domingo, 27 de novembro de 2011

M383 - RANGER Casimiro Carvalho do 2º Curso de 1972 é notícia no DN de hoje, dia 27 de Novembro de 2011


O RANGER Casimiro Carvalho, do 2º Curso de 1972, que cumpriu a sua comissão militar na Guiné, na Companhia de Cavalaria 8350 - Piratas de Guileje -, é notícia no DN de hoje, dia 27 de Novembro de 2011.



Com a devida vénia e agradecimento reproduzimos um excelente artigo da Jornalista Ana Cristina Pereira, do jornal Público, que escreve crónicas mensais no  jornal Diário de Notícias da Madeira, a quem, aqui neste blogue, apresentamos os nosso cordiais parabéns e felicitações por este agradável memorando. 


Estilhaços do tempo
Impossível não ficar a pensar no que terá passado o meu pai durante a guerra colonial

Ana Cristina Pereira, jornalista do Público

"Ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel ou se foi ordem dada pelo comandante-chefe, mas uma coisa é certa: GUILEDJE ESTÁ À MERCÊ 'DELES'."


José Casimiro Carvalho não estava. Tinha ido coordenar uma operação de reabastecimento da companhia. Guiledje era o fim do mundo. Os mantimentos vinham em batelões de Bissau até Cacine. Seguiam em lanchas de desembarque médias até Gadamael. E por coluna até ali.


Há uma maqueta no Núcleo Museológico de Guiledje. O lugar está a ser recuperado, muito por força da Associação para o Desenvolvimento. Para já, apenas uma sala com isso e com utensílios e textos de época. Visitam-na antigos combatentes e familiares. Às vezes, aparecem filhos ou netos de militares já mortos, à procura de pistas de um passado silenciado.


Foi lá que li a carta que Casimiro escreveu aos pais sobre a retirada de 1973. E um impressionante depoimento de João Tunes, importado do blogue Bota Acima: "Enclausurados dentro do quartel, morteirada todos os dias, com baixas quando iam buscar água a um quilómetro, comendo com uma perna fora da mesa para se atirarem para uma vala quando a primeira granada caísse, os militares de Guiledje sentiam-se mais perto de outra vida que da vida vivida. Os que não estavam malucos por lá andavam perto".



Impossível não ficar a pensar no que terá passado o meu pai durante a guerra colonial. Não combateu na Guiné-Bissau. Combateu em Moçambique, mas enquanto lá estive ligou-me várias vezes, inquieto. Suponho que para ele Guiné ainda é sinónimo de inferno. 

A guerra colonial começou há 50 anos. Oficialmente, acabou há 37. Em quantas cabeças ainda ecoa? 
A situação tornara-se insuportável. Durante três dias, o aquartelamento fora bombardeado 37 vezes. Sobre ele tinham caído 795 granadas. A cozinha fora destruída e a tropa estava impedida de formar coluna para ir buscar água. Já não tinha água e já só podia comer rações de combate. 

Guiledje dista três quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacry. O exército assentara arraiais em 1964. Tentava impedir a entrada de armamento e de víveres para o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, via "corredor da morte" ou "caminho di povo", consoante o lado da luta.

Agora, só se pode imaginar a rede dupla de arame farpado, as trincheiras a céu aberto, as trincheiras subterrâneas, o morteiro, as messes, os quartos, o posto de rádio, o posto de socorro, a arrecadação, a cantina, a cozinha… Depois da retirada de militares e civis, António de Spínola, então governador militar da Guiné, mandou bombardear o que restava.

sábado, 26 de novembro de 2011

M382 - RANGER Cândido Teixeira - 3º Curso de 1972 - Parte I


Apresenta-se hoje o RANGER Cândido Teixeira do 3º Curso de 1972, que cumpriu a sua comissão militar em Teixeira de Sousa - Angola -, na 2ª Companhia de Caçadores do Batalhão da Caçadores 4210. Recorda-se que a Guerra do Ultramar decorreu entre 1962 a 1975.

Comunicação via rádio


 Picada fora em mais uma operação
Andando de comendo
Vigiando a rectaguarda não vá o diabo tecê-las

Esta é uma pose só para a fotografia mesmo!


Outra para a foto com uma metralhadora ligeira HK 21
Tal como ensinaram nos RANGERS a G3, companheira inseparável, até dormia connosco...


 O descanso faz parte da vida de todo o bom operacional



 No acampamento com dois operacionais africanos


Momentos de merecido repouso em tenda improvisada






Parte do pessoal africano que eram excelentes Combatentes


sábado, 19 de novembro de 2011

M381 - JANTAR/CONVÍVIO RANGER NO MONTIJO



“RAÇÃO DE COMBATE PARA RANGERS”

NO PRÓXIMO DIA 25 DE NOVEMBRO DE 2011, PELAS 20H00, TERÁ LUGAR, NO RESTAURANTE “MERCADO DO PEIXE”, NO MONTIJO, UM JANTAR CONVÍVIO DE ELEMENTOS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS.

