sábado, 31 de julho de 2010

M230 - 33ª Festa Anual dos RANGERS de Portugal - Instantâneos

Com o natural e irreversível desaparecimento das gerações dos meados do século passado, exceptuando algumas raras excepções, como são o caso dos grandes clubes de futebol, o associativismo cultural, desportivo e recreativo está definhar a passo largos e prevê-se, num futuro muito próximo, a sua lamentável, triste e prejudicial morte.
Prejudicial porque elas têm o condão de agregar pessoas de várias origens, de todo o país e, em alguns casos até, de todo o mundo em torno de diversas matérias fundamentais à sobrevivência da sociedade humana, solidária e convivente.
Com a sua morte perder-se-ão locais de concentração, reunião e união de sinergias que permitiram ao longo das últimas décadas, inúmeras victórias do ser humano em várias áreas, desde a científica à das populares e muito concorridas festas de bairro.
A nossa Associação não foge a esta infeliz regra e têm sido despoletados muitos esforços pelos RANGERS "velhinhos", por cativar e arrastar ao seio a tão necessária presença, interesse e estima dos mais novos, como garante da sobrevivência e continuidade da interligação entre as diversas gerações desta nossa tropa.
Na última festa anual, foi notório que a perseverança e o trabalho de todos, velhos e jovens, junto dos elementos da actual Direcção felizmente vai dando os seus frutos, essencialmente nesta difícil fase de transição, que é o fim de algumas comunicações tradicionais e o surgimento das informáticas.
Muitos portugueses ainda não dominam um computador e não têm assim acesso à informação gerada nestas lides, perdendo o contacto e a tão necessária ligação com aqueles que orientam e decidem o futuro e as diversas actividades da Associação.
Creio eu que lentamente, mas no caminho certo, a curto prazo uma grande maioria acabará por descobrir estas ainda recentes tecnologias e, num futuro muito próximo, acredito que a frequência e a assiduidade do pessoal aumentará substancialmente.
Vamso a isso, ou não sejamos dignos de nos assumirmos como os RANGERS de Portugal!


RANGERS MR, Norberto e Martins
Apesar dos seus tenros 6 anitos, o Cruz pequeno já vai no bom caminho seguindo os passos do pai
O Norberto com a sua boina
Assembleia geral

A Mesa da Assembleia Geral

A ala elite RANGER de 2010

Dois grandes Comandantes do CIOE/CTOE - Cor A. Feijó e Cor S. Velloso

A placa comemorativa
A placa oferecida ao CTOE, perpetuando a memória dos RANGERS que integraram os famigerados e temíveis Grupos Especiais e Grupos Especiais Paraquedistas, que acutaram de modo exemplar, eficaz e lendario, no palco de guerra de África, em Moçambique
O SMOR Magalhães um ícone inconfundível das Operações Especiais portuguesas
A mesa de honra do almoço da confraternização
O discurso do Sr. CMDT do CTOE
A plateia mais que atenta
O bolo da praxe
A justa e sentida homenagem que em todos os actos da Unidade é prestada, pelos seus Veteranos, aos inesquecíveis e gloriosos mortos da Unidade
Firme... cé up!

domingo, 25 de julho de 2010

M229 - As famílias dos RANGERS

Quando um RANGER está a cumprir a sua missão, são elas quem mais sofrem... as famílias.
Nas nossas Confraternizações Anuais elas lá estão ao nosso lado, assim como estiveram nos momentos mais difíceis...










domingo, 18 de julho de 2010

M228 - 33ª Confraternização Anual da Associação de Operações Especiais - 2010

XXXIIIª Confraternização Anual da Associação de Operações Especiais
1, 2 e 3 de Julho de 2010

Parte 1 - A mini-prova RANGER

O briefing inicial entre um dos monitores e os atletas

O Celestino trepa para o slide

O Celestino em slide a partir de um ponto elevado

O Celestino e o RANGER Rodrigues, seguindo as indicações da carta de orientação da prova

O ARNGER Rodrigues atravessa um curso de água

Os RANGERS Rodrigues e MR a caminho da carreira de tiro, para a prova de tiro

O Celestino e o RANGER MR com os monitores de tiro, antes de iniciar a prova

O Sr CMDT do CTOE, observa atentamente a seguimento da prova e o escrupuloso cumprimentos das normas de segurança O RANGER Pinto em plena prova O RANGER Norberto efectua os seus disparos

O RANGER Rodrigues é um autêntico sniper Um dos monitores exemplifica a posição mais correcta de execução de um disparo

O homem, a arma e o alvo O RANGER MR reciclando a pontaria

M227 - RANGER Mexia Alves no jornal Correio da Manhã. de 27 de Junho de 2010

O RANGER Joaquim Mexia Alves, cumpriu a sua comissão militar nas Guiné nos anos de 1971 a 1973, e no passado dia 27 de Junho de 2010, o jornal Correio da Manhã, na série inserida na revista com o título: "A minha guerra", publicou uma reportagem que, com a devida vénia e agradecimento, reproduzimos a seguir: 

“Portugal desprezou soldados africanos” 

Quando a guerra acabou, os homens das forças africanas foram fuzilados, presos ou agredidos pelas autoridades locais.

"Entrei para a recruta no Quartel de Mafra em Janeiro de 1971, finda a qual fui "escolhido voluntariamente" para me apresentar em Lamego onde fiz a especialidade de Operações Especiais, vulgo, Rangers.
Daí fui colocado no Regimento da Serra do Pilar, em Gaia, onde a partir de Outubro de 1971 começámos a preparar o Batalhão, com o qual iria embarcar no ‘Niassa’, a 21 de Dezembro de 1971, rumo à Guiné.
Chegámos e fomos enviados para a ilha de Bolama onde fizemos a IAO, (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), com vista à adaptação não só ao clima, mas às condições de guerra da Guiné.
O meu Batalhão, BART 3873, ficou sediado em Bambadinca (zona leste), e a minha companhia, CART 3492, foi para o aquartelamento mais longe da sede, no Xitole.
Durante os sete ou oito meses da minha estadia no Xitole, tivemos flagelações ao quartel, sem baixas, nem ferimentos entre os militares.
Houve uma ou duas emboscadas, sem problemas para as nossas tropas, tendo sido reportadas por informadores algumas baixas no PAIGC.
Fui então enviado para comandar um Pelotão Independente de Africanos, o Pel. Caç Nat. 52, sediado nessa altura na Ponte do rio Udunduma, na estrada Bambadinca/Xime.
Era um sítio sem condições de vida, mas onde estive muito pouco tempo e sem problemas. Depois o Pelotão foi colocado no Destacamento de Mato Cão, na margem norte do rio Geba, a meio caminho entre o Xime e Bambadinca, sendo a nossa primeira missão assegurar a navegabilidade desse troço do Geba.
GUERRILHA
As condições de vida eram francamente más: dormíamos em buracos abertos no chão, ladeados de bidons e cobertos de paus de cibo e sem luz.
Devo ter estado em Mato Cão cerca de nove meses. Mantivemos uma forte actividade operacional – o melhor "remédio" neste tipo de guerra de guerrilha.
Posteriormente, fui colocado na C. Caç. 15, (Companhias de Africanos), sediada em Mansoa, constituída na sua esmagadora maioria por Balantas, e que fazia operações de intervenção do Batalhão de Mansoa, segurança à estrada em construção de Mansoa/Portogole, e segurança às colunas que passavam para Norte, junto à mata do Morés.
Aqui e até ao fim da comissão tive uma actividade operacional muito intensa, com contactos com o inimigo de então, mas graças a Deus sem baixas na nossa Companhia a registar.
CAMARADAS

Regressei a Portugal, em rendição individual, em avião militar em 21 de Dezembro de 1973. Afirma-se, hoje em dia, que a guerra na Guiné estaria perdida militarmente. Não creio.
Só motivos políticos justificam tal afirmação. Ainda hoje não esqueço a dedicação e empenho das forças africanas constituídas por guineenses, que honrosamente comandei, e exprimir a minha revolta pelo abandono a que foram votados.
Muitos foram fuzilados e outros presos, agredidos, pelas autoridades que tomaram conta da Guiné – desprezados por Portugal.
Quero exprimir a minha revolta pelo ignominioso tratamento dado aos combatentes, não só da Guiné, mas também de Angola e Moçambique, por parte dos governos de Portugal. Há ex-militares que esperam o resultado de processos 35 anos depois do fim da guerra. Se antes como se dizia éramos "carne para canhão", hoje – vivos – somos transparentes.
PERFIL

