sexta-feira, 16 de março de 2012

M417 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (1)



38ª Companhia de Comandos
Uma lenda da Guerra do Ultramar
Guiné – 1972/74

Que o poder político português ostracize e banalize a Guerra do Ultramar, que durou entre 1962 e 1974, e mobilizou quase toda a nossa sociedade de então e a juventude em particular, é um problema que pode ser considerado, alem de uma cobardia inqualificável, alta traição para com todos aqueles que se fardaram com as cores nacionais, juraram bandeira e deram o seu melhor, como podiam e sabiam, por vezes sabe Deus como e com que sacrifícios.

Suor e Sangue, que vitimaram uns milhares de jovens lusos, voluntariosos e corajosos como poucos por esse mundo além.

Nesta mensagem vamos dar início a uma singela e justa Homenagem a uma das Unidades mais esforçadas e martirizadas das 3 frentes da guerra; Angola, Moçambique e Guiiné.

Com os devidos agradecimentos à disposição e colaboração em que nos colocou as suas memórias, ao nosso grande Amigo Amílcar Felício Pereira Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª Companhia de Comandos e à disponibilidade do Dr. Luís Graça, fundador e mentor de um dos blogues dedicados à Guerra do Ultramar – Guiné, onde se encontram narradas também estas memórias e mantém diariamente um grande afluxo de visitas: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/

A 38ª Companhia de Comandos (CCmds) teve como unidade mobilizadora o CIOE (Centro de Instrução de Operações Especiais) – em Lamego. Esteve no TO da Guiné entre Junho de 1972 e Abril de 1974. Fui a penúltima CCmds, de origem metropolitana, a ser mobilizada para este território. A última CCmds a prestar serviço na Guiné foi a 4041ª, formada também em Lamego, e que ali chegou em Maio de 74, cumpriu a sua fase operacional em Teixeira Pinto.

Apresentamos o 1º Cabo Comando Amílcar Felício Pereira Mendes
1º Cabo Comando
38ª Companhia de Comandos
(Guiné, Brá, 1972/74)
AUDACES FORTUNA JUVATE
[em latim, A Sorte Protege os Audazes]


Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.

Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974, a minha companhia foi a 38ª Companhia de Comandos, os Leopardos.

A listagem dos camaradas mortos da minha Unidade:

- Soldado Comando Idílio da Costa Moreira, natural do Bonfim, Porto, faleceu no HM 241 em 15JUL72 por motivo de acidente com arma de fogo

- Soldado Comando Francisco José Matos da Silva, natural de Terena, Alandroal, faleceu no HM 241 em 08AGO72 vítima de ferimentos recebidos em combate (Mansoa)

- Fur Mil Comando Artur Jorge Tavares Pignateli Fabião, natural de Seia, faleceu no HM 241em 21NOV72 vítima de ferimentos recebidos em combate (Caboiana)

- Soldado Comando Mário Branco da Costa Chaves, natural de São Sebastião, Setúbal, faleceu no HM 241 em 21NOV72 vítima de ferimentos recebidos em combate (Caboiana)

- Soldado Comando Cecílio Manuel Ferreira Franco, natural de Milharado, Mafra, faleceu em 01FEV73 vítima de acidente com arma de fogo

- 1.º Cabo Comando José Joaquim Teixeira Simão, natural de Rio Maior, faleceu em 01FEV73 vítima de acidente com arma de fogo

- 1.º Cabo Comando Luís Manuel Oliveira Barreiras, natural de Aldeia Velha Santa Margarida, Avis, faleceu em 01FEV73 vítima de acidente com arma de fogo

- Soldado Comando José Luís Inácio Raimundo*, natural de Vila Nova de São Pedro, Azambuja, faleceu em 12MAI73 vítima de ferimentos recebidos em combate (Guidage)

- 1.º Cabo Comando Amândio da Silva Carvalho, natural de Sarzedo, Arganil, faleceu no HM 241 em 10MAR74 vítima de ferimentos recebidos em combate (Sector de Bissau)

- Soldado Atirador José Alexandre Costa, natural de Soio, Vinhais, faleceu no HM 241 em 27ABR74 vítima de ferimentos recebidos em combate (Cantanhês)

A vida de um Comando na guerra


Guiné > Região do Oio > Agosto de 1972 > O 1º Cabo Comando Mendes, em operações no mítico Morés.

Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Maio de 1973 > Cadáveres de soldados africanos da CCAÇ 19, abandonados no campo de batalha. A 38ª Companhia de Comandos participou na batalha de Guidaje. O Amílcar tomou notas, no seu diário, destes longos dias de inferno, em Maio de 1973, e vai-nos dar a conhecer esta terrível e mortífera fase da guerra numa das próximas menagens a publicar aqui.


Nos já longínquos anos 72, 73 e 74, como o tempo era muito, fui escrevendo muita coisa do meu dia a dia na guerra. Como muito do que escrevi poderá ser um pouco violento.

Muito do que tenho está nas mãos de uma jornalista que ainda não sabe o que irá fazer mas isso é outra história. Aqui vão fotos. Atenção, são fotos verdadeiras. São fotos de elementos da CCAÇ 19 que estavam em Guidaje. Foram enterrados na bolanha do Cufeu por nós (2).

Tenho o cuidado DE NÃO MANDAR AS FOTOS DOS PORTUGUESES.

Após regressar a Portugal em 74, voltei ao serviço militar, em 1975, como convocado no Regimento de Comandos da Amadora. Aí estive em todo o chamado período quente até Fevereiro de 1980.

Estive sempre colocado no corpo de instrução onde era instrutor de tiro. Dei vários cursos de Comandos e fui louvado pelo Coronel Jaime Neves várias vezes.


(continua)

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes.
Amílcar Mendes
1º Cabo Comando da 38ª CCmds

Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.

Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

1 comentário:

Manuel Pacheco disse...

Balacende. O que por ti sofri:
Ao andar à cata de notícias nos blogues expostos na Internet para noticiar o 16 de Março de 1973, último dia de comissão em Balacende de metade da C. Caç. 3341, em que estava incluído, por casualidade encontrei o blogue RANGER&COISASDOMR, na pessoa de Eduardo Lopes.
Fiquei surpreendido e encantado pelo facto de ser membro da C. Caç. 2600 e ser essa mesma que rendemos a 4 de Maio de 1971. Foi numa terça – feira. Ainda me recordo desse dia. Além de sermos bem recebidos também fomos escoltados desde Quicabo por um pelotão e outro ainda que se encontrava na zona das sete curvas. Não sei se este se encontrava para nos proporcionar um bom trajecto ou se fazia escolta à Junta Autónoma de Estradas de Angola.
Passados uns dias efectuou-se um jogo de futebol entre companhias, velhinhos e maçaricos, tendo estes perdido. Fez-se uns reconhecimentos ao Quifuso, à zona da água e várias escoltas, sempre com observância de pelotões da 2600. Sei que foram para a Fazenda Tentativa pois fazia parte do batalhão 2887 um colega meu de nome Alcino. Não sei se fazia parte da CCS ou da 2599.
É gratificante tomar conhecimento de quem nos antecedeu. Ver fotografias que nos são familiares. E recordar esses momentos. Ando pela blogosfera e delicio-me com essas notícias e é aqui que sinto pena da minha C. Caç. não possuir um blogue para darmos a conhecer a nossa história. Ficamos órfãos de Comandante de Companhia e julgo que é por esse facto que estamos relegados ao esquecimento. O meu Batalhão 3838 possui um blogue mas passa-se muito tempo sem dar notícias. Também o arquivo é fraco.
Tomei a ousadia de mandar este post no seu blogue. Sabe bem conviver com quem andou pelas mesmas paragens que eu. No meu blogue recordo algumas passagens.