domingo, 29 de abril de 2012

M444 - AOE (Associação de Operações Especiais) – Espaço de TODOS os RANGERS - 18º Jantar/Encontro/Convívio - 5 de Maio de 2012


AOE (Associação de Operações Especiais)

Espaço de TODOS os RANGERS

18º Jantar/Encontro/Convívio

No próximo dia 5 de MAIO de 2012



Bons cozinhados à moda do RANGER Lopes!

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS E UM JÁ PASSOU... VIVAM A VIDA… CONVIVAM… RIAM… DIVIRTAM-SE… E JUNTEM-SE A NÓS... NO ESPAÇO DE TODOS OS RANGERS

APAREÇAM!

RANGER não é qualquer um... é quem pode... quem tem Valor e Vontade de VENCER... é uma condição e opção de vida!

Reservas para: RANGER Lopes - 220 931 820 / 964 168 857 ou RANGER Ribeiro - 228 314 589 ou 965 059 516 

sábado, 28 de abril de 2012

M443 - RANGER Saúde - Novo livro



Continuando a apresentação  do RANGER Saúde (ver também as mensagens M394, M395 e M414). 

O RANGER José Saúde do 1º curso de 1973,
foi Fur Mil da CCS do BART 6523 e cumpriu a sua comissão militar em Nova Lamego/Gabú, na Guiné - 1973/74, enviou-nos notícias do seu novo livro "O TRILHO". 

Camaradas Rangers

Prometi, um dia, ao camarada Ranger Magalhães Ribeiro, que debitaria neste seu blogue – RANGERS&COISASDOMR – algumas passagens que marcam ainda hoje os tempos da nossa especialidade por terras de Lamego. Para melhor nos localizarmos, Penude. Tal como sempre, considero que os nossos ensinamentos na dita especialidade de Operações Especiais/Ranger, colocaram no púlpito da nossa convicção sinais evidentes de como se preparavam, e preparam, homens na sua condição social e, obviamente, para a vida militar.
 
De Penude guardo inequívocas recordações que jamais esquecerei. Resquícios de pedaços de história que completam o romance de uma vida sempre inacabada. A mística serra das Meadas, de fronte para a parada, estabeleceu, entre nós, laços de união muito fortes. Paralelamente à dureza das provas físicas, da acção psicológica desenvolvida ao longo do curso, o ouvir dos zumbidos das balas reais e a frieza humana constatada na instrução sobre os ilustres candidatos a rangers, formatavam a coesão de um trajecto por alguns de nós sonhado e para outros apresentavam-se como autênticos pesadelos.

Importa porém sublinhar que Lamego foi para todos nós uma escola. Uma escola de vida e sobretudo militar. Reconheço, aliás, que a minha condição como ranger no conflito da Guiné me catapultou, a espaços, para momentos que vincaram a minha eficácia no momento exacto em que o poder de decisão impunha princípios que obrigavam a resoluções imediatas. Lamego ensinou-me (ensinou-nos) isso e muito mais. Ensinou, também, o caminho da solidariedade, bem como trabalhar o espírito de equipa, tendo como fim a segurança de todos.

E foi com este espírito ranger que paulatinamente tenho traçado, em parte, o rumo da minha vida. Além de Funcionário Público (estou aposentado) sou, há mais de 30 anos, jornalista desportivo. Trabalhei para A BOLA e DN – Diário de Notícias – em termos nacionais, para rádios e jornais regionais, fui Director e proprietário do jornal “O ÁS”, único órgão de comunicação social no Alentejo que vingou ao largo de 23 anos, fui, também, pioneiro em televisão por Net em Beja, sendo também escritor. Publiquei dois livros onde relato a evolução do futebol na AF Beja ao longo do Séc. XX, e, em 2009, lancei uma outra obra, em termos nacionais, AVC NA PRIMEIRA PESSOA – edição MEL, Estarreja, que resulta de uma doença, inesperada, que na madrugada de 27 de Julho de 2006 me bateu à porta, seguindo-se, o seguinte projecto:

Antecedendo o lançamento do meu quinto livro – “GUINÉ/BISSAU – AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74” – apresento, agora, “O TRILHO. A sua apresentação oficial está agendada para o dia 10 de Maio, pelas 21h30m,  na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja.

