sábado, 13 de fevereiro de 2021

M605 - Marcelino da Mata, o vírus foi mais forte que as balas /premium (por HELENA MATOS, 12 de Fevereiro de 2021)

 Marcelino da Mata, o vírus foi mais forte que as balas /premium

HELENA MATOS
FEBRUARY 12, 2021

“Eu não fico cá. Ou me mandam para uma zona operacional ou fujo daqui”. Corria o ano de 1964. Marcelino da Mata não aguenta mais a tranquilidade da vida no quartel-general, em Bissau. Na verdade não precisou de fugir do quartel-general de Bissau pois conseguiu ir para Farim, onde em escassos dias convenceu o Tenente-Coronel Agostinho Ferreira a dar-lhe autorização para constituir um grupo de operações especiais.
“Quando me apresentei ao comandante, o Ten-Coronel Agostinho Ferreira, afirmei-lhe querer formar um grupo de operações especiais. Ele não concordou… Então, para mostrar que podia fazer tal actuação, num determinado dia peguei em cinco homens e saí do quartel em direcção a uma base do PAIGC, situada a 3,5 kms de Farim, numa destilaria de aguardente. Atacámos à noite e trouxemos nove presos, carregando 65 armas apreendidas. Às 6 horas da manhã já estava a bater à porta do quarto do comandante, a chamá-lo. Ele não queria aparecer, mas insisti. Quando surgiu, perguntou o que é que eu queria dele. Disse-lhe: “É para mostrar armas”. Ripostou: “E quais são as armas que eu não conheço?”. Respondi: “Estas não conhece, pois são do PAIGC”. Espantado, perguntou-me como tinha sido a actuação. Respondi-lhe: “Olhe! Eu nunca digo como faço as minhas operações. Fui lá, matei alguns e trouxe estes”. Disse ele: “Então deixa os prisioneiros andar com armas?” Retorqui eu: “Não faz mal; então não são homens como nós?!…”
Nos dias seguintes, Marcelino da Mata continuou a levar a cabo o que designava como “suas operações”, operações essas que descreve a Amaro Bernardo quando este o entrevista para o livro “Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros. Guiné”. Até que o inevitável acontece. Uma manhã, o Tenente-Coronel Agostinho Ferreira chamou o 2.º comandante: “Diz lá àquele tipo que pode formar o grupo de operações especiais”. Marcelino da Mata lembra: “Foi a partir daí que formei o grupo Os Roncos”.
Pode parecer estranho, mas a carreira militar de Marcelino da Mata começou por acaso: a 3 de Janeiro de 1960, quem devia ter entrado no CIM-Bolama era um seu irmão. Mas Marcelino foi ao centro de recrutamento informar-se sobre a situação do irmão e já não saiu. Tinha então 19 anos. Inicialmente, a sua principal mais-valia não é a forma como combate mas sim o domínio dos vários dialectos falados na Guiné.
Em 1963 vai para Angola fazer um curso de comandos. Já em 1964, regressa à Guiné a tempo de participar na “Operação Tridente”, que visava expulsar a guerrilha das ilhas da região do Como. Foram dois meses e meio entre pântanos, mato e lodo. Do Como, as tropas portuguesas trouxeram uma vitória — e Marcelino da Mata as suas primeiras cruzes de guerra.
A Torre e Espada vai ganhá-la anos mais tarde por ter resgatado uma companhia que fora aprisionada na zona da fronteira com o Senegal. Marcelino da Mata chefia um grupo de 19 homens que consegue não só enfrentar os guardas do PAIGC mais os soldados senegaleses como ainda levar os soldados portugueses pelos mais de 40 quilómetros que os separavam da Guiné. Diz quem lá esteve que o grupo de Marcelino da Mata não só fez tudo isto como, uma vez colocados os soldados a salvo, ainda voltaram atrás para repelir o PAIGC. Não será a única vez que o seu arrojo o leva a operações fora do território da Guiné.


Na noite de 21 para 22 de Novembro de 1970, Marcelino da Mata é um dos militares portugueses que entram secretamente em Conakry para levar a cabo uma das mais audaciosas e arriscadas operações concebidas pelas forças armadas portuguesas, a “Mar Verde”. O grupo de Marcelino da Mata tem 40 homens e é chefiado pelo alferes Abílio Ferreira. O objectivo deste grupo, designado Oscar na operação Mar Verde, é o quartel da Guarda Republicana, transformado em prisão.
