segunda-feira, 26 de setembro de 2011

M373 - RANGER Eduardo Lopes do 1º Curso de 1969 – Homenagem ao Furriel Miliciano Patuleia


 
RANGER Eduardo Lopes 

1º Curso de 1969


O RANGER Lopes (Alferes Miliciano da CCAÇ 2600 do BCAÇ 2887 = Companhia de Caçadores Nº 2600 do Batalhão de Caçadores 2887), continua a desfilar as suas memórias dos factos, da sua experiência e vivência em África, dando seguimento a oito mensagens publicadas neste blogue, com as referências: M359, M360, M361, M362, M367, M368, M369 e M370.
  
Desta vez presta aqui a sua melhor e mais sentida homenagem a um dos seus valorosos furriéis, que ficou gravemente ferido numa missão de armadilhagem.

Homenagem ao Furriel Miliciano Patuleia

Camaradas, sinto necessidade premente de relatar a minha vivência na Guerra do Ultramar, para a partilhar com todos os Rangers e demais visitantes deste nosso blogue.

Desde que me reformei há dez anos (era quadro bancário), que não passa um dia em que as recordações do Ultramar não me assaltem.

Uma das memórias que mais me atormentam, foi o que sucedeu ao Fur Mil Patuleia Mendes (até há pouco tempo Presidente da A.D.F.A. - Associação dos Deficientes das Forças Armadas) e que pertenceu ao meu Pelotão, meu Camarada, Amigo e Militar exemplar.

Na altura andávamos a dar protecção a uma equipa de topógrafos da J.A.E.A. (Junta Autónoma das Estradas de Angola), que fazia o levantamento topográfico do terreno, para a construção da estrada CAXITO - NAMBUANGONGO.

Os pontos mais determinantes do seu trabalho eram assinalados com telas de um metro de largura por cinco de comprimento, dispostos em cruz, que posteriormente eram sobrevoados.

Chegados às "portas da guerra" (nome dado a um ponto que se demarcava na estrada por dois enormes embondeiros, um de cada lado da picada, a cerca de cinco quilómetros de Balacende na picada Balacende – Fazenda Beira Baixa) as referidas telas eram colocadas quando o trabalho terminava e eram roubadas durante a noite pelo IN, mais precisamente pelos elementos da facção da F.N.L.A. (Frente Nacional de Libertação de Angola).

Perante esta situação sugeri ao nosso Capitão Batista que fossem montadas emboscadas, ou que as telas fossem armadilhadas.

Como se aproximava uma grande operação (um assalto à base “Checoslováquia” do M.P.L.A. onde era suposto encontrar-se o "Monstro Imortal" – o Comandante da 1ª Região Militar do M.P.L.A. – Movimento para a Libertação de Angola), a nível de Batalhão, em que o meu pelotão ia participar, o capitão decidiu-se pela opção de armadilhar as telas.

Para esta missão encarregou então o  Cláudio Manuel Libânio Duarte, Furriel Miliciano de Operações Especiais, também da CCAÇ 2600, que seria acompanhado na protecção e segurança desta acção por uma Secção do meu Pelotão.

O Furriel Patuleia ofereceu-se logo como voluntário e eu, como se tratava de uma secção do meu pelotão e por solidariedade para com o Patuleia, disse que também ia.

No dia seguinte, 23MAI1970, o Patuleia foi-me acordar às 05h30 (pois a JAEA saía às 06h00) e eu, ainda ensonado e como também naquele dia partíamos para a tal “Operação Checoslováquia” às 12h00, disse que não ia e aconselhei-o a não ir também.

Desta minha decisão ainda hoje me recrimino.

Na foto estão, em primeiro 
plano, o Patuleia e eu.

O Patuleia com o seu espírito voluntarioso não seguiu o meu conselho e foi.

Pelas 09h00, ouviu-se em Balacende uma enorme explosão.

