domingo, 25 de novembro de 2012

M559 - Porque não morri?! O último grande combate. Capítulo 1. Um conto de Victor Cerqueira


NOTA: Os autores deste excelente e histórico conto "Porque não morri?! O último grande combate", Victor Cerqueira, oferecem a quem o quiser ler, gratuitamente com uma úncia e facultativa condição, que a seguir reproduzimos. 

A narração divide-se em 6 capítulos, que vamos publicar durante a próxima semana, e nesta mensagem apresentamos o 1º. 

Diz o autor - Vitor Cerqueira:

"... tenho uma proposta a fazer-lhe: se considera que valeu a pena ler e que pode interessar a outros divulgue o conto pela mesma via que o recebeu, ou outra, se não gostou, deite fora. 

Participe na experiência da possibilidade dos autores se”livrarem” das editoras. 

Pague pela leitura deste conto entre ZERO e cinco páginas caso tenha, ou não, gostado. E possa! 

Transfira para a conta da Caixa Geral de Depósitos 0120 009848600 Ou NIB – 003501200000984860084.

Aos autores apresentamos aqui o nosso abraço. 



PORQUE NÃO MORRI?! 
O ÚLTIMO GRANDE COMBATE 
TCHAZICA | MOÇAMBIQUE 
1974 
VICTOR CERQUEIRA 

Aviso ao leitor: 

Embora este conto tenha como base uma história verídica é uma obra de ficção. 

Este conto não foi escrito segundo o novo acordo ortográfico. 

O autor:
Ao Marco Chagas 
Quando te vi morto senti que também eu 
Tinha morrido. 
A rajada que te matou pelas costas 
Seria para mim? 
Sabes Marco que tendo dado a tua vida 
Em nome da dignidade de um País chamado 
Portugal 
O teu nome não está no memorial dos mortos da chamada guerra colonial? 
Sabes Marco 
Que te esqueceram e esqueceram todos os GEPs e GEs negros que morreram? 
Sabes Marco 
Eles não sabem que o mundo ficou muito mais pobre com a tua morte 
E eles, as elites, sejam intelectuais, professores, políticos, ficaram mais vazios na sua ignorância 
Mais pobres nos seus sentimentos em relação ao… outro 
Não sabem nada de nada 
Mas eu sei que espero e desejo estar contigo 
Muito mais do que com qualquer um deles 
Porque tu representas a CORAGEM a FRONTALIDADE a HONRA assente na LEALDADE 
Sabem lá eles o que isso é 
Sabem lá eles o que é a HONRA 
Sabem lá eles 
O que é perguntar 
PORQUE NÃO MORRI? 

Lopes da Gama 
Nov. 2012 

1º CAPÍTULO - O primeiro contacto 
2º CAPÍTULO - Os grupos especiais paraquedistas GEP 
3º CAPÍTULO - O segundo encontro 
4º CAPÍTULO - O encontro com o Comandante; Camarada Machesse 
5º CAPÍTULO - Lopes da Gama 
6º CAPÍTULO - A traição 

1º CAPÍTULO 
O primeiro contacto 

Como sempre o Alferes tinha acordado cedo. 

Por isso acabava por assistir ao recolher do último turno de guarda. Não por controlo, ele tinha total confiança nos seus homens, mas coincidia o seu acordar com o fim do turno. 

Naquele dia, o fim do turno tinha coincidido com a entrada da equipa que tinha estado em patrulha e a saída da outra equipa de patrulha. Este Alferes tinha sempre homens fora do destacamento, para ele a melhor defesa era o ataque. 

A disciplina daqueles homens era o seu orgulho, quem os viu e quem os via percebia que a evolução daquele GEP 006 tinha sido fantástica. 

Esta rendição tão madrugadora era contraditória com a sua própria prática operacional. 

Ele fazia o assalto às bases da Frelimo, quando era caso disso, exactamente ao amanhecer. 

Mas que soubesse, pela já sua larga experiencia, a Frelimo não fazia assaltos, fazia quanto muito ataques de longe, e, muito menos ao amanhecer. Além disso com tanta gente acordada não seria ali em Tchazica, que a Frelimo modificaria as suas tácticas… 

O Alferes Lopes da Gama gostava de assistir ao nascer do sol, e naquele sítio era de uma beleza particularmente gloriosa. Tchazica, situada junto ao grande rio Zambeze, a norte da Província de Manica e Sofala, e a poucos quilómetros da cidade de Tete, era um local particularmente belo! 

E ele estava ali por acaso, o Grupo estava dividido em duas partes, tendo ficado dois subgrupos em Massangano e os outros dois tinham vindo para Tchazica. O Comando do grupo ficaria naturalmente naquela localidade, relativamente perto, mas um dos seus Furriéis ia ser Pai e o Alferes tinha-o dispensado para ir a Lourenço Marques assistir ao nascimento e ele tinha ido para ali substitui-lo. 

O Zambeze fazia ali em Tchazica uma espécie de garganta, e por isso formava uma baía com uma praia extensa de areia branca, circundada de árvores. Perto, havia a encosta de um monte não muito alto, talvez uns cem metros de altura, mas bastante íngreme, coberto de capim que naquela altura estava totalmente verde, dando, por isso, a sensação de a encosta estar coberta de um tapete de relva, aqui e ali algumas árvores de pequeno porte. 

No cimo, uma floresta tipicamente africana. 

O militar já ali tinha passado em operações aquando da montagem do destacamento e do aldeamento do Massangano, que ficava a cerca de 50 quilómetros, e já nessa altura tinha ficado fascinado com a beleza do local, não podendo deixar de pensar no potencial turístico daquele sítio. 

Ali podia-se praticar desde motonáutica até alpinismo, passando por uma imensidão de outras actividades incluindo a caça grossa. 

Aquele militar nascido e criado em Moçambique, em Lourenço Marques, tinha ficado apaixonado pelo mato. Só lamentava que este conhecimento do mato profundo, tenha sido adquirido nesta situação dramática de guerra, depois de mais de trinta meses de combate, e com a escola que era a companhia dos seus homens, todos eles Moçambicanos negros, de várias etnias e que conheciam o mato como as palmas das suas mãos. 

Lembrava-se da sua primeira operação em que um dos homens lhe faz sinal para parar. Ele pára e pergunta porquê – tem gente, responde o soldado – Gente? Como sabes? - Cheira! 

Ficou estupefacto e só se perguntava; - Onde é que eu me fui meter? 

Uns tempos depois também ele já era capaz de sentir os diferentes cheiros do mato e diferenciá-los, descobrir os poços de água abertos pelos elefantes, separar as bostas sem a sujar… 

A paixão pelo mato foi tal que ele, inclusivamente, já tinha metido os “papéis” para ir trabalhar para Administração; como Oficial entraria logo como Administrador de posto. 

Era um desafio que o empolgava! 

Havia tanto para fazer e os Administradores tinham tanta autonomia, meios nem por isso, como sempre, mas ter autonomia para ele era fundamental e no regime em que se vivia, era como ter 

“ar puro”. 

Havia tantas injustiças a corrigir, havia tanto para fazer. Escolas, postos médicos, mercados… eu sei lá tanta, tanta coisa a construir. 