Nome: Joaquim Mexia Alves
Comissões: Guiné (1971/73)Força: Rangers
Actualidade: Administrador das Termas de Monte Real, 61 anos, quatro filhos e dois netos

sexta-feira, 16 de julho de 2010

M226 - Para quem gosta de História de Portugal - Viagem Medieval em Terras de Santa Maria - 2010


Para quem gosta de História de Portugal
Viagem Medieval em Terras de Santa Maria - 2010
A 14ª Viagem Medieval em Terra de Santa Maria já tem data marcada. Em 2010, Santa Maria da Feira regressa à Idade Média de 29 de Julho a 8 de Agosto.
Enquadramento Histórico No final do séc. XI, é criada uma nova entidade política: o Condado Portucalense.
Afonso VI, imperador da Hispânia, doa a sua filha Teresa, por altura dos seus esponsais com Henrique da Borgonha, o território de Coimbra até ao castelo de Lobreira, na Galiza, incluindo a Terra de Santa Maria, toda a terra de Lamego e de Viseu, acrescentando também a terra que os mouros possuíam, desde que a conquistasse e a acrescentasse ao seu Condado.
Em 1112, o Condado Portucalense passa a ser governado por D. Teresa, mulher e viúva que enfrenta grandes desafios, superando-os graças aos seus talentos e sagacidade e ao auxílio de um bom grupo de nobres.
Intitulando-se rainha em 1117, D. Teresa encontra-se numa vila a que chamam de Feira, situada extra-muros do Castelo de Santa Maria, onde faz doações a poderosos da Terra pelos serviços prestados na defesa da cidade de Coimbra, aquando do cerco dos almorávidas.
Os jogos e as disputas pelo poder entre os diversos partidários geram confrontos armados que vão produzir mudanças de autoridade no Condado: após a batalha de S. Mamede, a 24 de Junho de 1128, a rainha perde o governo para seu filho Afonso Henriques, passando este a representar um novo domínio e uma nova soberania: a autonomia do Condado perante o reino leonês.
E em 1139, em dia de Santiago, Afonso Henriques encontra-se no campo de batalha lutando contra os infiéis.
Reconhecido pelos seus companheiros d’armas como um grande chefe e valoroso guerreiro, é alçado no seu escudo e aclamado rei de um novo reino: Portugal.

domingo, 11 de julho de 2010

M225 - As Operações Especiais Portuguesas vistas pelo repórter Abel Coelho Morais do jornal Diário de Notícias, em 10JUL2010

Com a devida vénia e agradecimento publica-se a seguir, na íntegra, uma Grande Reportagem sobre as Operações Especiais, com o título "Os soldados da noite", excelentemente recolhida pelo jornalista ABEL COELHO DE MORAIS, que veio inserida no jornal Diário de Notícias, no dia 10 de Julho de 2010: 


CTOE - Os soldados da noite 

Popularmente conhecidos como os 'rangers' de Lamego, os militares do Centro de Treino de Operações Especiais (CTOE) - unidade criada em 1960 - são preparados para missões de alto risco e grande complexidade, actuando sempre a coberto da noite: a melhor das camuflagens, como costumam dizer.


Num curso de seis meses, mais um ano a ano e meio de exercícios contínuos, os efectivos do CTOE têm, primeiro, de se conhecer a si próprios e testarem os seus limites, antes de vencerem os desafios das missões que lhes são entregues.

O DN esteve com os oficiais, sargentos e praças que devem permanecer anónimos e ser capazes de chegarem invisíveis à beira do inimigo.

"Segunda-feira era o pior dia da semana. O terror era grande na formatura da manhã quando os instrutores chamavam os nomes dos que tinham sido eliminados. Alguns começavam a chorar quando era dito o nome deles. Era o pior momento para nós. Depois disto, o que aparecesse pela frente era preferível."