“Seguimos para a porta de armas do quartel e ali demos com três civis que estavam a avisar as sentinelas de que tinham visto um grupo armado em direcção ao quartel. A sentinela fugiu e fechou o portão. Atirei-me de cabeça contra a janela da casa da guarda e matei o sargento com o meu sabre. Dei a volta e abri o portão, mas o alferes foi morto à entrada, com uma rajada na cabeça disparada por uma das sentinelas.” Foi desta forma que Marcelino da Mata recordou o episódio na entrevista que deu a António Luís Marinho e que este incluiu no seu livro “Operação Mar Verde”. Morto o alferes Ferreira, Marcelino da Mata assumiu a liderança do grupo.
O grupo Oscar cumpriu o que se esperava dele. No fim, Marcelino e os seus homens carregaram com o corpo do alferes para o levarem para as embarcações que os reconduziriam à Guiné (a operação “Mar Verde” era uma operação secreta levada a cabo num país estrangeiro, logo era muito reduzido o tempo que os militares portugueses podiam permanecer em Conakry). No caminho para o porto, o carro avariou. Sob o comando de Marcelino da Mata, os homens do grupo Oscar voltam ao quartel, combateram de novo, venceram de novo e arranjaram a viatura que lhes permitiu chegar in extremis ao porto onde as embarcações portuguesas já se preparavam para partir.
Em 1973, Marcelino da Mata constitui Os Vingadores, um grupo de tropas especiais constituído por 18 negros.


Operam com grande autonomia. Fazem operações de grande risco: quatro ou cinco homens entram no Senegal e colocam minas em locais estratégicos, fazem apoio às tropas regulares e marcam presença em operações históricas como a “Ametista Real”. Esta operação com nome de joia teve lugar a 19 de Maio de 1973, o objectivo era a base do PAIGC em Kumbamory, no Senegal. Marcelino da Mata está com seis homens do seu grupo. Combatem, mas sobretudo conseguem fazer ir pelos ares um importante paiol. No fim, Marcelino e o seu grupo carregam às costas com um dos seus que ficou ferido e acabam quase a ser vítimas do fogo amigo – eles eram todos negros e não vestiam fardamento regular pelo que eram frequentemente confundidos com guerrilheiros do PAIGC.


O piloto Miguel Pessoa ao ser resgatado pelo grupo chefiado por Marcelino da Mata, que na foto empunha uma catana. Imagem de marca de Marcelino era também o cantil com Fanta ou Coca Cola. *Foto do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
“Sou o Marcelino”– terá gritado para dentro do quartel. Dois meses antes foi também com um “Sou o Marcelino” que se apresentou ao piloto Miguel Pessoa que se ejectara do seu avião atingido por um míssil e que ele e o seu grupo acabavam de resgatar no chamado corredor da morte.
Nos palcos de guerra, Marcelino da Mata não precisava de indicar patente, companhia ou aquartelamento. Bastava-lhe dizer “Sou o Marcelino”.
Quando chega 1974, a sua folha de serviço é impressionante: participou em 2414 operações militares que lhe valeram meia centena de louvores por actos de bravura em combate. Recebeu a Torre e Espada, três Cruzes de Guerra de 1.ª classe, uma de 2.ª e outra de 3.ª. Mas para Marcelino da Mata vai começar um combate bem mais traiçoeiro e doloroso do que qualquer um dos que travou na Guiné.
Salvo pelo estilhaço de granada
Apesar de ter participado em mais de duas mil operações militares, algumas delas muito violentas, Marcelino da Mata nunca foi gravemente ferido. A única vez que precisou de tratamento hospitalar de maior cuidado aconteceu por causa de uma granada, inadvertidamente rebentada por um homem do seu grupo, para mais dentro do quartel. No Hospital de Bissau detectam-lhe um estilhaço alojado junto à rótula. É enviado para Lisboa. Só que entretanto acontecera o 25 de Abril. Há quem veja na transferência de Marcelino da Mata para Lisboa um estratagema do MFA para o manter longe da Guiné e, desse modo, ser facilitada a transferência do poder para o PAIGC. Afinal, uma das grandes preocupações do PAIGC era terem de enfrentar a resistência das três companhias de comandos negros que faziam parte das Forças Armadas portuguesas, mais a mais se estes comandos tivessem a chefiá-los um militar com as características de Marcelino da Mata. Ou, pelo contrário, terá sido a transferência de Marcelino da Mata para Lisboa a forma possível de o salvar do pelotão de fuzilamento que na Guiné “libertada” se estava a tornar o destino dos comandos negros?