Mas agora com a revolução em Portugal o que é que se poderia esperar? 

Todos estes pensamentos vinham-lhe à cabeça naquela madrugada de 15 de Julho, como se de um filme se tratasse. 

Lopes da Gama estava em Lourenço Marques quando se deu a revolução em Portugal, na Metrópole, como se dizia. E, meio despido, em tronco nu, saiu para a rua à procura de informação. 

No seu coração e na sua cabeça só uma palavra era “gritada” INDEPENDÊNCIA! 

Moçambique ia ser finalmente independente, algo com que ele sonhava desde que se conhecia, e se aquela terra tinha condições para isso! Em meia dúzia de anos seria de facto independente política, económica e socialmente falando. 

Bastava ser razoavelmente bem governada. 

Mas as coisas não estavam a caminhar como ele sonhara. Naquele mesmo instante, negociadores Portugueses estavam em Lusaca a negociar os termos de um acordo com a Frelimo, ignorando a frente interna. 

Ele tinha no seu grupo seis soldados que tinham sido guerrilheiros da Frelimo, dois deles altamente qualificados com formação na União Soviética e na China. 

Havia que pensar naqueles homens, de salvaguardar a sua segurança e o seu futuro, e não lhe parecia que os negociadores tivessem sequer conhecimento da situação real de Moçambique, quanto mais destes casos. 

As coisas estavam a andar depressa demais, ao fim e ao cabo quinhentos anos eram cinco séculos de permanência. 

Cheirava-lhe a abandono, puro e simples… 

Sentia-se particularmente angustiado naquela manhã. Não sabia porquê, deu o seu mergulho no rio, não sem antes dar uns tiros para afastar os crocodilos que eram “mais do que as mães” naquele rio, e regressou ao destacamento a pé pelo meio do aldeamento que também começava a acordar, mas que, estranhamente, estava particularmente silencioso e deserto naquela manhã. 

- Meu Alferes…, meu Alferes…, gritavam quase histéricos enquanto corriam na sua direcção dois dos homens que tinham saído antes para a patrulha, a Frelimo…a Frelimo…, nem conseguiam falar…! 

- Calma o que é que se passa? Já a prever o pior, o 006 era um grupo particularmente infeliz. 

- A Frelimo… quatro homens armados levantou as armas e falaram connosco, querem falar com o nosso Alferes. O que fazemos? 

Deu um salto do banco pegou na G3, chamou o Marco Chagas e o James Bond que era o homem da HK21 e correu que nem um louco com os outros dois. 

Por instinto, corriam em linha, dedo no gatilho, sabia que o primeiro tiro teria que ser o dele, só depois os seus homens disparariam. Eles estavam treinados para isso. 

Cerca de duzentos, duzentos e cinquenta metros à frente, vê os seus homens numa posição defensiva, continuava a correr. Dentro de uma moita, levantam-se os guerrilheiros com as armas no ar aos gritos. 

A sua concentração era total! Dedo pronto a disparar, a aproximação rápida e em linha era-lhe favorável, a força e a determinação que aqueles homens transmitiam era avassaladora, aproximavam-se rapidamente da zona de tiro. 

Os guerrilheiros entraram em pânico total e gritavam qualquer coisa que ele não percebia o que era, sentia os seus homens a correr ao seu lado um passo atrás de si, arma encostada à anca, corpo ligeiramente dobrado para a frente, dedo no gatilho. 

Abrandou a corrida, até parar. Com a G3 na anca apontada, gritou! 

- Armas ao alto já! 

Elas já estavam mas foi o que saiu…! 

- Fernando recolher as armas! 

Entretanto os outros elementos da equipa já os tinham cercado sempre de armas apontadas. 

As armas foram retiradas e os guerrilheiros amarrados de imediato. Não pode deixar de pensar em como estavam eficientes os seus homens, agiam com uma rapidez, eficácia e segurança que ele ainda há relativamente pouco tempo atrás não acreditava ser possível, quando o Coronel Pinto Ferreira lhe tinha dado o comando do 006. 

Este acontecimento tinha feito com que ele “subisse pelas paredes a cima”, não acreditava de todo que seria possível transformar aquele bando armado numa máquina de guerra! 

E aí estava! 

Durante algum tempo ficou a olhar para eles, tremiam como varas verdes, dois dos guerrilheiros estavam todos cagádos e os outros dois mijados. Tal o susto! 

Dois deles eram ainda uns miúdos, outro, da idade do Alferes, para aí 22 anos, aquele que seria o chefe era bem mais velho, já bem entrado na casa dos trinta anos. 

O momento era de tensão total, o que fazer? 

Recordava-se perfeitamente que o primeiro passo tinha sido seu. 

Na “banja”, com a população do aldeamento, num impulso, tinha dito à população em geral e em particular ao Régulo, que sabia que eles tinham contacto com os guerrilheiros e que eu também queria falar com eles. 

Tudo isto depois de lhes dizer o que se tinha passado no “Puto” e do que se estava a passar em Lusaca. 

E agora? 

Começaram a falar, com um dos meus homens a servir de intérprete pois nenhum deles falava Português, cheiravam mal que se fartavam. O Alferes não pôde deixar de dar uma grande gargalhada, daquelas que ele dava e punha todos a rir contagiados, aliviando dessa forma o ambiente extremamente tenso. 

Com todos a rir o clima melhorou e a tensão diminuiu. 

Tinham recebido a mensagem e queriam falar com a tropa, não queriam lutar. 

O Alferes mandou desamarrá-los, para espanto dos seus homens. E foram para o destacamento. 

O resto dos soldados tinha entretanto montado a segurança, todos de arma em punho, colocados nos abrigos, para o que desse e viesse. 

Convidou-os a sentarem-se na sua mesa, dentro de uma palhota aberta no centro do destacamento. 

A segurança manteve-se, mas boa parte dos homens rodeavam-nos curiosos. 

Continuavam assustados. Mandou servir um café e pão com queijo, começaram a ganhar confiança e depois conversaram. 

O Lopes da Gama ficou desde logo surpreendido pelo conhecimento que tinham do golpe de Estado em Portugal. E também das perspectivas que esta situação poderia abrir para a evolução da situação política e militar em Moçambique. 

Também ficou a saber que estavam fartos de guerra. O mais velho, Joaquim, chefe daquele pequeno grupo, estava afastado da família há mais de oito anos e desde aí nada sabia deles. 

Tinha chegado a uma situação de total saturação e já nem sequer acreditava na luta, sentia-se abandonado, sem futuro, em suma…perdido. 

Olhava para aquele “muana” que estava à sua frente a comandar aquelas tropas frontalmente, com dignidade, sem quaisquer laivos de subserviência, embora estivesse todo mijado. 

O Lopes gostou dele, e, enquanto falava, os seus homens abanavam a cabeça de forma concordante. 