Rui, 45 anos, hoje sargento-ajudante, recorda as primeiras semanas do curso de Operações Especiais feito em 1986 como praça. Tudo o que então lhes aparecia pela frente era intenso esforço físico, escasso descanso, muita fome, muito frio - constantes num curso em que "tudo o que se vive e se passa aqui dentro nos marca muito".

O mesmo curso que Rogério, de 23 anos, iniciou este ano depois de "um amigo que está no exército normal" lhe ter falado dos "rangers de Lamego" ou Centro de Tropas de Operações Especiais (CTOE), designação actual da unidade criada em Abril de 1960 como Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE).

Rogério informou-se e decidiu "aproveitar a oportunidade antes que ela fugisse". Depois de 12 semanas de recruta normal, o curso principiou de manhã bem cedo com uma prova de ginástica de aptidão militar. "Foi uma sensação de angústia, desorientação. Houve camaradas que desistiram logo", conta este finalista de engenharia informática, para quem "passar o dia todo atrás de uma secretária" era "muito complicado".

"Dorme-se sempre com a mochila, e pode não acontecer nada... ou acontecer", afirma Rui C., de 27 anos, hoje tenente e instrutor no aquartelamento de Penude, uma das três instalações por onde está sediado em Lamego e seus arredores o CTOE, que assumiu esta designação em Julho de 2006.

Em Penude ministra-se o essencial da formação; no aquartelamento da Cruz Alta encontra-se o destacamento operacional, enquanto o comando está sediado no antigo Convento de Santa Cruz, no centro da cidade.

Testar os limites

O inesperado e a pressão são constantes. De dia e de noite. "Fui forçado a aprender a comer muito depressa", recorda Rogério, uma refeição inteira em menos de cinco minutos. Noutros momentos do curso, Rogério não recebe mais do que uma bolacha ou uma peça de fruta para o dia inteiro. Mas os exercícios nunca param.

Assim como não há regras sobre a alimentação "nunca há certeza sobre o tempo de descanso". A finalidade é testar os "limites físicos e psíquicos, a que nunca tínhamos sido levados antes - e ultrapassá-los", salienta um outro instruendo, Daniel, de 25 anos, natural de Lamego, que frequenta o curso de Operações Especiais para oficiais e sargentos do Quadro Permanente. Curso este ainda mais exigente: "Aqui testa-se a capacidade de comando, obtêm-se ferramentas de liderança; por isso tem de ser mais complexo e exigente", ainda que "exista uma melhor preparação devido à nossa experiência militar", diz Daniel, recentemente saído da Academia Militar.

"Há muitos jovens que chegam aqui a pensar que as Operações especiais são uma espécie de desporto radical. Isto é radical, mas não é nenhum desporto", sublinha Rui, que tomou a decisão de fazer o curso aos 20 anos. Um curso que seu pai, militar de carreira, fizera nos anos 60 na sua primeira fórmula. "Muitos vêm só para ver como é. Mas quem vem com uma ideia definida vai até ao fim", defende Carlos, de 48 anos, sargento-chefe.

Este é o segredo para cumprir o curso com sucesso. "Não se consegue ser de Operações especiais se não se quiser ser do princípio até ao fim", sustenta o coronel Sepúlveda Velloso, de 49 anos. Para o comandante do CTOE desde 2008, é "característica das Operações especiais e de todas as forças de elite testar os limites do indivíduo, para saber com o que se pode contar das suas potencialidades individuais". Como o poder de decisão que se testa ao lançar-se à água do alto de uma ponte numa noite escura.

Mas não é apenas isto. "É tipicamente nosso fazer ver ao indivíduo quais as suas potencialidades, ele deve conhecer-se a si próprio para ganhar a autoconfiança que lhe permita, quando vai para uma missão, identificar situações idênticas que já viveu e não se desviar da tarefa a cumprir." Por isso se testa também a capacidade de o militar sobreviver apenas com os recursos da natureza, edificar abrigos e esconderijos, nadar, correr, marchar e voltar a nadar, a correr e marchar - seis, doze ou 24 horas consecutivas.

O militar de Operações especiais "não pode deixar que as paixões ou as emoções afectem o seu desempenho", conclui o coronel Velloso na síntese sobre um curso em que as taxas de sucesso e fracasso falam por si. Números para os últimos dois anos mostram que a média de insucesso ou desistência não ultrapassa os 5% para os oficiais e sargentos do Quadro Permanente; em contrapartida, no curso de praças e de oficiais e sargentos milicianos situa-se entre os 50% e os 60%. "O instrutor Rui C. defende que esta disparidade resulta da "ausência de qualquer experiência a nível militar".

Longa preparação

Todos vivem nas mesmas condições, confrontados regularmente com elevadas exigências. "Se o instruendo passar por todas as fases em que é testado, quando chega ao campo de batalha tudo se torna mais fácil", sublinha o sargento-chefe Carlos, que recorda uma máxima dos seus tempos de instrução: "Quanto mais o suor no campo de treino, menos o sangue no campo de batalha."

Uma máxima que ganha toda a actualidade nos teatros de operações onde os efectivos de Operações especiais são empregues: do Afeganistão à Bósnia e ao Kosovo, de Timor-Leste à Guiné-Bissau. Por isso, além dos seis meses do curso, segue-se um ano a ano e meio de intensos exercícios em cenários idênticos aos de situações de conflito real até o militar estar preparado para o terreno (ver texto nas págs. seguintes).

Carlos afirma que esta longa preparação é absolutamente indispensável por duas razões. A primeira é que "os teatros de operação são cada vez mais sofisticados e complexos" e, claro, "o inimigo nunca deve ser subestimado". A segunda relaciona-se com as pessoas: "A juventude é mais frágil hoje do que no tempo da minha instrução", desde há "uns 15 anos que o facto começou a tornar-se evidente". Algo que preocupa Carlos, oriundo de uma família com passado militar. Um factor que não considera determinante. "Há muitos militares do CTOE que não têm quaisquer familiares nas forças armadas, ou que não tiveram no passado."

O próprio universo de recrutamento tem hoje "outras características", explica o comandante do CTOE, "há grandes diferenças entre o presente e o passado. A rusticidade, a motivação, a disciplina, que eram características quase cutâneas no passado, hoje estão um pouco perdidas". A origem social e geográfica dos recrutas é também diferente. Ainda nos anos 80, a maioria dos instruendos, em especial no curso de praças, era proveniente das regiões acima do Mondego - "o que não quer dizer que não tenha havido sempre pessoas de todo o Portugal continental e das Ilhas", clarifica o coronel. Um retrato fixado pelo sargento- -ajudante Rui: "Os homens que aqui apareciam já trabalhavam, fosse nas obras ou na agricultura. Se calhar não tinham os vícios de agora, eram mais robustos, mais modestos."

A unidade de Lamego também atrai pessoas a sul do Mondego. Caso do seu actual comandante. Natural de Lisboa, frequentava a Academia Militar em 1982 quando, "por acaso", soube da existência de uma unidade com aquilo que classifica como "uma componente operacional interessante, com técnicas e tácticas pouco convencionais". O então cadete acredita que esta era a unidade "que se adequava melhor" à sua personalidade. Após o curso de Operações Irregulares, também ministrado no então CIOE e obrigatório para oficiais e sargentos do Quadro Permanente, começa a frequentar o curso de Operações Especiais em Janeiro de 1986.

Esta é a época em que o curso de Lamego era obrigatoriamente completado com o dos Comandos, e vice-versa. Privilegiavam-se, então, as técnicas de sobrevivência, patrulhas de longo raio de acção, montanhismo, tácticas irregulares. É o tempo da Guerra Fria. Hoje, nota o comandante do CTOE, "predomina o combate a curta distância, devido à natureza das ameaças actuais"; o curso é, por outro lado, "também muito mais técnico".

Mas, insiste de imediato, "sem o valor do homem não se consegue operar a máquina". A componente tecnológica é "hoje muito importante no ambiente operacional, no armamento, para a recolha de informação, para a observação", diz o coronel Velloso, que volta a insistir na ideia de que "atrás de uma máquina está sempre um homem".

