domingo, 15 de abril de 2012

M433 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Homenagem aos Mortos: Os famosos e os anónimos (11)



Esta é a 11ª mensagem, a continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429 e M432, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/



38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 

Guiné – 1972/74 



A minha Homenagem aos Mortos da 38ª: Aos famosos e aos anónimos 



Meus caros camaradas, mortos em combate, da 38ª Companhia de COMANDOS (13): 



Esta carta já não vai para o SPM [Serviço Postal Militar].  Não valeria a pena enviá-la para lá, pois os comunicados de guerra deram a brutal notícia: vocês morreram em combate! 


Guiné > Gampará > 38ª Companhia de Comandos (1972/74 > Os Furriéis milicianos Miguel Vareta e Artur Fabião (algumas semanas antes de este morrer em combate em Caboiana – Churo). 

Foto: © Miguel Vareta (2007). Direitos reservados. 

Recordo aqui, comovidamente, as horas que passamos juntos na Guiné, recordo todas as palavras que trocamos numa reconstrução dolorosa, olho as fotos que tiramos lado a lado. Tudo isto me é penoso nos dias de hoje, pois fiquei com amigos a menos na Terra. E o que é pior: amigos valorosos, amigos que não temiam o perigo, amigos que estavam na primeira linha, ali exactamente onde a guerra era mais dura, mais cruel, mais mal remunerada.



Vejo diante dos meus olhos turvados de saudade o vosso perfil com o rosto cheio de esperanças nos projectos a realizar na volta à terra natal. Vocês eram soldados que não temiam o perigo, que eram amados pelos vossos camaradas, superiores ou subalternos.Vocês tinham um fogo interior que arrastava montanhas; eram mais fortes que muitos fortes em peso de carne e ossatura. 



Bebemos copos, fomos às bajudas, apanhamos bebedeiras, tiramos fotos que hoje olho com lágrimas nos olhos, até que recebi a estúpida e brutal notícia: senti então um grande vazio diante de mim; o meu mundo sentimental ficou mais reduzido, ficou mais pequeno e, imperceptivelmente, comecei a rezar por esses amigos que derramaram o seu sangue generoso por uma terra onde combatiam por um ideal comum. 



Esta carta, como disse, não vai para o SPM; escrevo-a e publico-a para que outros saibam que na Guiné se morria assim, numa luta impiedosa a que nós nunca voltámos a cara. Vocês foram um exemplo e são um exemplo. 

Tenho os olhos embaciados. Tenho o coração amarfanhado. Tenho todo o meu íntimo em revolta. O dia de hoje veio triste. Há horas que me procuro, que faço por encontrar-me para poder responder ao vosso último adeus. 

Que posso dizer-vos, a vocês, que repousam ao lado direito de Deus? Nada, mas mesmo nada. E, no entanto, estou amargurado. Apenas posso pedir-lhes que velem por nós, queridos amigos, Amanhã será um novo dia. Mas o meu mundo sentimental ficou mais reduzido. Em qualquer lado onde esteja, eu pensarei em vós, eu rezarei por vós. 

Acreditem-me: na vossa morte eu senti a morte de amigos, de um exemplo de HOMENS. E até que nos possamos abraçar de novo, à mão direita de Deus, eu vos digo, com o coração esmagado pelo sofrimento: Esperem por mim!

(continua) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
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Do mesmo autor veja também as mensagens: 

1ª mensagem em 16 de Março de 2012 >
2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 
M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8)

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 > 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

M432 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Um tiro de misericórdia em Caboiana (10)


Esta é a 10ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427 e M429, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/


38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 
Guiné – 1972/74 

Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > A espingrada semiautomática russa Simonov, capturada ao guerrilheiro abatido. 
Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > Em primeiro plano, o comando Mendes, com o seu RPG2 
Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > A penosa recuperação no tarrafo do Rio Caboiana. 
Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > Já a caminho da LDM que há-de levar os 2 Gr Comb até ao Cacheu. 

Memórias de uma passagem de ano e Natal (com prenda?) 

