1 -No monumento aos Combatentes do Ultramar
Portugal homenageia os “comandos” guineenses (fuzilados) que combateram no Exército Português
(…) Mas se nós, portugueses (…) nos defendemos com unhas e dentes contra uma agressão injusta e abominável, então passaremos a praticar uma política de genocídio, o que faz pôr os cabelos em pé aos próprios calvos deste mundo dementado. As coisas que se dizem sem resquícios de pudor intelectual e moral. (…)
Cunha Leal, in “A Gadanha da Morte” (1961)
Em boa hora e depois do grande esforço feito pela Associação de Comandos, ao longo de vários anos, a Liga dos Combatentes, zeladora da manutenção e conservação com dignidade, do património que é o Monumento dos Combatentes do Ultramar e do Museu do Combatente existente no Forte anexo, prestou, em nome de Portugal, a homenagem aos 53 militares “Comando” da Guiné, que foram clandestinamente fuzilados pelo PAIGC, “apenas” por se terem combatido com valor e honra, no Exército Português. Os nomes destes militares foram agora colocados nas paredes daquele Forte do Bom Sucesso, à semelhança do que já sucedera como o do Ten-Coronel Maggiolo Gouveia, fuzilado com seus companheiros de infortúnio pela FRETILIN, na antevéspera do Natal de 1975, nos arredores de Aileu/Timor.
Como considero ter havido umaa quota-parte de contribuição no esforço despendido, ao publicar em 1987, o livro “Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980” (2007), quero agradecer aos dirigentes da Liga dos Combatentes, na pessoa do General Chito Rodrigues, o facto de terem considerado estes insignes militares (20 oficiais, 29 sargentos e 4 soldados) como representantes dos milhares (segundo o General António de Spínola) de guineenses igualmente fuzilados e enterrados em valas comuns pelo então novo governo da Guiné-Bissau. Tal aconteceu a outros militares dos três Ramos das Forças Armadas, milícias, autoridades gentílicas, cipaios, etc., que o General Nino Vieira, no jornal oficial do PAIGC, na sequência do golpe de Estado em que tomou conta do poder em Bissau, em 1980, considerou serem 500, enterrados em valas comuns de 35 a 38 pessoas.
A este propósito, considero que já devia ser tempo das actuais autoridades da Guiné-Bissau assumirem a suas responsabilidades históricas em relação a tais acontecimentos, antes de pedirem a ajuda humanitária ou a cooperação com Portugal. É que tal foi praticado, sem as vítimas serem julgadas nem ouvidas de acordo com os mais elementares dos Direitos do Homem. Na minha perspectiva ocorreu um autêntico genocídio.
Não quero deixar de destacar aqui e agora o grande militar que foi o meu amigo Coronel José Pais, falecido devido às sequelas dos ferimentos em combate na Guiné e que me exigiu a denúncia (em livro) do sucedido, antes de nos deixar em 2006; foi um oficial que sempre se empenhou em causas nobres de defesa dos desprotegidos e das vítimas das injustiças praticadas em Portugal e nos territórios ultramarinos.
Um genocídio em Angola e um massacre em Moçambique…
Assim como estes vergonhosos acontecimentos ocorreram durante alguns anos desde 1974, quando o PAIGC funcionava sob o “patrocínio” da então URSS (União Soviética), o genocídio que tinha caído inesperadamente sobre a populações brancas e nativas do Norte de Angola, em Março de 1961, segundo vários investigadores, terá sido apoiado pelos EUA, aquando da presidência de John Kennedy.
Nessa altura, em quatro dias de terrorismo fanático, foram levados a efeito assassínios de cerca de 7.200 pessoas (1.200 brancos), com tortura prévia, violações de mulheres e crianças e muitas mutilações de cadáveres.
