segunda-feira, 15 de novembro de 2010

M279 - O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (2), pelo RANGER Magalhães Ribeiro





O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (2)

Introdução 

O Editor deste blogue já o escreveu, em anteriores mensagens, que foi, nos já longínquos anos de 1973 e 1974, Furriel Miliciano OpEsp/RANGER e foi mobilizado no Regimento de Infantaria 16, na CCS do BCAÇ 4612/74 = Companhia de Comandos e Serviços, do Batalhão de Caçadores 4612/74, que cumpriu a sua comissão militar em Mansoa, na ex-província Portuguesa da Guiné. 

Portugal travava então ali uma guerra contra um movimento nacionalista – o PAIGC -, que pretendia a libertação do seu país. 

Esta mensagem, foi escrita julgando eu poder contribuir para o melhor esclarecimento das funções dos homens das Operações Especiais na guerra, ficando a aguardar que surjam aqui outras considerações complementares de camaradas da nossa especialidade, mais graduados e, ou, melhor instruídos e informados. 

Algumas considerações em relação à mensagem M277 

Posto isto, passo a expor mais alguns esclarecimentos, especificamente para os nossos visitantes em busca de informação, e para aqueles camaradas que eu penso que o merecem, e procuram saber respostas baseadas e factuais às suas mais que normais dúvidas e desconhecimentos.

Quem foi RANGER, já leu na mensagem M277 e se apercebeu que o RANGER José M. Gonçalves foi modesto, comedido e racional q.b. na sua redacção, e só deu uma pequena ideia do que era um RANGER em tempo de guerra e para que servia.  

Em tempo de guerra e nos idas de hoje, já que o CTOE continua e bem a formar e excelentes e competentes elementos nos seus quartéis para o que der e vier, quer em eventuais acções hostis ao nosso país, quer em outras missões (paz incluídas) onde e quando for preciso. 

Como já foi repetido mais que uma vez aqui neste blogue, não vou voltar a contar como é que os “Operações Especiais” de Portugal, são vulgarmente conhecidos por RANGERS. 

Assim, vou contar algumas pequenas lembranças minhas do meu curso, além do que foi dito pelo Gonçalves, para melhor se perceber que os RANGERS não eram, nem são, superiores nem inferiores a ninguém... apenas diferentes no modo se ser e estar na tropa e na vida. 
  • Sobre os cursos RANGERS acrescento que, por exemplo, além da instrução básica de infantaria (exercício físico, luta corpo a corpo, pistas de obstáculos, boxe, etc.) incluía imensas horas de técnicas de combate, prestadas por Alferes dos Grupos Especiais de Moçambique já com algumas comissões no pêlo. Tudo doseado criteriosa e infernalmente com simulações práticas de emboscadas, armadilhas e golpes-de-mão, rodeados de fogo real para melhor nos prepararem para o combate.
  • Sobre os cursos RANGERS acrescento que, por exemplo, só em granadas, explosivos e munições de vários calibres estoiradas na instrução de um RANGER, custava então, a preços de 1973, 137 contos em moeda antiga.
  • Sobre os cursos RANGERS acrescento que, por exemplo só nas centenas de quilómetros percorridos em caminhadas, marchas forçadas e crosses, um RANGER gastava, no mínimo, 1 par de botas ao longo do curso, que como bem se devem lembrar não eram assim tão fraquitas como isso.
  • Sobre os cursos RANGERS poderia ainda divagar, ou pormenorizar, os cenários dantescos e macabros das diversas provas que eram lançadas, noite e dia, por vales, rios, montes, cemitérios, campos, etc. aos instruendos e cadetes: Fantasmas, Largadas, Esgotos, Calvários, Gerrilheiras, Durezas 11, 24 Horas de Lamego, etc.
  • Sobre os cursos RANGERS, poderia dizer também que os seus elementos eram instruídos e adestrados nas várias especialidades militares de então (minas e armadilhas, transmissões, orientação, montanhismo, transposição de cursos de água, todas as armas ligeiras e pesadas - inclusive algumas do IN -, topografia e primeiros socorros), e ficavam prontos a substituir qualquer elemento dentro de um batalhão, inclusive comandantes de companhia como se verificou em várias ocasiões.
  • Sobre os cursos RANGERS, poderia dissertar sobre as muitas aulas de acção psicológica que lhe eram incutidas, periodicamente, alertando-os e instruindo-os para os vastos perigos que iriam defrontar, tipos de populações e terrenos, tácticas e armas inimigas, as origens e efeitos do terrorismo, etc.
  • Sobre os cursos RANGERS, poderia elogiar uma disciplina rara até então, mesmo nas grandes empresas e escolas deste país, designada por: “SER CHEFE”.
Partes de um panfleto de acção psicológica (1973)
Transmissão de instrução a pessoal destinado à guerra 
Se com esta bagagem "intelectual" e outra já por mim esquecida (já lá vão 36 anos que saí de Penude), os RANGERS não souberam posteriormente (por burrice, laxismo ou outra qualquer imbecilizada, ou miserável justificação), ou não quiseram transmitir (por politiquices maradas, crime omitivo, cobardia ou traição pessoal) no tempo da guerra, aos seus subordinados, o que foi ensinado no CIOE em Lamego, é uma coisa. 
Outra coisa, como em tudo na vida, é sabermos que alguns RANGERZitos se exacerbaram e, ou, exorbitaram nas doses adequadas e necessárias a uma boa retransmissão de conhecimentos e experiência adquirida nos seus cursos, aos instruendos que lhes tocaram, daquilo que mais ou menos atenta e correctamente aprenderam, não é segredo para ninguém.