"Incentivos musicais"

O tempo de curso do coronel Velloso foi "extremamente intenso", com riscos, inevitáveis durante a instrução. Uma vez, "na travessia de um curso de água, ia lá ficando". O responsável do CTOE cita esta situação para sublinhar que "há sempre muitas oportunidades em que se pode morrer". E não tem de ser numa situação de combate. Apesar da especial atenção consagrada à segurança. Hoje há sempre pessoal de enfermagem a acompanhar os exercícios mais perigosos.

O nível de risco e a dureza da preparação em Lamego não foram suficientes para fazerem adormecer o sentido de humor dos camaradas de curso do coronel Velloso, e dele próprio. "Éramos nove perto do final. Quando punham as músicas de acção psicológica, vínhamos para o corredor com mochila, G3 e tudo, e começávamos a dançar" - "o meu tempo na instrução foi o mais divertido que passei na tropa", recorda com um sorriso.

Os bailes improvisados naquela época estão longe de ser o objectivo dos "incentivos musicais", como os classifica o instruendo Rogério. A finalidade é criar arritmias e pressão psicológica. Ouve-se apenas um "trecho de uma composição, durante três horas, se for preciso", diz o antigo informático, num tom de quem se habituou a gerir a situação. "Mas pode ser só 20 minutos, a duração varia de noite para noite; pode nem haver." Nunca há certezas sobre nada - como é da natureza da guerra -, nem sobre o tempo de descanso.

Um descanso passado em camas sem lençóis ou cobertores, onde se dorme fardado, com mochila às costas e arma ao lado. Só se tiram as botas. Isto porque os instruendos têm apenas três minutos para estarem na parada ao grito de "forma".

Um descanso que se aprende a aproveitar em qualquer circunstância. "Até numa caminhada. Segurava a mochila do da frente e pedia ao de trás para me orientar quando mudássemos de direcção. Pelo menos, o cérebro desligava", lembra o comandante do CTOE.

A parelha

Para Operações Especiais só se vai por escolha e motivação pessoal. Como sucedeu com Rogério, Daniel e Rui C., entre os mais recentes. Este, "desde os 15 anos que queria ser de Operações Especiais". Natural de Lamego, lembra-se de ver passar os efectivos do CTOE na cidade e de se imaginar "oficial de infantaria". Por causa do limite de idade, achou "mais indicado ir para a Academia Militar". Aqui, descobre que "os melhores instrutores são todos de Operações Especiais". Toma-os como modelo. Mas evita informar-se sobre o curso. "Queria que fosse uma surpresa", diz enquanto caminha na parada de terra batida de Penude. Só tomou uma precaução: "Engordei 15 quilos para aguentar o esforço."

Um esforço em que o "mais difícil" foram as provas individuais, a maioria colocada na primeira parte do curso. "O pior é quando se está sozinho", nota Rui C.; percepção partilhada por Rogério: "Sozinho, ninguém acaba o curso." Por isso, as Operações Especiais assentam na parelha. "A parelha é um instrumento de sobrevivência e segurança", considera Daniel. Algo que Rogério explica nestes termos: "Ele vai sofrer por minha causa e eu vou sofrer por ele. Se fizer asneira, ele paga por isso, e vice-versa". "A nossa parelha é mais do que um irmão", diz Rui C. "Com a parelha, conta-se sempre", resume o sargento-chefe Carlos.

O que não impede momentos de fraqueza no passado e no presente. "Na minha época, o que nos deixava em baixo era a ausência da família, dos amigos", recorda o tenente. A propósito dos novos recrutas, diz que estes só parecem "ter saudades dos telemóveis", que obviamente lhes são retirados.

"Tirando raras excepções, houve uma época em que quase todos os dias pensei em desistir", confessa Rogério. No sentido oposto, Daniel assegura nunca ter pensado nisso, reconhecendo, contudo, o carácter "único" da unidade: "Costumo definir objectivos na vida, e estar nas Operações Especiais é o topo da minha carreira nesta fase."

Rui C. reconhece que o curso é um "desafio especial", que enfrentou bem devido ao "espírito muito forte" vivido na sua época como instruendo. Se não se viver esse espírito, insiste o tenente, será difícil concluir um curso que se começa no Inverno e se termina no "inferno", referência às semanas finais em que tudo está em jogo.

