quinta-feira, 2 de julho de 2009

M127 - RANGER Brandão - Um dos Acidentes mais graves no C.I.O.E. - 3º Curso de 1967

O dia mais triste do 3º curso O. E. de 1967 e, porventura, um dos piores de toda a história do CIOE.

Possivelmente, o dia mais triste do CIOE

Não sei se alguém sabe ao certo em que dia foi, quando tiver coragem de abrir um rolo de cartas que estão não sei onde, talvez descubra o dia, hora e o minuto.

Penso que era Agosto de 1967, como sempre não tínhamos tempo para pensar, melhor dizendo, todo o tempo que havia eram três minutos e, estes, já estavam em contagem decrescente.

Devia ser perto das 14H00, pelo que me recordo era essa a hora da formatura da tarde.

A semana de dureza 11 já anunciava, por conversas apagadas, a sua chegada a poucos dias de vista.
Havia, há(?) um exercício que era o ponto alto do curso, pela sua espectacularidade, por tudo o que exige do instruendo e, porque não dizê-lo, pelo gozo que dava.

Refiro-me ao “grande” slide em que o cabo era montado no cimo de uma encosta, e terminava na contra-encosta passando algures sobre o rio Balsemão.

É evidente que um exercício destes exige uma preparação cuidada.

Nessa altura, parada e “aldeia dos macacos”, situava-se no largo em frente à igreja de Santa Cruz, as quatro turmas A e B de Aspirantes Milicianos, C e D de Cabos Milicianos formavam junto a um muro, com três a quatro metros, que suportavam as terras da parada.

Fazia calor, muito calor.

Entretanto tinham já montado o cabo de aço do slide que serviria para os instruendos se adaptarem ao exercício, apesar de o mesmo já ser familiar para muitos, recordo-me de o ter feito em Mafra, na “aldeia dos macacos” que havia na tapada.

Nesta fotografia de um curso anterior a Junho de 1967, vê-se como estaria montado o cabo de aço, a jusante o mesmo atracaria a uma viatura pesada, possivelmente uma velha GMC, devidamente travada, calçada em suma, bem imobilizada.

Nada fazia prever o drama que alguns minutos a seguir, se desenrolaria.

Dois Cabos Milicianos instruendos, aproveitam os minutos que faltam para a formatura, sobem á torre onde se encontra atracado o cabo do slide, colocam-se, um de pé agarrado às amarras da roldana, o outro sentado no parapeito do campanário entre as pernas do primeiro e, supostamente agarrado às mesmas.

O momento seguinte é o início da tragédia, ambos se lançam, o de cima não aguenta, solta-se das amarras e os dois corpos em queda livre estatelam-se no empedrado tipo estrada romana, que lá havia.

Ainda hoje os vejo, ainda hoje ouço os baques surdos a baterem no chão.

Sei que corri para a enfermaria, não fui o único, alertamos o pessoal de saúde, eu trouxe uma maca que lá havia, era composta por duas varas de madeira com cerca de 5cm de diâmetro, as quais enfiavam nas bainhas que havia em cada lado da lona, era uma maca militar da época.

Tudo que me recordo desse rapazes, um não dava acordo de si, tomei-o como morto, o outro gemia muito, estava em muito mau estado. Pelo que me disseram posteriormente, o que parecia morto acabou por recuperar, não sei em que circunstâncias, o que gemia acabou por falecer, terá sido assim?

Não tinham passado 15 minutos do sucedido quando dois Alferes Instrutores, penso que terá sido o Arnedo e o Moura, se dirigem ao campanário e executam o exercício conforme os camaradas Cabos Milicianos tinham projectado, mostrando que o mesmo era possível e que compete ao instrutor dar o exemplo.

Para terminar, para aqueles que não viveram esses tempos ou não partilharam a vida militar, tudo era feito sem rede, sem arneses, à força de pulsos e com muita determinação.

Para os que assistiram um abraço, CAMARADAS.

FOTOS:

A 1ª é em plena semana da “Dureza 11”, a comer uma latita de ração de combate, recordo-me que não a acabei…
A 2ª é em plena parada do quartel de Santa Cruz – C.I.O.E. - tendo por fundo a Serra da Meadas
A 3ª é recortada de uma fotografia em que estamos vários camaradas a assistir a um jogo de futebol, Angola/68A
4ª estou disfarçado de uma “pessoa de Bem”
A 5ª faz parte do bilhete do meu Bilhete de Identidade Militar

Fotos e legendas: © António Brandão (2009). Direitos reservados

RANGER António Brandão
3º Turno de 1967

2 comentários:

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Este lamentável acidente contado aqui pelo Ranger Brandão, deu-se no 3º curso de 67 eu frequentei o 2º de 67, não obtive aproveitamento, pois não concordava muito com aquilo a que eramos sujeitos, mas lembro-me de ter tido conhecimento desta tragédia estando já a formar Batalhão no RAP2 de V.N.Gaia.
Realmente era tudo feito sem rede e só com a força dos nossos braços.
Fiz o slide em Stº Cruz, depois de uma enorme discussão com o então Alferes Gonçalves e depois fiz o aquele enorme na semana de dureza 11 o da Ribeira salvo erro de S. João de Tarouca, só pendurados pelas mãos e sem rede, porra que alturas.

Julio Vilar pereira Pinto disse...

No meu curso de 67 2º era o Capitão Gomes, o comandante da instrução, depois do m25 de Abril foi Governador Civil de Bragança.
Foram Alferes de instrução entre outros o Alferes Gonçalves, o Alferes Farias (ia todos os dias à missa e depois tratava-nos como escravos), Aferes Porto, O Aferes Dias entre outros.
Estava em Penude a formar a sua Companhia de Comandos o Capitâo Saraiva.
Ainda havia um Alferes que nos dava instrução de explosivos.
Só tive pena de não ter apanhado nenhum no Ultramar para ver a valentia.
Nunca concordei com aquilo a que eramos sujeitos.