31 de Dezembro de 1972 - Acção Jovenca 

- Missão: Aniquilar, capturar e desarticular as organizações IN na região da Caboiana

- Força executante: 2 Gr Comba da 38ª CCmds; 

- Planos elaborados para a acção: Saída de Teixeira Pinto em coluna auto até ao Cacheu

- Deslocação em LDM até a região de S. Domingos até a altura da recuperação em LDM; 

- Apoio aéreo: COMdcon(DO27 armada) em alerta, no solo de Teixeira Pinto; 

- Duração: 24 horas; 

- Resultados obtidos: Pelo IN, 1 morto (confirmado); 

- Feita a captura do seguinte material: 1 Esp Aut Simonov. 

Desenrolar da acção: 

31 de Dezembro de 1972 

O meu grupo (2º) e o 4º vamos para a Caboiana-Churo. 

Seguimos em LDM até ao Rio Caboiana, e aí chegados passamos para os botes dos Fuzas Africanos que nos vão levar até ao tarrafo onde iremos desembarcar. 

O desembarque e a passagem do tarrafo são feitos à força de braços e com muito custo mas lá chegamos ao trilho e pelas 10h00 lá vamos a caminhar. 

Sigo em 5º lugar logo atrás do Cmdt da Companhia. A minha arma era um RPG2. O trilho por onde seguimos revela vestígios de ser usado com regularidade. 

O 1º homem da frente segue com cautela observando cada vestígio para não sermos apanhados em falta, pois segundo o nosso credo... em combate a morte sanciona cada falta! 

Já seguíamos há horas no trilho quando ouvimos, no silêncio, barulho de alguém a assobiar uma melodia qualquer. Nem tivemos tempo de parar quando nos apareceu pela frente um guerrilheiro, armado e só. Ainda tentou disparar mas o nosso primeiro homem disparou uma rajada à queima- roupa, atingindo-o. O homem ainda deu uns passos em frente vindo a cair à minha frente. 

Reparei que, embora o sangue saísse em golfadas pela boca, ainda estava vivo. Em agonia. Para bem dele e para lhe acabar o sofrimento foi aí que lidei mais de perto com a morte. Para alguns isso será assassínio, para mim foi misericórdia. Um tiro de misericórdia. 

Apesar do tempo que já levo de combate, ainda não aprendi na tratar a morte por tu. Ainda tenho algumas reticências em tirar o último sopro a alguém. 

Nós, os que passamos pelos palcos de Guerra e que fomos a mão executora em muitas operações, apenas demos seguimento ao que era superiormente planeado. 

Fui voluntário para os Comandos, sabia o que me aguardava, sabia que a palavra MORTE iria entrar na minha vida até ser banal pronunciá-la. Que fique claro que até hoje nunca me arrependi de nada do que fiz enquanto militar. Sempre respeitei os mais fracos e os indefesos, nunca pratiquei actos gratuitos só para acrescentar mais uma marca na coronha da minha arma. Fui misericordioso tanto como o IN o era. Para se obter resultados era preciso matar para não ser morto e nisso tornei-me mestre, mas sempre olhei nos olhos aqueles que, como meus inimigos, exalavam o último sopro. 

Prosseguindo no meu diário: Com a morte do guerrilheiro IN capturamos uma arma russa, uma Simonov, novinha. 

Seguimos pelo trilho e, com a nossa aproximação a um aldeamento, ouviram-se uma série de rajadas. O elemento surpresa fora quebrado e prosseguir era puro suicídio. 

Tínhamos de certeza emboscada montada algures no caminho. O capitão decidiu sair do trilho e entramos a corta mato. O objectivo da missão estava perdido quando se quebrou o elemento surpresa e por isso foi decidido terminar e rumar ao local de recuperação. 

A morte do elemento IN teve uma virtude, o de me fazer ir passar a passagem do ano no quartel de Teixeira Pinto. 

No local de recuperação tivemos de atravessar um tarrafo, aí com 50 m de comprimento, feito a força de braços pois o terreno era pântano e cheguei a estar atascado até a cintura agarrado a raízes. 

Lá chegamos aos botes dos Fuzas Africanos que nos levaram até ao Cacheu , daí seguimos em coluna auto até Teixeira Pinto onde nos aguardava a entrada do ano de 73. 