“O TRILHO” narra “Um cruzar de épocas em gerações transversais – 1950-2050”. A personagem principal, Jesus, nasce numa aldeia do interior do Alentejo e projecta a sua vida ao longo de 100 anos, trazendo à estampa várias vivências humanas, particularmente a sua vida militar onde relata a passagem por Lamegos, nos rangers, e pela Guiné em tempo de guerra de paz.

O livro aborda duas temáticas: o virtual e o mundo da fixação. São, no fundo, 161 páginas de autêntico frenesim. Personagens míticas que paulatinamente foram desaparecendo com o evoluir dos tempos. Fala-se de valores de outrora que se pulverizam num horizonte onde a temática tecnológica ganha tempo ao tempo e tudo muda.

Fala do contrabando e dos pregoeiros. Da emigração. Da guerra, principalmente do ex-Ultramar. Os anos 60. A sociedade e a sua natural transformação. Enfim, um conjunto de situações que não passam imunes ao cidadão comum.

Os rangers, e naturalmente Lamego, no caso “Lamegos”, não passa ao lado da personagem Jesus. Aqui fica um pequeníssimo estrato da obra.

“… Neste seu percurso por terras de Lamegos, Jesus tinha sempre em conta as diversas operações a que fora submetido. Submeteu-se à “largada”, à “dureza onze”, às “24 horas de Lamegos”, ao “calvário”, à “passagem pelos esgotos da cidade”, ao “cemitério”, às agruras impostas pela pista ranger, ao galho, às noites passadas no rio, - claro que dentro de água, à celebre “piscina ranger”, à luta corpo a corpo com um outro companheiro sendo que o fim era mesmo a doer, à visita, quase diária, a Lamegos, às 7 horas da manhã com a neve a cair, e em tronco nu, ou com uma simples camisola onde se lia “Ranger vontade e valor”, às gélidas e chuvosas noites a ouvir o uivar dos lobos em plena serra, às presumíveis emboscadas, o saber ao pormenor o manuseamento de uma arma de fogo, aprender o contacto com o inimigo e a reacção imediata, enfim, uma panóplia de princípios que tinham como fim o comandar homens em palco de guerra. Este é o resumo de um verdadeiro ranger. Um homem que assimilava princípios capitais para enfrentar as dificuldades em conflitos. Jesus lembra, por exemplo, um samba brasileiro que, ao longo de três dias e outras tantas noites (dureza onze), se fazia ouvir a todo o momento: “É chato que eu sei que é chato este meu samba é muito chato…” A sua audição era perceptível a todo o momento. Acção psicológica, comentava a rapaziada!

A voz de comando era importante. Assim, depois da árdua experiência, Jesus foi mobilizado para a Guiné. Dizia-se que a Guiné cheirava a guerra. Perigo iminente. E foi nesse palco de guerrilha que o jovem Jesus puxou pelo saber e por tudo o que aprendeu naquelas margens do rio Douro. E tão úteis que elas foram!...”

Francisco Moita Flores, meu amigo de infância, escreveu o Prefácio – CAMINHOS – sendo que na contra capa deixo escrito um pequeno estrato do seu parecer sobre a obra.

“… A narrativa que o autor nos apresenta numa escrita simples, idílica, cravada de memórias e de utopias, remete-nos para o confronto com os sinais do tempo que marcam a nossa história recente.