Tivesse o ferimento justificado ou não a sua transferência para Lisboa, Marcelino da Mata rapidamente percebe que já não pode voltar à Guiné, pois está proibido de aí entrar pelas novas autoridades. Pior, caso regressasse tinha sérias razões para temer pela sua vida. A Marcelino da Mata chegam informações que confirmam os piores temores sobre o futuro da Guiné: ainda antes da independência daquele território, Marcelino da Mata sabe do fuzilamento de 1.º sargento Zeca Lopes, um dos membros dos Vingadores.
Depois é a vez do tenente Tomás Camará, que ao regressar à Guiné foi preso no aeroporto, levado para Cumeré e fuzilado.
Pouco depois da meia-noite, Marcelino da Mata começa a ser torturado. A tortura arrasta-se durante mais de sete horas, ao longo das quais os interrogadores-torturadores vão mudando. Por vezes chamam-se entre si, o que permite a Marcelino da Mata dar nomes aos civis e militares que o interrogam.
Em Agosto de 1974, o destino trágico de vários destes homens começa a confirmar-se mas não chega a ser notícia. É um facto não nomeável até que se torna um facto consumado. Tão consumado que Otelo Saraiva de Carvalho, para explicar as dificuldades causadas à revolução portuguesa pelo facto de não se terem levado para o Campo Pequeno logo a 25 de Abril de 1974 “algumas centenas ou uns milhares de contra-revolucionários”, não hesita em dar o exemplo do PAIGC que, após a Guiné se ter tornado um país independente, “fuzilou imediatamente e enterrou dezenas, mas dezenas de elementos contra-revolucionários”. “Matararam-nos e enterraram-nos! E não houve uma única linha nos jornais a tratar deste problema!”.
Otelo tinha razão no que respeita aos jornais: as pesadas multas aplicadas pela Comissão Ad-Hoc para o Controlo da Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e Cinema a todas as notícias que dessem uma imagem menos positiva da “libertação das colónias” cortavam pela raiz qualquer veleidade nesta matéria. Note-se, contudo, que a maior parte dos jornalistas partilhava da versão oficial sobre o sucesso daquilo a que chamavam descolonização e nem sequer os preocupava a decisão das autoridades militares da Guiné de suspenderem as reportagens de Roby Amorim unicamente porque estas relatavam a decisão de vários oficiais das Forças Armadas Portuguesas de entregar aquartelamentos ao PAIGC sem aguardar pelas negociações.
Mas se é certo que transferência para Lisboa salvou a vida a Marcelino da Mata também é verdade que esta frase só é absolutamente válida até 17 de Maio de 1975.
Encurralado
A 17 de Maio de 1975, Marcelino da Mata, ouve o seu nome nas notícias que escuta na rádio, em Queluz, onde residia: diziam-no preso. Ao ouvir isto, Marcelino da Mata comete um erro que quase lhe iria a custar vida: resolve apresentar-se naquela que é agora a sua unidade, o Regimento de Comandos n.º 1. Mas logo é levado para o Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa (RALIS).
Marcelino da Mata chega ao quartel símbolo do PREC durante a tarde do dia 17 de Maio. Começam por lhe dar um papel para que escrevesse tudo o que sabia sobre o Exército de Libertação de Portugal (ELP), uma organização terrorista criada em Espanha pelos afectos ao general Spínola. Entretanto cai a noite desse dia 17 de Maio. Pouco depois da meia-noite, Marcelino da Mata começa a ser torturado.
A tortura arrasta-se durante mais de sete horas, ao longo das quais os interrogadores-torturadores vão mudando. Por vezes chamam-se entre si, o que permite a Marcelino da Mata dar nomes aos civis e militares que o interrogam: um furriel chamado Duarte, o capitão Quinhones e dois militantes do MRPP, um tratado por Ribeiro e outro por Jorge. É aliás a este último que Marcelino da Mata diz que o capitão Quinhones ordenou “que pegasse num fio eléctrico e me torturasse, tendo-me este dado choques nos ouvidos, sexo e no nariz”. A estes nomes há ainda que juntar o de Leal de Almeida. Marcelino da Mata conhecia Leal de Almeida da Guiné. Ora, em 1975, o tenente-coronel Leal de Almeida estava em Lisboa, mais precisamente no RALIS. O que fazia nesse quartel o antigo instrutor de comandos na Guiné? Era comandante.


Marcelino da Mata à direita. À esquerda, acompanhando Sartre, está Quinhones um dos homens que Marcelino da Mata identificou como sendo um dos seus torturadores.
