sexta-feira, 11 de maio de 2012

M451 - AOE (Associação de Operações Especiais) – Espaço de TODOS os RANGERS - 18º Jantar/Encontro/Convívio - 5 de Maio de 2012

AOE (Associação de Operações Especiais)


Espaço de TODOS os RANGERS

18º Jantar/Encontro/Convívio
5 de MAIO de 2012



Uma mão cheia de RANGERS persistentes e voluntariosos, que se dedicam com alma e coração à Associação de Operações Especiais, teimam em manter aberto e dar vida a um excelente e airoso Espaço que nos foi cedido, na zona das Antas - Cidade do Porto -, pela DOMUS Social - Câmara Municipal do Porto. 



Não tem sido fácil manter esta nossa área no melhor das funcionamentos, devido ao desinteresse geral dos homens das Operações Especiais, por este nosso cantinho.


Mesmo assim, todos os sábados à noite se juntam uns tantos RANGERS que podem, e assim o desejam, e no primeiro sábado de cada mês é levado a efeito, com saborosas ementas tradicionais, seleccionadas e confeccionadas pelo RANGER Lopes, animados e divertidos jantares/convívios.



Depois dos repastos o pessoal conversa, joga poker de dados, cartas e dominó num convívio ameno e saudável. 

Infelizmente, continua a não aparecer pessoal que tanto diz orgulhar-se de ser um dos bravos elementos das Operações Especiais, para podermos garantir a continuidade deste nosso "quartel", e, consequentemente, assegurar o futuro deste belo Espaço que tanto custou a conquistar!

Bons cozinhados à moda do RANGER Lopes!  


Um salada de frutas recheada de apetitosos morangos.
A Ana Maria e a Paula asseguravam-se de que tudo seguia pelo melhor e nada faltava nas mesas 

 Uns baldam-se mais que outros. Mas como era para ver futebol... desta vez safaram-se!
Apesar da crise a sala estava bem arranjada
  Linguadinhos fritos e petinga frita e de escabeche, com arroz malandrinho...

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS E UM JÁ PASSOU... VIVAM A VIDA… CONVIVAM… RIAM… DIVIRTAM-SE… E JUNTEM-SE A NÓS... NO ESPAÇO DE TODOS OS RANGERS 

A Paula foi aqui apanhada em flagrante, quando tratava de devorar várias petingas! 
Desta feita foi a vez do Cor RANGER Albano divagar sobre a sua vida militar, perante a atenta plateia. 

A Maria também alinhou eficazmente na "faxina"

 Os Homens também ajudam na limpeza! Afinal também não ajudam a sujar? Viva a igualdade!

O "soldado" João olha desconfiado para o 1º Cabo Rocha que lhe dá lições de aspiração! Diz o nosso 1º Cabo: "Aprende que não é todos os dias que eu tenho disposição para ensinar disto, ok! Gosto mais de a dar tiro ao alvo!"

APAREÇAM VOCÊS TAMBÉM!

RANGER não é qualquer um... é quem pode... quem tem Valor e Vontade de VENCER... é uma condição e opção de vida! É uma vacina para o resto das nossas vidas!

Reservas para o próximo jantar no dia 2 de Junho de2012 (1º sábado do mês de Junho), através de: RANGER Lopes - 220 931 820 / 964 168 857 ou RANGER Ribeiro - 228 314 589 ou 965 059 516 


NOTA: O emblema que encabeça esta mensagem não é oficial. É apenas uma ideia. 


Fotos: © MR (2012). Direitos reservados.

M450 - RANGER/GEP José Duarte do 2º Curso de 1972


Hoje apresenta-se nesta nossa formatura em parada virtual, onde todos podemos e devemos formar lado-a-lado, independentemente dos cursos.

Todos sabemos que o C.I.O.E./C.T.O.E. completou 50 anos de idade e, assim, fabrica RANGERS da melhor estirpe, qualidade e dureza mundial desde 1962. 


RANGER é RANGER, quer tenha sido mobilizado, entre 1962/75 para a Guerra do Ultramar, quer agora para missões em territórios de "aparente" paz.

RANGER/GEP José Duarte, frequentou o 2º Curso de 1972, e foi mobilizado para Moçambique, onde completou também o exigente e rigoroso curso de G.E.P. (Grupos Especiais Paraquedistas).

RANGER/GEP José Duarte
2º Curso de 1972

Foi Oficial de Instrução em Penude (Cmdt do OF 3), no 3º curso de 1972. 