Diria mais, a nossa pequena história recente, aquela que marca de forma significativa a nossa identidade – a imensidão alentejana, do espaço e nostalgia, os contrabandistas e pregoeiros, a escola e o brincar.
O livro aborda uma questão interessante. A prospecção do futuro.
Que virtudes nos trouxe a revolução que acelerou o tempo e reduziu o espaço a uma imagem? Que haverá por detrás dessas imagens quando Jesus morrer? Terá a sua vida o mesmo significado litúrgico e simbólico do outro Jesus que morreu há milénios? Que futuro está escondido debaixo da tecla “enter”?”


Um abraço
Zé Saúde 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

M442 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972): Nem só de guerra vive um militar (16)


Esta é a 16ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429, M432, M436, M437 e M439, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 
Guiné – 1972/74 

Nem só de guerra vive um militar 


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > "Nunca como aqui rapei fome" 



Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do Rio Corubal > Gampará > 1972 > "Em Gampará com o meu grande amigo Furriel Cmd Ludgero dos Santos Sequeira, a quem mais tarde na picada do Cufeu (outra vez) numa mina iria ficar às portas da morte, ficando quase cego até aos dias de hoje. Continuamos grandes amigos. Um abraço para ti, Sequeira!". 

(i) A cerveja de marca Mijo 

Em Gampará não existe gerador. As noites são mesmo noite e, tirando umas chamas improvisadas nas garrafas de Cristal, nada se vê. No arame farpado duplo, as sentinelas esfregam os olhos para tentar distinguir vultos junto ao arame farpado. Pendem do arame centenas de garrafas de cerveja vazias que são o último grito em tecnologia de alarme. Nesta terra do nada, nada há. Temos uns bidões vazios, fizemos umas caleiras em chapa para apanhar a água da chuva e é dessa água que enchemos os cantis e nos lavamos. 

A população beafada, embora seja muito hospitaleira, é muito ciosa das suas coisas e não abre mão dos animais, somos então obrigados a ir ao desenrasca até porque já atingimos a saturação dos petiscos de Gampará: cubos de marmelada com bianda, bacalhau liofilizado com bianda, chouriço intragável com bianda e tudo acompanhado por cerveja com temperatura ao nível do mijo... Dizia-se então em Gampará quando os hélis vinham trazer mantimentos, que vinham entregar cerveja marca Mijo. Assim se vive em Gampará! 

(ii) Feliz Natal e um Ano Novo cheio de 'propriedades'... 

Todas as noites e sempre à mesma hora, na ausência de música, ficamos entretidos a tentar contar as morteiradas que brindam o destacamento do Xime! Ficamos à espera quando acaba lá e os tubos sejam virados para o nosso lado... Nunca na Guiné atingi um estado de magreza igual. Nunca na Guiné as condições de vida foram tão miseráveis. 

Entramos no mês de Outubro e veio cá uma equipa da Emissora Nacional para gravar as mensagens de Natal para a nossa família. Não foi fácil. Todos íamos para um canto repetir vezes sem conta: Queridos Pais, irmão e irmãs e restante família, desejamos um Natal feliz e um Ano cheio de “propriedades”!... Esta última palavra era emendada mil vezes, que isto com os nervos e emoção não é fácil! 

E como a ladainha era igual para todos, só muito depois é que muitos se lembravam que só tinham irmão ou irmãs, mas isso não era problema. Estavam presentes as Senhoras do Movimento Nacional Feminino. Animavam-nos porque a meio da mensagem muitos desatavam a chorar. Uma das Senhoras era de uma simpatia sem igual (Só anos mais tarde soube que era a Cilinha!) 


(iii) O dia mais feliz: quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau... 

Em Gampará um dia verdadeiramente feliz para os militares era quando chegava a LDG e vinham as meninas de Bissau trazidas pelo Patrão, e que tinham por missão aliviar o stress do pessoal. 

As meninas chegavam, instalavam-se numa tabanca, o pessoal passava pelo posto de enfermagem (?), recebia o sabão asséptico, o tubo da pomada para meter pelo coiso acima a seguir ao acto... Entretanto formava-se a bicha e trocavam-se larachas para matar o tempo, do tipo Quando chegar a minha vez com tanta gente, 'aquilo' parece o arco da Rua Augusta!. 

A seguir era rezar para que o “esquenta” não aparecesse... 

(iv) O nosso regresso a Bissau 

19 de Outubro de 1972. Soubemos hoje que metade da 38ª CCmds regressa amanhã e outra metade irá permanecer aqui a fim de dar o treino operacional à CCAÇ 4142 até 3 de Novembro de 1972. O meu Grupo de Combate será um dos que regressa. 

Gampará, com todas as privações, teve o mérito de reforçar ainda mais os laços de amizade e confiança da 38ª CCmds. Aprendemos na privação a dar valor às pequenas coisas que a vida nos dá. A amizade entre os praças, sargentos e oficiais é na 38ª CCmds visível a quem observa a Companhia de fora. Essa amizade irá reflectir-se em diversas ocasiões e irá levar a Companhia a muitos sucessos na actividade operacional. 

20 de Outubro de 1972. Pela MSG imediata 3831/c , a 38ª CCmds regressa a Bissau, donde segue para Mansoa para um período de descanso, ficando apenas a realizar segurança imediata ao Aquartelamento. (Esse período de descanso só durou três dias, logo a seguir correram connosco para Teixeira Pinto, de tão má memória para a 38ª CCmds) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto e fotos: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
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Palavras usadas no texto de origem crioula: 

Bianda = Comida, arroz, base da alimentação da população na época 


Tabanca =- Aldeia, morança, cubata, casa
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Do mesmo autor veja também as mensagens:


1ª Mensagem em 16 de Março de 2012 > 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 
M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8)

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 > 

11ª Mensagem em 15 de Abril de 2012 > 

12ª Mensagem em 17 de Abril de 2012 > 

13ª Mensagem em 19 de Abril de 2012 > 

14ª Mensagem em 22 de Abril de 2012 > 
M437 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos  (14)

15ª Mensagem em 24 de Abril de 2012 > 
M439 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Promessa de comando: vou retomar as minhas crónicas de guerra  (15) 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

M441 - Punidos, Torturados e Assassinados POR SEREM COMBATENTES POR PORTUGAL

O seu único "pecado" para serem punidos, torturados e assassinados à paulada, à catanada, a tiro, etc. foi TEREM SIDO no período da Guerra do Ultramar COMBATENTES POR PORTUGAL

Uma das marcas NEGRAS mais escandalosas e vergonhosas da política recente portuguesa, aconteceu após o golpe de 25 de Abril de 1974 e ficou tristemente conhecida como a "exemplar descolonização" (frase esta proferida e assumida por um célebre político português da nossa praça).

Foi o drama de milhares de portugueses que tinham as suas vidas completamente organizadas, com todas as suas riquezas e trabalhos pessoais investidas localmente, bem como todos os seus bens, em Angola, Moçambique e Guiné e que tiveram que debandar acossados por bandos furiosos e hostis, que se formaram após o dito golpe.

Foi também o drama INCRÍVEL e HORRÍVEL de milhares de africanos que após a saída das tropas portuguesas, daquelas terras, foram punidos, torturados e chacinados, pelo simples facto de TEREM SIDO COMBATENTES POR PORTUGAL.

Repito "COMBATENTES POR PORTUGAL".

HOMENS que integraram os Comandos Africanos, Grupos Especiais, Milícias e outras Unidades Militares, que, pelo seu espírito guerreiro, a sua valentia e o seu destemor, JAMAIS seriam derrotados em armas e em combate, no terreno, pelos que vieram a ser seus carrascos, foram, indefesos, abatidos como animais desprezíveis.

Uma das denúncias testemunhais surgiu publicada na revista Magazine Nº 277 de 25.06.1995, do Jornal Público, que com a devida vénia e agradecimentos, passamos a expor a seguir, para constituir memória futura e não caia no esquecimento dos portugueses, que se prezam do ser.