Marcelino da Mata à direita exibindo as suas muitas condecorações. À esquerda, acompanhando Sartre, está o capitão Quinhones um dos homens que Marcelino da Mata identificou como sendo um dos seus torturadores
Marcelino da Mata repetiu não só que Leal de Almeida esteve presente enquanto ele foi torturado, como que o então comandante do RALIS desempenhou um papel activo nessas sessões de tortura. No depoimento que Alpoim Galvão transcreve em “De Conakry ao MDLP”, Marcelino da Mata afirma que nessa madrugada de 18 de Maio de 1975 Leal de Almeida “disse que os pretos só falavam quando levavam porrada e eram torturados, e que não tinha outra solução senão ordenar que me fizessem iss.”. (Leal de Almeida, tal como Quinhones, negam ter participado na tortura a Marcelino da Mata, e aos outros detidos no âmbito desta operação.)
O que acontece com Marcelino da Mata entre 17 e 19 de Maio de 1975 é um dos episódios mais perturbantes do PREC. Não apenas porque se recorre à tortura – o que está longe de ser caso raro nesse período – mas também, e sobretudo, por aquilo que o seu caso (e o dos outros elementos detidos no âmbito desta operação desencadeada pelo MRPP) revela sobre o que acontecia dentro dos quartéis. E como as Forças Armadas tinham entrado num processo quase suicida. Não por acaso, muitas das perguntas feitas a Marcelino da Mata incidiam precisamente sobre as ligações que o comandante do Regimento de Comandos n.º 1, Jaime Neves, teria ao ELP. Sabe-se que o nome de Salgueiro Maia foi também apontado por alguns dos interrogados como fazendo parte da rede conspirativa reaccionária.
Na noite de 19 de Maio de 1975, Marcelino da Mata foi levado para a prisão de Caxias, onde foi mantido em regime de incomunicabilidade durante meses. Em Outubro é posto em liberdade. Vai para Espanha. Trabalha numa oficina. Viaja clandestinamente à Guiné. Regressa finalmente a Portugal depois do 25 de Novembro. Correm histórias sobre a vingança que prometeu levar a cabo entre aqueles que o torturaram e também sobre a sua enredada vida familiar. É graduado em tenente-coronel. Às vezes, nas entrevistas que vai dando, acerta contas com alguns militares de Abril. Como? Lembra-lhes como se comportaram em África. Marcelino da Mata nem sempre é exacto nos números — na “Mar Verde” matou 94 homens, como diziam as chefias, ou quase o dobro, como ele argumentava? No paiol de Kumbamory destruiu 130 toneladas de armamento, como relatou, ou “apenas” 90, como defendia Almeida Bruno, o militar que chefiou esta operação? Mas nunca lhe apontaram uma falha nos relatos que faz sobre as operações em que participou. Muito menos lhe respondem quando ele recordava histórias de cobardia e incompetência que muitos queriam esquecer.
Agora que a Covid o levou, esta quinta-feira, dia 11, esperemos que nesse algures onde chegou lhe tenham reservado um lugar à medida do seu temperamento. Convém não esquecer que há sempre a possibilidade de o ouvir dizer de novo: “Eu não fico cá. Ou me mandam para uma zona operacional ou fujo daqui”.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

M604 - FALECEU HOJE O MILITAR MAIS CONDECORADO DE TODOS OS TEMPOS DE PORTUGAL! TCOR Marcelino da Mata – UM HERÓI NACIONAL - UM COMANDO IMPLACÁVEL da GUERRA DE ÁFRICA

FALECEU HOJE O MILITAR MAIS CONDECORADO DE TODOS OS TEMPOS DE PORTUGAL! 
OBRIGADO AMIGO, POR TUDO O QUE FIZESTE POR NÓS NA GUINÉ! 
PELA PARTE QUE ME TOCA ENVIO OS MEUS MAIS SENTIDOS PÊSAMES À FAMÍLIA ENLUTADA!

Homenagem ao TCOR Marcelino da Mata – UM HERÓI NACIONAL - UM COMANDO IMPLACÁVEL da GUERRA DE ÁFRICA
Com a devida vénia e agradecimentos ao jornal TAL & QUAL, publicamos hoje (texto e fotos) mais uma justa homenagem ao TCOR Marcelino da Mata – O COMANDO IMPLACÁVEL da Guiné.
ESTA NARRAÇÃO NÃO É FICÇÃO HOLLYWOODESCA! 
Pior ainda, é que esses mesmos Combatentes nada fazem para ajudar a despertar as atenções e o interesse das pessoas, para esta escandalosa e triste realidade, e outros no cúmulo da indiferença, até pactuam com este estado de coisas.
UMA NOJICE de dar vómitos a todos os que serviram em armas e, orgulhosamente, sentem, vivem e ainda acreditam em Portugal! 
