sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

M297 – GUINÉ-1974 – Desminagem pelo RANGER António Inverno




GUINÉ-1974 – Desminagem pelo RANGER António Inverno

Uma das "artes" ensinadas no C.I.O.E. aos RANGERS era a instalação e levantamento de campos de minas.
Já foi dito, aqui neste blogue, que o RANGER António Inverno, cumpriu a sua comissão militar como Alferes Miliciano nas 1.ª e 2.ª Companhias de Artilharia do Batalhão de Artilharia 6522 e no Pelotão de Caçadores Nativos 60, na região de S. Domingos -, na Guiné, nos anos de 1972 a 1974.


Do seu álbum de fotos e das suas memórias operacionais, enviou-nos a estória do levantamento de um campo de minas que ele próprio havia implantado no terreno, algures no início da sua comissão em 1972, numa zona entre S. Domingos e Susana.
Aqui está ele em Ponta Varela, equipado com a sua inseparável AK 47, ao fim de mais um dia na Guiné


Conta-nos ele:
A seguir a este texto vê-se uma sequência de fotos de uma desminagem, efectuada por mim num campo de minas anti-pessoal, que eu havia montado numa zona descampada e que servia de protecção estratégica contra eventuais e infiltrações do IN, por aquela parcela de terreno entre S. Domingos e Susana.
A instalação do dispositivo foi concretizada seguindo os habituais ensinamentos assimilados na instrução prática e teórica do C.I.O.E., partindo de um ponto de referência seguro e obrigatoriamente de fácil identificação no terreno, para melhor permitir em dias futuros, também de modo perfeitamente seguro, o posterior efeito de levantamento.
A selecção de um ponto de referência único e inequívoco, e o desenho de um preciso e claro croqui, foi sempre a minha principal preocupação, pois podia dar-se o facto de não ser eu, quando necessário fazê-lo, a efectuar a sua desinstalação ou levantamento, com queiram chamar-lhe.
A instalação do campo em apreço, decorreu normalmente, mina a mina, calculando e preservando sempre o perigoso risco que representava o cumprimento rigoroso de uma missão destas.
Este sistema havia sido montado aquando da nossa chegada a Susana, em fins de 1972, e teve que ser levantado antes da nossa retirada em Setembro de 1974.
Penso que não era preciso dizer aqui, que se a montagem foi, de algum modo, facilmente implantado no terreno, já não posso dizer o mesmo quanto ao acto de levantamento.
Quem sabe e, ou, viu os efeitos físicos e psíquicos num ser humano do rebentamento de uma mina anti-pessoal sabe do que eu falo.
Assim, lá parti para o terreno ciente que não podia errar, pois o lema que aprendera em Lamego com o monitor de Minas e Armadilhas, dizia que, com os explosivos deste género, só se podiam falhar 3 vezes: a primeira, a única e a última!
Tomadas todas as precauções e apesar da adrenalina e dos suores frios que nos causavam estes “trabalhinhos”, tudo correu bem felizmente.
Na última foto podem ver um buraco com as ossadas de um pequeno animal, que morrera ao fazer detonar umas das minas. 


Melhor que uma excelente picagem, e tínhamos homens altamente especializados nessa matéria, era ter um detector de minas (metais)

Rapidamente começamos a descobrir (Eu, o Fur Mil Ferreira, o Sold "Castiço" e o Mulata) a primeira das piores e mais traiçoeiras assassinas da guerra

Passa-me aí uma faca se f.f.

Aqui está uma mina... com cuidado... muito cuidado! Uma falha e PUM!Vou sacá-la... afastem-se!

Aqui está ela fora da terra, vou retirar-lhe a espoleta e pronto, já não fará mal a ninguém

Esta não preciso levantá-la. Só um buraco e uns ossitos, como último sinal de que aqui acontecera uma morte

Um abraço,
RANGER António Inverno

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotos: © António Inverno (2010). Direitos reservados. 


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