M440 - Moçambique, Inhamacolomo, fins do ano de 1975. por RANGER Mesquita Almeida



Moçambique, Inhamacolomo, fins do ano de 1975. 



Orgulho-me deste feito histórico, em fins do ano de 1975, que relato pela 1ª vez por escrito, muito por alto, gesto que havia realizado apenas em conversas de café, a pouca gente, já que dou e continuo a dar pouco crédito à maioria das pessoas que (fazem de conta) me escutam. 


Dos fracos não reza a história, dos fortes reza os que merecem. No meu caso, acredito, tratar-se apenas de mais um soldado incógnito que, no tempo da guerra, acreditou, inocentemente, que lutava pela Pátria e pela Mátria. 

Adoro ser mais um “desconhecido” que amou Portugal com a paixão do peito Lusitano, que ama ainda e amará desde as suas raízes, pelos que vivem e pelos que se foram, mas que abomina os que traíram a saga de tanta e sacrificada juventude. 

Com o decorrer das conversações do Mário Soares com os grupos beligerantes inimigos em Lusaka, assim como as problemáticas indefinições oriundas de Lisboa, entendi que a guerra deixara de ter sentido na minha área de actuação - Inhamacolomo, Moçambique. 

Fomos reconhecendo que a implosão militar provocada pelos nossos políticos inexperientes nas negociações intercedidas pelo conselho da revolução e acobardados por tomadas de decisão ditas Democráticas num PORTUGAL às avessas, nos entregavam pouco e pouco às potências de leste, sobressaindo eles - os protagonistas -, como os heróis da liberdade. 

Este era o assunto das minhas conversas com os camaradas mais chegados da minha companhia, desde os soldados à chefia - o Alferes Miliciano Guerreiro, 2º Comandante -, pois não tínhamos Capitão que desertara nas vésperas da nossa partida para Moçambique, cerca de um ano antes. 

Fundamentados em conceitos da moda: pão, paz e educação, que reputo de essenciais e desejáveis, não lhes perdoarei jamais a fórmula encontrada para nos entregarem aos países comunistas. 

Tomei então a meu cargo terminar a guerrilha na minha zona. 

Para isso, mandei formar a Companhia na parada e explanei uma operação de declinação, a título voluntário, para que todos se inteirassem dos propósitos em terminar as hostilidades sem sentimentos de derrota, antes pelo contrário. 

Pedi 2 voluntários dos pelotões alinhados numa paupérrima parada, bem próxima do arame farpado para que parte da população local pudesse “coscuvilhar”, pois era do meu interesse “divulgar” as minhas ideias rapidamente. 

Para meu contentamento deram o passo á frente dezenas deles, mas eu optei pelo mecânico - Cabo Miliciano Oliveira. 

O Alferes Guerreiro - 2º Comandante da Companhia -, era um homem de coragem, desde sempre solidário com as minhas competências de chefia, entendeu seguir-me, pelo que foi necessário pedir desculpas aos demais voluntários que se quiseram conjugar com esta minha decisão. 

Espetei um lençol na frente de um jipe e dei ordens aos rádio-telegrafistas para difundirem informações descodificadas, noticiando a nossa saída rumo ao nosso destacamento de Inhamacolomo - 15 km a Norte -, para um encontro com a Frelimo na picada ou no mato. 

Com uma granada defensiva – na posse de cada um de nós -, escondidas debaixo dos assentos da viatura, que seriam as nossas únicas armas de defesa para uma eventual situação crítica. Era pois minha intenção pessoal, em caso de última defesa, mandarmos alguns pelos ares (hoje acho que foi um acto de estupidez e não de coragem). 

Fomos então emboscados a cerca de 5 km do destacamento inimigo, rodeados por todos os lados pelos bandoleiros da FRELIMO. 

Paramos o Jipe lentamente, colocámos as mãos no ar. 