A EMENTA SERÁ CONSTITUÍDA POR:

Entradas

Cocktail 
Camarão 
Presunto Laminado 
Moelas à Portuguesa 
Paté 
Cesto de Pães Variados 
Manteigas 

Bebidas

Martini
Moscatel
Gin Tónico
Vinho Tinto / Branco
Sangria Tinta
Cerveja
Sumos e Refrigerantes (Ex.: Coca-cola, SevenUp, Sumo de laranja sem gás, etc.)
Água

Pratos Possíveis

(1 prato de carne e 1 prato de peixe, à escolha aquando da confirmação/reserva)
· Rodízio de Peixe;
· Feijoada de choco com gambas aromatizada de coentros;
· Bacalhau espiritual com Crosta de Broa e Coentros;
· Carne de Porco à Alentejana;
· Lombinho de Porco com Molho de Cogumelos.

Sobremesas


Buffet de Sobremesas
“Porto de Honra” (Grito RANGER)
Café / Digestivo

Mercado do Peixe 



Morada: Rua 1º de Maio 
Localidade: Alto-Estanqueiro, Jardia, Montijo 
Código Postal: 2870-626 
Telef. 212360749 
Coordenadas: N 38º 39’ 53,20” - W 8º 55’ 34,22” oN 38.664798º - W 8.926255º 




P.S. Informa outros RANGER’S que conheças. 

Confirmar presença até 20-11-2011 e solicita mais informações, pelos seguintes contactos: Telf. 212 360 749 ou Telm. 912 964 676: (Terça a Sábado, entre as 10h e 15h ou 19h e 22h. Aos Domingos das 10h às 16h).


Junta-te a nós, para: 

“Que os muitos por ser poucos nam temamos”


**************


NOTA DE MR:


Estes eventos são programados com muito empenho e 


entusiasmo da parte do organizador, cujo único e óbvio


objectivo é reunir o maior número de Camaradas 


RANGER de todas as gerações.


TODOS OS QUE PUDEREM DEVEM COMPARECER 


E CONVIVER!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

M380 - ULTRAGE À BANDEIRA NACIONAL POR PSEUDO-PORTUGUESES

No Campus de Justiça - no Parque das Nações -, Lisboa

PSEUDO-PORTUGUESES ENVERGONHAM E OFENDEM A DIGNIDADE E A HONRA NACIONAIS


ULTRAJE À BANDEIRA NACIONAL
 
A Bandeira Nacional na imagem não está em nenhum teatro de operações do Afeganistão, Kosovo ou quaisquer outros onde tenham sido travados graves combates que tenham provocado a sua deterioração. O campus onde se encontra hasteada é outro. Está situado em zona nobre de Lisboa e as batalhas que lá se travam são judiciais.

Esta triste fotografia foi captada dia 27 de Outubro de 2011.Pois é, esta é uma das duas Bandeiras Nacionais hasteadas no Campus de Justiça, no Parque das Nações, junto da escadaria principal, e o estado da outra também se aproxima do desta.

O aspecto das mesmas é reflexo do miserabilismo a que esta Nação chegou. Diariamente representantes de órgãos de soberania cruzam a sua sombra e já não se detêm. Tornou-se uma vulgaridade olhar para o aspecto descuidado da Bandeira e já todos se conformaram com o criminoso comportamento de quem, por omissão, permite o ultraje à Bandeira Nacional e falta ao respeito que é devido a este símbolo nacional.

A mim, assim como a centenas de milhares de portugueses que de braço estendido em direcção ao Estandarte Nacional juraram defender o que ele representa, ainda que com o sacrifício da própria vida, assalta-me um sentimento de indignação contra quem permite tal desvalorização e desrespeito. Cheguei a ser Porta-Estandarte Nacional de uma Unidade militar e frequentes vezes a apresentei a recrutas que, perante ela, juraram a sua fidelidade à Pátria, beijando-a.

Dói-me ver o desinteresse com que agora os nossos órgãos de soberania permitem que a minha querida Bandeira seja tratada, sintoma da conformação com o desinteresse pelos Valores nacionais a que este país chegou.

A desgraçada conduta de políticos, a que todos estamos votados e já habituados, deixa-nos indiferentes a estas verdadeiras vergonhas nacionais.

Neste Campus de justiça estão situados tribunais que constituem um Órgão de Soberania, assim como departamentos do governo, responsáveis pela administração pública e que gerem administrativamente aquele espaço.

Será que nenhum dos directores do Ministério da Justiça se sente incomodado com esta situação? Será que o miserabilismo a que estamos votados não permite a substituição destas bandeiras, ou é mesmo desinteresse criminoso pelo que elas simbolizam?

No Campus de Justiça está situada uma Esquadra da PSP, cuja missão é apoiar os tribunais em termos de segurança. Será que ninguém se lembra de entregar aos elementos desta a tarefa de içar e arrear diariamente das Bandeiras Nacionais?

Já estamos todos entorpecidos pela droga do conformismo e já consideramos que não interessa o respeito pelos símbolos nacionais. É este comportamento que demonstra estarmos em fim de ciclo e que esta politica já nada diz aos portugueses.