Segundo me contaram depois, estavam todos os nossos homens ao lado uns dos outros e o  Cláudio Libânio,  ao descavilhar uma granada ofensiva para armadilhar as telas, afrouxou inopinadamente a pressão manual sobre a sua alavanca.

O Patuleia ouviu o estalido do percussor e gritou-lhe para ele arremessar a granada, mas o gesto instintivo do Libânio foi apertar a alavanca e a granada, e encostar as mãos ao peito.

Este acto heróico do Fur Libânio, que faleceu de imediato, permitiu atenuar os mortíferos e desbastadores efeitos da granada, mas, mesmo assim, o Furriel Patuleia ficou com o corpo (principalmente a cara) cheia de estilhaços da granada, bem como um Soldado, de nome Arlindo.

Quando os feridos, transportados nos Land Rovers da JAEA, chegaram ao quartel instalou-se ali um pandemónio.

Eu fiquei junto do Patuleia na enfermaria, por alguns momentos, mas não suportei mais ouvi-lo pedir ao Fur Mil Enfermeiro Fernandes que o matasse.

Fui para a messe, onde continuei a ouvir os gritos de dor do meu Amigo, que, por volta do meio-dia, foi evacuado, bem como o Soldado Arlindo, por helicóptero.

Quando estive de férias na Metrópole fui visitá-lo ao Hospital da Estrela e vi que ele tinha, como ainda hoje tem, a face cheia de estilhaços e tinha cegado.

Após dezenas de cirurgias - algumas realizadas em Barcelona -, teve períodos em que recuperou alguma visão, mas, da última vez que o vi, estava de novo totalmente cego.

Apesar de tudo, pelo menos até à última vez em que conversamos os dois, sempre manteve o seu espírito brincalhão e a sua boa disposição e Deus o permita continue manter essa sua excelente qualidade.

Este é o episódio que recordo com mais amargura e desgosto da minha estadia em Angola, na Guerra do Ultramar.

Cumprimentos e um Abraço para todos,
Eduardo José dos Reis Lopes
Alf Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 2600 do BCAÇ 2887

Fotografias: © Eduardo Lopes (2011). Direitos reservados.

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

M372 – AOE (Associação de Operações Especiais) – espaço de TODOS os RANGERS - 11º Jantar/Encontro/Convívio - 3 de Setembro de 2011 (CONTINUAÇÃO)

NO 1º SÁBADO DE SETEMBRO – DIA 3

11º Jantar Encontro/Convívio

 (CONTINUAÇÃO)

Associação de Operações Especiais (AOE) - Espaço de TODOS os RANGERS

UMA ASSOCIAÇÃO ONDE TODOS TRABALHAM, SE DIVERTEM E CONFRATERNIZAM



 RANGERS Abílio Rodrigues e António Barbosa
 O vencedor do sorteio, RANGER Avelino Pereira, alegando que ganha tudo por sorte e a malta acredita é claro! Palavra!

 Um dos prémios era uma T'shirt RANGER, mas havia mais coisas no pacote

RANGERS Pais Monteiro e Cândido Teixeira
 RANGER Cândido Teixeira e esposa Fátima, já se tornaram clientes habituais deste nosso Espaço



Foi a vez do RANGER Manuel Pinho se apresentar à plateia, divagando, por vezes acusto, sobre as peripécias do seu curso e a sua atribulada e penosa comissão militar no Bachile, na Guiné


Na atenta e interessada plateia, em primeiro plano, o RANGER Rui Souto e á direita o Sérgio

O RANGER Avelino Pereira e o RANGER José Guimarães
Fotografias: © Manuel Lopes (2011). Direitos reservados.



ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS E UM JÁ PASSOU... VIVAM A VIDA… CONVIVAM… RIAM… DIVIRTAM-SE… E JUNTEM-SE A NÓS... NO ESPAÇO DE TODOS OS RANGERS



Até ao próximo dia 1 de Outubro de 2011 (sábado) no 12º Jantar/ENCONTRO/Convívio... se Deus quiser!



APAREÇAM!

Reservas para: RANGER Lopes - 220 931 820 / 964 168 857 ou RANGER Ribeiro - 228 314 589 ou 965 059 516

M371 – AOE (Associação de Operações Especiais) – espaço de TODOS os RANGERS - 11º Jantar/Encontro/Convívio - 3 de Setembro de 2011

 NO 1º SÁBADO DE SETEMBRO – DIA 3

11º Jantar Encontro/Convívio

Associação de Operações Especiais (AOE) - Espaço de TODOS os RANGERS

UMA ASSOCIAÇÃO ONDE TODOS TRABALHAM, SE DIVERTEM E CONFRATERNIZAM


 Uma boa sardinhada assada
 RANGER Rocha em primeiro plano assa a bela e fresca sardinha
 RANGERS Rocha e Carvalheira fizeram a faxina ao fogareiro
 A sala de jantar estava bem composta como habitualmente, reinando entre todos os presentes, a boa disposição e um ambiente salutar, ruidoso e de camaradagem que tanto nos caracteriza
Nesta ponta o RANGER Carvalheira & filhos (Sérgio & Teresa)
 A Luisa, esposa do RANGER Barbosa, mede a qualidade da salada e a Maria está pensativa 
 À direita o RANGER Jess Pais e à esquerda o Serafim Teixeira
 À direita o RANGER Barbosa, de costas o RANGER Rocha e, à direita, o RANGER Abílio Rodrigues
  À esquerda a Cecília e ao direita o RANGER Albano Pereira
Serafim Teixeira (um convidado), e o João (filho do RANGER Lopes)

Neste evento marcaram presença:

  • RANGER Cândido Teixeira 1º/73 & Fátima,
  • RANGER Manuel Lopes 1º/86, Paula, João & Maria

  • RANGER Albano Pereira 1º/81

  • RANGER Avelino Horácio Pereira 3º/73

  • RANGER António Rocha 1º/81

  • RANGER Manuel Pinho 3º/71

  • RANGER António Barbosa 4º/72 e Luísa
  • RANGER Vicente
  • RANGER Rui Souto, 1º/70
  • RANGER José Guimarães, 1º/68
  • RANGER Pais Monteiro 2º/71, Lurdes e Neta 

  • RANGER Leonel Rocha 1º/74 & Ana
  • RANGER Magalhães Ribeiro 4º/73, Fernanda, Serafim Teixeira e Judite

Fotografias: © Manuel Lopes (2011). Direitos reservados.

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS E UM JÁ PASSOU... VIVAM A VIDA… CONVIVAM… RIAM… DIVIRTAM-SE… E JUNTEM-SE A NÓS... NO ESPAÇO DE TODOS OS RANGERS

Até ao próximo dia 1 de Outubro de 2011 (sábado) no 12º Jantar/ENCONTRO/Convívio... se Deus quiser!

APAREÇAM!


Reservas para: RANGER Lopes - 220 931 820 / 964 168 857 ou RANGER Ribeiro - 228 314 589 ou 965 059 516

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

M370 - RANGER Eduardo Lopes do 1º Curso de 1969 – A 1ª Operação no Quifusse



RANGER Eduardo Lopes
1º Curso de 1969

Continuando as memórias do RANGER Lopes, já iniciadas em sete mensagens anteriores com as referências: M359, M360, M361, M362, M367, M368 e M369, descreve-nos ele, aqui, a tão temida primeira operação, devido à terrível angústia e adrenalina que as mesmas criavam ao pessoal operacional. A incerteza dos resultados, o receio de perder homens (feridos ou mortos), a tensão provocada pela espera da hora marcada, os calafrios causados pela hipótese de se ter esquecido ou se ignorar alguma coisa fundamental ao bom sucesso dos resultados finais da missão, etc.

