sexta-feira, 30 de março de 2012

M424 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Uma noite nas valas de Guidaje (5)



Esta é a 5ª mensagem é a continuação das mensagens M417, 418, M422 e M423, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/



38ª Companhia de Comandos


Uma lenda da Guerra do Ultramar


Guiné – 1972/74

Uma noite, nas valas de Guidaje


Guiné >Região do Cacheu > Guidaje > Novembro de 2000 > Romagem de saudade, dos tugas...

11 de Maio de 1973
(continuação)

Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.

12 de Maio de 1973 

Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido! 

A nossa artilharia responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm. 

Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. 

Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrido mas é preciso reagir. Com um ano de Guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo. 

Recebemos ordens para sair para a mata.Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio ate Guidaje. Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os mísseis Strella estão à espreita da nossa aviação. 

Fomos ao encontro da coluna e assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas terá sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas. 

O nosso estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu. 

(continua) 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados. 
Fotos: © Albano M. Costa (2005) . Direitos reservados. 

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Do mesmo autor veja também as mensagens:

1ª Mensagem em 16 de Março de 2012 > 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

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