam.
Em Agosto de 1974, o destino trágico de vários destes homens começa a confirmar-se mas não chega a ser notícia. É um facto não nomeável até que se torna um facto consumado. Tão consumado que Otelo Saraiva de Carvalho, para explicar as dificuldades causadas à revolução portuguesa pelo facto de não se terem levado para o Campo Pequeno logo a 25 de Abril de 1974 “algumas centenas ou uns milhares de contra-revolucionários”, não hesita em dar o exemplo do PAIGC que, após a Guiné se ter tornado um país independente, “fuzilou imediatamente e enterrou dezenas, mas dezenas de elementos contra-revolucionários”. “Matararam-nos e enterraram-nos! E não houve uma única linha nos jornais a tratar deste problema!”.
Otelo tinha razão no que respeita aos jornais: as pesadas multas aplicadas pela Comissão Ad-Hoc para o Controlo da Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e Cinema a todas as notícias que dessem uma imagem menos positiva da “libertação das colónias” cortavam pela raiz qualquer veleidade nesta matéria. Note-se, contudo, que a maior parte dos jornalistas partilhava da versão oficial sobre o sucesso daquilo a que chamavam descolonização e nem sequer os preocupava a decisão das autoridades militares da Guiné de suspenderem as reportagens de Roby Amorim unicamente porque estas relatavam a decisão de vários oficiais das Forças Armadas Portuguesas de entregar aquartelamentos ao PAIGC sem aguardar pelas negociações.
Mas se é certo que transferência para Lisboa salvou a vida a Marcelino da Mata também é verdade que esta frase só é absolutamente válida até 17 de Maio de 1975.
Encurralado
A 17 de Maio de 1975, Marcelino da Mata, ouve o seu nome nas notícias que escuta na rádio, em Queluz, onde residia: diziam-no preso. Ao ouvir isto, Marcelino da Mata comete um erro que quase lhe iria a custar vida: resolve apresentar-se naquela que é agora a sua unidade, o Regimento de Comandos n.º 1. Mas logo é levado para o Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa (RALIS).
Marcelino da Mata chega ao quartel símbolo do PREC durante a tarde do dia 17 de Maio. Começam por lhe dar um papel para que escrevesse tudo o que sabia sobre o Exército de Libertação de Portugal (ELP), uma organização terrorista criada em Espanha pelos afectos ao general Spínola. Entretanto cai a noite desse dia 17 de Maio. Pouco depois da meia-noite, Marcelino da Mata começa a ser torturado.
A tortura arrasta-se durante mais de sete horas, ao longo das quais os interrogadores-torturadores vão mudando. Por vezes chamam-se entre si, o que permite a Marcelino da Mata dar nomes aos civis e militares que o interrogam: um furriel chamado Duarte, o capitão Quinhones e dois militantes do MRPP, um tratado por Ribeiro e outro por Jorge. É aliás a este último que Marcelino da Mata diz que o capitão Quinhones ordenou “que pegasse num fio eléctrico e me torturasse, tendo-me este dado choques nos ouvidos, sexo e no nariz”. A estes nomes há ainda que juntar o de Leal de Almeida. Marcelino da Mata conhecia Leal de Almeida da Guiné. Ora, em 1975, o tenente-coronel Leal de Almeida estava em Lisboa, mais precisamente no RALIS. O que fazia nesse quartel o antigo instrutor de comandos na Guiné? Era comandante.


Marcelino da Mata à direita. À esquerda, acompanhando Sartre, está Quinhones um dos homens que Marcelino da Mata identificou como sendo um dos seus torturadores.
Marcelino da Mata à direita exibindo as suas muitas condecorações. À esquerda, acompanhando Sartre, está o capitão Quinhones um dos homens que Marcelino da Mata identificou como sendo um dos seus torturadores
Marcelino da Mata repetiu não só que Leal de Almeida esteve presente enquanto ele foi torturado, como que o então comandante do RALIS desempenhou um papel activo nessas sessões de tortura. No depoimento que Alpoim Galvão transcreve em “De Conakry ao MDLP”, Marcelino da Mata afirma que nessa madrugada de 18 de Maio de 1975 Leal de Almeida “disse que os pretos só falavam quando levavam porrada e eram torturados, e que não tinha outra solução senão ordenar que me fizessem iss.”. (Leal de Almeida, tal como Quinhones, negam ter participado na tortura a Marcelino da Mata, e aos outros detidos no âmbito desta operação.)
O que acontece com Marcelino da Mata entre 17 e 19 de Maio de 1975 é um dos episódios mais perturbantes do PREC. Não apenas porque se recorre à tortura – o que está longe de ser caso raro nesse período – mas também, e sobretudo, por aquilo que o seu caso (e o dos outros elementos detidos no âmbito desta operação desencadeada pelo MRPP) revela sobre o que acontecia dentro dos quartéis. E como as Forças Armadas tinham entrado num processo quase suicida. Não por acaso, muitas das perguntas feitas a Marcelino da Mata incidiam precisamente sobre as ligações que o comandante do Regimento de Comandos n.º 1, Jaime Neves, teria ao ELP. Sabe-se que o nome de Salgueiro Maia foi também apontado por alguns dos interrogados como fazendo parte da rede conspirativa reaccionária.
Na noite de 19 de Maio de 1975, Marcelino da Mata foi levado para a prisão de Caxias, onde foi mantido em regime de incomunicabilidade durante meses. Em Outubro é posto em liberdade. Vai para Espanha. Trabalha numa oficina. Viaja clandestinamente à Guiné. Regressa finalmente a Portugal depois do 25 de Novembro. Correm histórias sobre a vingança que prometeu levar a cabo entre aqueles que o torturaram e também sobre a sua enredada vida familiar. É graduado em tenente-coronel. Às vezes, nas entrevistas que vai dando, acerta contas com alguns militares de Abril. Como? Lembra-lhes como se comportaram em África. Marcelino da Mata nem sempre é exacto nos números — na “Mar Verde” matou 94 homens, como diziam as chefias, ou quase o dobro, como ele argumentava? No paiol de Kumbamory destruiu 130 toneladas de armamento, como relatou, ou “apenas” 90, como defendia Almeida Bruno, o militar que chefiou esta operação? Mas nunca lhe apontaram uma falha nos relatos que faz sobre as operações em que participou. Muito menos lhe respondem quando ele recordava histórias de cobardia e incompetência que muitos queriam esquecer.
Agora que a Covid o levou, esta quinta-feira, dia 11, esperemos que nesse algures onde chegou lhe tenham reservado um lugar à medida do seu temperamento. Convém não esquecer que há sempre a possibilidade de o ouvir dizer de novo: “Eu não fico cá. Ou me mandam para uma zona operacional ou fujo daqui”.