Quantas mais especialidades, além dos comandos, páras e fuzileiros (nas suas variantes e especificidades instrutivas) eram assim eram instruídas?

Todos fomos importantes no esforço da guerra

Na minha sincera opinião, reiterando o que o RANGER Gonçalves diz, toda a tropa foi máquina de guerra (cada um no seu poleiro) e contribuiu para o sacrifício e esforço da guerra que nos foi exigido, mas os treinos e as instruções de cada uma das especialidades eram completamente diferentes, como não podia deixar de ser. 
Eram ou não importantes os homens que nos faziam chegar o correio muitas vezes a buracos no cu de judas, os que nos transportavam em barcos, os que bombardeavam o IN com os seus aviões em situações aflitivas, os que nos faziam chegar os materiais, equipamentos, alimentos, munições, etc.

Agora, quem não sabe do que fala pode é questionar e tentar informar-se dos porquês (origens, objectivos, finalidades, etc. das várias especializações), junto de quem sabe, ou conhece bem, ou então deve calar-se e não pronunciar-se leviana e cegamente sobre matérias de que nada, ou quase nada, sabe!

Como eu costumo fazer em relação àquelas matérias que não domino e... bem, digo eu!

Cumprimentos a todos,
MR

1 comentário:

antonio barbosa disse...

Boa noite Magalhães Ribeiro

O mais cego é o que não quer ver.
O mais surdo o que não quer houvir.
"OS CÂES LADRAM MAS A CARAVANA PASSA"
Parabéns pela forma como conseguis-
te em tão pouco tempo e com meia
dúzia de palavras aquilo que nos
fez por vezes chorar de cansaço
e raiva disfarçada, ao longo do tempo em que permanecemos em PENUDE
a assimilar a arte da guerra para
que podessemos defender a n/ Patria independentemente da zona
geográfica e ao mesmo tempo fomos preparados para poder-mos transmitir a outros todo o n/
saber, se houve quem não agisse nestes moldes houve erro nos testes
e apreciação das chefias há época.
Um Grande abraço
RANGER Antonio Barbosa ex-alf.mil.
op.Esp.