Seguiu para o G.A.C.A. 2 em Torres Novas, para formar batalhão. 

Partiu para Moçambique, tendo sido 2º CMDT da C.A.R.T. 7253, colocado em Mocimboa do Rovuma (Janeiro de 1973). 


Actividade operacional 

Seguiu para Omar ( Março de 1973). 

Em Abril de 1973, foi para o Dondo frequentar o curso de paraquedismo no Centro de Instrução de Grupos especiais - C.I.G.E. (Dondo).

Foi nomeado Comandante do G.E.P. 007, desenvolvendo  actividade operacional em Guro, Madzuirgue, Mungari, Catulene e Catunguirene.

Foi ferido em combate na zona de Catunguirene, tendo sido tratado em:
Hospital Militar de Tete
Hospital Militar de Lourenço Marques
Hospital Militar Principal (Lisboa)

Posteriormente seguiu-se:
Depósito Geral de Adidos (como Oficial de Justiça).

Promovido a Tenente em 1976.

L.A.M. (Lar Académico Militar, Cmdt da comp. de alunos dos 5º , 6º, 7ºanos e universitários e também da terceira idade). 

E.P.I.( Escola Prática de Infantaria, curso de promoção a capitão). 

D.A.I. (Direcção da arma de Infantaria, )

Actualmente encontra-se na situação de reforma, com o posto de Coronel de Infantaria. 

É D.F.A. com 65,68% de incapacidade.

Um abraço,
José Duarte

Cor Ranger/G.E.P

****************************
Nota do editor: 

Ficamos a aguardar mais novidades do RANGER/GEP Duarte, que com certeza terá muitas fotografias e várias estórias para nos contar, das suas andanças pelas então problemáticas, mas também belas e surpreendentes, terras de Moçambique.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

M449 - CONFRATERNIZAÇÃO ANUAL DA AOE 2012


A.O.E.
ASSOCIAÇÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS

CONFRATERNIZAÇÃO ANUAL DE 2012

CAMARADAS RANGERS, AMIGOS E FAMILIARES


A NOSSA CONFRATERNIZAÇÃO ANUAL SERÁ NOS PRÓXIMOS DIAS 29 E 30 DE JUNHO E 1 DE JULHO.

A DIRECÇÃO ESTÁ A PREPARAR O RESPECTIVO PROGRAMA QUE SERÁ PUBLICITADO OPORTUNAMENTE NESTE BLOGUE.

TOCA A MARCAR NA AGENDA ECOMEÇAR A PREPARAR OS TARECOS.


terça-feira, 8 de maio de 2012

M448 - 17º Encontro da 38ª Companhia de Comandos ,30 de Junho de 2012, em Milharado - Venda do Pinheiro (Malveira)


O nosso Camarada COMANDO Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) - Brá, 1972/74 -, solicita-nos a divulgação do programa da festa da sua Companhia.

XVII ENCONTRO
 38ª Companhia de Comandos
30 de Junho de 2012
 Milharado - Venda do Pinheiro (Malveira)
 HOMENAGEM AO NOSSO CAMARADA
Cecílio Manuel Ferreira Franco

Camarada, 

Este ano, vamos reunir-nos em MILHARADO (Venda do Pinheiro) no próximo dia 30/06/2012 e assim cumprir uma tradição que a todos nos orgulha e honra.

Este ano, iremos prestar HOMENAGEM ao nosso camarada CECÍLIO FRANCO que, como vos recordais, faleceu na Guiné a 01/02/1973. 


Recordaremos juntos também, que foi há 40 anos que embarcámos para a Guiné.
“A 38ª Companhia de Comandos tem 3 minutos para formar na parada!” - Isto é, tem o dia 30 de Junho de 2012 para estar toda junta a comemorar. Isto e muito mais numa “PROVA DE FOGO” do 40º Aniversário do começo de uma gloriosa aventura que nos uniu para o resto das nossas vidas! 

Vem, traz a família e os amigos! MAMA SUMÉ

PROGRAMA
10h30 – CONCENTRAÇÃO no Cemitério de Milharado
11h00 – Visita à Campa do nosso Camarada - Cerimónia de Homenagem.
Deposição de Coroa de Flores. Entrega da Boina Comando à Família.
11h30 – Cerimónia Religiosa na Igreja do Milharado.
12h30 – Saída para o Alto de Lousa, para o Restaurante” O BARRIL “( fica a seguir ao Lagar de Azeite ).

Milharado, Venda do Pinheiro (Malveira)
Itinerário: (AE 8 – Saída 4 – Lousa/ Montachique), e seguir depois pela E.N 374-2 – Montachique - Milharado

EMENTA DO ALMOÇO-CONVÍVIO
Entradas: Aperitivos
Pratos: Bacalhau à Barril / Vitela à Lafões
Sobremesa: Frutas / Doce da Casa/ Bolo COMANDO 

Preço P/Pessoa: 30 €
Confirma quanto antes a tua presença junto dos nossos camaradas:

Mendes da Silva: 91 969 24 02
Amílcar Mendes: 93 980 27 74
João Ogando: 96 577 06 44

domingo, 6 de maio de 2012

M447 - Mas um dia que finda na guerra...


AO COMBATENTE


Aquém ou Além... em Terra, na Água ou no Ar

Onde a sua amada Pátria lho requer...

Com um congénito, raro e intrépido senso

Que deram pelo nome de cumprimento do dever...

Arraigado pelo Povo, pela Bandeira, pela Pátria,

Por sua Honra e por sua Dignificação


Seja nas catacumbas das trincheiras em França, ou, 

Nas insondáveis e místicas picadas d’África. 

Nas veias um pleno de História deste Portugal, 

De Heróis que rasgaram mares então medonhos, 

E de bravos Guerreiros ousados e destemidos, 

Que s’agigantaram na opulência das façanhas, 

Cravando, pelo mundo, marcos de universal memória 

Selados, ad eternum, pelo sangue dos nossos Mortos... 



Qu’isto é tal orgulho qu’extravaza a pena do poeta 

Ali… onde o azar canta, a sorte se devaneia delirante, 

E as brisas empestam a doce acre da pólvora queimada 

Onde as noites são infindas, os dias por demais longos 

E as insónias provocam o êxtase do irreal 

Onde infernizam quer a chuva quer o calor ardente 

E a lama e o suor se mesclam com o sarro e os parasitas 

Onde tudo definha entre laivos de pesadelo e loucura, 

E o estridente som das bombardas petrifica 

Onde o sibilar dos estilhaços e das balas buscam as carnes, 

E em salpicos e retalhos as vidas se esvaem 

Onde o pensamento mesmo que escasso bloqueia, 

E o terror e a agonia dobram o aço mais duro 

Onde o Apocalipse assenta arraiais Dantescos, 

Com tais cenários que Maquiavel abominaria o repasto 

Onde se fere, se mata, a morte baila sobre a barbárie 

E as filosofias s’anulam na tragédia e no drama 




Tão tremendo que só um irmão d’armas o interpreta 

Nos seus medos, nos seus rasgos, no seu íntimo... 

Nos seus anseios, nos seus projectos, nas suas migalhas 

Está um Ser... um Sobrevivente... um Lutador, 

Um Sonhador... um Senhor... um Herói... 

Um Patriota... uma Excelência… Um Português... 

Um Combatente! 



sexta-feira, 4 de maio de 2012

M446 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Carta aberta ao António Lobo Antunes: que p... é essa de ter talento para matar? (17)


Esta é a 17ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429, M432, M433, M434, M436, M437, M439, M442 e M445, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

38ª Companhia de Comandos 
Uma lenda da Guerra do Ultramar 
Guiné – 1972/74 


Dois Comandos da Guiné, que ainda hoje vivem a mística dos comandos: o Virgínio Briote, dos primeiros Comandos em Brá (1965/67) e o Amílcar Mendes (1972/74), no seu encontro durante o decorrer das cerimónias do dia 10 de Junho de 2009,em Belém Lisboa. 

Carta aberta ao António Lobo Antunes: que p... é essa de ter talento para matar? 

Nos intervalos da minha actividade na praça de Lisboa, vou-me deliciando a ler algumas pérolas literárias de ex-combatentes (?) acerca da Guerra do ultramar, em especial daqueles que, evocando as suas memórias, as vão editando em livro, o que fazem muito bem, até para que a geração actual possa avaliar o que passaram os pais, avós, etc… 

Por esse motivo devem aqueles que escrevem ter o cuidado de transmitir tudo o que se passava na guerra. Vejamos: actividade operacional, social, relações com a população, falar se foi justa ou não, sequelas deixadas, os camaradas mortos, as saudades, tudo, mas tudo aquilo que passou deve ser deixado em escrita. Sem nunca sair da realidade, porque estivemos lá milhares e sabemos avaliar a verdade e a mentira e, se a mentira exceder a verdade, o escritor arrisca-se a cair no ridículo. 