Hoje, felizmente, vai havendo um despertar lento para esta realidade, mas tão lento que um dia, infelizmente, será tarde de mais! 
A Guerra do Ultramar, foi um conflito à qual muitos pseudo-portugueses, cobardes e traidores fugiram com medo, "homens" esses que, ainda por cima tiveram a distinta lata, ao longo dos últimos anos, se arvorarem, baseados nesta alta traição, de serem os seus verdadeiros heróis.
Esta rara e inacreditável desfaçatez só é permitida num país como o nosso, dado o infeliz, pacato e iletrado povo que tem.
Marcelino da Mata é SÓ o português (civil e militar) mais condecorado em Portugal em todos os tempos. É nítido hoje em dia, principalmente por motivos de dor-de-corno e inveja, o desprezo a que é votado pelas autoridades civis e militares nacionais, a todos os níveis.
Honra e Glória seja feita ao TCOR COMANDO MARCELINO DA MATA, por aqueles que amam verdadeira e profundamente esta Nação, pois ele, pelos seus feitos em combate, nem ao seu país de origem - a Guiné -, pode voltar e viver descansado, apenas pelo "crime" de... COMO PORUGUÊS QUE SEMPRE SE ASSUMIU... TER USADO A FARDA E AS INSÍGNIAS DE PORTUGAL!
Repete-se: POR ELE TER COMBATIDO POR PORTUGAL! 
Marcelino conquistou-as, com muitas marcas físicas que quase lhe eliminaram a vida, em lutas ferozes e mortíferas contra um inimigo aguerrido, de igual para igual de armas na mão, que combatemos em África - na Guiné -, o P.A.I.G.C. (Partido Africano para a Indepêndcia da Guiné e Cabo Verde).
Sim, combateu por Portugal, ao nosso lado, e muitos portugueses, na condição de militares em Serviço Militar Obrigatório, hoje lhe devem a vida.
PELO MENOS AQUI NESTE CANTINHO NÃO SERÁ ESQUECIDO, COMO NÃO FOI PELO JORNAL TAL & QUAL!
Como poderão ler mais abaixo, numa excelente homenagem daquele jornal, ficarão cientes da traição e cobardia nacional que grassava, e ainda hoje grassa, neste país do pós-25 de Abril.
Esta postagem, em formato Word, contou com a colaboração do meu Camarada da Guerra na Guiné - Manuel Marinho -, a quem aqui endereçamos os nossos melhores e devidos agradecimentos por permitir uma leitura correcta e mais visível do recorte.
Ganhou inúmeras condecorações, não a polir esquinas ou botas em Portugal como muitos hoje as recebem, sem ter arriscado nada pela nação, nem ter produzido qualquer bem útil à sociedade e nacionalidade.
AO RAMBO DA GUINÉ
MARCELINO DA MATA – O COMANDO IMPLACÁVEL 
Mataram-lhe as duas primeiras mulheres na Guiné e já tentaram assassiná-lo em Queluz. É o preço que está a pagar por ter combatido ferozmente no Exército português contra os da sua cor do PAIGC.
Marcelino da Mata, com a Torre e Espada e restantes condecorações, esta semana, em Queluz.
O oficial mais condecorado do Exército português, hoje na reserva em Lisboa, não esquece as torturas de que foi vítima, no Ralis, em 1975, e promete vingança.
Foi em Madrid em 1975, que ele me disse com frio desprendimento, como se me estivesse a dizer as horas: “ O capitão Quinhones não perde pela demora. Quando o encontrar, hei-de matá-lo”.
Entendi que a afirmação fora proferida num momento de sofrimento físico e indignação moral. Pareceu-me uma ameaça excessiva, coisas de filme e que o tempo se encarregaria de dissipar a sede de vingança.
Enganei-me.
Há menos de dois meses, passados, portanto, 11 anos, ele reafirmou as suas intenções perante três juízes do Tribunal Militar de Santa Clara: “ Falta aqui um réu, o capitão Quinhones. Se ele aparecer morto, já sabem que fui eu”.
Ele é o capitão comando Marcelino da Mata, herói da guerra colonial na Guiné, interveniente em 2414 operações no mato, e o oficial mais condecorado do Exército português: uma Torre e Espada, três Cruzes de Guerra de 1ª classe, uma de 2ª e uma de 3ª, aos louvores por actos de bravura em combate, perdeu-lhes a conta – “uns dizem que foram 47, outros 52”.
Um oficial que o conheceu bem na Guiné disse esta semana ao “T&Q”: “ Como era o Marcelino da Mata? Olhe o Rambo, comparado com o Marcelino, parece uma criança de infantário. E não estou a ser espirituoso – é verdade”.