O Alferes ficou calado durante algum tempo, olhando para aqueles quatro homens que entretanto repetiam com gulodice o mata-bicho, não sentiu nenhuma espécie de raiva, muito menos de ódio. Eram Moçambicanos como ele. Simples agricultores a quem tinham retirado das suas vidas e das suas famílias, dado à pressão algumas ideias, metido uma arma na mão e lançados para a guerra. O Joaquim era do Niassa, mais dois dos seus companheiros, um distrito em que praticamente não havia guerra, restavam pequenas bolsas, que pouco faziam, tinha sido transferido via Malawi para Tete e ali estava. 

Farto! 

Olharam-se nos olhos durante uns segundos, o Lopes sentiu que tinha nascido entre eles uma certa empatia que não sabia explicar. E atirou a pergunta. 

- Se a guerra continuar tu entregas-te? 

Nem hesitou. 

- Eu e muitos outros, estamos fartos de morrer, de sofrer, de não ter comida, de não ter família, de não pagarem nada e dizerem que vão pagar, mas nunca dizem quando. É muita mentira junta para muito sofrimento. Para quê? 

Falou-lhe da sua família, das suas preocupações e de que gostaria de os encontrar de novo. 

Convida-o a almoçar com ele dois dias depois. Devolve-lhe as armas, para espanto do seu pessoal e despedem-se. 

Agora tinha de enfrentar o seu Comandante, que não era “pêra doce”. Se calhar, pensava ele, tinha dado um passo maior que a perna e estava metido num bom sarilho. Mas precisava de um tempo para ele, estava com uma angústia terrível, tinha o estômago no coração e este na boca. 

Tremia de excitação, mas precisava urgentemente de serenar antes de falar com o Comandante. 

E tinha ainda de fazer uma banja com o grupo, que estava também deveras inquieto e perplexo sem perceber muito bem o que se passava. 

Foi para a barraca, deitou-se na cama, mais propriamente no “burro” de campanha, fechou os olhos e tentou relaxar. A velocidade do seu pensamento era incrível. A sua vida decorria como se de um filme se tratasse na sua cabeça. Suava em bica e sentia-se deveras preocupado. 

Onde se tinha metido? 

E agora? 

Passado algum tempo, uma hora, duas horas? Não tinha consciência do tempo que tinha passado. 

Sabia que estava tudo no “ar”. O seu homem do rádio já teria transmitido por alto o que se estava a passar, estas comunicações percorriam distâncias enormes e não interessavam só aos GEPs. Outras tropas da região operavam no mesmo canal. 

Sentiu o clima de tensão e perplexidade no destacamento. O Lopes tinha uma especial sensibilidade para estas coisas… 

Quando saiu da barraca estava o cabo Marco Chagas, seu braço direito, uma espécie de guarda-costas e impedido, à sua espera com um café. Não disse nada mas nos seus olhos o Alferes percebeu que ele, como sempre, estava consigo e se ele estava o resto dos seus homens também estavam. Embora preocupados! Mas a confiança no “Alferes base” como o tinham alcunhado, alcunha que já vinha do 005, mantinha-se inalterável, era total! 

Reuniu o grupo e, claramente com toda a verdade, explicou aos seus companheiros o que se passava, as suas ideias e o que pensava seria o próximo passo. Os homens ouviram com atenção e total silêncio no fim perguntou: 

- O risco é muito grande e muito perigoso. O que pensam disto, estão comigo? 

Uma resposta simples e directa: 

- O meu Alferes é que sabe, nós acreditamos no meu Alferes, aquilo que fizer, nós estamos também. 

O Lopes respondeu com um… 

- Obrigado! 

Pegou na caneca e foi para o centro de comunicações em silêncio. 

- Leão zero chama Águia, Águia Leão zero escuto! 

A resposta foi imediata. 

- Leão zero, Alfa responde, como está? Vou já chamar Águia escuto. 

- O.K. escuto. 

Como calculara, toda a rede estava à espera. Sentia-se agora estranhamente calmo, sereno mesmo. 

Águia era nem mais nem menos, que o Coronel Pinto Ferreira, Comandante do CIGE (Centro de Instrução de Grupos especiais) onde eram formados os GE (Grupos especiais) e os GEP (Grupos Especiais Pára-quedistas). 

Comandante há menos de um ano, tinha vindo substituir o Coronel Pára-quedista Costa Campos, que tinha sido o Coronel mais novo do País, com uma folha de serviços operacionais impressionante. 

Era de facto um operacional, que estava sempre perto dos seus homens nas situações mais difíceis, o que naturalmente lhe granjeava um prestígio e uma respeitabilidade enorme junto de todos os homens. Ele era um operacional e um exemplo! 

O Lopes lembrava-se muito bem, quando ainda no 005, de um assalto a uma base em que tinham sido emboscados com rajadas da daktareve, uma metralhadora ligeira do tipo da MG com uma cadência de tiro idêntica mas muito mais leve, que tinham passado muito perto das cabeças dos seus homens. 

A base situada na região do kalombo Lombo, um rio que definia a fronteira com a Rodésia, era enorme, seria sem dúvida uma base de recolha e distribuição de armas e logística da Frelimo e/ou da Zanu ou outro grupo de turras que combatia o regime Rodesiano. 

Ao ser comunicada a detecção e a ocupação da base e perante a surpresa do seu tamanho, antes de ser destruída o Coronel Costa Campos aparece num helicóptero, só um, acompanhado do comandante do Guro. Desce do hélio, com a sua postura habitual, a G3 na mão direita o Racal (o rádio) no ombro esquerdo, e aquilo que chateava sobremaneira o Lopes e os outros quadros, com os seus brilhantes galões de Coronel. 

Não era por usar ou não os galões, tal como com ele e com os outros Furriéis e Alferes ou soldados, pelo facto de serem brancos eram sempre, mas sempre, os alvos principais… Mas aqueles galões e o facto de ser o NOSSO Comandante era uma tremenda responsabilidade para quem estava no terreno e sentia a obrigação de o defender fosse de que maneira fosse. 

O caricato da situação era que estando nós numa base que teria muito mais de uma centena de pessoas, entre turras e população, estando a nossa posição ainda pouco consolidada, tínhamos sido detectados antes do ataque e dai a forte emboscada e reacção posterior, continuávamos a ser flagelados, estávamos à espera da morteirada a qualquer momento. O Tenente-Coronel que ficou no hélio, num nervosismo incrível andava para cima e para baixo sem saber muito bem o que fazer, denunciando a sua posição e a dos GEPs enquanto o Comandante Costa Campos, explorava calmamente a base e os seus arredores. 

Talvez por isso, por ter uma enorme preocupação com a guerra propriamente dita, “descurou” a instrução, os aspectos logísticos, e até, nalguns casos, os aspectos disciplinares e de operacionalidade que uma tropa como esta precisava. 

Estava-se a atingir um certo caos em muitos aspectos, com repercussão clara na capacidade operacional dos GEPs. 

A sua substituição foi de qualquer maneira muito sentida e mal aceite pela generalidade dos GEPs. Ainda por cima por um militar com um perfil claramente oposto. 

O Coronel Pinto Ferreira era um disciplinador há moda antiga, botas engraxadas fardamento impecável fosse onde fosse. Mas também era um organizador nato. Era um militar de retaguarda com uma postura militarista no velho sentido da palavra. 