Recordo que normalmente os escritores e jornalistas portugueses imbuídos de uma cultura de esquerda apenas costumam salientar alguns esporádicos massacres, durante a Guerra do Ultramar - infelizmente à semelhança do que tem ocorrido em qualquer guerra ao longo dos tempos -, como o foi o de Wiriyamu, em Dezembro de 1972. Sobre este caso, uma comissão da ONU (com países então adversos de Portugal), que não chegou a ir a Moçambique, veio dizer, em 1974, que tinha sido 400 o número de mortos. Marcelo Caetano afirmara anteriormente que era menos de um quarto desse quantitativo e eu, em 1994, depois de investigar sobre o assunto, concluí ser um número inferior a metade dos indicados (entre 154 e 188). Face ao descrito se pode avaliar a perspectiva com que se fazem análises sobre alguns acontecimentos conforme o posicionamento político ou os interesses de cada grupo, movimento de libertação ou país.
Voltando à Guiné…
Cunha Leal (1888-1970), um político que vinha do tempo da Iª República, e foi sempre um elemento activo contra o regime do Estado Novo, afirmava a propósito das declarações de Amílcar Cabral ao “Le Monde”, de 14-6-1961 e transcrito no seu mencionado livro (“Gadanha da Morte”):
(…) Como se acaba de ver, mais uma vez, vem a talhe de foice a impertinente e inconcebível tese de que nós, os portugueses, é que estamos a desencadear uma guerra de extermínio contra os povos africanos. Homens armados com equipamentos vindos de países comunistas, atacam inesperadamente, matam e esquartejam os colonizadores brancos, gabando-se ainda por cima, das suas sinistras façanhas, como o fizeram a um correspondente do “Le Monde”. Isto – repito – é para o sr. Amílcar Cabral, para os seu colegas de gang e – o que é mais lamentável – para um grande sector do chamado mundo civilizado, uma operação legítima, senão humanitária. Mas se nós, os portugueses (…) nos defendemos com unhas e dentes contra uma agressão injusta e abominável, então passarem os a praticar uma política de genocídio, o que faz pôr os cabelos em pé até aos próprios calvos deste mundo dementado. As coisas que se dizem sem resquícios de pudor intelectual e moral!”
Curiosamente este estilo de posicionamento do então líder do PAIGC, Amílcar Cabral, continuou a prosperar no decorrer de toda a Guerra do Ultramar, nas designadas elites da oposição ao regime e na propaganda e manipulação da opinião pública mundial contra Portugal.
E a onda chegou até Paris, onde Mário Soares ficou imbuído do designado “espírito descolonizador”, também transmitido pelos seus amigos dos movimentos de libertação; deste modo, quando chegou a hora de descolonizar no pós-25 de Abril, desconhecendo o que na realidade ocorria nos territórios, avançou para a entrega imediata das nossas possessões africanas. Mário Soares por um lado e Melo Antunes por outro, apressaram-se a fazer a descolonização, antes designada por exemplar e que este oficial, pouco tempo antes de falecer, já a apelidava de trágica. Quero ainda recordar o grande abraço de Soares a Machel, em Lusaka, quando ainda morriam militares portugueses em operações de combate em Moçambique.
Enfim, a história isenta deste período ainda está por fazer. Espero que todos os bons portugueses, actores e observadores dos eventos, que ainda estão vivos, possam colaborar neste desiderato.
Mais uma vez endereço as minhas felicitações à Associação de Comandos por ter lutado para que os nomes dos “seus” comandos guineenses tenham sido inscritos no Memorial dos Combatentes.
Igualmente, em meu nome, dos seus familiares e dos “comandos” guineenses exilados em Portugal, renovo os meus agradecimentos públicos à Liga dos Combatentes por ter salientado os nomes destes valorosos militares, que foram clandestinamente fuzilados “apenas” por terem combatido com coragem e tenacidade (muitos ao longo de uma década), no Exército Português.
Coronel Ref. Manuel Bernardo
8-11-2009
Foto: © Jorge Canhão (2009). Direitos reservados.
2 - NOTAS DE MR:
Eu estive na Guiné, até 9 de Setembro de 1974 e, por isso, sou TESTEMUNHA VIVA dos factos e acontecimentos vividos então, bem como das palavras trocadas entre os diversos protagonistas no terreno, Tropas Portuguesas, PAIGC e população nativa.
