Uma lenda da Guerra do Ultramar
Guiné – 1972/74
A vida de um comando na Guerra do Ultramar (3)
"2ª coluna a 4 companhias, a caminho de Guidage - 29/05/1973" é um artigo da autoria do Furriel Miliciano COMANDO João Ogando e do 1º Cabo COMANDO Amílcar Mendes, que foi publicado na revista MAMAE SUMME da delegação de Almada - Associação de Comandos, que aqui reproduzimos com a devida vénia e agradecimentos aos seus mentores.
Esta mensagem é a continuação das mensagens M417 e 418, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) (Guiné, Brá, 1972/74).
Em Maio de 1973, a 38.ª C. Cmds estava sedeada em Mansoa, na região central da Guiné, tendo a NW a região do Morés, e a SW, o Sara – Saruol. Na altura, devido à abertura de uma estrada entre Mansoa e Portogole (nas margens do Geba) a companhia fazia operações de reconhecimento ofensivo nas zonas por onde, no futuro, iria passar essa via, no sentido de impedir que quaisquer incidentes atrasassem os trabalhos.
Em certo dia dos princípios de Maio, quando me encontrava numa destas missões fui informado, via rádio, pelo meu adjunto, na altura Alferes Agostinho B. Saraiva da Rocha, de que fora solicitado à companhia uma escolta entre Bissau e Farim, para transportar reabastecimentos para Guidage. Então já se começavam a sentir os problemas operacionais acima mencionados, mas ainda não se tinha realizado a missão a Cumbamori.
Respondi-lhe que accionasse os meios no sentido do cumprimento da missão, apesar das limitações em material anteriormente referidas. Realizou-se a acção até Farim e, à chegada, o Alferes Rocha, foi confrontado com a ordem/pedido de integrar uma coluna para tentar chegar a Guidage, já que as anteriores tentativas de reabastecer aquela posição tinham falhado.
Sobre esta missão, quem estará melhor habilitado para falar é o Coronel na Reserva Saraiva da Rocha. No entanto quero, desde já, salientar os seguintes factos: durante o trajecto foi accionado uma mina/armadilha que atingiu gravemente o 1.º Cabo “Comando” Filipe Tavares, sofrendo amputação da parte anterior de um dos pés e do indicador da mão direita. Este militar deu provas de uma inexcedível coragem, pois, por falta de evacuações aéreas e de cuidados médicos apropriados no local, os ferimentos gangrenaram. Nunca se deixou ir abaixo, chegando, inclusive, a animar outros feridos em estado relativo melhor que o dele. Dado o atraso no recebimento de socorros, o 1.º Cabo Tavares teve necessidade de sofrer corte da perna a nível do joelho e não apenas da parte do pé, como teria acontecido se tivesse sido evacuado atempadamente. Esteve nesta situação de espera durante vários dias até que foi evacuado para Bissau.
No período de permanência em Guidage, o aquartelamento foi continuamente atacado pelos mais diversos meios. Os abrigos existentes eram insuficientes para os efectivos concentrados, havendo, ao longo do perímetro, uma trincheira que não devia chegar ao metro de altura e a um de largura. Numa dessas valas o Soldado “Comando” Raimundo foi atingido por estilhaços de morteiro, vindo a falecer. Como atrás referi, esta primeira escolta da 38.ª C.Cmds a Guidage, não poderá ser pormenorizada, pois não estive lá.
No entanto o meu Adjunto, se for contactado, poderá esclarecer aspectos desta acção, nomeadamente das forças integradoras da coluna, quem a comandava etc. (3) Convém ressaltar que, ao contrário de escoltas/colunas anteriores, o reabastecimento chegou ao seu destino e não foi abandonado no campo de batalha. A companhia sofreu pelo menos um morto e um ferido grave e nada mais acrescento pois não possuo documentos que mo permitam fazer.
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Do mesmo autor veja também as mensagens:
1ª Mensagem em 16 de Março
de 2012 >
2ª Mensagem em 18 de Março
de 2012 >
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