PARA ALÉM DO PALUDISMO
Fiel aos factos e à verdade
É além de uma questão de honra
Um dever, justiça e lealdade
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Assim, sobre diversos aspectos
Já se falou, debateu e escreveu
Sobre políticas e estratégias
Mas algo um pouco se esqueceu
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Por isso dedico estas linhas
Aos seis sentidos d’um combatente
Aos actos vivos que o atormentam
Num passado sempre presente
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Àquele que penou na picada
Que ficou marcado p’ra toda vida...
Como traduzi-lo...em palavras
Sem lhe abrir de novo a ferida
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Que conste na nossa História
Sem salamaleques... com coragem
Que ali... na guerrilha... no mato
Cada dia... é uma contagem
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Nas folhas dum calendário
Risca-se mais um dia que passou
Mede-se assim o pesadelo
E, ali... o fim... mais se aproximou
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Lá se foi uma porção da vida
Nos longos dias até ali riscados
Esfumou-se de vez a juventude
Em factos na memória cicatrizados
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Porque a guerra é muito mais...
É a lenta progressão na lama
É o mistério da mata densa
É o pressentimento do drama
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É sobreviver no lodo do rio
É o calor... a chuva... o vento
É o suor e o pó no rosto
É o odor do corpo... nojento
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É o peso das armas e munições
É a mochila, o cantil e o bornal
É o comer... o dormir nos covões
É as rações de combate... sabem mal
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É o chilrear da bicharada
É sentir os mosquitos a picar
É o cintilar das cobras e dos lagartos
É as sanguessugas no corpo a sugar
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É o pousar das botas no solo
É o terror de tropeçar na mina
É o abandono do ser racional
É o poder da adrenalina
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É o emperrar do pensamento
É o cheiro diferente no ar
É a observação... olhos atentos
É um subtil movimento notar
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É um galho fresco partido
É um ruído anormal captar
É uma pegada... um objecto caído
É um brilho fugaz detectar
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É dado o alerta... e de repente
É o romper do silêncio... tolhe
É o cheiro da pólvora queimada
É a morte que chegou... e escolhe
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É logo saltar... correr... rastejar
É o som da metralha infernal
É o explodir seco das bombas
É o deflagrar das granadas...mortal
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É o turra?... Quantos?... Não se vê!
É algo que no capim se esconde
É responder aos tiros... cuidado!
É uma armadilha ali... onde?
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É a sina; morrer ou matar!
É o alvo que surge numa fracção
É premir o gatilho… o tiro certeiro
É o momento da redenção
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É quando as armas se calam
É ouvir os gemidos... regelar!
É a agonia dos feridos tombados
É o assistir à carne a rasgar
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É o sangue do amigo... irmão!
É os buracos dos estilhaços
É a angústia... o desespero
É o vê-lo morrer... nos meus braços
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É aquele eterno minuto a escoar
É a impotência... a frustração
É mais um’eterna noite d’insónia
É tempo de mais uma oração
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É um pedaço meu... que morre também
É a família... um breve recordar
É a revolta das emoções
É um lamento mais... escutar
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É um inacabar de missões
É a incerteza do fim... que sorte?
É passar ao lado das balas
É viver a par com a morte!
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É contar o tempo que falta
É o sonho com o regresso ao lar
É recontar os dias que passam
É uma contagem... por acabar!
RANGER Magalhães Ribeiro
Furriel Mil.º da CCS
Batalhão 4612/74
Mansôa - Guiné
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