E se não queremos perder a Nação, é altura de responsabilizarmos a política que nos conduz a este estado.

(O autor deste texto é um leitor do “Operacional”, devidamente identificado, que pediu o anonimato)

domingo, 16 de outubro de 2011

M378 - As Operações Especiais / RANGERS de Portugal em reportagem na SIC


Com a devida vénia e agradecimento, apresentamos uma excelente reportagem da cadeia televisiva SIC, que foi dada a público no passado dia 13 de Outubro a seguir ao Jornal da Noite.



Parabéns à SIC e aos seus excelentes profissionais, que, dentro dos limites de divulgação, dadas os óbvios, necessários e compreensíveis níveis de confidencialidade, conseguiu dar uma ideia do que são os operacionais das Operações Especiais em Portugal.


É de todo desnecessário dizê-lo, mas faço-o para despertar atenção das pessoas mais distraídas, que, como todos nós sabemos, todo o tipo de gente tem acesso à informação prestada pelos diversos canais de televisão. Muito boa gente boa certamente, mas também muito mal-intencionada: assassinos, bandidos, terroristas, etc. 


Assim, apresentar um trabalho completo sobre a "alma", o ser e o sigilo que se exige sobre a composição e organização da rigorosa e exigente instrução desta especialidade, é uma missão propositadamente impossível para os meios jornalísticos, pois seria certamente catastrófico para os profissionais ali treinados e estacionados em espera activa e permanente de ordens superiores para entrarem em acção.


Porquê? Porque também os energúmenos ficariam a saber como se preparam tais Homens, que têm como única missão e objectivo serem o último recurso para resolverem/eliminarem os problemas graves criados pelos primeiros (os que vivem apenas para o mal e para enegrecer a vida dos demais seres humanos), sem provocarem, por efeitos colaterais, qualquer mazela na restante população civil. 


Apesar de tudo e das evidentes restrições de trabalho impostas aos seus profissionais, este belo trabalho conseguiu dar então uma ideia, mesmo que pequena, do que são as Operações Especiais em Portugal, cujas exigências físicas e psíquicas muito poucos formandos conseguem suportar ao longo de alguns meses e concluir com êxito, alcançando os almejados emblemas RANGER.


Ser RANGER é uma opção de vida para Homens de "barba rija", um modo diferente de viver a vida... não é RANGER quem quer... só quem pode, lutador, com muita garra, Valentia, Vontade e Valor. 


Filme: SIC (2011). Direitos reservados.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

M377 - RANGER Eduardo Lopes do 1º Curso de 1969 – Parte V - "Operação Vinde a Nós"





RANGER Eduardo Lopes
1º Curso de 1969


O RANGER Lopes, que foi Alferes Miliciano da CCAÇ 2600 do BCAÇ 2887 (Companhia de Caçadores Nº 2600 do Batalhão de Caçadores 2887), continua a enviar-nos a catarse das suas memórias, dos factos e acontecimentos do dia-a-dia, da sua experiência e vivência na guerra em África, mais precisamente em Balacende – Angola -, dando seguimento a dez mensagens publicadas neste blogue, com as referências: M359, M360, M361, M362, M367, M368, M369, M370, M373 e M375.

Hoje, fala-nos da primeira das operações de contra-guerrilha contra o inimigo, em que participou a sua sacrificada Unidade.

Na mensagem M375, já abordamos a problemática que originavam as traiçoeiras emboscadas, cujos traumas psíquicos deixavam marcas profundas e duradoiras nos nossos soldados, pela expectativa e desgaste criados no "antes-de-entrar-em-combate" e pela adrenalina e a angústia "durante-o-combate e pós-combate".

Para os leitores que nunca entraram em ferozes e mortíferos combates de morte, entre centenas de balas e estilhaços das granadas, frente a frente e olhos nos olhos com o inimigo, cuja única intenção é eliminarnos fisicamente de qualquer modo, jamais em tempo algum poderão imaginar as sensações sentidas por um combatente debaixo de fogo hostil.

Os entendidos em matéria de causas e efeitos dos combates no ser humano, transformados em terrível doença, resolveram designá-la por "stress pós-traumático de guerra".

Atinge quase todos os militares intervenientes, com maior ou menor grau de gravidade, dependendo do poder de encaixe psicológico e modos de enfrentar a ameaça de morte, ou de eventuais mazelas físicas, de cada um.

Este "poder de encaixe" é muito relativo e ainda hoje, mesmo ao melhor nível internacional, pouco ou nada se sabe sobre esta matéria. A justificação é que existem vários tipos de stress e cada caso é diferente do outro anterior.  

Se as emboscadas contra o inimigo traumatizaram muitos dos nossos soldados, as emboscadas do IN contra as NT (Nossas Tropas), já se disse na M375, eram marcadas por consequências terríveis, mortíferas e devastadoras, principalmente pelos feridos e mortos que resultavam, na troca de metralha, entre os nossos militares.

Esta operação da CCAÇ 2600, contra a FNLA e MPLA, soube a uma doce vingança dos nossos Camaradas mortos na emboscada, contada na mensagem anterior.

