O último combate do Sargento-Mór Op. Esp./RANGER Humberto Carneiro Fernandes Duarte, que serviu como Furriel Miliciano na CCS do Bat Caç 4514/72, no Catanhêz - Guiné - 1973/74
Conheci o meu amigo e camarada há uns anos largos num jantar de confraternização promovido pela A.O.E., ali prós lados de Rio de Mouro, para o qual tinha sido convidado.
A certa altura, entabulei conversa com o Humberto e apercebemo-nos que haviam lugares comuns no nosso passado - ele tinha sido aluno do LAFOS, eu do PILAO -, e ambos arranhamos em tropas "esquisitas", bem como ambos andamos um bocado fora da mãe etc., etc.
Tendo ficado para o fim do jantar "cravaram-me" para levar o Humberto a casa, mas ele assim que entrou no carro adormeceu, ressonando que nem um leão, e, pior, não me respondia a nada, pelo que tive que abrir o vidro todo do carro. Estavamos em Dezembro e pus-lhe a "carola" de fora da janela do carro a apanhar vento, para ver se ele recuperava um pouco.
Começou então o festival:
- Oh mano, onde é que tu moras?
Resposta:
- Em frente... à esquerda.
E eu lá à esquerda.
- E agora pra onde?
- Em frente... à direita...
E eu lá ia, em frente e à direita, mas não muito convencido pois ele nem os olhos abria, como é que ele havia de saber onde estava?
Bom, após umas tantas esquerdas e outras tantas direitas, decidi sair da IC 19 e passei pra Nacional. Entrei nos bairros da zona, depois numa estrada de terra batida, e, por fim, numa picada pelo meio de um pinhal, ali prós lados de Sintra.
E o meu amigo continuava a dizer:
- Em frente... à esquerda... em frente... à direita...
Eu comecei a ficar f.d.do, voltei á IC 19, e, não querendo mexer-lhe na carteira, pois se o "muadié" acordava ainda me pregava um par de bananos, a pensar que ainda estava lá pelo meio das bolanhas, tive que insistir com ele. No meio daquele breu-breu-breu, percebi uma palavra: RINCHOA. Pensei: "Ah até que enfim algo de concreto."
Enfiei direito à Rinchoa, passei por debaixo da linha do comboio e vi uma placa a dizer GNR.
"Tou safo - pensei -, alguém desta Guarda tem de conhecer este "sócio".
Parei o meu pópó à porta do posto, e aqui, começou a segunda parte deste filme.
Entrei, apresentei-me dizendo ao que ia, e, Alelulia, um dos guardas que estava à civil reconheceu o Humberto. Como o homem tinha uns papéis para tratar, pediu-me para esperar, pelo que, sentamos o amigo Humberto num dos bancos da saleta de entrada (do tipo jardim em ripas bem envernizadas).
O nosso amigo recostou-se e larga a ressonar, enquanto eu fiquei, como devem entender, na palheta com a rapaziada, por sinal todos eles jovens, e, interessados em ouvir o que já tinha passado para ali chegar.
Eu nunca tinha posto os meus "mokotós" para aquelas bandas, nem me sabia sequer orientar bem.
Nisto o amigo Humberto inclina-se para a frente até ficar com o tronco na vertical, mas, não a manteve, e, num movimento digamos uniformemente acelarado para a frente, descendente, prega uma marrada completamente desamparado, numa mesa de vidro que estava em frente ao dito banco, não me dando tempo de o segurar pela gola do casaco.
Só não rachou a tola toda nos vidros, porque havia uma série de revistas e jornais sobre amesa que evitaram que ele cortasse a cara toda. Curiosamente com o choque ele fez ricochete e voltou a recostar-se às costas do banco sem dar por nada.
Escusado será dizer que a dita mesa ficou feita em pedaços com a mocada que ele lhe pregou.
Então, foi ver o GNR conhecido dele a varrer os cacos, e, eu, é claro, tive que me "oferecer" para "chegar á frente" com as despesas, mas, diga-se em abono da verdade, o Sargento do posto (do qual não me recordo do nome infelizmente), no dia a seguir, quando lá voltei para tratar do assunto, fartou-se de rir e não quiz receber nada pelos estragos.
Chegado a casa dele entrei a "matar", um salamaleque à antiga portuguesa dedicado à esposa, e:
- Oh minha Senhora por quem é... não leve a mal... sabe como é a emoção de encontrar camaradas da tropa.
Diz-me o Leitão (o tal amigo da GNR):
- Oh camarada, não há problema esta é das nossas.
Foi assim que conheci tanto o meu amigo Humberto como a esposa, Senhora Dona Ana Mittermeyer, que tem sido, como sempre foi, desde os tempos de Moçambique (onde nasceu), uma Mulher de Armas.
Muitas outras cégadas tivemos, umas mais "contáveis" (se assim se pode dizer, que outras), mas todas elas terminaram bem e com um sentido de camaradagem elevado.
Só contra a "matacanha" no pancrêas o não pude ajudar.
Despeço-me dele, tendo a certeza que o Humberto estará numa mesa, com um jarrinho de branco à frente à minha espera, lá em cima.
Lamento camarada, não poder estar contigo na hora final porque estou na Argélia, mas virarei hoje uma garrafa de JB, e cantarei todas as velhas canções de marcha da velha Legião (que tu tantas vezes já me aturaste).
Até um dia destes camarada!
DANS LA BOUE, DANS LE SABLE BRULENT,
MARCHON L´AME LEGERE ET LE COUER VAILLANT
MARCHON CAMARADE
Carlos Coutinho
1 comentário:
BOA TARDE,GOSTAVA DE SABER SE O SR.CARLOS COUTINHO AQUI MENCIONADO FOI ASP.MIL.E ESTEVE NO R.I.13 EM VILA REAL EM MAIO/JUNHO DE 1972 A DAR RECRUTA AO 4ºPELOTÃO DO 2º TURNO DE 72 E QUE NO DIA 15 DE JUNHO DE 1972 FOI MOBILIZADO PARA O EX. ULTRAMAR.SÓ ME LEMBRO QUE ERA COUTINHO.GOSTAVA DE SABER
NOTICIAS DESSE EX.OFICIAL MIL.
O MEU OBRIGADO JOSE NOGUEIRA.
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