sábado, 4 de dezembro de 2010

M287 – Os soldados portugueses em África, na Guerra do Ultramar (2), pelo RANGER António Barbosa

O soldado português, pela sua valentia, bravura e poder de sacrifício, vencendo todos os obstáculos que lhe são levantados, são considerados por muitos peritos e estudiosos mundiais destas matérias, entre os melhores do mundo.
Já na mensagem M284 apresentei uma resumida descrição da preparação e instrução ministrada aos jovens portugueses, com 21/22 anos de idade, nos anos 60 e 70, transformando-os em soldados portugueses, para combater em África, na Guerra do Ultramar, num dos piores cenários conflituosos: a selva africana.
Também falei em algumas das condições de vivência e convivência com as populações locais, com que os mesmos se deparavam no meio das mais profundas matas africanas.
A guerra arrastou-se entre 1961 (início das hostilidades em Angola) e 1975 (retirada dos últimos soldados portugueses de Angola), tendo provocado cerca de 10.000 mortos entre as tropas portuguesas, derivados de várias origens desde acidentes a doenças, minas anti-pessoais e anti-carro e ferimentos em combates.
Ao iniciar estas novas considerações vamos saber quantos tipos de Homens existiam naquele período:
- os que fugiram da guerra (em relação aos quais apenas vou tecer um comentário);
- os que se apresentaram nos quartéis e cumpriram o melhor que souberam e puderam;
- os que se apresentaram nos quartéis e sabiam que estavam bem protegidos por altas e seguras cunhas (fossem de carácter militar ou civil e em relação aos quais, do mesmo modo, apenas vou tecer um comentário).
Em relação àqueles que fugiram cobardemente da guerra, e em menor grau de cobardia aqueles que estiveram sempre na certeza, comodidade e tranquilidade de estarem bem protegidos por altas e seguras cunhas, excluindo-se de se solidarizarem com os seus restantes conterrâneos no esforço conjunto do cumprimento daquilo que sempre se chamará, em qualquer país do mundo, ontem, como hoje e amanhã, o dever de um cidadão para com a sua Pátria, apenas registo um desejo é que continuem a viver sem remorsos, nem problemas de consciência, com toda a comodidade e tranquilidade que a vida lhes possa permitir!
Sobre aqueles que se pronunciam e escrevem sobre a Guerra do Ultramar, ou de África, infelizmente constata-se que há também vários tipos de Homem:
- os idiotas e, ou, ignorantes, que não sabem o que dizem;
- os traidores e cobardes que deturpam os factos e acontecimentos, e inventam fantasiosas e ofensivas cenas, e falsas declarações para fins pessoais, jornalísticos ou políticos;
- os “calimeros”, que se reconhecem facilmente em frases como: “Eu fui um desgraçadinho, coitadinho de mim, fui obrigado a fazer tropa… infeliz… ao frio… à chuva… ao sol… fui obrigado a ir pr’à guerra.” Não apresentam sequer um qualquer beliscão desse tempo!
- os honestos, leais, verdadeiros.
Os idiotas e ignorantes, que não sabem o que dizem, mais lhes valia estarem quedos e mudos, informarem-se e estudarem melhor este capítulo da nossa história recente, para puderem fazer jus aos factos e acontecimentos, em nome da verdade, lealdade e justiça.
Estes imbecis ainda podem merecem as nossas piedosas desculpas, pois mais não atingem intelectualmente que a sua reduzida visão e saber dos factos históricos, podem provocar pequenas mossas históricas (mesmo assim torpes), em quem lhes dá credibilidade, quem é da mesma conveniência, cobarde, traidor à Pátria e, ou, serve interesses politicamente nojentos e obscuros.
Outros há bem mais perigosos, os cretinos ressabiados, e destes já não se pode dizer o mesmo. Distorcem os factos e andam sempre à procura nas entrelinhas de falhas e, ou, incorreções para explorarem e dissecarem, a fim de se servirem deles para os seus miseráveis e execráveis interesses - principalmente políticos -, usam e abusam da mentira, da falsa fé, da deturpação criminosa, do mal-dizer, etc.
A finalidade é avespinhar a Pátria e, ou, destruí-la como Nação, jamais pensam nos nossos mortos e nos nossos heróis, que tudo deram de si e nada pediram em troca.