Enfrentou e venceu, com coragem e muita tenacidade, as dificuldades inerentes a uma tropa que estava habituada a um tratamento mais informal e que era uma das características muito próprias desta força de elite. 

Mas… 

Os tempos de refrescamento começaram a ser mais respeitados, esta tropa era suposto ter três meses de actividade operacional e um mês de refrescamento, a instrução foi de novo acarinhada, reforçada e disciplinada e os resultados estavam a sentir-se rapidamente com o melhoramento 

da capacidade de intervenção operacional. 

O Alferes Lopes da Gama apesar das suas muitas reticências de inicio, acabou por o aceitar e respeitar as opções do Comandante, que aliás se tinha mostrado muito tolerante com a sua reacção a quando da entrega do comando do GEP 006. 

Ele tinha-se atirado ao ar! 

- O meu Coronel sabe bem que aquilo não é um grupo, é um bando armado! Estou cansado e farto de transportar às costas as insuficiências dos grupos, já foi assim no 005 e agora isto! 

Tudo dito aos berros. 

Deixou-o falar e dizer o que tinha para dizer e depois deu a “machadada”. 

Pois é, mas não tenho mais ninguém e eu sei que para ti vai ser um desafio, que por aquilo que conheço de ti, depois deste desabafo, vais adorar! E mais! Tens carta-branca para limpar o grupo de pessoal que não queiras. 

Ficou sem palavras. Olhou à volta e viu os sorrisos do Capitão Picão do Major Serra e o Major Morais e até do segundo Comandante. Estavam lá todos e todos eles vinham do anterior comando do CIGE. 

Com esse olhar percebeu como é que ele (s) o conhecia (m) tão bem, apesar de depois da instrução ele ter passado a vida no mato. 

- Leão zero, Águia. 

- Águia, leão zero! 

- Leão zero, Águia escuto! 

- Então Leão zero o que é que se passa por aí!? Parece que há bastante actividade e estranha?! 

Explica-me tudo com clareza e o máximo de pormenores. 

OK Águia o que se passa é o seguinte: e o Alferes Lopes da Gama lá explicou tudo o que se tinha passado, não se esquecendo de referir que na génese deste encontro estaria o facto de na banja que tinha tido com a população do aldeamento, ter manifestado o interesse de se encontrar com elementos da Frelimo da zona. E disse mais… 

- Águia toda esta situação poderá parecer-lhe estranha, mas para mim começa a ficar claro a evolução do processo de independência que está a ser negociado em Lusaca eu e os meus homens somos Moçambicanos, onde estão os nossos “porta-vozes”? 

Por mim pego no meu destino e estou pronto a assumir os riscos inerentes, em relação ao Comando e em relação à Frelimo. Não sei muito bem para onde vou, mas estou como o outro “sei que por aí não quero ir”! 

O Senhor apoia-me ou não? 

Sentia-se estranhamente calmo, contra o que era normal, quando estava excitado ou a defender alguma causa, a sua voz saía calma e serena, mas determinada! 

- Leão zero fique à escuta!


(Fim do 1º Capítulo - Continua brevemente)


M558 - O C.T.O.E. no Uganda, pelo CMDT do CTOE - RANGER Cor Teixeira Gomes

O C.T.O.E. no Uganda 

Temos uma missão a decorrer em apoio das Forças Armadas da Somália. Como sempre, os nossos RANGER’s estão presentes e continuam a executar um trabalho reconhecidamente excelente. O nome da missão é EUTM Somália. 

Mais informação em:
http://www.emgfa.pt/pt/operacoes/missoes/ueeutm





quinta-feira, 22 de novembro de 2012

M557 - Pedido de Condecoração a título póstumo para o Major de Cavalaria João Luis Laia Nogueira Mendes Paulo



Pedido de Condecoração a título póstumo para o Major de Cavalaria João Luis Laia Nogueira Mendes Paulo, que prestou serviço no Exercito Português de 1957 a 1971. Responsável pela ideia e seu desenvolvimento o uso de três carros de combate em Angola em plena Guerra do Ultramar tendo sido estes os únicos carros de combate que até hoje efetivamente participaram em acções de combate protegendo e salvando vidas a um número indeterminado de civis e militares.

Clique no endereço que se segue: 



Para: Gabinete da Presidente 
Nome: Gonçalo Rodolfo de Canavarro Arraya Mendes Paulo 


Mensagem: 

Exma. ª Senhora Presidente da Assembleia da República



Assunto: Pedido de Condecoração a título póstumo para o Major de Cavalaria João Luis Laia Nogueira Mendes Paulo, que prestou serviço no Exercito Português de 1957 a 1971. Responsável pela ideia e seu desenvolvimento o uso de três carros de combate em Angola em plena Guerra do Ultramar tendo sido estes os únicos carros de combate que até hoje efetivamente participaram em acções de combate protegendo e salvando vidas a um número indeterminado de civis e militares.

A presente petição tem como fundamento o facto de que no período onde esta bem-sucedida experiencia ocorreu o material usado (três carros M5A1) apesar de estar considerado obsoleto estava classificado como material da NATO, impedindo assim na época qualquer publicidade ou notícia dos seus feitos.

1. Mesmo em relatórios militares oficiais o seu uso é raramente mencionado pelas razões atrás apresentadas; 

2. Após a publicação pelo Major de Cavalaria João Luis Mendes Paulo do Livro “ Elefante Dum Dum” e pelos testemunhos aí expostos iniciou-se um verdadeiro movimento espontâneo de interesse por essa façanha militar. 

3. Todas as unidades que ao longo dos anos de guerra que serviram com os três carros de combate são unânimes a reconhecer a sua mais-valia em operações de combate reconhecimento e escolta tanto de colunas militares como civis. 

4. Todos esses ex combatentes referem sem dúvidas que a acção dos caros de combate salvou numerosas vidas civis e militares. 

5. O pedido de condecoração baseia-se no espirito empreendedor que o referido oficial demonstrou usando apenas material de sucata para proteger com sucesso civis e militares. 

6. Com o generalizar do uso da internet e das redes sociais os testemunhos de Ex combatentes sobre o épico uso dos carros de combate em angola proliferaram, sendo que um assunto que antes era praticamente um segredo é hoje um dos mais debatidos. 

7. Tendo mais tarde, o General Spínola então como Governador da Guiné-Bissau tomado conhecimento dos excelentes resultados carros de combate em Angola, solicitou ao Major João Luis Mendes Paulo que reunisse o maior número possível de carros de combate (obsoletos e dados como sucata) para seu uso imediato no teatro de operações da Guiné-Bissau. 

8. O Major João Luis Mendes Paulo com a mesma energia e o mesmo esprito de servir a Pátria anteriormente demonstrado, conseguiu em pouco tempo vários carros de combate, que só não foram usados porque o argumento NATO voltou a ser mais forte. 

9. Ainda assim foi o Major João Luis Mendes Paulo encarregado pelo General Spínola de levar as primeiras viaturas blindadas Chaimite para a Guiné-Bissau.