(continua) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto e Fotos: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados. 

Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved. 
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Do mesmo autor veja também as mensagens: 

1ª mensagem em 16 de Março de 2012 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

terça-feira, 10 de abril de 2012

M431 - Paintball, Airsoft e Radicalismo desportivo

Organizam-se eventos de: Paintball
Airsoft
Radicalismo desportivo


Entretimento, convívo, desafio, aventura, emoção...
Para grupos de amigos e familiares superior a 9 pessoas.

Contacto: Coimbra Pereira
Telem. 916730029coimbra_pereira@hotmail.com
sniper652004@gmail.com

segunda-feira, 9 de abril de 2012

M430 - Datas importantes que nunca foram feriados, por Nuno Dias Freitas

No passado dia 5 de Abril, recebi na minha caixa de correio, um interessante e bem conseguido trabalho, em Power Point sobre " As datas importantes que nunca foram feriados", assinado por Nuno Dias Freitas. 

Como no trabalho continha o endereço de e-mail do autor, solicitei-lhe autorização para o republicar aqui, no blogue.

A resposta foi pronta e afirmativa, pelo que, mais uma vez, aqui registamos os nossos melhores agradecimentos e cumprimentos pela mencionada concessão.
   












Texto: © Nuno Dias Freitas (2012). Direitos reservados. 

domingo, 8 de abril de 2012

M429 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Guidaje: a verdade sobre o Cemitério de Cufeu (9)



Esta é a 9ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426 e M427, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo da 38ª Companhia de Comandos. Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

38ª Companhia de Comandos 
Uma lenda da Guerra do Ultramar 
Guiné – 1972/74 



Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Cufeu > Maio de 1973 > A caminho de Guidaje, os comandos da 38ª CCmds deparam-se com um espectáculo macabro... Cadávares de combatentes das NT e do IN abandonados, na sequência da batalha de Guidaje... Nesta imagem, brutal embora de má qualidade, vê-se o cadáver de um elemento das NT, africano NT (provavelmente da CCAÇ 19), com a cabeça apoiada num tronco de árvore...O braço, assinalado com um círculo a amarelo, é o do autor do texto, à procura de documentos para identificar o cadáver.



Guidaje: a verdade sobre o Cemitério de Cufeu 

Com respeito aos restos mortais das NT que ficaram no Cufeu, primeiro vou mandar mais algumas coisas de choque para despertar consciências e preparar os espíritos e depois vamos lá, ok? 

A verdade sobre Guidaje teve o condão de derrubar algumas barreiras mas só algumas. Ainda há verdades que eu acho que são demasiado, digamos, reais. 

Corri toda a Guiné, conheci cada mata, cada bolanha, cada etnia, aprendi a falar crioulo, ouvi muitas queixas das pops [populações] naquele tempo sobre militares portugueses, coisas que nem imaginam e que constatávamos serem verdades muitas delas (e que se eu hoje aqui as contasse seria sacrificado). 

Os excessos também fizeram parte da nossa passagem por lá e e, sem ter sido santo, garanto que só no contexto do factor guerra é que os cometi. 

Vamos deixar que outros camaradas continuem a falar das suas experiências, que eu noto agora serem os relatos já menos poéticos e mais reais. E aí eu irei falar-vos da parte encoberta do chamado Cemitério de Cufeu. 

Não sei se repararam na foto do camarada morto no Cufeu, já publicada, vê-se uma mão a mexer no cadáver. É a minha mão à procura de documentos para identificar o corpo. Como não tinha nenhum passou a número, perceberam? 

Acho que a determinada altura em Guidaje os mortos eram números, que era preciso não humanizar, para não dar rosto à tragédia já que os números eram mais fáceis de apagar. Mas as ordens vinham sempre de cima e essas eram: façam o que puderem! 

Perante esse cenário e com dificuldades de evacuações de feridos, como é que se evacuavam mortos? 


Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > O abutre ou jagudi (corruptela do crioulo jugude). Foto do João Santiago, filho do Paulo Santiago... Na batalha de Guidaje (Maio/Junho de 1973), quantos combatentes, de um lado e de outro, ficaram no terreno para pasto dos jagudis? Nunca o saberemos ao certo... 