De armas toscas, excepto uma ou outra Kalashnikov, os “turras” com roupagem pouco militar e, em alguns casos, até andrajosa, acercaram-se de nós pacificamente com sorrisos e uma “aborrecida mania” de nos tentarem abraçar. 

Terminou ali mesmo a nossa guerra. 

Contra os meus princípios de amor á Pátria, traído pelos novos ventos dos ideais de Abril, um ano antes, fi-lo por entender que a carne para canhão acabaria ali mesmo, sem no entanto entregar as armas ao IN até ao último dia. 

No regresso à base - obriguei os Frelimos a seguirem-nos até ao nosso quartel -, quer comigo no Jipe, quer em camiões emprestados por machambeiros da região. 

Nas fotos em que levei um chapéu de palha na cabeça, conduzi os chefes principais sentados atrás e na frente da coluna, ainda com o lençol branco espetado na frente. 

Fomos recebidos em delírio pela população local, para quem as agruras da guerra terminaram nesse dia memorável. 

Por fim, para rematar a festa, ambas as partes proferiram discursos inflamados, na varanda do quartel. 

Nota-se na foto que obriguei o chefe guerrilheiro, de raça Macua do norte de Moçambique, de dentes aguçados á lima, que entoava gritos de: ABAIXO SALAZAR, ABAIXO CAETANO, ABAIXO KAÚLZA DE ARRIAGA e VIVAS Á FRELIMO, VIDA OU A MORTE, VENCEREMOS, exigindo-lhe, perante a população, que gritasse também bem alto, várias vezes: VIVAS AOS MILITARES PORTUGUESES e VIVAS A PORTUGAL. 

Ele acedeu, depois de muita insistência minha, como transparece na foto. 

Sem a bravura Ranger, não seria capaz de tomar iniciativas desta índole pois utilizei argumentos calculistas, com organização militar pré concebida durante semanas, o quanto bastasse para não ter de me servir das granadas ofensivas, mas isso é outra história que seria fastidioso explanar agora. 

Hoje pergunto-me que raio jaz em tão pouca glória nas cabeças destes incompetentes políticos que gerem Portugal, com os seus silêncios ensurdecedores de desprezo aos militares de ontem e de hoje. 

Grito para que se reputem a abrirem os olhos, pois ainda estão a tempo de reverenciarem os obreiros de Portugal. 

RANGER Mesquita Almeida 

    

terça-feira, 24 de abril de 2012

M439 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Promessa de comando: vou retomar as minhas crónicas de guerra (15)

As palavras desta mensagem do Amílcar dão que pensar!

Não é segredo para ninguém que a cobardia e a traição reinam em Portugal desde os seus mais ancestrais primórdios da fundação como país. 


Se calhar hoje mais de que nunca!

Cobardes e traidores sempre os houve e continuará a  haver. Infeliz, lamentável e tristemente.

A solução seria eliminá-los fisicamente e o meio mais indicado, embora qualquer outro servisse bem, o fuzilamento!

Em democracia, para bem das corjas, a "coisa" não funciona assim.

Então temos que conviver, lado a lado, com essa corja abjecta, nojenta e ascorosa. 


Eles distinguem-se bem, por gestos e palavras, desprezam e quando podem destroem os valores e ideais da nacionalidade lusa.


Odeiam quem não alinha na sua mentalidade e sanha obtusa e tacanha, quase sempre alicerçadas em educações de base manhosa, ressabiada e plena de lacunas, quer ao nível de conhecimentos históricos, quer ao nível da evolução da sua formação intelectual.

Uma posição podemos tomar e essa também nós, os que amamos a Pátria, com todos os seus defeitos e qualidades, temos direito também pela democracia, a rejeitar e desprezar esse esterco bolorento com forma humana. 


