sexta-feira, 26 de setembro de 2008

M3 - O que são forças de Operações Especiais?

Forças em parada do quartel de Santa Cruz (Lamego) - Foto de José Felix

Com devida vénia e agradecimentos reproduzimos na íntegra um excelente artigo do Jornal “PÚBLICO”, da autoria da jornalista CELESTE PEREIRA, publicado no dia 10 de Dezembro de 2001.

Por definição, as operações especiais são aquelas que são levadas a cabo com meios militares não convencionais com vista à concretização de objectivos políticos, económicos ou psicológicos em terreno hostil. Podem realizar-se em guerra ou fora dela, de forma independente ou coordenadas com forças convencionais. Requerem em geral clandestinidade, encobrimento ou baixa visibilidade.

As forças de operações especiais são a ponta-de-lança das novas missões dos exércitos actuais. Em Portugal, só o Exército e a Marinha têm tropas especiais, treinadas no Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) e no Destacamento de Acções Especiais (DAE), respectivamente. São o equivalente às forças especiais internacionais de que tanto se tem falado nos últimos tempos, como os "Rangers", os "Marines" e os "Boinas Verdes" americanos.

(Os militares de Lamego são frequentemente conhecidos pela alcunha de "Rangers", o que se deve ao facto de os seus instrutores terem recebido formação nos "Rangers" americanos. São contudo tropas diferentes: os "Rangers" são unidades constituídas à base do choque e da força, as forças de operações especiais portuguesas não procuram o confronto directo).

As forças de operações especiais são chamadas para acções militares de natureza não convencional, nomeadamente acções de vigilância, reconhecimento e destruição de determinados alvos, bem como acções de resgate de pessoas. Em termos operacionais, estes militares estão treinados para obter e relatar dados sobre objectivos vitais, preparar a acção de forças convencionais e a aterragem de meios aéreos em zonas controladas pelo inimigo e sabotar ou destruir instalações importantes para as forças adversárias.

Trabalham em pequenos grupos, sobre alvos de elevada complexidade e importância e cada um deles tem uma especialidade em determinada área. Actuam em qualquer terreno, clima e condições atmosféricas.

As operações não convencionais são em geral de baixo custo e não conquistam terreno. Pelo contrário, as operações convencionais são levadas a cabo por unidades de grande volume, que implicam outros custos financeiros, actuam pelo poder de choque e conquistam terreno.

E se os "Rangers" de Lamego fossem para o Afeganistão?

Jornal “PÚBLICO”, Por CELESTE PEREIRA
Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2001

Retrato das Operações Especiais

Portugal tem tropas especiais bem preparadas, mas sem a tecnologia e os meios de acção e combate dos EUA, líderes mundiais nesta matéria Imagine-se que o Governo português tinha querido mesmo participar no terreno na luta contra o terrorismo, liderada pelos Estados Unidos, e enviar uma coluna militar para combater os "taliban" no Afeganistão: para um teatro de operações onde o Inverno é terrível; onde, além de condições atmosféricas implacáveis, do frio, da neve e das tempestades, existem cordilheiras de 4000 metros que dificultam qualquer acção no terreno. Será que Portugal está preparado para uma missão internacional com esta envergadura? Estará preparado para enfrentar o duro cenário da primeira guerra do século XXI, uma guerra não convencional que está a pôr à prova as tropas especiais americanas e inglesas? Para um militar das forças de operações especiais portuguesas, não há outra resposta possível: sim.

No Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), uma unidade do Exército sediada em Lamego e treinada especialmente para missões de alto risco, há um armazém cheio de equipamento de guerra para a neve (ver infografia). Há também militares que se dizem treinados para o que, na linguagem das operações irregulares, se chama "situação-limite".