O destino final de muitos foi o chão da bolanha, pois foi preferível isso do que ver os corpos a servirem de repasto aos abutres. Dito assim, parece demasiado cruel, mas mais cruel era ficarem onde estavam. E reparem que esses corpos não foram deixados ali por nós, nós apenas  os encontramos. 

Hoje ficamos por aqui, ok? Voltaremos ao assunto mais tarde e em mais pormenor.  

(continua) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 

Foto 14: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved. 

Foto 14a: © João/Paulo Santiago (2006). Direitos reservados. 
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Do mesmo autor veja também as mensagens: 

1ª mensagem em 16 de Março de 2012 >

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 

M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (7): Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8) 

sábado, 7 de abril de 2012

M428 - Almoço/Convívio dos GEs/GEPs - Grupos Especiais e Grupos Especiais Paraquedistas Que combateram por Portugal em Moçambique


Divulgação do Almoço/Convívio dos GEs/GEPs - Grupos Especiais e Grupos Especiais Paraquedistas, que combateram por Portugal em Moçambique, no período da Guerra do Ultramar


4780-050   Caldas da Saúde - Areias - Santo Tirso
96 641 82 50 - ge.gep@hotmail.com


ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO        


Dia 05 DE MAIO de 2012, no HOTEL SANTO AMARO em FÁTIMA 

Local da concentração - CAPELINHA DAS APARIÇÕES 

Serviço de Bar à chegada, com Café, Sumos, Vermout ou Martini 
MENU

Conjunto de Acepipes: Salgadinhos, Enchidos Regionais, Queijos e Diversos

Bebidas em Aperitivos: Sumos, Vermout ou Martini, Vinho da Casa

Sopa: Aveludado de legumes
Prato de Peixe: Bacalhau Narciso
Prato de Carne: Bifinhos c/ arroz de feijão
ou: Frango à Gulosa
ou: Frango em Vinho Tinto
Bouquet de Legumes tenros da Época
Acompanhamentos: Batata e Arroz
Buffet de Frutas e Doces
Bolo da Associação GE/GEP
Vinho da Casa, Café, Champanhe
Digestivos: Whisky Novo, Bagaço

Preço Final: 25 Euros

Crianças dos 3 aos 10 anos pagam 50% do valor
Confirmação até dia 26 de Abril
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Conheces algum GE ou GEP que não sabe dos nossos encontros, 

não tem comparecido ou não recebe a nossa comunicação? Traz-lo.
Obs: este ano será preciso pagar uma quota ajuda de 5 euros. 

Luís Fânzeres Martins - GEP

quinta-feira, 5 de abril de 2012

M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8)

MORTO AO SERVIÇO DA PÁTRIA 
Soldado Comando da 38ª Companhia de Comandos 

JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO
Natural da Azambuja faleceu em combate, como militar do Exército Português, com 21 anos de idade, em Guidaje - na Guiné -, em 1973 ! 





Esta é a 8ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425 e M426, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Guiné > Brá > 1966 > Quartel dos Comandos  

 38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 

Guiné – 1972/74 

Introdução 

Lembro ao Cor. Matos Gomes que a 38ª CCmds foi a primeira romper o cerco a Guidaje 

Conheci perfeitamente o então capitão Matos Gomes, na altura na Guiné, como meu 2º comandante do Batalhão de Comandos em Brá. Em todos os acontecimentos que tenho estado a relatar (1), nunca o capitão Matos Gomes esteve presente. E o curioso é que a minha companhia foi uma das forças que esteve sempre presente nos acontecimentos em Guidaje, em Maio-Junho 73, onde tivemos mortos, além de feridos graves e ligeiros. Ora no livro do Matos Gomes nem uma referência é feita à 38ª Companhia de Comandos. Sabe-se lá porquê! 

Quando no livro se fala no cerco de Guidaje (2) e se menciona que (passo a citar) "em 12 de Maio, chegou a Guidaje uma coluna de reabastecimento constituída pelo destacamento de fuzileiros especiais 3 e 4" (fim de citação)... Pois é, mas a minha companhia já lá tinha chegado antes: fomos a primeira companhia a romper o cerco, só que na altura não estávamos integrados no Batalhão de Comandos mas sim afectos ao CAOP 1, sedeado em Mansoa. Só esquecimento (?) - penso eu e mais 150 elementos da 38º CCmds. Quero esclarecer que a minha companhia não fez parte da operação Ametista Real. 

Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje 
Presente! 

Guiné > Região do Cacheu > Gr Comb da 38ª Companhia de Comandos > Dia de Natal: 25 de Dezembro de 1972. Subindo o Rio Caboiana, afluente do Cacheu, em LDM... O soldado comando Raimundo está assinalado com um círculo, a verde. 

A foto da LDM no Rio Caboiana, faz-me reviver com amargura esse tempo, pelo facto de que, ao olhá-la, gostaria de parar o tempo. Gostaria de parar o tempo porque nela está imagem de alguém que já não está entre nós, alguém que foi uma perca muito dolorosa para todos os camaradas da 38ª Companhia de Comandos. 

Na foto o rapaz que está de camisola branca do lado direito, sentado na lateral da LDM, é o meu querido Amigo que perdeu a vida em Maio de 1973 nas valas de Guidaje  e a quem eu presto aqui a minha homenagem e a quem com as lágrimas nos olhos grito: JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO, estarás sempre presente no meu coração e nas minhas memórias, que Deus te mantenha do seu lado direito e que, quando eu te voltar a encontrar, tenhas ainda esse sorriso tão simples e sincero que ainda hoje é lembrado na tua terra natal, a Azambuja. Descansa em Paz, querido amigo. 

O soldado comando Raimundo, morto em combate, não foi abandonado em Guidaje 

O corpo do soldado Comando José Luís Inácio Raimundo, que morreu nas valas em Guidage, foi trazido por nós, Comandos da 38ª Companhia, aquando do nosso regresso a Binta na coluna. 

Não ficou enterrado em Guidaje porque NUNCA deixamos mortos ou feridos para trás. Tínhamos o dever moral de trazer o seu corpo e só o largámos em Binta quando ficou numa urna e dali seguiu para a capela mortuária de Bissau onde foi devolvido à família. 

Recebi mensagens peguntando porque não ficou ele enterrado em Guidaje como outros; porque na nossa formação de COMANDOS foi-nos ensinado que o mais importante era o HOMEM! 

(continua) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto e foto: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
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NOTA: Em Guidage ficaram os cadáveres de 3 camaradas pára-quedistas da Companhia de Caçadores Pára-quedista 121 - CCP 121 -, que lá morreram: Lourenço, Victoriano e o Peixoto, de quem, em 2008, foram resgatados os restos mortais e entregues ás respectivas famílias em Portugal. 

1ª mensagem em 16 de Março de 2012 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 


terça-feira, 3 de abril de 2012

M426 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Guidaje? Nunca mais!... (7)



Esta é a 7ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424 e M425, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/


38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 

Guiné – 1972/74 


Guidaje? Nunca mais!... 

Guiné > Guidage > CCAÇ 4150 (1973/74) > Guidaje, Guileje e Gadamael: todos estes aquartelamentos começavam por G, de guerra: foram um talismã para o PAIGC, e um inferno para as NT... 

Última parte do diário de Amílcar Mendes, onde se relata a escolta que dois Grupos de Combate da 38ª CCmds fez a uma coluna auto que se dirigiu a Guidaje, vinda de Farim, com regresso a Farim, entre os dias 9 e 13 de Maio de 1973. 

13 de Maio de 1973 

Amanhece em Guidage. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque(o 8º).Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel. 

A coluna vai hoje regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair. 

Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o Coronel Correia de Campos, que comandava o COP3 ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje. 

O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia pois fazia-se noite e com certeza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento. 

Logo ao alvorecer a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos urubus. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito! 

Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida. 

Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar! 

Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direcção a Mansoa

É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!... 

FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA! Pensava eu. A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje! (Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). 

Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS! 

Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... 

(continua) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 

Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
Foto: © Albano M. Costa (2005). Direitos reservados. 
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1ª mensagem em 16 de Março de 2012 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 27 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 >