Em Maio de 1975, no rescaldo do 11 de Março, com o país a guinar bruscamente à esquerda, o Ralis (Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa) era uma unidade revolucionária. No juramento de bandeira, os recrutas, barbudos e desalinhados, prometiam estar “ sempre, sempre ao lado do povo”, contra os reaccionários, os fascistas, os capitalistas, os imperialistas.
Comandava a unidade o coronel Leal de Almeida e era sua vedeta principal o capitão Dinis de Almeida, cognominado o “ Fittipaldi das Chaimites”. O general Spínola havia fugido de helicóptero para Espanha juntamente com um punhado de oficiais considerados reaccionários, e ali fundara o MDLP, um movimento dedicado a derrubar o comunismo em Portugal, corporizado no primeiro-ministro Vasco Gonçalves.
Iguais objectivos tinham o ELP (Exército de Libertação de Portugal, também sediado em Madrid mas mais político do que militar).
Foi neste pano de fundo que o então alferes comando Marcelino da Mata, um guineense trazido para Portugal para não ser fuzilado pelo PAIGC, foi preso por Dinis de Almeida e levado para o Ralis. – “Queriam saber que ligações o coronel Jaime Neves tinha com o ELP” – disse-me esta semana Marcelino da Mata. E rememorou: Estive um dia inteiro nas mãos de dois militares, o capitão Quinhones e o furriel Duarte, de dois civis, cujos nomes nunca soube, e de uma mulher de cabelos compridos, calças de camuflado, uma camiseta que dizia COPCON e uma pistola Walter com o coldre aberto.
Foi ela quem comandou as sessões de tortura: bateram-me com cadeiras de ferro e partiram-me costelas, a bacia e atingiram-me a coluna: por ideia dessa mulher, que ainda não sei quem é, deram-me choques eléctricos no nariz, nos ouvidos e nos órgãos sexuais, o que me deixou impotente durante três anos. Soube depois que na operação estiveram envolvidos elementos do MRPP. Identifiquei o capitão e o furriel Duarte porque o coronel Leal de Almeida os chamou pelo nome enquanto me espancavam”.
Depois de sete meses preso no forte de Caxias, Marcelino da Mata escapou a uma tentativa de rapto na sua residência em Queluz e fugiu para Espanha, onde foi acolhido pelo MDLP. Foi tratado por um médico espanhol e outro francês e trabalhou como mecânico em Talavera. Afirma nunca ter sido operacional do MDLP.
Nesse verão quente de 1975, eu deslocara-me a Madrid para fazer uma reportagem sobre o que era aquele movimento spínolista de que tanto se falava em Portugal, sem que alguém se lembrasse de lhe bater à porta e fazer as perguntas que entendesse.
Num primeiro andar da Calle Lagasca, no centro de Madrid, o seu chefe operacional, o comandante Alpoim Calvão, conduziu-me a um quarto. Sobre a cama, sem se poder mexer, estava Marcelino da Mata a recuperar dos espancamentos sofridos no Ralis.
Foi quando me disse que havia de matar o capitão Quinhones.
Esta semana, passados 11 anos, perguntei-lhe se o tempo havia cicatrizado essa ferida.
“ De maneira nenhuma. Ainda em Julho passado o reafirmei no Tribunal de Santa Clara, no julgamento do coronel Leal de Almeida” – foi a inesperada resposta dada com a mesma convicção de 1975, apenas amaciada por um ligeiro sorriso.
“ Assim que eu voltei de Espanha, o furriel Duarte soube e fugiu para o Canadá. O capitão Quinhones? Um dia hei-de encontrá-lo”.
Contactado anteontem pelo “T&Q” no seu novo regimento, o agora major Quinhones disse-me.” Não estou autorizado a falar, mas sempre lhe digo que não tive nada a ver com isso. Nunca bati no Marcelino da Mata nem em ninguém”.
Regressado em 1976 a Portugal, o oficial guineense, ainda alferes, foi integrado no Regimento de Comandos, na Amadora. Executava todos os deveres de um oficial do quadro permanente sem ser… português.
“Agora já sou, mas foi um problema enorme para me darem a nacionalidade; eu, que na Guiné jurei bandeira como português comentou”. Há muitos militares guineenses a quem ainda não deram a cidadania.
Estão há anos à espera, mas aos “fotocópias” deram num instante.