Vem o signatário requere à Assembleia da República que esta emita parecer favorável à atribuição de uma condecoração pelos feitos militares referidos, lembrando que a atribuição de uma condecoração ao Major João Luis Mendes Paulo, honra não só o seu valor mas o de todos os militares que participaram neste épico feito.

Albufeira, 15 de Julho de 2012
Gonçalo Rodolfo de Canavarro Arraya Mendes Paulo (filho)
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... para saber mais, ver também aqui;

http://ultramar.terraweb.biz/06livros_MajorMendesPaulo_CD_Video.htm

http://www.youtube.com/watch?v=OUW9taGdirE

http://www.youtube.com/watch?v=eWis_IbMHf4

http://www.youtube.com/watch?v=GeH5b_3GPDQ


M566 - Uma luz que ainda não se apagou!

Uma luz que ainda não se apagou!

A Academia Militar é uma das poucas instituições em Portugal, que ensina e educa jovens para os valores da Pátria e comportamentos humanos que se exigem num país que se digne e que queira ser parte integrante do mundo civilizado, é um esperança para aqueles (cada vez menos), que assistem espantados e impotentes à degradação dos valores morais e éticos, que se impunham numa sociedade moderna em pleno século XXI. 

  Neste Portugal, onde a educação prestada pelos pais aos seus filhos, quer na fase infantil, quer juvenil, tem vindo de mal a pior a olhos vistos, ainda há alguns focos de esperança para aqueles portugueses que continuam a remar contra esta triste e lamentável maré lamentável e degradante, que perspectivam um inquietante e tenebroso futuro.

Uma juventude mal-educada e pior orientada, resultado de muitos pais que permitem que os seus descendentes façam tudo o que lhes dá nas ganas IMPUNE e IRRESPONSAVELMENTE, e que quando questionados sobre essa sua BESTIAL atitude dizem que a educação de base dos seus "rebentos", desde mais a tenra idade, que é APENAS da sua inteira responsabilidade, deve ser prestada e corrigida mais tarde, nas escolas, pelos desgraçados dos professores.  

Claro que uma grande camada dos pais, nem para eles próprios têm, ou tiveram jamais, uma educação correcta e adequada e, por isso, como poderão saber transmitir aquilo que não sabem aos seus filhos?

Depois há as leis lançadas pelos nossos democratas, que todos conhecemos, que atam as mãos das instituições policiais e protegem os menores delinquentes, que perante esta permissividade e bandalheira toda, estão assim livres e autorizados, a despejarem nas ruas, transportes públicos, escolas, etc. e ante quem nela circula, os seus mais animalescos instintos primários, por vezes com resultados prejudiciais, quando não destrutivos. 

O nosso apoio e aplausos pois, para as instituições que persistem na luta para a manutenção de uma parte da juventude sã e instruída.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

M555 - HERÓI DE PORTUGAL - ALPOIM CALVÃO - LANÇA LIVRO

CONVITE
APRESENTAÇÃO NO PORTO DO LIVRO: ALPOIM CALVÃO - HONRA E DEVER
4ª feira, 28 de novembro, 18h00


Salão Nobre do Quartel de Santo Ovídio (antigo Quartel-General) > Praça da República > Porto 




Lançamento do Livro: Alpoim Calvão – Honra e Dever
Da autoria de Rui Hortelão, Luís de Sanches de Baêna, Abel Melo e Sousa.

Este livro é fundamental para compreender as últimas décadas da vida portuguesa, apresentado pelo Prof. Rui de Azevedo Teixeira a 11 Outubro 2012 na Sociedade de Geografia de Lisboa – Sala Portugal. 

AS REVELAÇÕES


O baptismo da operação "Mar Verde"
Finalmente a revelação de onde surgiu o nome da célebre investida a Conakri, em 1970.

De táxi durante a investida a Conakri
Pela primeira vez, Calvão revela que durante a operação "Mar Verde" foi a terra e explica porquê.

O parentesco com Amílcar Cabral
Alpoim Calvão e Amílcar Cabral tinham uma ligação de parentesco, devidamente atestada por estudos genealógicos.

O 25 de Abril 1974
Calvão recusou participar por não saber que tratamento se iria dar a seguir aos territórios de África.

Os negócios com Manuel Bullosa
Foram vários ao longo dos anos mas um deles, no Brasil, ficou para a história. 


Documentos inéditos
São vários os documentos nunca antes revelados que são
agora publicados.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

M554 - COMANDO Amadú Bailo Djaló. Nascido em 10 de Novembro de 1940, em Bafatá, na Guiné.

HOMENAGEM A UM HERÓI DE PORTUGAL
COMANDOS Virgínio Briote e Amadú Djaló, e RANGER MR 

Amadú Bailo Djaló, foi um COMANDO de elite português, COMBATENTE POR PORTUGAL, nascido em 10 de Novembro de 1940, em Bafatá, na Guiné. 

Para os mais jovens: os COMANDOS africanos da Guiné, eram nativos locais chamados por Portugal, a prestar Serviço Militar Obrigatório no Exército Português, tal como todos os demais portugueses. A recusa ou fuga à chamada era punida com prisão, tal como todos os demais portugueses que o fizessem.

Segue-se a alocução sempre actual do Sr. Coronel Manuel Bernardo, proferida no lançamento do livro da autoria de Amadú Djaló, no passado dia 15 de Abril de 2010. 


“Guineense, Comando, Português; Comandos Africanos 1964-1974”; 1.º vol.



Cumprimentos

- Dr. Lobo do Amaral

- Cor. “Cmd” Raul Folques

- Dr. Nuno Rogeiro
- O autor Amadú Djaló
- Cmd Virgínio Briote
- Todos os presentes…

Não tenho os dotes oratórios dos camaradas e amigos que me antecederam e muito menos dos do professor e ilustre comentador da SIC, que é o Dr. Nuno Rogeiro, pelo que vou limitar-me a ler um texto que elaborei para esta ocasião.

Agradeço o amável e honroso convite que me foi formulado pelo Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, com quem já colaborara na edição de um outro livro sobre o 25 de Novembro e também incluído nesta colecção Mama Sume, da Associação de Comandos.

Para quem não me conhece e não compreende a minha presença neste acto solene de apresentação do livro do Alferes graduado Amadú Djaló, adiantarei que me envolvi com a Guiné e com os guineenses, quando fui solicitado por um grande amigo e camarada do meu Curso de Infantaria, o Coronel José Pais, pouco tempo antes de falecer, para que eu denunciasse os crimes contra a humanidade praticados na Guiné, no pós-independência, contra os seus militares, e outros, que incluía os designados “comandos africanos”.

Apesar de nunca me ter deslocado a este território, fiz questão de cumprir a promessa feita.

Assim, nesse sentido, em 2007 publiquei o livro “Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros; Guiné 1970-1980”, onde, além dos 53 “comandos africanos”, na grande maioria oficiais e sargentos, identifiquei 182 elementos, que igualmente foram fuzilados clandestinamente pelas autoridades guineenses, depois de serem detidos, sem ser oficialmente formulada qualquer acusação.

Nesta cerca de duas centenas de vítimas estão incluídos 34 militares do Exército, 14 fuzileiros especiais e 14 milícias, além de vários régulos e cipaios.

