38ª Companhia de Comandos
Uma lenda da Guerra do Ultramar
Guiné – 1972/74
Que o poder político português ostracize e
banalize a Guerra do Ultramar, que durou entre 1962 e 1974, e mobilizou quase
toda a nossa sociedade de então e a juventude em particular, é um problema que
pode ser considerado, alem de uma cobardia inqualificável, alta traição para
com todos aqueles que se fardaram com as cores nacionais, juraram bandeira e
deram o seu melhor, como podiam e sabiam, por vezes sabe Deus como e com que
sacrifícios.
Suor e Sangue, que vitimaram uns milhares de
jovens lusos, voluntariosos e corajosos como poucos por esse mundo além.
Nesta mensagem vamos dar início a uma singela
e justa Homenagem a uma das Unidades mais esforçadas e martirizadas das
3 frentes da guerra; Angola, Moçambique e Guiiné.
Com os devidos agradecimentos à disposição e colaboração em que nos
colocou as suas memórias, ao nosso grande Amigo Amílcar Felício Pereira Mendes,
que foi 1º Cabo Comando da 38ª Companhia de Comandos e à disponibilidade do Dr. Luís Graça,
fundador e mentor de um dos blogues dedicados à Guerra do Ultramar – Guiné, onde
se encontram narradas também estas memórias e mantém diariamente um grande
afluxo de visitas: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/
A 38ª Companhia de Comandos (CCmds) teve como
unidade mobilizadora o CIOE (Centro de Instrução de Operações Especiais) – em Lamego.
Esteve no TO da Guiné entre Junho de 1972 e Abril de 1974. Fui a penúltima
CCmds, de origem metropolitana, a ser mobilizada para este território. A última
CCmds a prestar serviço na Guiné foi a 4041ª, formada também em Lamego, e que ali
chegou em Maio de 74, cumpriu a sua fase operacional em Teixeira Pinto.
1º Cabo Comando
38ª Companhia de Comandos
(Guiné, Brá, 1972/74)
AUDACES FORTUNA JUVATE
[em latim, A Sorte Protege os Audazes]
Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça
no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os
Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso
em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso
em Mansoa,
na mata do Morés,
onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto,
com o posto de 1º cabo.
Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas
só regressei a Portugal em Julho de 1974, a minha companhia foi a 38ª Companhia
de Comandos, os Leopardos.
A listagem dos camaradas mortos da minha
Unidade:
- Soldado Comando Idílio da Costa Moreira,
natural do Bonfim, Porto, faleceu no HM 241 em 15JUL72 por motivo de acidente
com arma de fogo
- Soldado Comando Francisco José Matos da
Silva, natural de Terena, Alandroal, faleceu no HM 241 em 08AGO72 vítima de
ferimentos recebidos em combate (Mansoa)
- Fur Mil Comando Artur Jorge Tavares
Pignateli Fabião, natural de Seia, faleceu no HM 241em 21NOV72 vítima de
ferimentos recebidos em combate (Caboiana)
- Soldado Comando Mário Branco da Costa
Chaves, natural de São Sebastião, Setúbal, faleceu no HM 241 em 21NOV72 vítima
de ferimentos recebidos em combate (Caboiana)
- Soldado Comando Cecílio Manuel Ferreira
Franco, natural de Milharado, Mafra, faleceu em 01FEV73 vítima de acidente com
arma de fogo
- 1.º Cabo Comando José Joaquim Teixeira
Simão, natural de Rio Maior, faleceu em 01FEV73 vítima de acidente com arma de
fogo
- 1.º Cabo Comando Luís Manuel Oliveira
Barreiras, natural de Aldeia Velha Santa Margarida, Avis, faleceu em 01FEV73
vítima de acidente com arma de fogo
- Soldado Comando José Luís Inácio Raimundo*,
natural de Vila Nova de São Pedro, Azambuja, faleceu em 12MAI73 vítima de
ferimentos recebidos em combate (Guidage)
- 1.º Cabo Comando Amândio da Silva Carvalho,
natural de Sarzedo, Arganil, faleceu no HM 241 em 10MAR74 vítima de ferimentos
recebidos em combate (Sector de Bissau)
- Soldado Atirador José Alexandre Costa,
natural de Soio, Vinhais, faleceu no HM 241 em 27ABR74 vítima de ferimentos
recebidos em combate (Cantanhês)
A vida de um Comando na guerra
Guiné > Região do Cacheu > Guidaje >
Maio de 1973 > Cadáveres de soldados africanos da CCAÇ 19, abandonados no
campo de batalha. A 38ª Companhia de Comandos participou na batalha de Guidaje.
O Amílcar tomou notas, no seu diário, destes longos dias de inferno, em Maio
de 1973, e vai-nos dar a conhecer esta terrível e mortífera fase da guerra numa das próximas menagens a publicar aqui.
Nos já longínquos anos 72, 73 e 74, como o
tempo era muito, fui escrevendo muita coisa do meu dia a dia na guerra. Como
muito do que escrevi poderá ser um pouco violento.
Muito do que tenho está nas mãos de uma
jornalista que ainda não sabe o que irá fazer mas isso é outra história. Aqui
vão fotos. Atenção, são fotos verdadeiras. São fotos de elementos da CCAÇ 19
que estavam em Guidaje. Foram enterrados na bolanha do Cufeu por nós (2).
Tenho o cuidado DE NÃO MANDAR AS FOTOS DOS
PORTUGUESES.
Após regressar a Portugal em 74, voltei ao
serviço militar, em 1975, como convocado no Regimento de Comandos da Amadora.
Aí estive em todo o chamado período quente até Fevereiro de 1980.
Estive sempre colocado no corpo de instrução
onde era instrutor de tiro. Dei vários cursos de Comandos e fui louvado pelo
Coronel Jaime Neves várias vezes.
(continua)
Um grande abraço para todos os ex-Combatentes.
Amílcar Mendes
1º Cabo Comando da 38ª CCmds
Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.
Fotos alojadas no álbum de Luís Graça >
Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006
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reserved.
1 comentário:
Balacende. O que por ti sofri:
Ao andar à cata de notícias nos blogues expostos na Internet para noticiar o 16 de Março de 1973, último dia de comissão em Balacende de metade da C. Caç. 3341, em que estava incluído, por casualidade encontrei o blogue RANGER&COISASDOMR, na pessoa de Eduardo Lopes.
Fiquei surpreendido e encantado pelo facto de ser membro da C. Caç. 2600 e ser essa mesma que rendemos a 4 de Maio de 1971. Foi numa terça – feira. Ainda me recordo desse dia. Além de sermos bem recebidos também fomos escoltados desde Quicabo por um pelotão e outro ainda que se encontrava na zona das sete curvas. Não sei se este se encontrava para nos proporcionar um bom trajecto ou se fazia escolta à Junta Autónoma de Estradas de Angola.
Passados uns dias efectuou-se um jogo de futebol entre companhias, velhinhos e maçaricos, tendo estes perdido. Fez-se uns reconhecimentos ao Quifuso, à zona da água e várias escoltas, sempre com observância de pelotões da 2600. Sei que foram para a Fazenda Tentativa pois fazia parte do batalhão 2887 um colega meu de nome Alcino. Não sei se fazia parte da CCS ou da 2599.
É gratificante tomar conhecimento de quem nos antecedeu. Ver fotografias que nos são familiares. E recordar esses momentos. Ando pela blogosfera e delicio-me com essas notícias e é aqui que sinto pena da minha C. Caç. não possuir um blogue para darmos a conhecer a nossa história. Ficamos órfãos de Comandante de Companhia e julgo que é por esse facto que estamos relegados ao esquecimento. O meu Batalhão 3838 possui um blogue mas passa-se muito tempo sem dar notícias. Também o arquivo é fraco.
Tomei a ousadia de mandar este post no seu blogue. Sabe bem conviver com quem andou pelas mesmas paragens que eu. No meu blogue recordo algumas passagens.
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