Parte V

"Operação Vinde a Nós"

A"Operação Vinde a Nós" teve lugar entre 1 e 23 de Dezembro de 1970, na região dos Dembos, entre os rios Zenza - a sul -, e Lifune - a norte -, numa área onde se encontravam bases da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e do MPLA (Movimento Popular Libertação Angola).

Portanto, a Operação executada a nível de Sector, era dirigida contra os dois Movimentos, mas com objectivos distintos. Contra a FNLA o objectivo era destruir as suas forças, e em relação ao MPLA era destruir a sua ligação às populações e recuperá-las para o lado dos portugueses.

À minha Companhia coube uma primeira missão contra uma área de forte implantação do FNLA, junto do rio Lifune e tinha por objectivo a captura, ou a destruição, de forças do FNLA e a recuperação de populações, através de reconhecimentos ofensivos conjugados com emboscadas. A força era constituída por dois G.C. (25 homens cada), por um período de 3 dias. 

A operação teve início pelas 08h30, tendo o pessoal destacado sido distribuído por cinco helicópteros “Alouette III”, que poisaram no nosso quartel. O meu G.C. foi o primeiro a ser helitransportado e passados cerca de 20 minutos foi largado numa "lavra". Como o outro G.C. (1º Pelotão) foi “largado” noutro local - cerca de 1 a 2 kms do meu -, arrancamos logo para um trilho que tínhamos visto do ar e que atravessava a citada "lavra".

Encontrado o trilho, verificamos que este era bastante largo, muito batido e limpo, o que significava que era muito utilizado.

Como tínhamos sido transportados pelo ar, com os helis a voar muito baixo, mesmo junto às copas das árvores, acreditávamos que íamos surpreender o IN.

Assim, mal entramos no trilho, percorremos umas centenas de metros e logo que vi o trilho fazer uma curva mais pronunciada, achei ter encontrado um bom local para montar uma emboscada, para surpreender o IN.


O tempo escasseava pelo que mandei fazer alto e, após breve conferência com os Furriéis Milicianos Louro e Pereira, ficou determinado a disposição do pessoal na emboscada (em "L") e que o início (primeiro disparo), da mesma, seria dado por mim.

Fiquei com a equipa do 1º Cabo Coutinho e ao lado do apontador da MG-42, no traço pequeno do "L", enquanto os restantes 19 ficaram em linha paralela ao trilho.

Não foi preciso esperar muito, pois passados uns 6 minutos ouvimos ruídos de gente a aproximar-se com passo apressado. É óbvio que o presságio da aproximação dos primeiros tiros, a adrenalina apoderou-se do coração, que se apertou, as pulsações aumentaram, as mãos crisparam-se na G3, etc.

Bati no ombro do apontador da MG-42 e num movimento rápido levei a arma ao rosto e aguardei.

De repente apareceu um guerrilheiro que abria a pequena coluna de 7/8 combatentes da FNLA. Estavam a 20/30 metros de nós, reprimi a vontade de disparar de imediato e aguentei… mais um pouco… até estarem bem dentro da zona de morte e, então, fiz fogo que foi o sinal para o seguimento de um forte tiroteio (originado por 24 G3 e a MG-42 a disparar), que durou o tempo suficiente para despejar um carregador (6/7 segundos que me pareceram uma eternidade).

O pessoal já estava mais disciplinado a fazer fogo e sabia que se não tinha um alvo devia parar. Foi o que fizeram e assim voltou a fazer-se um silêncio sepulcral.

Deixei passar alguns segundos, levantei-me, mandei montar um dispositivo de segurança e fui ao trilho para me certificar dos “estragos” que tínhamos causado.

À primeira vista estavam 3 corpos tombados. Aproximei-me com o Fur Mil Louro e apanhamos uma metralhadora PPSH e uma espingarda Simonov, após o que revistamos os corpos e retiramos um carregador da PPSH e 2 "pentes" da Simonov.

Tínhamos "ganho o dia", pois capturar 2 armas nos Dembos era um feito e uma sorte, mas esta, a sorte, ainda não tinha terminado, pois quando retomamos o nosso movimento na direcção de onde tinham vindo os guerrilheiros e percorridos uns 50 metros, fomos alertados por gemidos que vinham da mata.

Com a maior das precauções saímos do trilho e seguindo o som dos gemidos deparamos com um corpo caído, com o lado direito desfeito numa massa de sangue. Aproximamo-nos mais e vimos que o guerrilheiro apertava com a sua mão esquerda uma carabina Simonov.

O 1º Cabo Coutinho pegou na Simonov mas teve que se aplicar para a tirar da mão do guerrilheiro, pois este num último esforço agarrou-a com todas as suas forças, que já eram poucas. Chamei o cabo enfermeiro, que debruçando-se sobre o corpo e pegando-lhe no pulso esquerdo me indicou que o guerrilheiro tinha pouco tempo de vida e que só estava a sofrer, pois tinha parte das suas vísceras à vista.