Quero lembrar aos presentes que os nomes daqueles 53 “comandos” africanos mandados fuzilar clandestinamente pelo PAIGC, se encontram desde Novembro do ano passado inscritos nas

paredes do Memorial dos Combatentes do Ultramar, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, depois de uma porfiada campanha nesse sentido feita pela Associação de Comandos.

Pena foi que nesse acto não tivessem tomado a posição de esclarecer as pessoas e nomeadamente os combatentes dessa vergonhosa afronta e dos crimes praticados e consubstanciados nesse tipo de actuação.

Questões prévias:

Antes de me debruçar sobre este livro do Amadú Djaló, permitam-me que, aproveitando estar junto de tantos militares e amigos, tente esclarecer dois assuntos, que foram referidos em livros publicados recentemente.

O primeiro tem a ver com a crítica feita pelo meu amigo Cor. Brandão Ferreira, no seu último livro (Em Nome da Pátria) em relação à maneira como deviam ter sido solucionadas as guerras subversivas que enfrentávamos em Angola, Guiné e Moçambique.

Ele não concorda com o princípio, que eu defendo, de que “a solução para este tipo de guerra deve ser política, através de negociações para a paz, e de preferência em posição de força.”

Julgo que, genericamente, o princípio deverá ser este. Recordo ter sido o utilizado pelo General De Gaulle, na Argélia… E lembrava igualmente ter ocorrido, em 1972, a última oportunidade perdida pelo anterior regime de iniciar um processo negocial na Guiné, como foi proposto a Lisboa pelo então General António de Spínola, na sequência de um encontro com o Presidente do Senegal, Leopold Senghor.

O segundo diz respeito a uma referência errada à minha actuação antes e pós 25 de Abril, em relação ao falecido Marechal Spínola, feita pelo Professor Luís Nuno Rodrigues, na biografia deste oficial, publicada recentemente e lançado na semana passada, em Lisboa.

Afirma o referido autor, com base na transcrição de um livro meu (“Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975”) em relação a um passo significativo para a reintegração de Spínola na sociedade portuguesa, o seguinte:

“(…) Os “fiéis” de sempre voltam a cerrar fileiras em torno do Velho. Em 1977, um grupo de oficiais, entre os quais Manuel Monge. Manuel Amaro Bernardo e Caçorino Dias, solicitaram ao CEME, General Rocha Vieira, que resolvesse a sua situação remuneratória (…). Meses depois, a 27-2-1978, Spínola foi finalmente reintegrado nas FA (…).”

Daquilo que conheço apenas o Manuel Monge poderá ser considerado um “fiel de sempre”, pois o Caçorino Dias apenas o terá conhecido em 1973, numa visita à Guiné, a propósito da contestação desencadeada ao Congresso de Combatentes e eu nunca o tinha visto, contactado ou trabalhado com ele até essa altura (1977). Apenas tive ocasião de lhe falar pela primeira vez, quando pedi uma entrevista, em 1993, para um trabalho universitário, depois publicado no livro “Marcello e Spínola; a Ruptura (…)”.

E dos cinco oficiais, onde eu me incluo e que tomaram essa atitude de solidariedade castrense, os dois não transcritos do meu texto – os então Major José Pais e Capitão Ribeiro da Fonseca, poder-se-iam considerar muito mais ligados ao Marechal desde os tempos da Guiné, onde prestaram serviço e comandaram companhias em operações.

Lembro ainda que imediatamente antes dessa afirmação, no livro “Memórias da Revolução (…)”, eu frisava que apenas tinha conhecido António de Spínola depois de ele regressar do exílio, pós-11 de Março de 1975.

Mas eu já estou habituado que façam más transcrições dos meus livros, como aconteceu, com o Dr. Almeida Santos, para o seu “Quase Memórias”. Mas terão sempre que me ouvir em relação aos erros cometidos…, pois estou no meu direito de tentar restabelecer a verdade dos factos.

Um grande “comando” guineense”

Entrando na análise desta obra, começaria por dizer que o seu autor foi um militar perseverante e distinto, que percorreu as funções das três classes atribuídas aos combatentes: praça (soldado e cabo), sargento e oficial, ao longo dos 11 anos que durou a guerra na Guiné.

Amadú Djaló, com o Curso de Comandos, que frequentou em 1964, seria transformado de um jovem comerciante independente, na vida civil, num grande combatente.

Para tudo na vida é preciso ter sorte e ele teve-a com os militares que foram seus instrutores e, depois, com o Alferes Maurício Saraiva, comandante do seu grupo (Os Fantasmas) e que foi considerado como um dos melhores combatentes da Guerra do Ultramar.

A este propósito lembro que os instrutores e monitores deste Curso de Comandos foram militares muito valentes, quer na Guiné, quer nos outros teatros de operações. 

Quatro deles viriam a ser galardoados com a mais alta condecoração, a Ordem Militar da Torre Espada, do Valor Lealdade e Mérito, em 1969/70: Tenente Jaime Abreu Cardoso, 2.º Sargento Ferreira Gaspar, 2.º Sargento Marcelino da Mata e Capitão Maurício Saraiva. Dos restantes, sete seriam condecorados com a Cruz de Guerra (alguns com mais que uma).

Aliás, durante a guerra da Guiné, e por feitos praticados em operações foram condecorados com a Torre Espada mais quatro oficiais dos comandos: Major Almeida Bruno, Capitão Ribeiro da Fonseca, e os guineenses Cherne Sissé e João Bacar Jaló . Pena foi que o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, o Coronel Raul Folques (aqui presente e também na capa deste livro), que já se distinguira em Angola e condecorado com uma terceira Cruz de Guerra em 1973, não tivesse merecido da hierarquia militar a ambicionada Torre Espada.

Quanto ao conteúdo da obra poder-se-á dizer que se trata de uma história triste, contada na primeira pessoa ao logo destas 300 páginas, como tristes e dramáticas serão todas as histórias de guerra.

Nela se descrevem as acções onde as nossas tropas sofrem feridos e mortes de camaradas, que com eles conviviam no dia a dia. Essas são marcas que ficarão para sempre na nossa memória.

O autor fez bem em salientar, em anexo, os nomes de todos eles.

Na fase inicial de combate, no “Grupo Fantasmas” do então Alferes Maurício Saraiva já se nota, muitas vezes, uma mistura dos guerrilheiros com as populações, por conivência ou ameaças sobre elas, o que dificulta a actuação, sem os designados danos colaterais.

No entanto, o bom senso e a experiência do Amadú foram factores importantes para o bom andamento das operações. A sua actividade nos “comandos” manteve-se após a saída deste oficial, com a sua integração no “Grupo Centuriões” do Alferes Luís Rainha.

Após a intensa actividade operacional entre 1964 e 1966, nesses grupos de “comandos”, Amadú sentiu a necessidade de descansar para “recarregar as baterias”, voltando à sua condição de condutor. Assim, durante três anos passou pela CCS/QG e por vários batalhões: o BCav 757, o BCaç 1877, o BCav 1905 e BCaç 2856, que estiveram sedeados em Bafatá.