Muitos ignoram, não lhes interessa sequer saber, ou deturpam, basicamente aquilo que os verdadeiros portugueses atentos e estudiosos SABEM, foi que:

O ULTRAMAR PORTUGUÊS ERA UM LEGADO HISTÓRICO DA EXPANSÃO PORTUGUESA, ANCESTRAL, REGADA COM O SACRIFÍCIO, SUOR E SANGUE DE REIS, DESCOBRIDORES, AVENTUREIROS E GUERREIROS, DESTEMIDOS, OUSADOS E VALENTES, QUE PERCORRERAM O MUNDO, LÉS A LÉS, DESCOBRINDO NOVOS MUNDOS, NOVOS POVOS, NOVOS PRODUTOS, MATERIAIS, ETC. E QUE, AO LONGO DOS SÉCULOS, FOI SENDO POVOADO E DESENVOLVIDO POR MILHARES DE PORTUGUESES, OUSADOS E DESTEMIDOS TAMBÉM ELES, À PROCURA DE UMA TERRA QUE LHES DESSE O QUE NÃO ERA DADO NO CONTINENTE, PARA SI E SEUS FILHOS E, ACIMA DE TUDO, MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA.

Uma das matérias mais evitadas pelo pessoal que foi mais operacional é a parte que respeita às decisões políticas (incorrectas e erradas), que levaram à origem desta guerra.
Muitos portugueses culpam o 1º Ministro que em 1962 governava o país - Prof. Dr. António de Oliveira Salazar -, por ele não ter tomado a decisão de, um vez posto ao corrente do início do terrorismo em Angola, a que se seguiu Moçambique e a Guiné, não ter tentado uma solução política optando pela via da guerra.


Uma das medidas preconizadas pelos agentes práticos que acompanhavam a evolução dos factos no terreno, era simplesmente o de integrar (arranjar empregos decentes), para os nativos oriundos de Angola, Moçambique e Guiné, que concluíam nos nossos institutos e faculdades, com sucesso, os seus cursos superiores.


Sabe-se que os movimentos de libertação foram altamente reforçados e até comandados por indivíduos com cursos superiores, de que são exemplos: na Guiné – Engº Amílcar Cabral, em Angola - Dr. Agostinho Neto, que muito notabilizaram e credibilizaram as acções anti-portugueses.
Outra medida teria sido o da autodeterminação das populações locais, em que, atempadamente e com clama, se tivesse, através de eleições políticas, decidido um futuro melhor para aquelas ex-províncias ultramarinas.
Assim não foi e ao fim de 12 anos de guerra, em 3 frentes, com milhares de mortes de ambas as partes, foi um povo desgastado e cansado de ver os seus filhos a morrer, que em 25 de Abril de 1974 saiu para as ruas a festejar e reforçar irreversivelmente um golpe que depôs o regime de Salazar e Caetano, de que resultou o imediato fim da guerra.


Entregaram-se à sua sorte, veloz (a fugir de quem? uma interrogação que muitos portugueses hoje gostavam de saber uma resposta), e incondicionalmente, as ex-províncias portuguesas, sem auscultar minimamente o pulsar e inclinações das populações e o resultado foi o que se sabe… os diversos movimentos digladiaram-se selvática e intestinamente em sanguinárias e mortíferas guerras civis, levando à morte milhares de pessoas.
3 incontestáveis e historicas fotos da terrível guerra civil que assolou Luanda (Angola), vendo-se corpos de pessoas brancas, mulatas e negras
Desta matéria fala-se pouco, ou quase nada, pois não interessa ao poder político em Portugal, um parte porque sempre apoiou a retirada total dos portugueses de África, outra porque após o 25 de Abril pactuaram com tudo o que fosse feito para “livrar-nos” daquelas possessões.
Recorde-se que viviam e tinham a sua vida completamente organizada (toda e qualquer riqueza que tinham estava investido naquelas terras), perto de 200 mil pessoas em Angola, 100 mil em Moçambique e algumas centenas na Guiné.
Com a “cavalgada” da fuga dos militares, a quase totalidade desta gente ficou sem nada, de um dia para o outro, e foram despachados aos molhos, em barcos e aviões, para o Continente, apenas com a roupa que tinham vestida.
Muitos fugiram para países vizinhos que os acolheram, sendo o mais escolhido a África do Sul.
Resumindo e concluindo: o povo e os soldados estavam cansados e desgastados pela guerra, que durou mais ou menos 13 anos em Angola, 12 em Moçambique e outros tantos na Guiné, levando-os a juntarem-se aos revoltosos no 25 de Abril de 1974.
Foi este onda que reforçou sobremodo o dispositivo dos militares que constituiam o golpe militar e que viria a concretizar-se nas ruas de Lisboa.
Além da dezena de milhar de mortos na guerra, muitos foram aqueles que ficaram estropiados e com stress pós-traumátrico de guerra, que só serão sanados com a morte.

Mas mesmo assim os militares portugueses sabiam improvisar, adaptar-se, desenrascar-se e deram lições de valentia, dureza e de grande esforço, unidos pela camaradagem que ainda hoje perdura e é bem latente entre os ex-Combatentes vivos.

VIVA PORTUGAL!


Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
Fotografias: © António Barbosa (2010). Direitos reservados.

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