Fotocópias? “Sim, os “monhês”, os indianos; nós chamámos-lhes “fotocópias” porque têm aquela cor, não são pretos nem brancos”. E continua a recordar, revelando uma memória de precisão: “Sofri muitas pressões para sair da tropa. Estou convencido de que foi devido a manobras do PAIGC. Como oficial do Exército português, era embaraçoso para eles eliminarem-me, mas assim que saí começou a dança (ver caixa).
Um dia fui chamado a um brigadeiro do Serviço de Pessoal. Queria que eu assinasse um papel, pedindo a passagem à reserva. Disse-lhe que não assinava. Ameaçou-me de não me deixar sair e chamou um alferes e um tenente que entraram no gabinete. Eu lembrei-lhe que ele sabia muito bem que eu sairia quando quisesse. E para pôr ponto final no assunto, puxei pela pistola: o alferes dirigiu-se imediatamente à porta, abriu-a e eu saí ”.
Finalmente, em 1979, conseguiram dá-lo como “não apto”, devido a um ferimento num braço que nunca o impediu de ser o terror do mato guineense.
Ultrapassados há muito os prazos de promoção, saiu com o posto de capitão, auferindo a respectiva reforma, mais cerca de 18 contos como deficiente.
Hoje, com 46 anos, Marcelino da Mata suplementa a reforma com uns biscates aqui e ali, para sustentar a mulher e 15 filhos. Presentemente olha pelo físico do proprietário de um restaurante lisboeta. “Estive quatro meses a fazer a segurança da firma Tomás de Oliveira, no parque onde guardam as máquinas pesadas no bairro das Galinheiras” – conta. A Associação de Comandos arranjou-me o lugar porque ninguém queria ir para lá. A gatunagem prendia os guardas às árvores e roubava gasóleo para depois vender. Eu ainda andei lá aos tiros mas não houve mais roubos. O meu ordenado era de 100 contos mas a Associação ficava com 50. Cortei com eles”.
Mesmo assim, Marcelino da Mata considera-se um privilegiado. Ele acha injusto que outros guineenses, ex-militares do Exército português, não tenham a nacionalidade portuguesa nem qualquer reforma do Estado. “ Eles vivem em condições miseráveis”- acusa ele, sem nunca fundamentar os seus desabafos em considerações políticas ou ideológicas. No passado dia 21 de Agosto, Marcelino da Mata foi notícia por ter encabeçado uma manifestação à porta do Estado-Maior General das Forças Armadas, em defesa dos guineenses desprezados pelo Exército.
Na altura ninguém lhes deu ouvidos, mas na passada segunda-feira o ministro da defesa chamou-o. Logo a seguir, o general Almeida Bruno, comandante-geral da PSP e ex-combatente na Guiné, contactou-o pedindo-lhe uma lista de todos os ex-militares guineenses para que lhes seja concedida a nacionalidade portuguesa, condição essencial para que possam ser reformados ou reintegrados, igualmente lhe pediu uma lista das viúvas de guineenses mortos em combate para que lhes seja atribuída a respectiva pensão de sangue.
Marcelino da Mata está agora mais confiante no futuro dos seus camaradas guineenses em Portugal. “ Mas levou tanto tempo”- diz com indisfarçável amargura.
UMA MÁQUINA DE GUERRA 
Marcelino da Mata tinha 19 anos quando um seu irmão, que havia faltado à incorporação militar, lhe pediu que fosse ao Centro de Recrutamento em Bissau saber em que situação se encontrava. Marcelino foi e o sargento não perdeu tempo.
“O teu irmão faltou mas tu ficas cá”.
Assim começou a sua carreira militar que, por sinal só não durou apenas dois anos por culpa dos guerrilheiros nacionalistas: “Já eu tinha 21 anos quando decidi fugir e aliar-me ao PAIGC, que na altura se chamava FLING (Frente de Libertação para a Independência Nacional da Guiné)”- conta Marcelino da Mata”. Mas eles decidiram exercer represálias por eu estar no Exército português e fuzilaram o meu pai e a minha irmã, que estava grávida de oito meses. Fiquei do lado português”.
As represálias do PAIGC intensificaram-se à medida que a eficácia militar de Marcelino da Mata ia espalhando o pânico entre as foças nacionalistas. “ A minha primeira mulher foi morta quando seguia num barco civil não armado. O PAIGC separou-a de umas vinte mulheres que iam a bordo e fuzilou-a” – recorda. A minha segunda mulher foi morta quando saía do mercado. Tinha ido às compras. Encostaram-lhe uma pistola à cabeça e dispararam. Estou de novo casado e tenho 15 filhos dos três casamentos. Estão todos comigo, aqui em Queluz”.