Com a ordem de regressar aos “comandos” em 1969, com vista à formação da 1.ª CCmds Af., Amadú, tal como os seus antigos camaradas Braima Bá e Tomás Camará, regressou às lides operacionais, agora (1970) sob a liderança do Tenente João Bacar Jaló, um figura mítica e muito considerada pelas gentes da Guiné.

Mas, antes ainda teve que frequentar um curso acelerado com o então Capitão “Comando” Barbosa Henriques, um militar que, depois do 25 de Abril, prestaria serviço comigo no Tribunal Militar.

Recordo a manifestação sentida dos “comandos” guineenses  residentes na área da grande Lisboa, com os seus trajes típicos maometanos, no dia do seu funeral, há alguns anos, no cemitério do Alto de S. João. Despediram-se do seu amigo com o habitual grito “Mama Sume”

Grandes operações nos países vizinhos.

Além das mais variadas operações feitas em todo o território e nomeadamente nas matas de Morés ou da Cobaiana, saliento as duas efectuadas em território estrangeiro.

A “Mar Verde”, na Guiné-Conackry, em Novembro de 1970, em que previamente surgiram dúvidas nos elementos da 1.ª CCmds Af. sobre a sua participação naquelas condições e onde actuaram juntamente com elementos dissidentes daquele país.

Os principais objectivos acabariam por não ser conseguidos, devido a falhas dos serviços de informações em relação à localização dos aviões e do presidente Sékou Turé, mas ocorreu o notável feito da libertação de 26 portugueses, que o PAIGC mantinha em prisões na capital do país.

Nesta operação a companhia de Comandos teve uma baixa de peso, pois o Tenente Januário Lopes desertou e entregou-se com o seu grupo de 24 homens. Esta não é porém a versão de Marcelino da Mata, com acção de comando importante à frente do seu grupo, após a morte do alferes na fase inicial, e que diz terem-nos deixado para trás por falta de coragem em os ir lá buscar na retirada.

O facto é que nas declarações à comissão da ONU, dias depois, Januário afirmou ter de facto desertado e acabaria por ser fuzilado com os seus homens no mês seguinte.

Amadú aquando dos preparativos para esta operação afirma no livro:

“(…) A nós, o PAIGC não nos poupava. Que me lembre não me recordo ver alguns dos nossos matar os feridos. Nem deixávamos nenhum ferido do PAIGC na terra de ninguém. Se estivesse ferido, pedíamos a evacuação para o Hospital Militar. Certamente que alguns de nós, brancos ou negros não se comportavam assim tão dignamente, mas não eram a maioria. E se fossemos apanhados pela tropa do Sékou Turé, de certeza que não haveria nenhum sobrevivente. (…)

A segunda, a operação “Ametista Real” foi realizada em Maio de 1973, à base de Cumbamori, no Senegal, em que seria empenhado todo o Batalhão de Comandos Africano, sob o comando do então Major Almeida Bruno.

O objectivo, desta vez, foi conseguido, pois levou à destruição dos depósitos de armas e munições e numerosas baixas no PAIGC, tal como seria parado, pouco tempo depois, o cerco a Guidage, que já durava havia três semanas.

O Batalhão de Comandos também sofreu bastantes baixas e a retirada do Senegal para o território da Guiné foi deveras penosa e feita com grandes dificuldades. Seria mais uma vez a grande experiência do Amadú e o apoio eficiente dado pelos aviões da Força Aérea a resolver a situação no final da operação. O autor descreve o sucedido, nas pag. 253 e 254:

“(…) Continuámos a retirar em direcção à fronteira. Não podíamos forçar muito, porque o Jamanca (tenente e comandante da companhia) só podia andar com o apoio de alguém e o Capitão Folques, com a perna ferida também tinha muita dificuldade em andar e estávamos ainda longe de Guidage.

“Pedimos apoio á aviação, mas recusaram. Que estavam a voar muito alto e era difícil localizarem-nos. (…) Perguntei ao soldado que transportava o morteiro se tinha alguma granada de fumo. (…) O Capitão Folques transmitiu para os aviões (…).

Disparei com o morteiro para sinalizar o local a partir do qual os aviões podiam bombardear.

“Uma grande bola branca de fumo já tinham visto dos aviões, ouvimo-los dizer. A partir deste momento, o Capitão Folques disse sueste do fumo, a sul, a sudoeste e a oeste, arrasar tudo, tudo!

(…) Essa granada de fumo ajudou-nos muito. (…)

“Chegámos junto do arame farpado de Guidage entre as 18 e as 19H00, mortos de sede e fome. Em Guidage não havia nada para comer. Nem medicamentos. (…)

Como se vê, foram tempos dramáticos e de grande sofrimento os passados nessa altura… E pelas transcrições feitas julgo que ficarão de algum modo elucidados sobre o conteúdo desta obra.

Antes de terminar apenas quero fazer duas pequenas observações.

A primeira em relação ao editor, por na contra-capa não ter colocado outra fotografia do autor, em que no fundo estivessem nomes de guineenses (talvez os fuzilados e colocados recentemente no Memorial do Bom Sucesso) e não os que se encontram nessa foto.

A segunda por o autor não fazer qualquer referência à actuação do Marcelino da Mata naquelas grandes operações, atrás referidas, onde ele teve desempenho brilhante e relevante.

Lembro ainda o facto de ele ter sido o militar mais condecorado do Exército Português em toda a Guerra do Ultramar. Mas o Amadú Djaló, na pág. 243 do livro, esclarece a sua atitude em relação a este oficial:

“O ambiente entre nós nem sempre foi o melhor. Havia rivalidades étnicas que se cruzavam com os problemas que ocorriam em qualquer unidade militar. “

A terminar, quero elogiar o autor por esta significativa e importante obra hoje foi aqui lançada e que acabou por ser publicada mercê da sua persistência de vários anos.

De assinalar igualmente o trabalho meritório do “Comando” Virgínio Briote, que contribuiu bastante para a execução deste projecto, tal como na sua eficiente divulgação.

Elogio igualmente o editor, Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos, por numa altura de crise geral e editorial, nomeadamente em relação aos livros de ensaio ou memórias, se ter abalançado na sua publicação.

Muitas felicidades para os três, para o Coronel Raul Folques e para o Dr. Nuno Rogeiro, assim como para todos os presentes.

Muito Obrigado!
Manuel Bernardo
Lisboa, 15-4-2010 


Publicado em:  
http://ultramar.terraweb.biz/06livros_AmaduBailoDjalo.htm 

Mais pormenores em blogue de Luís Graça e Camaradas da Guiné:

Guiné 63/74 - P6289: (Ex)citações (69): Antes procuravam-me, depois evitavam-me e a seguir chamavam-me cão e eu tinha... que aplaudir (Amadú Djaló) 

sábado, 10 de novembro de 2012

M553 - Prece de um Combatente. Um livro de Manuel Luís Rodrigues de Sousa

Prece de um Combatente
Um livro de:   
Manuel Luís Rodrigues de Sousa 

2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512

Jumbembém (Farim-Guiné)
1972-1974

Mais um excelente livro sobre o conflito na Guiné, no decorrer da Guerra do Ultramar, de que damos aqui conta através de um trabalho do seu autor Manuel Sousa (Folgares – Vila Flor), que nos foi enviado por e-mail com fotos resultantes de pesquisa na internet. 

Ganturé 




Localização física


 Aquartelamento de Ganturé, situado na margem Norte do rio Cacheu (época da seca)
Descrição do aquartelamento de Ganturé 


Aspecto do cais de Ganturé 

Em cima: Aquartelamento de Barro 





Aspecto do quartel de Bigene 

Aspecto do Rio Cacheu, mil vezes cruzado pela tropa portuguesa



(Segue-se um excerto do livro “PRECE DE UM COMBATENTE – Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial”) 


Sobre a minha experiência como combatente em campanha na Guiné, em Farim, Jumbembém, de 1972 a 1974, acabei de escrever e publicar este livro que mostro aqui ao lado, que, aliás, já alguns de vós conheceis. 

Todo o seu conteúdo tem como palco a zona de Farim (Jumbembém, Canjambari, Cuntima, Binta, Guidage) e, no final, faz referência a Ganturé, local por onde o meu pelotão passou nos últimos dois meses, em substituição dos fuzileiros, de Junho a Agosto de 1974, além de já ali ter pernoitado em Fevereiro desse mesmo ano, à passagem na minha deslocação naval pelo rio Cacheu de regresso de férias de Bissau, com destino a Farim, cuja descrição também é feita no mesmo livro.


Assim, hoje, aproveitando a oportunidade que a Internet nos dá de acedermos a fotografias de camaradas publicadas em diversos blogues, um banco de informação histórica, neste caso de fotografias, que nos proporciona, com um simples “clic”, acedermos a uma infinidade delas além das que possuímos no nosso álbum, decidi fazer um simples “postal”, alusivo ao DFE (Destacamento de Fuzileiros Especiais) de Ganturé), onde, como disse, passei os dois últimos meses da comissão. 

“Postal” esse ilustrado com uma música do Conjunto Típico Armindo Campos, “Adeus Guiné”, que estais a ouvir em fundo, cujo fonograma foi editado no contexto da guerra colonial, particularmente da Guiné. 

Para quem já leu o meu livro, a que acima fiz referência, já conhece o conceito em que eu tenho as tropas especiais de então, pára-quedistas, Comandos e, neste caso, os fuzileiros. 

Para quem não o leu, deixo aqui um excerto do livro (pág. 158 a 162 do livro) em que traço um paralelo entre a missão das mesmas tropas especiais e as forças normais do Exército, onde destaco precisamente a postura em campanha dos fuzileiros:


“… As tropas especiais das Forças Armadas Portuguesas, Fuzileiros, Comandos e Pára-quedistas, principalmente estas duas últimas forças, já que os fuzileiros da Marinha estavam distribuídos por destacamentos dispersos pela Guiné, no patrulhamento de rios e não só, eram forças de reserva e de intervenção. 

Estavam aquarteladas em Bissau, bem instaladas, bem alimentadas — a própria ração de combate era substancialmente melhor do que a que era distribuída no Exército —, com espírito de grupo coeso, por isso de moral em alta…” 


“… Bem treinadas e fortemente armadas, estavam vocacionadas para intervenções de assalto em operações pontuais programadas. 

Normalmente aerotransportadas até próximo dos objectivos, reduzindo ao mínimo o esforço físico nas deslocações, o que lhes dava a vantagem da surpresa sobre o inimigo, determinante para o sucesso das suas investidas em zonas controladas pelo PAIGC, no caso da Guiné, regressando de seguida ao conforto dos seus quartéis em Bissau. 

Ao invés, o Exército, a chamada, com alguma sobranceria, “tropa macaca”, era uma força de quadrícula, vocacionada para a defesa de determinada área geográfica circundante a pequenos quartéis instalados no interior profundo do território, como era o caso de Jumbembém”... 

“… O seu isolamento com a permanência constante no local e a condição de se deslocarem obrigatoriamente pelas picadas de acesso em colunas de reabastecimento, tornavam as suas forças vulneráveis a serem surpreendidas por emboscadas, colocação de minas e ataques aos quartéis por parte do PAIGC, com o consequente desgaste físico e psicológico dos seus militares que isso implicava...”


“… Dessas três forças especiais, destaco a postura dos fuzileiros da Marinha na progressão pela mata, ao longo da picada, em direcção a Guidage, cuja imagem ainda tenho bem presente: 

Militares de compleição física robusta, alguns deles já com mais de uma comissão, com experiência de guerra, de barba grande, de barriga proeminente, de bota de cabedal de cano alto, de boina preta, armados de metralhadoras MG com longas fitas de munições em volta do corpo, com aspecto tipo “rambo”.


Comparáveis a um “motard” de hoje, com a diferença de que o “motard” usa moto e capacete e esses fuzileiros usavam metralhadora e boina preta...” 

“… Inspiravam, de facto, segurança e, com aquela postura, transmitiam às restantes forças envolvidas, de que eu fazia parte, ânimo e autoconfiança perante as circunstâncias.” 

Bravos Fuzileiros!!!! 

Mais informação procurar no Google > Prece de um Combatente (sítio do livro) 
Fotos: Pesquisadas na internet. 
Formatação: Manuel Sousa (Folgares – Vila Flor)


M552 - Assim se mede o carácter de um militar. Ramalho Eanes há só UM!


Ramalho Eanes 


Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.

O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.

Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.

O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.

Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.

Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro. Num país dobrado

à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.

As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo

em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.

Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não,

não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a.

Mas pedi-la, não. Nunca!»

O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.

“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”.

Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta- acrescentando os outros.

“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”. O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.

Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.

Fernando Dacosta

Nota: Já escrevi algures no Expresso um comentário sobre Ramalho Eanes, mas sinto-me na obrigação de dizer algo mais e que me foi contado por mais que uma pessoa.

Disseram-me que perante as dificuldades da Presidência teve de vender uma casa de férias na Costa de Caparica e ainda que chegou a mandar virar dois fatos, razão pela qual um empresário do Norte lhe ofereceu tecido para dois. Quando necessitava de um conselho convidava as pessoas para depois do jantar, aos quais era servido um chá por não haver verba para o jantar. O policia de guarda em vez de estar na rua de plantão ao frio e chuva mandou colocá-lo no átrio e arranjou uma cadeira para ele não estar de pé. Consta que também lhe ofereceram Ações da SLN-BPN, mas recusou. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

M551 - AOE (Associação de Operações Especiais) – Espaço de TODOS os RANGERS - 25º Jantar/Encontro/Convívio - 3 de Novembro de 2012






Preço: 8 moedas

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS E UM JÁ PASSOU... VIVAM A VIDA… CONVIVAM… RIAM… DIVIRTAM-SE… E JUNTEM-SE A NÓS... NO ESPAÇO DE TODOS OS RANGERS.

APAREÇAM! 
Reservas para: RANGER Lopes - 220 931 820 / 964 168 857 ou RANGER Ribeiro - 228 314 589 ou 965 059 516  

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PRÓXIMO JANTAR 

26º Jantar/Encontro/Convívio

8 de Dezembro de 2012 - 19h30