Chamei o "Francês" (um soldado com 30 anos, emigrante em França, que tinha regressado a Portugal a fugir à policia francesa e que tinha sido logo mobilizado para o nosso batalhão) olhei-o, e transmiti-lhe o que queria com um “olhar”. Naquela situação as palavras era desnecessárias, voltei-lhe as costas mas ainda o vi, de relance, puxar da faca de mato e momentos depois deixei de ouvir gemidos.

Passamos o resto da operação a montar emboscadas, durante 4/5 horas mudando frequentemente de local.

Na manhã do terceiro dia, dirigimo-nos a dois acampamentos que entretanto fomos localizando, pois durante os dois dias anteriores ouvíamos os cães ladrar e os galos cantar. Chegados aos locais, passamos revista a todas as cubatas, destruindo todos os utensílios e matando a "criação" e partindo os ovos que encontrávamos.

Arrecadamos algumas bacias de esmalte e pratos de alumínio deixadas por ali e, por fim, deitamos fogo às cubatas.

Ao meio da manhã, antes de nos dirigirmos ao local de recolha, deitamos fogo a 2 "lavras" de milho.

Por volta das 13h00 chegamos ao morro onde o 1º pelotão já aguardava a recolha pelos helis. Reforçamos o perímetro de segurança, almoçamos e aguardamos.

Por Volta das 14 horas apareceram os “alouettes” acompanhados por um "Lobo Mau" (heli-canhão), que na primeira leva recolheu o 1ºpelotão.


Passada uma hora reapareceram os helis para nos levaram a nós.

Quando as aeronaves levantavam voo, o IN começou a flagelar as que se encontravam mais próximas da mata, fazendo com que, de imediato, o "Lobo Mau" entrasse em acção, metralhando a área de onde surgiu o ataque.

Passados cerca de 20 minutos poisamos suavemente na pista de Balacende, dirigimo-nos ao nosso capitão e entregamos-lhe os “troféus” capturados (1 PPSH e 2 Simonov).

O capitão não cabia em si de contentamento, pois sabia quanto representava para o prestígio da companhia e do batalhão aqueles troféus.

Começávamos assim a vingar os nossos mortos e não mais paramos até ao fim da comissão.

domingo, 9 de outubro de 2011

M376 – AOE (Associação de Operações Especiais) – Espaço de TODOS os RANGERS - 12º Jantar/Encontro/Convívio - 1 de Outubro de 2011 (2)


NO 1º SÁBADO DE OUTUBRO – DIA 1

Arroz de marisco à moda do RANGER Lopes. Morreu todo!
 
 Apetitoso Bolo de fruta. Faleceu em poucos minutos!

 Creme torrado delicioso. Nem respirou!

Tarte especialidade da Paula Lopes. Triturada!
 Fresquinhas e fofas Cavacas de Fafe. Sumiram! 
Docinhos e suculentos de Fafe. Evaporaram-se!

No próximo dia 5 de Novembro de 2011 (1º sábado do mês) haverá mais!

Será o nosso 13º Jantar / ENCONTRO / Convívio... se Deus quiser!

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS E UM JÁ PASSOU... VIVAM A VIDA… CONVIVAM… RIAM… DIVIRTAM-SE… E JUNTEM-SE A NÓS... NO ESPAÇO DE TODOS OS RANGERS

APAREÇAM!

Reservas para: RANGER Lopes - 220 931 820 / 964 168 857 ou RANGER Ribeiro - 228 314 589 ou 965 059 516

Fotografias: © MR (2011). Direitos reservados.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

M375 - RANGER Eduardo Lopes do 1º Curso de 1969 – Parte IV - As emboscadas


RANGER Eduardo Lopes
1º Curso de 1969


O RANGER Lopes, que foi Alferes Miliciano da CCAÇ 2600 do BCAÇ 2887 (Companhia de Caçadores Nº 2600 do Batalhão de Caçadores 2887), continua a narração do desfile das suas memórias dos factos e acontecimentos do dia-a-dia, da sua experiência e vivência em África, mais precisamente em Balacende – Angola -, dando seguimento a nove mensagens publicadas neste blogue, com as referências: M359, M360, M361, M362, M367, M368, M369, M370 e M373.

Nesta oportunidade fala-nos das, por vezes, terríveis, mortíferas e devastadoras emboscadas, não só pelos prejuízos causados com a destruição de materiais e equipamentos, mas, bem pior, pelos feridos e mortos que resultavam, entre os nossos militares, destas traiçoeiras acções de guerrilha e que nos inspiravam naturais e compreensivos sentimentos de revolta e vingança.

Não ocultamos os nomes das vítimas por que achamos que as Famílias e os Amigos têm o direito de saber como morreram os seus ente queridos. Caso algum familiar próximo pretenda que o nome do seu querido seja retirado desta mensagem, basta ligar para o nº 965 059 516 e a ordem será cumprida de imediato.