Um caiu! Ó Sr. médico, escritor e combatente, Lobo Antunes, por favor, apenas peço que me explique a mim, ex-combatente que repetidas vezes olhou a MALVADA nos olhos, que A viu por uma dúzia de vezes levar nas garras os seus camaradas de COMPANHIA, eu que por uma vez A iludi mas ficou a SUA marca, a mim que dormi em bolanhas noites a fio, que em emboscadas intermináveis mijava no camuflado (e que bem sabia o quente) sem me poder mexer, que sentia um medo danado a cada vez que ia para a mata, a mim que comi marmelada com capim, a mim que bebia o mijo dos animais nas raras poças de água na mata, e finalmente a todos os milhares que lá estivemos, gostaria por favor que me respondesse a esta simples pergunta: 

- Mas que porra é essa de ter talento para Matar? É como ter talento para Mentir? Vou pensar que o Senhor é um ficcionista da escrita e como tal inventou tudo o que escreveu. Se é esse o seu caso está perdoado, mas quando escrever mais alguma coisa sobre guerra, peça aconselhamento a alguém sério que lá tenha estado e tenha realmente conhecimento do que foi a guerra e combater nela, não invente demasiado se não ninguém o vai levar a sério. 

Bem, mas a pergunta mantêm-se para quem souber responder, talvez o Sr. João Silva (**). Mas que raio é ter talento para matar? Uma pista: Os HÉROIS acontecem por acaso, os cobardes vivem com convicção. Desculpe a minha ortografia mas sou um pobre inculto sem pretensões a escritor. 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Notas do Dr. Luís Graça, fundador do blogue acima mencionado: 

(**) Referência a João Céu e Silva, autor do Uma Longa Viagem Com António Lobo Antunes (Porto Editora, 2009) 

Parece que o pomo da discórdia, as declarações feitas por A. Lobo Antunes, no México, em Agosto de 2008, está na página 391... Escreve o autor de Uma Longa Viagem... João Céu e Silva: 

(...) Nas várias entrevistas que deu durante a deslocação a Guadalajara [em Agosto de 2008, para receber o Prémio Literário Juan Rulfo], António Lobo Antunes fez uma declaração inédita, que poderá ser parte da solução do mistério sobre um certo episódio em África que se recusou revelar-me: 

"Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois e vinte e três anos, que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam motros valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros" (...). 

É preciso recordar que A. Lobo Antunes foi Alferes Miliciano Médico, entre 1971 e 1973, no Leste de Angola, e não na GUINÉ... O tema da guerra colonial é recorrente nos livros e nas entrevistas do escritor... Cite-se, por exemplo uma entrevista dada o ano passado ao Público... É, quanto a mim, que sou seu leitor (de longa data, mas nem sempre regular - não gosto da palavra 'fã', procuro ser um leitor crítico), uma notável entrevista do escritor de Arquipélago da Insónia (o seu penúltimo livro, acabado de sair), e em que se fala dos temas que lhe são caros e obsessivos: a literatura, a escrita, a infância, a figura do pai, a psiquiatria, as mulheres, a vida, a doença, a morte… 

Havia duas referências à guerra colonial nessa entrevista... O escritor tinha passado recentemente por uma situação, bem dura, de combate contra a doença, uma neoplasia. Tudo se relativiza quando um homem ganha este round e se prepara para o próximo… A vida é um combate de boxe contra a morte... 

Aqui vai um pequeno excerto: 


(…) [Público: ] Quando digo que tresanda a morte, não digo que me apeteça morrer ou matar-me, ou matar. 

[António Lobo Antunes:] Não queria falar sobre isso, mas eu estive na guerra. Matar é muito fácil. Quando o Melo Antunes estava doente, nunca tínhamos falado sobre a guerra e ele começou a falar; a mulher aproximava-se e ele dizia: "Não podemos falar mais." Perguntava-lhe: "Ernesto, porque é que não sentimos culpabilidade?" Assisti e participei em coisas horríveis. E ainda hoje não sinto culpabilidade. Porquê? Ele também não soube responder. É estranho. Porque sinto culpabilidade por ter ferido uma pessoa verbalmente, por ter sido injusto para alguém. 

[Público:] Sente culpabilidade por que pensa que vai sobreviver àqueles que estão na mesma sala, à espera da radioterapia. 

