Continuando a apresentação do RANGER Saúde (ver também as mensagens M394, M395 e M414).
O RANGER José Saúde do 1º curso de 1973,
foi Fur Mil da CCS do BART 6523 e cumpriu a sua comissão militar em Nova Lamego/Gabú, na Guiné - 1973/74, enviou-nos notícias do seu novo livro "O TRILHO".
Camaradas Rangers!
Prometi, um dia, ao camarada Ranger Magalhães Ribeiro, que debitaria neste seu blogue – RANGERS&COISASDOMR – algumas passagens que marcam ainda hoje
os tempos da nossa especialidade por terras de Lamego. Para melhor nos
localizarmos, Penude. Tal como sempre, considero que os nossos ensinamentos na
dita especialidade de Operações Especiais/Ranger, colocaram no púlpito da nossa
convicção sinais evidentes de como se preparavam, e preparam, homens na sua
condição social e, obviamente, para a vida militar.
De Penude guardo inequívocas recordações que jamais esquecerei.
Resquícios de pedaços de história que completam o romance de uma vida sempre
inacabada. A mística serra das Meadas, de fronte para a parada, estabeleceu,
entre nós, laços de união muito fortes. Paralelamente à dureza das provas
físicas, da acção psicológica desenvolvida ao longo do curso, o ouvir dos
zumbidos das balas reais e a frieza humana constatada na instrução sobre os ilustres candidatos
a rangers,
formatavam a coesão de um trajecto por alguns de nós sonhado e para outros
apresentavam-se como autênticos pesadelos.
Importa porém sublinhar que Lamego foi para todos nós uma
escola. Uma escola de vida e sobretudo militar. Reconheço, aliás, que a minha
condição como ranger no conflito da Guiné me catapultou, a
espaços, para momentos que vincaram a minha eficácia no momento exacto em que o
poder de decisão impunha princípios que obrigavam a resoluções imediatas.
Lamego ensinou-me (ensinou-nos) isso e muito mais. Ensinou, também, o caminho
da solidariedade, bem como trabalhar o espírito de equipa, tendo como fim a
segurança de todos.
E foi com este espírito ranger que paulatinamente tenho traçado, em
parte, o rumo da minha vida. Além de Funcionário Público (estou aposentado)
sou, há mais de 30 anos, jornalista desportivo. Trabalhei para A BOLA e DN –
Diário de Notícias – em termos nacionais, para rádios e jornais regionais, fui Director
e proprietário do jornal “O ÁS”, único órgão de comunicação social no Alentejo
que vingou ao largo de 23 anos, fui, também, pioneiro em televisão por Net em
Beja, sendo também escritor. Publiquei dois livros onde relato a evolução do
futebol na AF Beja ao longo do Séc. XX, e, em 2009, lancei uma outra obra, em
termos nacionais, AVC NA PRIMEIRA PESSOA – edição MEL, Estarreja, que resulta
de uma doença, inesperada, que na madrugada de 27 de Julho de 2006 me bateu à
porta, seguindo-se, o seguinte projecto:
Antecedendo o lançamento do meu quinto livro – “GUINÉ/BISSAU –
AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74” – apresento, agora, “O TRILHO. A sua
apresentação oficial está agendada para o dia 10 de Maio, pelas 21h30m,
na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja.
“O TRILHO” narra “Um cruzar de épocas em gerações transversais –
1950-2050”. A personagem principal, Jesus, nasce numa aldeia do interior do
Alentejo e projecta a sua vida ao longo de 100 anos, trazendo à estampa várias
vivências humanas, particularmente a sua vida militar onde relata a passagem
por Lamegos, nos rangers,
e pela Guiné em tempo de guerra de paz.
O livro aborda duas temáticas: o virtual e o mundo da fixação.
São, no fundo, 161 páginas de autêntico frenesim. Personagens míticas que
paulatinamente foram desaparecendo com o evoluir dos tempos. Fala-se de valores
de outrora que se pulverizam num horizonte onde a temática tecnológica ganha
tempo ao tempo e tudo muda.
Fala do contrabando e dos pregoeiros. Da emigração. Da guerra,
principalmente do ex-Ultramar. Os anos 60. A sociedade e a sua natural
transformação. Enfim, um conjunto de situações que não passam imunes ao cidadão
comum.
Os rangers,
e naturalmente Lamego, no caso “Lamegos”, não passa ao lado da personagem Jesus.
Aqui fica um pequeníssimo estrato da obra.
“… Neste seu percurso por terras de Lamegos, Jesus tinha sempre
em conta as diversas operações a que fora submetido. Submeteu-se à “largada”, à
“dureza onze”, às “24 horas de Lamegos”, ao “calvário”, à “passagem pelos
esgotos da cidade”, ao “cemitério”, às agruras impostas pela pista ranger, ao
galho, às noites passadas no rio, - claro que dentro de água, à celebre
“piscina ranger”, à luta corpo a corpo com um outro companheiro sendo que o fim
era mesmo a doer, à visita, quase diária, a Lamegos, às 7 horas da manhã com a
neve a cair, e em tronco nu, ou com uma simples camisola onde se lia “Ranger
vontade e valor”, às gélidas e chuvosas noites a ouvir o uivar dos lobos em
plena serra, às presumíveis emboscadas, o saber ao pormenor o manuseamento de
uma arma de fogo, aprender o contacto com o inimigo e a reacção imediata,
enfim, uma panóplia de princípios que tinham como fim o comandar homens em
palco de guerra. Este é o resumo de um verdadeiro ranger. Um homem que
assimilava princípios capitais para enfrentar as dificuldades em conflitos.
Jesus lembra, por exemplo, um samba brasileiro que, ao longo de três dias e
outras tantas noites (dureza onze), se fazia ouvir a todo o momento: “É chato
que eu sei que é chato este meu samba é muito chato…” A sua audição era
perceptível a todo o momento. Acção psicológica, comentava a rapaziada!
A voz de comando era importante. Assim, depois da árdua
experiência, Jesus foi mobilizado para a Guiné. Dizia-se que a Guiné cheirava a
guerra. Perigo iminente. E foi nesse palco de guerrilha que o jovem Jesus puxou
pelo saber e por tudo o que aprendeu naquelas margens do rio Douro. E tão úteis
que elas foram!...”
Francisco Moita Flores, meu amigo de infância, escreveu o
Prefácio – CAMINHOS – sendo que na contra capa deixo escrito um pequeno estrato
do seu parecer sobre a obra.
“… A
narrativa que o autor nos apresenta numa escrita simples, idílica, cravada de
memórias e de utopias, remete-nos para o confronto com os sinais do tempo que
marcam a nossa história recente.
Diria mais, a nossa pequena história
recente, aquela que marca de forma significativa a nossa identidade – a
imensidão alentejana, do espaço e nostalgia, os contrabandistas e pregoeiros, a
escola e o brincar.
O livro aborda uma questão interessante. A
prospecção do futuro.
Que virtudes nos trouxe a revolução que
acelerou o tempo e reduziu o espaço a uma imagem? Que haverá por detrás dessas
imagens quando Jesus morrer? Terá a sua vida o mesmo significado litúrgico e simbólico
do outro Jesus que morreu há milénios? Que futuro está escondido debaixo da
tecla “enter”?”
Um abraço
Zé Saúde