sábado, 27 de agosto de 2011

M360 – RANGER Eduardo Lopes do 1º Curso de 1969 – Cruz de Guerra de 4ª Classe (2)

RANGER Eduardo Lopes
1º Curso de 1969
Cruz de Guerra de 4ª Classe

Como foi dito na mensagem anterior – M359 -, ao RANGER Eduardo José dos Reis Lopes, foi-lhe imposta, no passado dia 14 de Agosto - Dia da Infantaria e da E.P.I. (Escola Prática de Infantaria), pelo Sr. Ministro da Defesa Nacional, a Cruz de Guerra 4ª Classe.


Disse-nos o RANGER Eduardo Lopes que foi recebido e tratado com todas as honras e deferências pela família militar, e deixar aqui registado o seu melhor e mais profundo agradecimento ao Sr. C:E.M.E. - General José Luís Pinto Ramalho, ao Sr. Director Honorário de Infantaria – Tenente-General João Nuno J. Vaz Antunes e ao Sr. Comandante da E.P.I. - Coronel Jorge Manuel Barreiro Saramago, a maneira como o receberam na qualidade de Combatente da Guerra do Ultramar.

O RANGER Eduardo Lopes foi incorporado como Cadete Miliciano e após a recruta seguiu para o C.I.O.E., tendo ali cumprido a especialidade de Operações Especiais no 1º turno de 1969 e passou à Reserva Territorial como Tenente Miliciano.

Mobilizado para a Guerra do Ultramar, cumpriu a sua comissão de serviço na R.M.A. - Região Militar de Angola, entre OUT1969 a NOV1971, integrado na CCAÇ 2600 do BCAÇ 2887 (Companhia de Caçadores 2600 do Batalhão de Caçadores 2887), que se formou no R.I.2 em Abrantes. 

O destino do seu batalhão foi Quicabo/Angola, onde se situou a sede do batalhão composta pelas C.C.S e CCAÇ 2599 (Companhia de Comando e Serviços e Companhia de Caçadores 2599). Um pelotão foi destacado para a fazenda Margarido.

A disposição descrita permaneceu assim 18 meses. 

Passemos às palavras do RANGER Eduardo Lopes: 


“Balacende, era um aquartelamento completamente isolado, um verdadeiro “oásis” rodeado de capim morros e mata.

A CCAÇ 2600 (Companhia do RANGER Eduardo Lopes) teve como destino Balacende e a terceira companhia do batalhão – a CCAÇ 2601 -, foi destinada à fazenda Maria Fernanda.

Foi neste teatro de guerra que o meu G.C. (Grupo de Combate) teve uma actividade operacional intensa, tendo efectuado cerca de 32 operações nas zonas do Qifusse, Canacassala, Quiemba, Quijimos, Quiptelo, Quijoão, Missão e Dange, onde criamos no IN (FNLA e MPLA) um clima de constante perigo e insegurança, que se manteve durante o ano e meio que estivemos naquela zona.

Além destas operações participamos em inúmeras acções de menor envergadura, como: montar emboscadas, patrulhamentos de reconhecimento ao longo do Rio Lifune e Rio Dange e protecção à J.A.E.A. Também efectuamos operações a nível da Companhia, ao nível do Batalhão e ao nível de Sector (por exemplos: "Não esqueceremos" e"Vind´a nós"), juntamente com o batalhão estacionado em Nambuangongo (CCAÇ da fazenda Beira Baixa), com a 30ª Companhia de COMANDOS e com os Flechas/DGS/Caxito.

Como ainda nos sobrava tempo, ainda fazíamos escoltas aos "M.V.L.S." e á J.A.E.A., pelo que as picadas Caxito - Quicabo - Sete Curvas – Balacende – Fazenda Beira Baixa - Onzo Nambuagongo - Zala e Balacende – Fazenda Margarido - Fazenda Maria Fernanda – Dange, deixaram de ter segredos para nós. 


Após 18 meses em áreas de assinalada agressividade inimiga o BCAÇ 2887 "rodou" para a fazenda Tentativa, a cerca de 3 quilómetros do Caxito, onde ficou a C.C.S. e minha companhia. A CCAÇ 2600, ficou com um pelotão reforçado destacada na fazenda dos Libongos e na barra do Dande. Na fazenda Tabi, ficou a CCAÇ 2599 com um pelotão destacado na fazenda Horta do Marquês.

A CCAÇ 2601 ficou nas Mabubas.
Neste novo teatro, participamos em duas operações a nível do Comando de Sector ("Estocada Directa" e "Impedir"), fizemos escoltas a "M.V.L.S." nas estradas Caxito - Ambriz e Caxito - Piri - Ucua e proteções á J.A.E.A., não descurando as acções psico-sociais junto da população."
O louvor que originou a atribuição da Cruz de Guerra de 4ª Classe, destaca:

1. Operação no Canacassal em que tendo o IN desencadeado intenso fogo, encontrando-me na rectaguarda da coluna, imediatamente avancei arrastando comigo o G.C. e fazendo fogo de pé (para melhor localizar o IN) neutralizei a emboscada.

2. No assalto á base "Checoslováquia", do M.P.L.A., onde se encontrava o "Monstro Imortal" - Comandante da 1ª Região do M.P.L.A. -, este com a sua "Guarda Pessoal" armada de Kalashnikov, PPSH e carabina Simonov fez-nos frente entrincheirados durante cerca de longos 20 minutos, tendo finalmente o meu Grupo de Combate avançado e entrado na base pondo o IN em fuga.

3. Emboscada, á noite, na picada fazenda Beira Baixa – Balacende -, a uma coluna auto de 6 viaturas, a dois G.C., o IN isolou a 4ª viatura e dos 8 ocupantes do Unimog, fez 2 mortos, 2 feridos graves e dois feridos ligeiros. Eu que me encontrava na primeira viatura, reagi avançando com o meu G.C. para a zona de morte e fazendo fogo, impedimos o IN de ir á picada apanhar o armamento dos mortos e feridos

4. Emboscada a cerca de 3 quilómetros de Balacende a uma coluna auto (viaturas civis com taipais) do batalhão "Maçarico" de Nambuangongo, o IN desencadeou violenta acção, cuidadosamente preparada, para desmoralizar tropas recém-chegadas à província de Angola. Encontrando-me no aquartelamento de Balacende, imediatamente com o meu G.C. "arrancamos" em acção de socorro, pondo o IN em fuga regressamos com a coluna para Balacende, onde procedemos á evacuação de um ferido pelo IN e de dois tropas vítimas de insolação. 


Apesar dos destaques referidos julgo que a atribuição da Cruz de Guerra se deveu á intensa actividade operacional desenvolvida pelo meu G.C. (constituído maioritariamente por transmontanos), ao seu espírito decidido e ofensivo, que levou o comandante de batalhão a louvar-me por:

"Possuidor de vincado espírito ofensivo e galvanizador de ânimos, aparecendo sempre nos locais e situações em que as NT corriam maiores riscos, arrastando com determinação e indiferença pelo perigo, os elementos do meu G.C., e, mesmo algumas vezes, a sub-unidade a que pertence"… e acabou com… "As excepcionais qualidades de combatente abnegado e amante do risco tornaram o Alf. Lopes digno de admiração e apreço dos superiores e subordinados, dando-lhe jus a ser apresentado como exemplo militar, cujo exemplo é digno de ser seguido.”Claro que tudo devo á preparação militar adquirida no C.I.O.E. e aos valentes soldados, cabos e furriéis do meu G.C. de que muito me orgulho e honro de ter liderado."

Fotografias: © Eduardo Lopes (2011). Direitos reservados.


Legenda das Abreviaturas:

IN = Inimigo
NT = Nossas Tropas
PAIGC = Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde
CIOE = Centro de instrução de Operações Especiais
GC = Grupo de Combate
JAEA = Junta Autónoma de Estradas de Angola
MVLS = Movimento de Viaturas Logísticas

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