[António Lobo Antunes:] Sentia-me culpado porque eu ia viver e eles não. Eles eram melhores do que eu. Tinham coragem. Eu estava todo borrado. Li um bocadinho das cartas da guerra, cartas que me oferecia para ganhar o meu respeito; cheguei a ir sentado no guarda-lamas dos rebenta minas. Porque me achava um cobarde e me enojava a cobardia física. Assisti uma única vez ao espectáculo da cobardia física, e é repelente. Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Agora vão para a discoteca, naquela altura iam dar tiros. Iam matar e morrer. Voltando ao livro: o que eu queria era meter lá a vida toda, e não acho que seja triste. Acho que sou agora mais alegre do que era. (…) 

Há já mais de duas dezenas de comentários (alguns destemperados, contrários ao espírito do blogue, onde o chamado direito à indignação não pode levar, por seu turno, ao incitamento à violência...) sobre este famigerado tópico do "talento para matar"... 

Ainda sobre o António Lobo Antunes, veja também as seguintes mensagens publicados no dito blogue: 


(...) "Não morreste na cama mas morreste entre lençóis de metal horrivelmente amachucados na auto-estrada de Cascais para Lisboa e a gente ali, diante do teu caixão, tão tristes. Eras meu camarada, que é uma palavra da qual só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (...). 


Texto e fotos: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
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Do mesmo autor veja também as mensagens: 

1ª Mensagem em 16 de Março de 2012 > 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 27 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 
M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8) 

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 > 

11ª Mensagem em 15 de Abril de 2012 > 

12ª Mensagem em 17 de Abril de 2012 > 

13ª Mensagem em 19 de Abril de 2012 > 

14ª Mensagem em 22 de Abril de 2012 > 
M437 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (14) 

15ª Mensagem em 24 de Abril de 2012 > 
M439 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Promessa de comando: vou retomar as minhas crónicas de guerra (15) 

16ª Mensagem em 27 de Abril de 2012 > 
M442 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972): Nem só de guerra vive um militar (16) 

17ª Mensagem em 1 de Maio de 2012 > 

terça-feira, 1 de maio de 2012

M445 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: O meu baptismo de fogo: Morés, 8 Agosto de 1972 (16)



Esta é a 16ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429, M432, M433, M434, M436, M437, M439 e M442, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 

Guiné – 1972/74 

O 1º Cabo Amílcar Mendes, 38ª CCmds. Mata de Morés. 1972. Preparado para tudo!

Emocionei-me com alguns relatos da minha primeira vez "debaixo de fogo inimigo” e decidi, por homenagem a um grande amigo, de quem irei falar mais tarde, partilhar convosco esta minha primeira experiência. Desta vez, e porque não quero melindrar ninguém, alguns nomes serão alterados. 

Acho que a partir do momento em que me ofereci voluntário para os Comandos no já longínquo ano de 1969 fiquei a sonhar como seria a minha primeira vez. 

Sonhava de olhos abertos e revia-me em todos os filmes de guerra. Imaginava-me o tipo duro que debaixo de fogo iria estar a rir-se e a desdenhar sem nenhum respeito pelo inimigo. Sonhava ser o tipo “Mata todos e volta só!” 

Isto claro na minha ingenuidade dos 18 anos cheirava a bravata, e contagiado pelos relatos que ia lendo das tropas especiais que lutavam no Vietname e que me enchiam a cabeça de fantasia. Ser dos Comandos antes do 25 de Abril, no continente, era tabu, era mistério e sedução, para os meus 18 anos. Nem eu imaginava como ira ser diferente essa realidade. 

Tenho que elucidar que, naqueles anos de guerra colonial, ir para os Comandos e conseguir sê-lo, obrigava a ter que passar por muitas etapas. Uma delas era de que mesmo com o curso de Comandos concluído e já na fase operacional, a especialidade Comando só era averbada depois de termos tido contacto com o Inimigo em teatro de guerra e nem que isso demorasse um ano tínhamos de aguentar para só depois em parada recebermos o Crachá. 

A sua entrega em parada tinha um cerimonial e onde um graduado Comando nos perguntava a berrar: 

- Queres ser Comando? - e se a nossa resposta era Sim, ele respondia: 

- Então vai e cumpre o teu dever! 

E era nesse momento que nós passávamos a pertencer a uma Família de quem nos iríamos orgulhar pela vida fora e até a morte. Bem, isto tem muito a ver com a vontade que tínhamos em ter contacto com o IN para nos armarmos em vaidosos com o crachá. 

