O RANGER Casimiro Carvalho, do 2º Curso de 1972, que cumpriu a sua comissão militar na Guiné, na Companhia de Cavalaria 8350 - Piratas de Guileje -, é notícia no DN de hoje, dia 27 de Novembro de 2011.
Com a devida vénia e agradecimento reproduzimos um excelente artigo da Jornalista Ana Cristina Pereira, do jornal Público, que escreve crónicas mensais no jornal Diário de Notícias da Madeira, a quem, aqui neste blogue, apresentamos os nosso cordiais parabéns e felicitações por este agradável memorando.
Estilhaços do tempo
Ana Cristina Pereira, jornalista do Público
"Ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel ou se foi ordem dada pelo comandante-chefe, mas uma coisa é certa: GUILEDJE ESTÁ À MERCÊ 'DELES'."
José Casimiro Carvalho não estava. Tinha ido coordenar uma operação de reabastecimento da companhia. Guiledje era o fim do mundo. Os mantimentos vinham em batelões de Bissau até Cacine. Seguiam em lanchas de desembarque médias até Gadamael. E por coluna até ali.
Há uma maqueta no Núcleo Museológico de Guiledje. O lugar está a ser recuperado, muito por força da Associação para o Desenvolvimento. Para já, apenas uma sala com isso e com utensílios e textos de época. Visitam-na antigos combatentes e familiares. Às vezes, aparecem filhos ou netos de militares já mortos, à procura de pistas de um passado silenciado.
Foi lá que li a carta que Casimiro escreveu aos pais sobre a retirada de 1973. E um impressionante depoimento de João Tunes, importado do blogue Bota Acima: "Enclausurados dentro do quartel, morteirada todos os dias, com baixas quando iam buscar água a um quilómetro, comendo com uma perna fora da mesa para se atirarem para uma vala quando a primeira granada caísse, os militares de Guiledje sentiam-se mais perto de outra vida que da vida vivida. Os que não estavam malucos por lá andavam perto".
Impossível não ficar a pensar no que terá passado o meu pai durante a guerra colonial. Não combateu na Guiné-Bissau. Combateu em Moçambique, mas enquanto lá estive ligou-me várias vezes, inquieto. Suponho que para ele Guiné ainda é sinónimo de inferno.
A guerra colonial começou há 50 anos. Oficialmente, acabou há 37. Em quantas cabeças ainda ecoa?
A situação tornara-se insuportável. Durante três dias, o aquartelamento fora bombardeado 37 vezes. Sobre ele tinham caído 795 granadas. A cozinha fora destruída e a tropa estava impedida de formar coluna para ir buscar água. Já não tinha água e já só podia comer rações de combate.
Guiledje dista três quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacry. O exército assentara arraiais em 1964. Tentava impedir a entrada de armamento e de víveres para o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, via "corredor da morte" ou "caminho di povo", consoante o lado da luta.
Agora, só se pode imaginar a rede dupla de arame farpado, as trincheiras a céu aberto, as trincheiras subterrâneas, o morteiro, as messes, os quartos, o posto de rádio, o posto de socorro, a arrecadação, a cantina, a cozinha… Depois da retirada de militares e civis, António de Spínola, então governador militar da Guiné, mandou bombardear o que restava.
2 comentários:
Ranger MR
Estás sempre de atalaia.
Obrigado pelo ênfase que deste à opinião da referida jornalista.
Um abraço deste teu camarada e amigo
Jose Carvalho
Ranger
Com os melhores agradecimentos pela parte que me toca, a pedido de um grande Comandante de uma combativa e valente Companhia de Cavalaria na Guiné - CCAV 8351 Tigres de Cumbijã -, passo a publicar a seguinte comentário:
Aqui deixo um abraço de solidariedade a todos os combatentes da Guiné, sejam eles de Guileje ou de Gadamael ou de qualquer outro sítio daquele território de sofrimento!
Outro abraço para o Casimiro cuja actuação em Gadamael merece o respeito de todos nós, pelo empenho e coragem com que se bateu!
Para o dinamizador deste "site", outro abraço.
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
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