Decisão política

Uma intervenção de Portugal na luta contra o terrorismo depende sempre de uma decisão política, mas a acreditar nos responsáveis do CIOE, do Estado-Maior do Exército e do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), se esta viesse a ocorrer, os militares portugueses não dariam qualquer sinal negativo. "Os militares são profissionais e sentido de dever e de missão não lhes falta. Nós temos uma missão específica e estamos prontos para ir para qualquer lado, desde que haja uma decisão política para isso", sublinha o coronel Delfim Lobão, comandante do CIOE.

Em seu favor, os militares das forças de operações especiais portuguesas apresentam a experiência acumulada nas missões em que têm participado a nível internacional, em teatros de operações como a Bósnia Herzegovina, Kosovo, Timor-Leste, Guiné e República do Congo. "Nas missões [internacionais] em que participámos, temos demonstrado que não ficamos rigorosamente nada atrás dos outros", afirma o tenente-coronel Borlinhas, do gabinete do EMGFA. A mesma confiança mostra Palmo Ferro, o tenente-coronel que chefia o gabinete de relações públicas do Exército: "As nossas tropas especiais estão preparadas para actuar em qualquer teatro de operações".

Treino centrado no homem

No CIOE de Lamego, todo o treino operacional é assente num fundamento: o homem. O homem e o conhecimento dos seus limites. Mais do que a tecnologia, este é o pilar fundamental. O treino operacional dos militares de operações especiais está assim assente em três pontos: o ser, o saber e o fazer. No CIOE, o desenvolvimento das capacidades do indivíduo e o conhecimento dos seus limites consegue-se com instrução e treino. Muito treino. Com privação do repouso, dos bens essências e da alimentação.

"Tem que se olhar para o CIOE como um conjunto de homens bem treinados e bem preparados que se vão juntando para determinadas missões. Nós não trabalhamos com grandes massas, é sempre na base do homem que depois se junta e participa em operações", anota o comandante do CIOE.

Dependendo de cada missão, os militares de operações especiais organizam-se em equipas de dois, cinco ou 12 homens. Todos são generalistas, mas cada um tem a sua especialidade: em comunicações, em transmissões, em saúde, etc.

Preparação rigorosa

Portugal não tem um número elevado de militares de forças de operações especiais, mas os efectivos existentes "têm uma preparação de base semelhante à das tropas americanas que estão no terreno de guerra", garante o tenente-coronel Borlinhas. "Os nossos instrutores vão tirar cursos aos 'Rangers' americanos, portanto, toda a preparação e doutrina de base são idênticas", acrescenta o mesmo responsável. O que Portugal não tem é a mesma tecnologia e os mesmos meios de acção e combate que os EUA, líderes mundiais nesta matéria.

Entre os militares, todos reconhecem que o frio é a área que oferece mais problemas em termos de capacidade de resistência e preparação do ser humano. Mas, aparentemente, este não é um problema. Por um lado, porque o clima na zona de Lamego, onde os militares de operações especiais residem, não é propriamente ameno. Por outro, os militares fazem regularmente treinos específicos em ambientes frios e de montanha.

Treinam todos os Invernos na serra da Estrela e participaram já, em 1997 e 2000, em treinos internacionais no âmbito da NATO no Norte de Noruega a temperaturas que rondam os 40 graus negativos. Em Fevereiro do próximo ano, o destacamento de 48 militares do CIOE que integra a Força de Reacção Imediata (Ace Mobile Force Land) da NATO vai uma vez mais para o Norte da Noruega.

Numa força irregular, o importante é a moral e a predisposição ao sacrifício. E embora defendam uma fase de pré-treino para aclimatação ao frio, os militares do CIOE dizem-se preparados para enfrentar o rigor do Inverno no Afeganistão. E garantem também que o material para o frio que se encontra em armazém é suficiente para fazer face às adversidades do clima afegão.

Tempo de aprontamento

Se, de repente, o Governo português decidisse enviar tropas para terreno afegão, de que tempo necessitariam estas para o seu aprontamento? Apenas escassas horas, garantem os militares. "O grau de prontidão dos nossos militares de operações especiais é muito grande e, por isso, o grau de resposta também. Setenta e duas horas de tempo de preparação é norma para nós, mas quando foi para a Guiné (1998) e para o Zaire (1996) em 48 horas colocámo-nos no aeroporto de Figo Maduro em termos de primeira contingência", afirma o comandante do CIOE.