Cheguei à Guiné no dia 29 de Junho de 1972 e depois de uns dias de folga em Bissau onde a CCmds esteve a receber o armamento, no dia 10 de Julho 1972 seguimos em coluna com destino a Mansoa. Nesse mesmo dia encontrei o meu amigo Germano, 1ªcabo cripto e um velho amigo de família com quem eu passei muitos dos serões em Mansoa nos intervalos da fase operacional. 

Lembras-te, Germano, como aquilo foi duro para mim? Lembras-te de eu regressar das operações do Morés e como desabafava contigo? 

Antes de passar ao debaixo de fogo quero aqui recordar, e tu lembras-te, Germano, pois estavas ao pé de mim, dizia eu recordar o meu primeiro contacto nu e cru com essa malvada chamada “morte” e que se me apresentou da forma mais cruel que se possa imaginar. Para o contar vou relembrar o que na altura escrevi no meu diário de guerra. 

15 Julho de 1972 

Estava à conversa com o Germano junto à nossa caserna quando ouvimos um tiro vindo do interior. Corri para lá e de repente nesse minuto ao olhar um corpo no chão vítima de um disparo acidental perdi toda a minha inocência guerreira e acho que um mundo de responsabilidade e verdade se abateu sobre os meus ombros. Foi a primeira baixa da companhia. O soldado Ilídio da Costa Moreira. 

Depois de sair para fora da caserna senti-me agoniado e vomitei e senti que tudo o que me foi ensinado no curso foi pouco para lidar de frente com a morte. 

8 Agosto de 1972 

Saí ontem para uma operação heli-transportada, a partir de Mansoa e até ao local da largada. O Germano foi dar-me um abraço. 

Desembarcamos na mata do Morés na região DANDO -QUENHAQUE-SINRE. A operação foi um golpe de mão num aldeamento onde as populações estavam sob controlo IN e o objectivo foi atacar e destruir as instalações para criar um clima de instabilidade. 

Entramos no aldeamento e estava vazio. O silêncio era impressionante, notava-se que o IN à nossa aproximação fugiu. Começamos a passar revista às tabancas e de repente ouve-se um tiro. Um furriel do meu grupo detecta um turra emboscado e mata-o. Durante a revista apanhamos diverso material de guerra e documentos. Destruímos 10 palhotas e 2 grandes celeiros. 

Saímos do aldeamento quando caímos na primeira emboscada, em guerra. 

Sofremos fogo concentrado de flagelação. Foi um momento de excitação para mim. É a primeira vez que estou debaixo de fogo do IN. Reagimos à emboscada, fomos para cima deles e saímos do local. 

Nesse mesmo momento outros dois grupos da Companhia são emboscados perto de nós e têm um morto. Foi o nosso primeiro morto em combate. O camarada Francisco José, natural de Évora. 

Começamos a andar em direcção ao local de recuperação que já não era em heli. Tivemos que andar dúzias de km em direcção a Infandre. A um dado momento desfaleci. Valeu-me uma “Coramina” para me recompor. Pelo caminho entramos noutro aldeamento onde fomos recebidos com rajadas de kalash. 

Nessa aldeia levei um banco que o meu amigo Germano (lembras-te?) trouxe para a metrópole. Chegamos à estrada, perto de Infandre, já muito tarde e a recuperação ficou para de manhã. 

Durante a noite os mosquitos iam-me bebendo o sangue todo. 

Duração da operação: 24 horas 

Resultados: 

- IN: 1 morto e vários feridos, visto terem sido encontrados vários rastos de sangue; 
- NT: 1 morto e 1 ferido ligeiro 
- Destruído um acampamento de 10 palhotas e vários celeiros 

- Material capturado: 

2 Granadas defensivas F-1 
1 Granada defensiva mod. 63 
Documentos e material diverso 

E esta foi a minha primeira vez e como foi um bocadito para o duro. 

Quero agradecer ao Germano toda a disponibilidade que nesse tempo dispôs para me apoiar. Obrigado AMIGO. 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto e fotos: © Amílcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
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Do mesmo autor veja também as mensagens: 

1ª Mensagem em 16 de Março de 2012 > 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 27 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 
M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8) 

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 > 

11ª Mensagem em 15 de Abril de 2012 > 

12ª Mensagem em 17 de Abril de 2012 > 

13ª Mensagem em 19 de Abril de 2012 > 

14ª Mensagem em 22 de Abril de 2012 > 
M437 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (14) 

15ª Mensagem em 24 de Abril de 2012 > 
M439 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Promessa de comando: vou retomar as minhas crónicas de guerra (15) 

16ª Mensagem em 27 de Abril de 2012 > 
M442 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972): Nem só de guerra vive um militar (16)