III – Parte
A Primeira operação

Estávamos à três semanas em Balacende quando realizamos a 1ª operação e o consequente baptismo de fogo. A Operação tinha por objectivo a recuperação de populações e foi executada por 2 pelotões - o meu (3º pelotão) e o 4º pelotão do Alferes Miliciano Alves -, comandados pelo Capitão Baptista.

A duração prevista era de 3 dias - um dia e meio para chegar ao objectivo, umas horas para reconhecer a zona, destruir as cubatas e lavras e outro dia e meio para o regresso (ainda os helicópteros eram uma miragem).

O objectivo localizava-se no Quifusse, que juntamente com o Canacassala ainda eram dois santuários da FNLA. Estas duas zonas ficavam bem no coração dos Dembos, região do Norte de Angola, muito fértil em rios e linhas de água, numerosas montanhas que tornavam o terreno muito acidentado e cortado por vales profundos cobertos por densa vegetação, muitas vezes quase impenetrável. É óbvio que, nestas condições, a progressão das Nossas Tropas (NT) para atingirem esses santuários inimigos (IN) se tornava num autêntico calvário de cansaço e sacrifício humano.

A transposição destes demorados, cansativos e penosos obstáculos foi ultrapassada com o aparecimento das operações heli-transportadas. Primeiro com os Alouettes III (cada um transportava uma equipa composta por 5 homens). Cada "leva" de homens para o objectivo era composta por uma esquadrilha de 5 Alouettes, que nas suas deslocações eram protegidos por um heli-canhão (Alouette com um canhão de 20 mm virado para bombordo) cujo nome de código, em transmissões, era "Lobo Mau", ou com a protecção de uma avioneta Dornier - DO 27 – equipada com rocketes montados sob as asas.

Mais tarde, a partir de Março de 1971, entraram em acção os helicópteros SA330 Puma, que transportavam 20 homens devidamente equipados. Estas aeronaves tinham a vantagem de transportar mais pessoal, mas apresentava um inconveniente: a dificuldade em aterrar em locais de mata mais fechada.

Assim, normalmente aterrava nas "lavras". A minha companhia foi das primeiras a utilizar este helicóptero e, da primeira vez que nele fomos transportados, ainda seguiram connosco 2 técnicos franceses da fábrica Puma.

Bem mas voltemos à operação para o Quifusse. Eram 21h00 e as luzes do arame apagaram-se - para a saída não ser detectada -, e nós saímos do quartel em bicha do pirilau atravessando a picada e a pista e tomando o rumo do Quifusse.

A intenção era passar os morros que marcavam a entrada na zona do Quifusse já noite adiantada, pois tínhamos a informação de que aí existiam vigias, que se nos detectassem disparavam um tiro de alarme, para avisar as populações e estas se refugiarem num local pré determinado.

Assim, quando pelas 04h00 do dia seguinte, avistamos os referidos morros, saímos do trilho e, em silêncio absoluto, colámo-nos à orla da mata que bordejava o morro da direita, entrando no Quifusse. Sempre à espera de ouvir o tiro que deitaria abaixo as expectativas de êxito da operação.

À medida que avançávamos mais nos convencíamos que tínhamos entrado no Quifusse sem ser detectados, e assim foi.

Ao fim da manhã do segundo dia de operação, caminhávamos em fila indiana, com o meu pelotão na frente, num trilho bem batido, cheio de pegadas que nos pareciam recentes, quando ao começar a descer o pequeno morro por onde seguíamos o homem da frente mandou parar e agachar, passando palavra para eu - que seguia na 4ª ou 5ª posição - chegasse à frente.

Ao chegar junto do soldado mais avançado, este limitou-se a apontar em frente e ao seguir com os olhos aquela direcção fiquei de boca aberta, pois no morro em frente desciam por um trilho dezenas de miúdos com cerca de 14/16 anos despreocupadamente, com grande á vontade, encontrando-se já alguns no vale que separava os dois morros a beber água de um ribeiro.