Entre os militares, quase todos se lembram de férias ou dias de descanso interrompidos repentinamente. "Uma vez, um militar estava de férias no Algarve com a família. Foi chamado e oito horas depois estava aqui, pronto para ir para o teatro de operações", recorda um graduado do CIOE.

"Rangers" "versus" forças de operações especiais portuguesas

Os militares do Centro de Instrução e Operações Especiais (CIOE) de Lamego são frequentemente conhecidos pela alcunha de "Rangers", o que se deve ao facto de os seus instrutores terem recebido formação nos "Rangers" dos EUA. Estas são, contudo, tropas diferentes: os "Rangers" são unidades constituídas à base do choque e da força e as forças de operações especiais portuguesas não procuram o confronto directo.

Material para a Neve

Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2001

A falta de preparação para o frio é em si só um factor de risco. Por isso, as forças de operações especiais fazem regularmente treinos específicos em áreas de montanha. Eis algum do equipamento especial para o frio que se encontra armazenado no CIOE de Lamego:

- Várias camadas de vestuário: roupa interior térmica, fatos térmicos, aquecedores de corpo, forros de calças polar, camuflagem branca para mochila, calças e casaco;
- Gorros de dupla face, máscaras faciais para o frio, luvas de lã e luvas à prova de água;
- Meias especiais, botas e sobre-botas;
- Óculos para a neve, skis, localizadores de neve com função de procura em caso de avalanche, macas de neve, cantis de água;
- Sacos cama com braços e abertura na parte inferior que permitem montar segurança a um posto; fato macaco tipo astrounauta altamente quente;
- Climatizadores para tendas insufláveis, fogareiros de alta montanha.

Militares Portugueses Colaboram em Missão Humanitária

Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2001

A luta contra o terrorismo no Afeganistão é liderada pelos Estados Unidos da América e pela Inglaterra e a hipótese de o Exército português enviar tropas de combate para esta guerra está afastada. O que ganhou forma foi a possibilidade de o Governo português participar numa missão de ajuda humanitária organizada no âmbito da ONU para a qual se torna necessário a existência de condições de segurança no terreno.

O Governo disponibilizou já um C130 para o transporte de meios humanitários para o terreno, pessoal de apoio na área da ajuda humanitária, cerca de 17 elementos que compõem a tripulação e uma equipa sanitária de oito elementos, médicos, enfermeiros e socorristas. Esta equipa está preparada para permanecer no terreno até seis meses. Portugal colaborará ainda com o envio de dois oficiais superiores para o comando central norte-americano, sediado em Tampa (EUA). A data do envio e o local da missão deverão ficar definidos nos próximos dias, depois do acordo formal dos norte-americanos.

As outras possibilidades de participação de Portugal, incluídas no levantamento prévio feito pelos chefes militares portugueses, eram um hospital sanitário, equipas de engenharia militar ou uma equipa de Operações Especiais. A decisão política coube ao ministro da Defesa. Segundo fonte do ministério, Rui Pena "fez a avaliação do que seria preciso dentro dos interesses norte-americanos".

(Jornal “PÚBLICO”, Por CELESTE PEREIRA Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2001)

Foto de José Félix: © Todos os direitos reservados.

3 comentários:

Pedro disse...

Os "Rangers" (Operaçoes Especiais) deviam sair mais vezes para missoes no estrangeiro. Somos iguais ou melhores que as outras Forças Especiais.

sociedade disse...

UM O.E NÃO E MAIS QUE NEM MENOS QUE OUTRAS FORÇAS ESPECIAIS
APENAS SÃO DIFERENTES
QUER SEJA OFICIAL,SARGENTO OU PRAÇA

Baia disse...

No geral os Marines dos EUA não são forças de operações especiais