O capitão comando diz eu desde o derrube de Luís Cabral na Guiné nunca mais foi alvo de atentados. O oficial que o conheceu no mato guineense sintetiza: “ O PAIGC tinha como objectivo prioritário, eliminá-lo, compreende-se: o Marcelino era uma implacável máquina de guerra que causava estragos diabólicos ao inimigo. A acção dele foi muito importante na guerra colonial, independentemente da justeza da posição portuguesa. Ele fez coisas que ainda hoje parecem irreais”.
Marcelino da Mata fala da sua acção militar na Guiné, exceptuando duas coisas: as operações secretas que cumpriu em casos selectivos de eliminação física e o comportamento menos corajoso de alguns oficiais portugueses, hoje muito conhecidos. Ele fala da invasão da Guiné – Conakry em1971,comandado por Alpoim Calvão e aprovada por Spínola. (“ Falhou a tomada da emissora, mas libertamos os 28 prisioneiros portugueses”), duas incursões no Senegal em missões de busca e destruição de acampamentos inimigos (“Dávamos-lhes nos cornos e trazíamos o armamento aprendido”) e dos oficiais portugueses “ com eles no sítio”; o capitão António Ramos, ex-ajudante dos generais Spínola e Eanes, o general Carlos Azeredo, comandante da Região Militar Norte, e o coronel Carlos Fabião, hoje colocado num posto administrativo.
Descrição de uma operação típica:
- Quando sabíamos de um acampamento do PAIGC com, por exemplo, 20 ou 30 homens, eu escolhia três ou quatro do meu grupo e lá íamos.
- Só três ou quatro?
- E chegavam. Um deles era o corneteiro.
- ?!...
- Quando estávamos perto do acampamento eu mandava tocar a corneta. Quando lá chegávamos, os do PAIGC já estavam preparados, mas aquilo era um instante.
- Mas porquê avisá-los com a corneta?
- Porquê?!... Para lhes dar uma oportunidade. Não se encosta a arma a um gajo que está a dormir. Dá-se-lhe uma oportunidade para se defender.
Marcelino da Mata apenas lamenta os oficiais negros fuzilados pelo PAIGC após a independência.”Eles eram portugueses e bateram-se por Portugal. O Mário Soares, o Eanes e o Cavaco Silva pediram há dias ao governo de Bissau que não fuzilassem um guineense condenado à morte. Na manifestação junto ao EMGFA, eu perguntei-lhes por que razão não tinham intercedido a favor dos portugueses negros que o PAIGC fuzilou. O apelo que fizeram agora foi uma ingerência nos assuntos internos de outro país, ou não foi”?
Marcelino da Mata vive hoje com dificuldades. E se pudesse voltava para África. “ Para a Guiné não posso ir, mas gostava de ir para um país africano onde pudesse ser instrutor militar. Ainda sou novo e podia viver sem tantas dificuldades. Vamos a ver…”.
Mas, segundo Marcelino da Mata, o PAIGC não desistiu de eliminá-lo, já em Portugal. “Já tinha deixado o Regimento de Comandos e passado à reserva, quando uma noite, vinha eu para casa, um carro galgou o passeio e tentou atropelar-me. Desviei-me e anotei a matricula que dei à judiciária. Era falsa. Pouco tempo depois, também à noite, ouvi um tiro vindo de uns arbustos e senti a bala passar-me por cima. Era um básico que não sabia atirar à cabeça. Deu outro tiro e nada. Eu fiz fogo duas vezes para os arbustos mas o tipo fugiu”.
Pelos contactos e conversas que mantemos com a juventude de hoje, facilmente nos apercebemos que a Guerra do Ultramar é para os jovens portugeses um completo tabu, coisa que não admira dado o país de ignorantes e hipócritas em que vivemos, por um lado, e, por outro, o ostracismo a que foram votados os ex-Combatentes por Portugal, resultado de políticas anti-patrióticas adoptadas nos últimos 37 anos pelos diversos (des)governantes deste descambado país.
É do conhecimento geral que às novas gerações, há muitos anos, foi vedado nas escolas o acesso à História de Portugal, pela politicalhada e seus apaniguados do pós-25 de Abril de 1974.
Há rapaziada hoje, que diz que o 25 de Abril foi feito pelo Salazar e que Salgueiro Maia foi ponta-direita do Benfica!?
É UMA VERGONHA NACIONAL... INADMISSÍVEL E REPUGNANTE... que parece passar ao lado dos actuais políticos, que assobiam para o lado como nada se passasse e tenha a ver com eles. 
Também muitos dos que combateram nessa guerra fazem de conta que não sabem e vêem nada sobre esta matéria, por interesses políticos e outros bem mais obscuros.