quarta-feira, 9 de setembro de 2009

M149 - Psicanálise... na minha análise

Psicanálise... na minha análise

I
Logo que abro os olhos de manhã
Ele desperta d’imediato comigo
É o meu permanente companheiro
Mas nem sempre o meu melhor amigo
II
Por vezes incomoda-me... satura-me
E peço-lhe que não me desoriente
Outras... que pare ou qu’esqueça
Mas ele é firme e persistente

III
Analisa e critica o que eu vejo
Dá rumos... quer ao meu sentimento!
Quer às decisões e modos de actuar!
É claro que falo... do meu pensamento!
IV
Um dos seus passatempos preferido
É rever as minhas ideias... reflectir
Fertilizá-las e corrigi-las
Sempre a aprender... para evoluir
V
Para isso sarrabisco muito papel
Risco, apago e volto a riscar
Procurando filosofias adequadas
Na busca da “perfeição” de pensar
VI
Assim... redigir um pensamento
Dado o seu grau de dificuldade
Pode demorar apenas um minuto
Ou pode durar uma eternidade

VII
Fonte de trabalho inesgotável
Teve "ele" na Guiné fértil ocupação
Um mundo de exame permanente
De que resultou esta divagação
VIII
Palco dum jogo de vida ou de morte
Na guerra era colocada em práticaA mais suprema e tenebrosa arte
Longe da velha lógica matemática

IX
Hesito e repenso cada palavra
Desta tentativa que sinto frustrada
De transcrever o pensar... o sentir...
De correr o risco de não dizer nada
X
Dum tema eterno... inconclusivo
Qu
’é «O comportamento em combate»
Sobre o risco... o medo… a mutilação…
Da vida... da morte... enfim… do debate

XI
Sobre que perpassa no pensamento…
Quando s’antevê a entrada em acção…
Durante as hostilidades... no seu fim...
Que condiciona os tipos de reacção?
XII
Será a maior ou menor capacidade…
Do auto-controle da adrenalina…
Que determina o domínio do pânico…
Moldando o combatente e a sua sina?

XIII

Quando a metralha procura a carne…
É ou não o instinto de sobrevivência…
Que designa o cobarde ou o herói…
Não sendo estes... arte ou ciência?
XIV
Há ou não seres mais dotados p’rá guerra…
Que nascem, vivem e morrem guerreiros…
E, que quando a Pátria corre perigo…
Na sua defesa eles são os primeiros?

XV
Será o medo um estado emocional…
Contra um eventual receio da dor...
Ou d'um ferimento... ou da morte...
Qu’ali... na guerra... espalha o seu pavor?
XVI
Porque lá... morre-se… duma mina... horrível!
Morre-se doente... por acidente... fatalismo!
Morre-se duma bala ou dum estilhaço... azar!
Ou num impulso de Glória... heroísmo!

XVII
Daqueles que por muito pouco…
Escapavam às garras da morte…
Diziam os companheiros e amigos…
"- Safou-se desta... teve muita sorte!
XVIII
Por isso... sorte... é tudo o que permite...
Saída airosa duma situação difícil!
Tanto protege um hábil audaz
Como o cobarde mais ignóbil

XIX
Ninguém no seu consciente normal
Arrisca inutilmente a vida…
Coisa que só se perde uma vez…
Que morrer é uma “viagem”... só de ida!
XX
Mas o espontâneo destemor
A voluntariedade... a bravura...
Sobrepunham-se à razão lúcida
Entre laivos de irreal e de loucura

XXI
Homens descendentes duma casta
Das páginas da História arrancados
Geraram gestos dignos... memoráveis
Que hoje e sempre serão recordados
XXII
Adoram a família... a paz e o progresso
Gostam de conviver e fazer amigos
Mas se algum deles é ameaçado
Está despertado o pior dos inimigos

XXIII
Não são suicidas... nem rufias
Ponderam as atitudes conscientemente
Calculam e atenuam o risco
Respeitam o perigo friamente
XXIV
Qu'as gerações futuras sejam sabedoras
Qu'em Àfrica os seus antepassados
Pela Pàtria lutaram e sofreram
E que muitos ficaram lá… enterrados

XXV
E que o mundo admirado constatou
Que o soldado português... é de respeito
E que acima de qualquer descrição
Servir um dia a Pátria... é um conceito
XXVI
Conceito que não é comum a todos nós...
Os vendilhões andam por aí... espalhados…
E par’os seus fins… não olham a meios…
Sugam, vendem e maldizem... só fuzilados!

Foto: RANGER Humberto Reis (2009). Direitos reservados.

Sem comentários: