Esta é a 5ª mensagem é a continuação das mensagens M417, 418, M422 e M423, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, Recordamos que estas mensagens também podem ser vistas no blogue: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/
38ª Companhia de Comandos
Uma lenda da Guerra do Ultramar
Guiné – 1972/74
Uma noite, nas valas de Guidaje
Guiné >Região do Cacheu > Guidaje > Novembro de 2000 > Romagem de saudade, dos tugas...
11 de Maio de 1973
(continuação)
Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.
12 de Maio de 1973
Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!
A nossa artilharia responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.
Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro.
Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrido mas é preciso reagir. Com um ano de Guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.
Recebemos ordens para sair para a mata.Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio ate Guidaje. Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os mísseis Strella estão à espreita da nossa aviação.
Fomos ao encontro da coluna e assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas terá sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.
O nosso estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.
(continua)
Um grande abraço para todos os ex-Combatentes.
Amílcar Mendes
1º Cabo Comando da 38ª CCmds
Texto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.
______________________________________
Do mesmo autor veja também as mensagens:
1ª Mensagem em 16 de Março
de 2012 >
2ª Mensagem em 18 de Março
de 2012 >
3ª Mensagem em 25 de Março
de 2012 >
4ª Mensagem em 25 de Março
de 2012 >
27 de Março de 2012 > M423 – 38ª
Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: De Farim a
Guidaje: a picada do inferno (II Parte) (4)
Sem comentários:
Enviar um comentário