Introdução

Um pouco de História

Em 4 de Fevereiro de 1961, tinha acontecido o assalto, em Luanda, à esquadra da Policia Móvel na Estrada de Catete e os ataques à Casa de Reclusão Militar, e à Cadeia Civil, que alguns historiadores atribuem ao MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), porém há quem atribua o início da guerra aos acontecimentos de 6 de Janeiro, desse mesmo ano, com a revolta e a greve dos agricultores de algodão na Baixa de Cassange, Distrito de Malange, que se recusaram a plantar o algodão para a empresa Cotonang e a pagar a taxa anual ao Estado Português, revolta esta que foi reprimida pelas 3ª e 4ª Companhia de Caçadores Especiais.

A FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), antiga UPA (União dos Povos de Angola), foi o movimento de libertação africano que iniciou a guerra no Norte de Angola na região dos Dembos, distrito do Quanza Norte, com o massacre em 15 de Março de 1961 da população branca e dos Bailundos (etnia do sul de Angola), que trabalhavam nas fazendas de Café.

IV Parte
As emboscadas

Das várias emboscadas e flagelações a colunas auto da minha Companhia (CCaç 2600/Bat. Caç. 2887), duas perduram na minha memória, como se fosse hoje. Talvez pela intensidade do fogo IN, pela sua duração, pela hora a que foram efectuadas, ou pelas baixas que nos causaram, o que é certo é que me marcaram até hoje.

A primeira, ainda éramos "Maçaricos" com apenas 3 meses de mato, foi a FNLA a "apalpar-nos" (como se dizia na gíria militar de então), para ver como reagiamos debaixo de fogo. Assim, montaram uma emboscada numa das zonas mais conhecidas nos Dembos, uma picada cujo traçado sinuoso e perigoso, comportava as célebres “7 curvas”.

Neste local, no sentido Quicabo – Balacende, existia um morro descendente com 7 curvas, tendo como perfil, do lado direito um tapume com cerca de 3 metros, depois a picada e do lado esquerdo uma ravina.

A coluna era constituída por 6 viaturas - 2 Berliets Tramagal e 4 Unimogs a gasóleo (conhecidos por "burros de mato”) - e dois G.C. (grupos de combate). O 3º, o meu, e o 4º do Alf. Mil. Alves, que depois de escoltar um MVL (Movimento de Viaturas Logísticas), numa deslocação da fazenda Beira Baixa para o Caxito, regressava ao aquartelamento de Balacende.

Eram três da tarde e estava um dia muito quente, com a temperatura acima dos 40 graus centígrados, talvez o dia mais quente desde que estávamos em Angola. Eu seguia na 4ª viatura (Berliet Tramagal), quando a meio da descida o IN desencadeou um intenso fogo, vindo de frente, com as balas a morderem a picada levantado pequenas nuvens de pó, e do lado do tapume, passando estas balas por cima das nossas cabeças.

Instintivamente, ainda as viaturas não tinham parado, saltamos para o chão e abrigamo-nos na valeta do lado direito da picada, colando-nos ao tapume. Assim ficámos, parcialmente abrigados do fogo que vinha de frente, e totalmente do fogo vindo do lado direito, que passava por cima da picada.

O IN aproveitando as curvas da picada tinha montado a emboscada em "L", sendo o traço pequeno do "L" o fogo que vinha de frente e o traço grande do "L" o fogo que vinha do lado do tapume.

Após termos "aterrado" na valeta da picada e tendo referenciado o local donde partia o fogo de frente, iniciamos a resposta com fogo de G3 sobre aquela posição do IN, verificando que o apontador da metralhadora MG-42 montada na minha viatura, também tinha saltado, devido ao intenso fogo do IN, berrei-lhe para ir para o seu posto e fazer fogo sobre a posição dos guerrilheiros.

Saltei então para a picada, fazendo fogo para a posição inimiga e cobrindo deste modo a sua deslocação para a viatura.

Perante esta minha atitude, o soldado venceu todas as suas hesitações e subiu para a viatura, pondo a MG a "cantar". 

Estivemos assim debaixo de fogo cerca de 15 minutos, até que me decidi, depois de conferenciar com o apontador do morteiro 60, iniciar o fogo com esta arma.

Só tomei esta decisão depois de verificar que a emboscada estava para durar, pois o tiro de morteiro naquela situação era perigoso, pois as primeiras viaturas estavam próximas do tapume donde o IN fazia fogo de frente. Um tiro de morteiro que saísse curto podia atingir as NT.

As primeiras morteiradas forma mais compridas, pelo que as fomos encurtando, mas não foi necessário atirar mais de 4 granadas para o IN calar-se e desaparecer.

Depois de uns minutos de espera, voltamos a arrancar com as viaturas, enquanto nos deslocávamos apeados ao seu lado.

No final da descida do morro verificamos se havia feridos e perda de material.

Na altura pareceu-nos um milagre já que não havia qualquer ferido - nem uma beliscadura -, nem material em falta. A única "baixa" foram uns ovos partidos que o Fur. Mil. Alimentação tinha comprado no Caxito e que transportava cuidadosamente numa caixa de papelão.