Nestas se concentram as "provas míticas dos rangers", aquelas em que o indivíduo e parelha vivem como se estivessem no terreno. E podem acabar presos, com tudo o que implica ser prisioneiro de guerra. Mas, passadas estas provas, pouco falta para receber a bóina verde.

(Por motivos de segurança, à excepção do comandante, os entrevistados são referidos pelo primeiro nome e não se publicam as suas fotografias.)

Exercícios

Uma operação em quatro noites, três dias e três minutos

DN 2010-07-10

Elementos do CTOE seguem um longo programa de treinos antes de serem considerados aptos para a acção.
Soam tiros a curtos intervalos, são gritadas ordens. Junto de uma fogueira que se apaga, passam vultos que progridem entre tendas e construções térreas, arma empunhada à altura do ombro. São 04.12 da madrugada: é assaltado o acampamento inimigo com o objectivo de capturar um dos seus chefes.

Protegido por sentinelas, o campo está localizado num ponto alto, rodeado por vegetação e um perímetro defensivo, onde foram colocados artefactos de detecção de movimento e armadilhas improvisadas. O grupo de ataque conseguira aproximar-se até poucos metros e há quase duas horas que aguardava, invisível e imóvel, o instante propício para o assalto. Disparos sobre as sentinelas ou uma manobra de diversão a partir de ponto distinto do local de assalto são os sinais para o início da acção.

No acampamento, um dos militares exclama "king, king". Foi detectado o líder inimigo. Três elementos convergem sobre ele, imobilizam-no, colocam-lhe um capacete e um colete à prova de bala, arrastam-no para fora da casa; lançam granadas explosivas e de fumo - e desaparecem na noite.

Em três minutos termina uma operação iniciada há quatro noites, quando uma unidade de seis efectivos montou um posto de observação a 600 metros do objectivo. Eram, então, 02.05 de uma noite em que a lua entrara em quarto crescente e quase não havia nuvens no céu.

A operação decorreu nas serranias de Mirandela, onde o CTOE realizou o exercício Viriato 10, de 12 a 19 de Junho, um dos exercícios que realiza anualmente. O cenário, este ano, envolveu pequenos destacamentos que deviam capturar dirigentes de guerrilha ou libertar reféns - acções consideradas mais prováveis na actualidade.

A operação iniciou-se após a detecção do alvo considerado relevante. No caso da captura do líder, uma vez identificada a existência da base, foi necessário determinar como se vive ali e quem ali se encontra. Num primeiro momento colocou-se "os olhos no objectivo" para obter informação que permitisse ao comando tomar decisões. Uma patrulha de reconhecimento foi largada a grande distância do alvo, sendo o transporte assegurado por helicóptero numa situação real. "Todo o movimento se faz durante a noite. A noite é a melhor amiga das operações especiais", refere um dos oficiais do CTOE.

Após a largada, o grupo executou uma rápida caminhada, parando algum tempo depois para a primeira comunicação com o comando. Quatro elementos montaram guarda enquanto os restantes estabeleceram contacto. Os olhos estão treinados para trabalharem no escuro.

A progressão decorreu a um ritmo condicionado pelo terreno, a claridade nocturna e as condições de segurança. "Quanto mais perto do objectivo, mais lento o avanço", explica o mesmo oficial.

Em regra, o grupo progride em linha, a intervalos regulares, com o homem da frente a vigiar o que segue atrás de si. São vultos indissociáveis das sombras da vegetação para um observador a cerca de dez metros de distância. "A camuflagem é o segredo da sobrevivência" - eis uma frase frequente nas operações especiais. As indicações são sussurradas ao ouvido ou comunicadas por gestos.

O objectivo foi alcançado em cerca de três horas. Os únicos sons na noite são o coaxar das rãs e um cão que ladra ao longe. O grupo dispôs-se no terreno, os dois homens responsáveis pela observação mais à frente, os restantes junto do rádio, fazendo segurança à posição. Por volta das 03.10, as nuvens tapam o céu, envergam-se os impermeáveis. A temperatura baixa e irá baixar ainda mais até às 04.35, quando surge a primeira claridade. O grupo assegura-se, então, se esta é a posição mais favorável de observação e inicia uma vigilância constante de mais três noites - que foram frias - e três dias - com temperaturas a subir. Os relatórios são enviados a horas certas ou sempre que se verifique algo relevante no alvo. Dorme-se por turnos de duas horas, come-se ração de combate e o estado de alerta é contínuo.