Que esta nação JAMAIS esqueça as gerações dos anos 1960 e meados dos de 1970, que na Guerra do Ultramar deram TUDO aquilo que tinham, por vezes o que não tinham, com 21, 22 anos de idade, milhares inclusive o seu próprio sangue e vida, a pedido do poder político vigente de então, em nome da manutenção do nome de Portugal em fracções de terra africana (Angola, Moçambique e Guiné).


Fizeram-nos voluntariosamente pensando na História de Portugal, dos Homens que desbravaram novos mundos Além-mar, dos milhares de aventureiros portugueses que arriscaram e rasgaram, nesses longínquos territórios, novas horizontes e novas cidades.   



Esta é a 15ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429, M432, M436 e M437, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/



38ª Companhia de Comandos 



Uma lenda da Guerra do Ultramar 

Guiné – 1972/74 

Retomando as minhas crónicas de guerra 

As notas tomadas durante situações de stress, algumas delas memorizadas debaixo de fogo, e em que o pensamento na altura pertencia a um jovem e arrogante guerreiro que inchava de vaidade, quando a intervalos das operações descia a cidade da Bissau e se pavoneava de orgulho, exibindo para a plateia o seu camuflado - éramos a única tropa autorizada a fazê-lo na cidade -, o lenço preto e a boina com fitas pretas. 

Éramos já nesse tempo admirados por uns e odiados por outros. Nunca compreendi o olhar de desprezo com que alguns camaradas nos brindavam, [em Bissau]. E porquê? A maioria dos soldados que frequentavam a 5ª Rep (Café Bento), Pelicano, Zé da Amura, Ronda, Império, etc... eram militares em trânsito para regressar ao mato e que de alguma forma já tinham colado a orelha ao chão connosco em alguma picada, trilho ou destacamento. Podíamos até nem comungar dos mesmos ideais mas no perigo éramos gémeos. 

Só muito mais tarde e com as mudanças da sociedade a nível político consegui decifrar o significado dos olhares que me eram dirigidos no tempo de guerra e em época posterior, já então no Regimento de Comandos da Amadora. Percebi que esses olhares vinham de alguns camaradas mais esclarecidos(ou manipulados) em política e em que para eles tropas especiais era o que havia de mais desprezível no teatro de guerra. Assassinos. Comedores de criancinhas, frios e calculistas, sem ponta de emoção. Já na Amadora e com a liberdade esses ódios declararam-se e fui cuspido e chamado frontalmente de assassino. 

Vem isto a propósito de quê? Quando comecei a escrever no Blogue, começaram logo a aparecer umas vozes críticas que eu fui ignorando, direi mais, desprezando, porque realmente já 'tou farto de guerrilheiros do arame farpado e chegou ao ponto de haver aqui quem insinuasse que nós, os COMANDOS, só éramos valentes em grupo, o que quer dizer que isolado sou um cobarde. 


Nunca isso me incomodou, até ao dia em que as mensagens anónimas começaram a chegar. Aí parei. Mas não foi por medo. Foi por achar que tais pessoas (?) não mereciam partilhar daquilo que me é muito íntimo. O que me pode afectar são acontecimentos e não pessoas. Sou um “cota” simpático, tentando alegrar os dias que vão passando e em que muita coisa já me passa ao lado e não percebo como ainda existe gente que, decorridas quase quatro décadas, ainda vive ressentida por aquilo que outros fizeram lá tão longe. 

Bem, longe vai esta mensagem e o que queria dizer é que vou mandar mais apontamentos do meu diário de guerra e isso porque, se há quem não goste, há muito mais quem goste. 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservado.

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Do mesmo autor veja também as mensagens:

1ª Mensagem em 16 de Março de 2012 > 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 
M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8)

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 > 

11ª Mensagem em 15 de Abril de 2012 > 

12ª Mensagem em 17 de Abril de 2012 > 

13ª Mensagem em 19 de Abril de 2012 > 

14ª Mensagem em 22 de Abril de 2012 > 
M437 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos  (14) 

domingo, 22 de abril de 2012

M438 - Imagens operacionais


 Infiltração de pessoal operacional em zona de acção por meio marítimo
 Momento de ejecção de envólucro de munição após disparo
Extracção (evacuação) do pessoal após intervenção operacional, por meio aéreo em zona de acesso difícil (montanha agreste).