Chegados ao aquartelamento, depois de relatar o acontecido ao nosso Capitão Baptista e deste ter comunicado, via rádio, ao Comando de Batalhão, ainda antes do jantar, chamei o apontador da MG-42 e, no sossego de um recanto da messe, dei-lhe uma "suave" reprimenda pelo seu comportamento na emboscada, terminando a perguntar-lhe se ele queria deixar de ser o apontador da metralhadora. Ele, talvez receando a reacção dos restantes camaradas, respondeu que não queria abandonar aquele posto e que a situação passada não voltaria a acontecer.

Dei-lhe o meu aval e de facto assim foi, pois durante o resto da comissão teve comportamento exemplar, revelando-se um óptimo apontador de ML (metralhadora ligeira), quer nas colunas auto, quer nas operações a pé.

Ao amanhecer do dia seguinte fomos fazer um reconhecimento ao local da emboscada e verificamos que o IN tinha feito umas pequenas "covas" com parapeitos de terra, próprios para fazer tiro deitado, e, pelo número de "covas", deduzimos que na posição de fogo de frente (traço pequeno do "L") estariam 10 guerrilheiros e no tapume do lado direito (traço grande do "L") estariam mais 14.

Atendendo ao número e tipo de invólucros concluímos que o IN não tinha poupado as munições e que as armas utilizadas seriam Kalashnikovs ou G3s, PPSH e Mausers, daí a intensidade e cadência do fogo IN.

A segunda emboscada, teve lugar a 18 de Fevereiro de 1970, na picada fazenda Beira Baixa – Balacende (uma via muito sinuosa, cavada em morros, mal cuidada e com o capim a invadi-la e, talvez por isso, uma das preferidas pela FNLA para montar emboscadas).

Tínhamos escoltado uma equipa de topógrafos da JAEA (Junta Autónoma Estradas de Angola), na picada Balacende - fazenda do Onzo (localizada entre a fazenda Beira Baixa e Nanbuangongo).

Chegados à fazenda do Onzo, onde estava aquartelada uma Companhia de Caçadores, "entregamos" a equipa da JAEA, bebemos um Whisky, demos dois dedos de conversa com os Camaradas aí estacionados e, pelas 21 horas, fizemo-nos á picada de regresso a Balacende.

Contrariamente a outras Unidades, nós não tínhamos reservas em andar na picada de noite, pois preferíamos ir dormir a "casa" do que ficar noutros aquartelamentos (apesar de sermos sempre bem recebidos).

Por outro lado se não demorássemos a regressar, o IN não tinha tempo de montar emboscadas. Desta vez não foi isso que aconteceu pois o IN já estava á nossa espera, até nos tinha visto passar para cima (depois recordei-me que tinha visto várias pegadas na picada).

Como viemos a saber (através da DGS do Caxito) o IN tinha sido avisado por um elemento nativo da equipa da JAEA do dia e hora em que íamos levá-los ao Onzo.

Essa informação foi passada durante os trabalhos dos topógrafos quando os seis elementos nativos da equipa capinavam junto á orla da mata, encontraram um bilhete a perguntar quando deixavam Balacende e para onde iam. Essa pergunta foi respondida uns dias antes da nossa ida ao Onzo, através de outro bilhete.

Assim, quando nos encontrávamos a cerca de 12 Kms das "Portas da Guerra" o IN desencadeou forte tiroteio num local muito sinuoso, com muitas curvas, um tapume do lado esquerdo e uma ravina com capim e mata do lado direito, isolando entre duas curvas a 4ª viatura - um Unimog “burro de mato” -, onde seguia o Alf. Mil. Diogo.

Lembro-me perfeitamente que seguia na 1ª viatura, uma Berliet Tramagal, junto do condutor e, como o capim me batia no corpo, cheguei-me para junto do condutor (o banco da cabine da Berliet tinha 3 lugares).

Ao ouvir o primeiro tiro saltei logo da berliet, secundado por todo o pessoal, tendo verificado que a frente da coluna não era alvo dos tiros, chamei o 1º Cabo Coutinho e, com a sua secção, corremos ao longo da coluna até que, depois de passarmos a 3ª viatura e dobrarmos a curva que se seguia, deparamos com um cenário dantesco; a 10/15 metros estava o Unimog, alvo da emboscada, com corpos espalhados pelos dois lados.

Estava uma noite de luar, que iluminava a picada de terra amarelada e que nos permitia ver com alguma facilidade. Vislumbramos então 4 vultos, meio agachados na berma da picada do lado da ravina e, sem hesitações, abrimos fogo e vimos cair logo um corpo, desaparecendo no capim os outros três.

Aproximamo-nos do Unimog e o Alf. Mil. Diogo logo me disse que tínhamos mortos e que ele tinha sido atingido no pé. Dos 8 elementos que seguiam no veículo, 2 estavam mortos, outros dois gravemente feridos, três feridos ligeiros e só o condutor estava ileso.

A emboscada foi iniciada com um tiro de aviso dado do tapume que atingiu, ainda sentado, o 1º Cabo Adelino Santos que teve morte imediata.

Seguiram-se várias rajadas que apanharam no ar o soldado Luís Fernandes, que chegou ao solo já morto. Os outros dois soldados que seguiam no banco do Unimog voltados para a ravina, foram atingidos à queima-roupa, ficando gravemente feridos.