A informação obtida permite ao comando planear a intervenção e respectiva "exfiltração" - a retirada após o ataque. No momento da acção, a patrulha de reconhecimento irá juntar-se à unidade de ataque.

Antes da operação, esta será "esterilizada", como se diz na gíria das Operações Especiais. Não deve levar nada que identifique os seus elementos - alianças, fotografias, insígnia da unidade - nem, se possível, mapas da área onde vai actuar. Tudo deve estar memorizado. Sabem também que, se forem capturados, devem "gerir" a divulgação da informação durante 24 a 48 horas. Depois, aquela deixa de ser relevante. Mas um dia ou dois podem ser demais para um prisioneiro de guerra.

Por isso, estão a treinar há muitos meses, e vão continuar a treinar mais um ano. Para que as missões tenham sucesso e nunca sejam feitos prisioneiros. Receber a bóina verde foi apenas o começo.

Entrevista: Sepúlveda Velloso

"Há sempre um risco muito considerável"

DN 2010-07-10

Coronel Sepúlveda Velloso, comandante do CTOE de Lamego.




Quais as missões específicas das Operações Especiais?




Há quatro missões primárias: a acção directa - a operação sobre um alvo; a segunda é a assistência militar, que abrange um âmbito muito vasto; a terceira é o reconhecimento especial e vigilância para identificar um objectivo - estas são as missões em termos de doutrina NATO, incluídas na nossa doutrina nacional de defesa. Nesta consta ainda a acção indirecta em que as Operações Especiais devem organizar e enquadrar elementos irregulares para actuar sobre uma força invasora.

Actuam em qualquer ambiente?

Temos treino para isso. Já treinámos no Árctico, no deserto e vamos este ano treinar no Centro de Instrução de Guerra na Selva, na Amazónia, para ganhar competências neste ambiente.

Qual o vosso grau de prontidão?

O mais elevado aqui na unidade é a dos elementos adstritos à Força de Reacção Imediata, que é 96 horas, em termos formais. Mas da última vez que uma força saiu daqui, armada, municiada e com água e alimentação para três dias, demorou cinco horas desde a ordem de preparar até à chegada ao ponto de partida.
Pode referir uma acção marcante na história da unidade?

O nosso objectivo é cumprir as missões, fazer o que há a fazer, regressar e continuar o nosso trabalho. Posso é dizer que mais de 70% das missões dos últimos 15 anos decorreram num clima de tremenda incerteza, de tremenda exigência e de risco muito considerável.
Já alguma mulher se inscreveu no curso?

Até hoje surgiram duas candidatas nos centros de selecção, mas não passaram nos testes.

Qualquer pessoa pode ser de Operações Especiais?

Diria que qualquer pessoa pode ser, mas nem todos conseguem.


Com a devida vénia e agradecimento ao jornal Diário de Notícias, do dia 10 de Julho de 2010. 

quarta-feira, 7 de julho de 2010

M224 - A velha metralhadora portuguesa FBP agora é americana

Tecnologia que foi nacional
A velha FBP (metralhadora portuguesa)
Agora é propriedade dos americanos
Tecnologia que foi nacional (a velha FBP) mas já é propriedade dos americanos.
Continuamos os mesmos: depreciamos tudo o que fazemos, compramos caro (dos outros tudo é bom) e
vendemos barato (o que fazemos não vale nada).
Um produto nacional, que até faz muito sucesso nos E.U.A., local em que a variedade e oferta são imensas.
Em Portugal esta arma foi considerada obsoleta e custou mais de 2.000.000 de contos (não é Euros) ao Estado, em desenvolvimento e pesquisa.
O objectivo era substituir a FBP (ainda no 10 de Junho último se viam sargentos da Marinha com estas armas na cerimónia).
No encerramento da Indep, alguém comprou tudo, moldes, peças, documentação técnica!
Por quanto?
Menos de 50.000,00 € (sim aqui é em Euros)!!!
Os Americanos chamam agora Lusa à arma e comercializam a mesma.
Vejam a descrição que junto em anexo.