Passada a surpresa voltei atrás e junto do Capitão Batista e o Alferes Alves, e sugeri que me deslocasse com uma equipa para o ribeiro, na tentativa de apanhar alguns dos rapazes "á mão", enquanto o resto do pessoal descia o morro e emboscava no trilho, que no vale seguia paralelo ao pequeno ribeiro.

Perante a concordância do capitão segui com a equipa do 1º Cabo Moutinho, com todas as precauções, agachados - como tinha aprendido na instrução em Penude, no C.I.O.E. -, em fila um a um.

Chegados perto dos miúdos, que de joelhos bebiam água no ribeiro, passamos para fila em linha e assim caminhamos mais alguns metros, até que ficamos em frente dos putos, apenas separados pela linha de água.

Para nosso espanto eles continuavam tranquilamente a beber água, sem darem pela nossa presença, até que na minha ingenuidade de "maçarico" gritei: "Entreguem-se que não vos fazemos mal!".

Os miúdos que bebiam água e os que estavam atrás, levantaram a cabeça e ficaram petrificados a olhar para nós. Passaram-se 2 segundos, que me pareceram uma eternidade, e perante este cenário, que parecia a imagem parada de um filme, senti a necessidade de fazer alguma coisa e assim comecei a dizer: "Vou contar... ", mas nem tive tempo de acabar a frase, os rapazes como gazelas, aos saltos enormes, desapareceram todos no meio do capim.

Ali, nada mais havia a fazer, pelo que voltei para o ponto de reunião. Dirigíamo-nos para o referido ponto, quando rebentou um intenso tiroteio, com balas a assobiar por cima da equipa, que de imediato se colou ao chão, rastejando na direcção de onde tínhamos partido.

Assim como começou, terminou o tiroteio.

Chegados ao ponto de encontro, já lá estava o capitão e o resto do pessoal, que traziam dois miúdos com cerca de 12 anos pela mão.

O capitão informou-me que quando se deslocavam no trilho, junto ao ribeiro, foram alvo de tiros a que tinham respondido com intenso fogo de G3, e que os miúdos, apesar do nosso fogo, tinham avançado para eles apenas com facas (tipo facas de mato) e que as NT tinham feito alguns mortos.

Viemos depois a saber que os miúdos eram acompanhados pelo Comandante da Zona, que estava armado com uma pistola, pelo Comissário Político, também armado com uma pistola, pelo professor e pastor desarmado, e por dois guerrilheiros com uma arma de repetição e uma PPSH e que tinham sido eles a abrir fogo sobre as NT.

O resultado desta acção foi dois miúdos "aprisionados" e 12 miúdos mortos. Chegados ao quartel, o Adão e o Lopes - assim se chamavam os miúdos -, ao verem os Unimog’s em movimento libertaram-se das mãos dos soldados, que os conduziam, e atiraram-se para o capim (nunca tinham visto uma viatura motorizada).

O Adão e o Lopes ficaram connosco durante um ano, dormiam e comiam na messe dos Sargentos e todos os graduados contribuíam para lhes comprar roupa, calçado, refrigerantes e outra guloseimas com que os apaparicávamos.

Como já sabiam ler e escrever preparamo-los para fazerem a 4ª classe. Talvez não estivéssemos de consciência tranquila, o certo é que enquanto estiveram connosco nada lhes faltou.

Ao fim de um ano e por ordem do Comando do Batalhão, o Adão e o Lopes foram entregues a uma Instituição Católica do Caxito.
Sempre que nos deslocávamos ao Caxito íamos visitá-los, levando-lhes sempre algumas prendas e dinheiro.

Quando rodamos para a Fazenda Tentativa continuamos a interessar-nos pelo seu futuro e quando regressamos à Metrópole, estavam eles para ir para o Seminário de Luanda para continuar os seus estudos.


O Adão e o Lopes, tínhamos acabado de chegar da operação. Eles tinha levado uns pensos na enfermaria a umas feridas nas pernas e ainda estavam assustados.
 Eu e o Adão 

O Lopes, Eu, o Adão e o nosso inseparável pastor alemão

ALGUNS INSTANTÂNEOS DA OPERAÇÃO HELITRANSPORTADA 



  A chegada do primeiro Puma 

A esquadrilha de helis na pista e o pessoal tomando contacto com aquelas impresssionantes máquinas 


As equipas seleccionando o seu helicóptero 
A verificação final se tudo está a bordo e o último adeus antes da partida
Partindo um a um rumo ao objectivo
A esquadrilha em pleno voo

A aproximação ao solo e a preparação para a saída o mais rápida possível, não fosse haver inimigos nas redondezas

A chegada ao terreno e a saída em corrida rumo a uma máscara. Nunca se sabe o que nos espera numa aterragem 

Fotografias: © Eduardo Lopes (2011). Direitos reservados.

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.

domingo, 18 de setembro de 2011

M369 - RANGER Eduardo Lopes do 1º Curso de 1969 – Chegada a Balacende e adaptação ao terreno




RANGER Eduardo Lopes
1º Curso de 1969

Continuando as memórias do RANGER Lopes, já iniciadas nas mensagens: M359, M360, M361, M362, M367 e M368, descreve-nos ele, aqui, a chegada da sua companhia a Balacende, as primeiras impressões, o contacto com as instalações do quartel, a vivência com os “velhinhos” (os militares que lá se encontravam), as primeiras reacções dos seu homens e a sempre problemática e difícil adaptação ao desconhecido terreno africano (picadas e Mato).

A chegada a Balacende e a adaptação ao terreno


II - Parte


No dia 06NOV1969 partimos do Grafanil para Balacende, que seria o nosso quartel nos próximos 18 meses. Formou-se uma coluna com cerca de 16 viaturas civis, com taipais, que saiu do Grafanil às 05h00 da madrugada, ainda o dia não tinha nascido.

Atravessamos Luanda ainda adormecida, embora já se começasse a notar alguma azáfama própria de uma grande cidade e tomamos a direcção do Norte, para fazermos o percurso Luanda – Cacuaco - Fazenda Tentativa - Caxito - Quicabo - Balacende.

Eu, contrariamente a outros graduados que viajavam na cabine das camionetas junto dos condutores, instalara-me junto do meu Grupo de Combate na parte de carga do camião.

Logo que deixamos Luanda para trás adormeci, pois já estava habituado a dormir em qualquer situação (em Lamego até a andar adormecia), tendo sido acordado quando a coluna parou no Caxito.

Aproveitei a paragem para beber um café e dar dois dedos de conversa com o motorista civil, que me informou que a partir do Caxito começava a picada e a guerra.

No Caxito e em Quicabo, os militares aí estacionados, e já com largos meses de mato (os chamados velhinhos) assustavam os nossos (chamados de Maçaricos - termo usado para designar a tropa recém-chegada, inexperiente e novata no mato), assustando-os com patranhas do género "cuidado que no sítio tal há emboscadas todos os dias”, “cuidado com as 7 curvas onde já morreram muitos camaradas...", etc.

Os nossos soldados já nervosos e inseguros, mais assustados ficaram, tentando eu desmitificar a situação com algumas palavras e agindo com descontracção e à vontade.

Logo a seguir ao Caxito por altura do cruzamento para as Mabubas, mandei meter bala na câmara e a patilha na posição de segurança.

Depois de uma paragem em Quicabo, onde ficaram as viaturas que transportavam a CCS (Companhia de Comando e Serviços) e a CCAÇ (Companhia de Caçadores), partimos novamente para Balacende.

Era nesta picada (Quicabo - Balacende) que ficavam as tais "7 curvas", lugar mítico da Guerra no Norte de Angola.

O sol já apertava e o pessoal já estava com as caras e os camuflados cheios de pó.

Conforme tinha combinado com o condutor da viatura, este avisou-me antes de começarmos a descer as “7 Curvas” (no sentido Quicabo - Balacende), pelo que ordenei que passassem a patilha da G3 para a posição de fogo e, de armas em riste prontos para tudo, passamos esta zona sem qualquer problema.

Chegados a Balacende os “velhinhos” (CCAÇ 2365 do BCAÇ 2844) esperavam-nos com uma amistosa recepção, em que predominava o tema "a vossa desgraça é a nossa felicidade".

Eles, após 17 meses em Balacende, iam rodar para Maquela do Zombo, no sector de Uíge.

Com esta companhia dos “velhinhos” tivemos cerca de 10 dias de sobreposição, durante os quais tomamos conhecimento das rotinas do quartel (serviço nos torreões, ida há agua e á lenha, limpeza do quartel, etc.), normalmente estes serviços eram efectuados por um pelotão de velhinhos e um pelotão nosso.


Apesar da Companhia anterior à dos “velhinhos” ter sofrido uma emboscada, que ainda era comentada na Região Militar de Angola, pois devido às idas à água serem rotineiras (mesmo local e hora) e serem efectuadas apenas por uma secção, um dia o IN (inimigo) montou-lhes uma emboscada, tendo dizimado toda a secção (10 homens, incluindo os condutores) e levado as G3, cartucheiras, botas e outro equipamento, após o que incendiou as viaturas - um Unimog e a viatura com o depósito da água.

Os “velhinhos” apenas mudaram o local da recolha de água, para um sítio mais próximo do quartel, mas mantiveram as mesmas rotinas (mesmo local e hora).

Logo da 1ª vez que acompanhei 2 secções do meu Grupo de Combate (GC) numa ida á água, conferenciei com os meus furriéis, Patuleia e Louro, no sentido de logo que ficássemos sós acabaríamos com tais rotinas. E assim o fizemos.

Os Locais para recolher água passaram a ser 3, distanciados uns dos outros cerca de 300 metros e deixou de haver hora certa de a ir carregar, passando a ser qualquer hora do dia ou da noite. Nós até preferíamos ir á água de noite, pois aproveitávamos para caçar algumas peças de caça, como pacaças, gazelas, burros selvagens, etc, que iam beber água aos mesmos lugares.

Este sistema horário aleatório (escolha do local e hora), resultou que, quando tínhamos 6 meses de comissão, se tivesse transformado uma embosca do IN, numa simples flagelação sem qualquer consequência para as Nossas Tropas (NT), pois o IN havia montado a emboscada no local errado.


Numa patrulha de reconhecimento, com os “velhinhos”, para os lados do Quifusse, após termos percorrido um trilho durante cerca de 15 kms o Alferes Miliciano “velhinho” mandou fazer alto. Julgando que a paragem era para descansarmos e comermos umas latas da ração de combate, mandei instalar o habitual perímetro de segurança com alguns soldados. Então o Alferes “velhinho” informou-me, apontando para as centenas de invólucros que povoavam o trilho, que a partir dali a guerra era a sério e aconselhou-me a não passar daquele sítio.

Pensei logo que com o Capitão Batista (meu Capitão) e com o Comando do Batalhão era impossível seguir o seu conselho e assim foi, pois logo na primeira operação passamos e bem aquele fatídico e temido ponto, e entramos bem dentro do Quifusse.

Por incrível que pareça, foi com satisfação que vimos os “velhinhos” partirem, pois as instalações do quartel estavam sobrelotadas (com as nossas duas companhias) e o á vontade e descontracção com que os mesmos se deslocavam nas picadas e no mato, estava já a contagiar a malta da nossa Companhia, que tinha ainda bem presente a instrução, nomeadamente as regras da guerra de contra-guerrilha, e os graduados queriam que assim se mantivesse, e porque, finalmente, ficávamos responsáveis pela zona de acção atribuída á Companhia.

Suspiramos, enfim sós seria á nossa maneira.


Fotografias: © Eduardo Lopes (2011). Direitos reservados.