A última missão do meu batalhão (4612/74), foi assegurar até ao fim a evacuação/retirada do dispositivo militar portugês, que assegurava a soberania portuguesa, naquele território ultramarino.
Assim,posso contar, sem qualquer tipode influência política, a horrível e dramática história dos Milícias, COMANDOS e outros nativos que prestaram SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO, no Exército Português, que foram impiedosa e barbaramente torturados e executados à catanada.
Segundo soube depois da saída total das tropas portugugesas da Guiné, não foram ASSASSINADOS com um golpe limpo e fatal, mas sim com torturas incríveis que passaram pelo corte das mãos e das pernas, e outras não menos terríveis.
Nem à última "honra", a de serem fuzilados como ex-militares, tiveram direito.
Acima de tudo recomendo, aos leitores deste artigo, para terem cuidado com alguns artistas "portugueses", conotados e comprometidos com partidos políticos, e outros traidores e cobardes, que distorcem a seu bel prazer, muitas vezes astuta e ardilosamente, a VERDADE dos factos em favorecimento dos seus macabros e maquiavélicos ideais.
Os FACTOS contam-se em poucas linhas:
- Este NOSSOS ex-militares assassinados, eram BAPTIZADOS e eram detentores de BILHETE DE IDENTIDADE PORTUGUÊS.
- Aos 21/22 anos eram chamados a prestar, como PORTUGUESES, SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO no EXÉRCITO de PORTUGAL.
- Formavam ao noso lado, faziam Juramento e Continência, TAL COMO NÓS PORTUGUESES, à bandeira nacional.
Os terroristas do PAIGC (outra coisa não eram), enganaram bem esses NOSSOS HOMENS, prometendo-lhes que estivessem tranquilos e que não fugissem, pois todos juntos (eles - os PAIGCs -, as populações locais e os NOSSOS ex-militares) eram poucos para "reconstruir", em paz e progresso, a Guiné. Os incidentes da guerra eram para esquecer: Mais nada!
Mal os portugeses abandonaram Bissau iniciou-se a CHACINA, que hoje já muitos consideram um autêntico GENOCÍDIO, coforme se vai conhecendo hoje melhor a dimensão da tragédia.
Como senão bastasse aos assassínos dos ex-militares, que serviram fiel e nobremente Portugal, até os que prestaram simples colaborações aos portugueses, como os inocentes putos a quem dávamos uma moeditas, pelas simples "faxinas" (faziam-nos as camas e varriam-nos os quartos), mataram, ou mutilaram, com ELEVADOS requintes de malvadez.
Que nos reste a consolação que a quase totalidade dos autores das mortes e muitos dos seus responsáveis máximos, sofrerema idênticas e merecidas mortes em guerras e ódios intestinos.
Hoje, há vários ex-militares portuguesese que, louvavelmente, recolhem objectos e utensílios e os enviam para auxiliar aquele martirizado, desgraçado e pobre povo.
Infelizmente, também há alguns, poucos, que têm "amigos" entre os PAIGCs????
Termino deixando um preocupação minha, pessoal, PAIGC quer dizer Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.
Ora se a Guiné já é independente desde 1974, porque é que eles mantêm esta palavra independência no partido?
Independência HOJE, de quê, OU DE QUEM?
Se o PAIGC sempre lutou na Guiné, porque é que apareceu, e continua a aparecer, ali Cabo Verde?
3 - Sobre este assunto, aonselho a leitura de um site, que alerta também para esta problemática, com os nomes dos Heróis assassinados:
4 - Último livro do Tenente-Coronel Piloto Aviador (Reformado) João José Brandão Ferreira.
Título do livro: Em Nome da Pátria
Autor: Tenente-Coronel Pilav Ref João José Brandão Ferreira
Breve apreciação do livro: O autor recusa a expressão Guerra Colonial, preferindo antes Guerra do Ultramar. Na sua análise considera vergonhoso que Portugal tenha desistido e abandonado África, concluindo que a descolonização enfraqueceu o país.
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