Com a minha intervenção e da secção do 1º Cabo Coutinho, tínhamos impedido que os guerrilheiros fossem á picada junto dos corpos mortos e feridos das NT, e levassem as suas armas.

Ouvindo restolhar no capim, arremessei duas granadas ofensivas e organizei um dispositivo de segurança. Tendo chegado ao pé de mim o Furriel Louro e o Furriel Paixão, do 2º Pelotão (Alferes Diogo), logo lhes atribui as missões de colocarem rapidamente os mortos no Unimog atingido e os feridos na 1ª viatura (Berliet Tramagal) e de recolherem todo o material deixado na picada (armas, carregadores, facas de mato, cantis, etc.).

Logo que estas ordens foram cumpridas mandei a coluna arrancar, devagar, com os faróis apagados e as viaturas mais próximas (coluna mais fechada) e avançamos com o pessoal apeado. Percorridos cerca de 300 metros, mandei o pessoal “montar” e arrancamos novamente a toda a velocidade.

Chegados a Balacende os feridos foram transportados para a enfermaria e os mortos para a pequena Capela. O quartel estava em alvoroço toda a gente queria saber o que se passara, formaram-se pequenos grupos de soldados que junto da enfermaria pretendiam saber do estado físico dos seus camaradas feridos, que gritavam de dor. A pergunta mais ouvida era: “Eles safam-se?”.

Entretanto eu tinha sido chamado à presença do Capitão Baptista, que se encontrava na messe, para lhe relatar pormenorizadamente o sucedido. Acabado o meu relato verbal o capitão precipitou-se para a sala de transmissões, para, via rádio, informar o Comando do Batalhão do sucedido.

Tendo ficado sozinho na messe, respirei fundo e dei 2 gritos bem do fundo da alma, como a querer expulsar os demónios que pareciam habitar no meu corpo. Já mais calmo, dirigi-me á Capela onde cinco soldados preparavam os corpos dos nossos Camaradas mortos para serem transladados para a Metrópole. Chegado junto dos falecidos vi que o 1º Cabo Adelino Santos tinha apenas um pequeno orifício no peito, junto do coração, mas voltado o corpo, nas costas tinha um buracão onde cabiam dois punhos fechados (o tiro tinha sido de uma Mauser usando bala com ponta cortada). O Soldado Luís Fernandes tinha o peito cheio de pequenos orifícios (tinha sido atingido com 1 ou 2 rajadas de balas em pleno peito).

Saí da Capela e dirigi-me á Messe dos Sargentos onde se encontravam os Furriéis Louro e Paixão. Ao primeiro pedi que reunisse junto da caserna o nosso G.C. e ao segundo pedi que reunisse todos os pertences dos mortos para serem enviados às famílias.

Quando me dirigia para a Caserna do meu G.C. pensava em que palavras de apoio e coragem lhes ia dizer, mas ao chegar junto deles, formados em semi-circulo, ao ver os seus rostos duros, fechados, transpirando ira e clamando por vingança, apenas lhes disse “estejam descansados que os camaradas mortos serão vingados e ai daquele que cair vivo nas nossas mãos”.

Aconselhei-os a descansarem pois pela manhã partiríamos a fim de efectuarmos o reconhecimento do local da emboscada. Pelas 2 horas chegou a coluna de Quicabo com o Ten. Cor. Manuel Monteiro - Comandante do Batalhão -, que trazia duas urnas.

Depois de fazer o ponto da situação com o Alf. Médico Aragão Machado, o comandante acompanhado do Cap. Baptista dirigiu-se para a messe onde mais uma vez relatei tintim por tintim, tudo o que se tinha passado.

Pelas 8 horas poisaram ali dois helicópteros “Alouettes III”, para evacuarem todos os feridos e, logo de seguida, partiu uma coluna auto a 2 pelotões para reconhecimento do local da emboscada.

Chegados ao local da emboscada e montado um dispositivo de segurança, verificamos logo que a picada tinha várias poças de sangue que nos apressamos a cobrir com terra, mas uma, a que estava ao pé da berma da picada junto do capim, fizemos questão de não a cobrir e continuou à mostra (era o sangue do guerrilheiro abatido).

No tapume havia duas “camas de capim” e invólucros de 7,9 mm, que deduzimos ser de uma espingarda Mauser. No lado da ravina, mesmo junto da berma da picada, percebia-se bem os lugares onde o IN tinha estado deitado a fazer fogo e seguindo o trilho de fuga a uns 10 metros da picada encontramos 8 “camas de capim”.

Continuamos a seguir o trilho, agora já em mata densa, por mais meia hora até encontrar uma clareia, onde era detectamos uma grande poça de sangue. Ficamos com a certeza de que pelo menos tínhamos feito, pelo menos, mais um ferido. Regressados ao quartel, pelas 12 horas, eu, depois de um duche retemperador, deitei-me e finalmente consegui adormecer.

A vingança era certa e não tardaria!

Fotografias: © Eduardo Lopes (2011). Direitos reservados.

Fotografia do Unimog: © J. J. Grilo (2011). Direitos reservados.

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.