Imagens de autor não identificado
   

M437 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (9): Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos



Esta é a 13ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429, M432 e M436, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 
Guiné – 1972/74 


Gostaria de deixar no ar uma questão que já há tempo me incomoda e que tem a ver com o levantamento dos corpos dos camaradas, que ficaram enterrados na zona de Guidaje

Texto: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados.
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Do mesmo autor veja também as mensagens:

1ª mensagem em 16 de Março de 2012 >

M417 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 >

M418 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (2)

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 >

M422 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (3)

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 >

27 de Março de 2012 > M423 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 >

M424 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (5): Uma noite nas valas de Guidaje

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 >

M425 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (5): Guidaje, Maio/Junho de 1973: a 38ª CCmds, na História da Unidade

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 >

M426 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (6): Guidaje? Nunca mais!...

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 >

M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (7): Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente!

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 >

M429 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (7): Guidaje: a verdade sobre o Cemitério de Cufeu

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 >

M432 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (8): Um tiro de misericórdia em Caboiana

11ª Mensagem em 15 de Abril de 2012 >

M433 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (8): Homenagem aos Mortos: Os famosos e os anónimos

12ª Mensagem em 17 de Abril de 2012 >

M434 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (9): Gampará (Ago a Dez 1972): Um sítio desolador (1ª Parte)

13ª Mensagem em 19 de Abril de 2012 >

M436 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (9): Gampará (Ago a Dez 1972) Passa-se fome, muita fome (2ª Parte)





Falei há poucos dias com camaradas da minha Companhia que estiveram comigo no período quente de Guidaje e também eles se interrogam sobre o mesmo. Se quem deu as ordens sobre o deixar corpos no terreno, nem ele sabe quem os enterrou ou onde, se quem o fez nunca o revelou, expliquem-me por favor, e só falo de alguns corpos, como é que quem lá anda a fazer o trabalho de levantamento de corpos adivinhou a localização de alguns? É bruxo? Onde existe um documento a explicar detalhadamente onde foram enterrados alguns corpos de militares que morreram na picada de Guidaje, mais propriamente na zona do Cufeu? 

O camarada pára-quedista que aqui há tempo falou nos corpos dos páras que lá ficaram, só falou do que sabia. Porque ninguém fala do que não sabe. CORRECTO? Eu apenas me refiro ao tempo em que tive intervenção directa nos acontecimentos que ainda hoje me perturbam. 

Já aqui falei sobre Guidaje e volto a afirmar o que disse: 

A 38ª Companhia de Comandos foi a primeira, volto a dizer, foi a PRIMEIRA força de combate a romper o cerco a Guidaje e pagámos bem caro por isso. Agora o seguinte: QUANDO OS FUZILEIROS E PÁRA-QUEDISTAS PASSARAM, JÁ NÓS LÁ ESTÁVAMOS! JA NÓS TINHAMOS PASSADO NA BOLANHA DO CUFEU ONDE AI CONTÁMOS CERCA DE 15 (DIGO CERCA DE QUINZE) corpos. 

Apenas pretendo dizer que houve acontecimentos a que só 2 grupos de combate da 38ª CCmds assistiu! Percebido? Expliquem-me agora como é que generais, ligas, grupos, jornalistas, etc... falam de corpos, mortos e levantados, quando nem sequer sabem uma parte do que aconteceu? 

Amigo Luis, sou um pobre dum ex-combatente que cada vez percebe menos como há tanta gente hoje que fala do que nem por sombra sabe! E refiro-me a muita coisa! 

Um abraço a toda a tertúlia! 

PS - Por favor não me questionem, esclareçam-me apenas, se puderem. 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds