MISSÉIS,
EUROS E “MERCADOS”
27/07/12
O espaço europeu,
onde nos inserimos, está no meio de vários confrontos estratégicos, actuais,
que estão longe de serem minimamente claros e entendidos pela opinião pública
portuguesa.
O mesmo se passa
com a classe política, que se tem revelado perfeitamente impreparada – e nem
sequer vocacionada – para entender o que se passa no mundo e de como Portugal
pode ser afectado e defendido, no meio de tão complexa trama.
Creio apenas
existirem umas largas centenas de pessoas conhecedoras, capazes de
perspectivarem a situação Geopolítica e Geoestratégica de Portugal e com acesso
a informação relevante; umas dezenas de milhares de cidadãos espalhados pelo
país, que intuem e se preocupam com a gravidade da situação, e umas poucas
dezenas de políticos/”gestores”, que são ponta de lança/controleiros dos
poderes semi - ocultos que puxam os cordelinhos no xadrez internacional.
Os primeiros
estão, por norma, fora do poder e pouco o influenciam; os segundos estão
atomizados e dispersos, e sem liderança que os congregue; os derradeiros estão
hipotecados a interesses, para os quais Portugal e a Nação dos portugueses,
nada valem e nada interessam.
O Poder Nacional
Português ficou catastroficamente reduzido no fim do “PREC” (25/11/1975) e o
nosso país deixou de contar na cena internacional. Nem o futebol o salva…
O sistema político
entretanto instituído tem-se revelado muito incapaz e incompetente para liderar
a população. A sobrevivência de Portugal está verdadeiramente em causa, e não
são declarações “solenes” a dizerem que temos 900 anos de História e que já
ultrapassámos muitas crises, que são garantia de coisa alguma!
E tais tiradas não
revelaram, até agora, qualquer virtualidade, a não ser uma falsa sensação de
tranquilidade em espíritos mais impressionáveis.
Com este pano de fundo, a que se deve
acrescentar o facto de nos termos colocado em pré- bancarrota, que originou a
vinda da “Tróica” e termos ficado com a soberania limitada; importando cerca de
70% do que comemos e com demografia negativa, tudo o que se passa à nossa volta
está a anos - luz de ser tranquilizador. E nós estamos sem “Poder”.
Sem Poder não há
opções políticas nem estratégica.
A Europa está a
ficar um vulcão cheio de fumarolas.
A Nato (leia-se,
os americanos) tenta empurrar os misseis cada vez mais para cima da fronteira
da Rússia; a luta pelas fontes de energias, seu acesso e seu transporte, é
feroz e subterrânea; a tentativa de controlo de locais chave, para o comércio,
minerais estratégicos e de interesse militar, é global e cada vez mais intensa
entre as grandes potências; o terrorismo está longe de estar controlado (parece
até, estar a renascer na Irlanda do Norte); as velhas nações arriscam
fragmentarem-se em “autonomias” e tentativas de independência; a “Primavera
Árabe”, cujos contornos ainda não se conseguem perceber com nitidez, veio
trazer imensos factores de imprevisibilidade e instabilidade; o Médio Oriente
continua um barril de pólvora; o Afeganistão e Paquistão aparentam serem
incontroláveis e estáveis e o ataque militar contra o Irão foi, aparentemente,
adiado, sem se saber exactamente porquê. E não deixa de ser curioso, que a
última reunião do Grupo de Bildelberg, prevista para Haifa (Israel), tenha sido
transferida para Chantilly, Virgínia (USA) (31/5-3/6).
O quadro está
longe de estar completo, mas não é esse o ponto. O ponto é chegar à crise
financeira actual e tentar perceber o ataque ao euro (ao qual jamais Portugal
devia ter aderido), o que corre paredes meias com uma aparente tentativa de
hegemonia dentro da UE, por parte da Alemanha. Esta arrasta consigo os seus
tradicionais aliados e leva a reboque a França que, desde Napoleão tem pânico
dela. Como é tradição secular nestes casos, a Inglaterra (que funciona como
“cavalo de troia” americano, na Europa), já manobra para sabotar o esquema.
É neste âmbito que
ocorre o ataque ao euro. A guerra contra o euro parece não ter cara, mas ela
existe e está do outro lado do Atlântico.
O que se consegue
perceber de tudo isto – a informação relevante é difícil de obter, está
camuflada e chega tarde – parece poder levar a concluir o seguinte:
As poucas dezenas
de famílias/empórios, alguns já centenários, que dominam os EUA (muitas delas
de matriz judaica/sionista), que constituem a plutocracia dominante (no mundo),
não podem nem lhes convém, lançar misseis de cruzeiro sobre alvos europeus.
Porquê?
Porque a maioria
das teorias de Geoestratégia e Geopolítica fazem escola ao considerarem a união
das margens do Atlântico Norte como um objectivo primordial de segurança.
Deste modo os EUA
(e o Canadá) necessitam do Continente Europeu, sobretudo da sua parte ocidental
e central, para uma defesa comum. Estas teses são o que justificam,
primordialmente, a NATO.[1]
Todavia, sendo as
margens do Atlântico complementares em termos de segurança são, outrossim,
concorrenciais em termos económicos.
Os EUA precisam ter
na Europa um mercado forte para os seus produtos (daí o Plano Marshall estar
longe de ser apenas uma ajuda filantrópica), ao passo que nunca deixaram de
proteger a sua produção com taxas alfandegárias (o aço é, disso, um bom
exemplo).
Enquanto durou a
“Guerra – Fria” este esquema funcionou na quase perfeição: Os europeus
colaboravam com os americanos do norte nas despesas da defesa, cabendo a maior
fatia aos americanos; devido ao guarda - chuva nuclear americano os países da
CEE e a EFTA (enquanto durou), desenvolveram-se extraordinariamente e
dedicaram-se ao comércio, o que era bom para todas as partes. A Alemanha estava
ocupada militarmente (como ainda está agora, embora já não pareça), e pagava
uma nota preta tanto para a NATO como para a CEE. E mantinha “um low profile”.
O Dólar era rei.
A queda do muro de
Berlim (9/11/ 1989); o alargamento da Organização Mundial do Comércio[2]
a outros países, principalmente, à China (9/11/2001); a subida de patamar na
perigosidade do terrorismo com o ataque World Trade Center (11/9/2001), em Nova
Iorque (caso ainda para se perceber verdadeiramente), a evolução dos países
muçulmanos e a emergência de novas potências (Brasil, India, Rússia, etc.),
veio baralhar tudo.
A economia lá foi
andando, havendo problemas cada vez mais acentuados, de âmbito social, nos
países europeus (e também nos EUA), por causa da deslocalização das empresas e
da concorrência de mão - de - obra barata/escrava.
Porém, o “sangue”
de todo o sistema continua a ser o (maldito) dinheiro, isto é a moeda em que a
maioria das transações é feita e a que se constitui como reserva mundial. Essa
moeda tem sido o dólar.
Ora tem sido este
fluxo ininterrupto de dólares (nomeadamente de “petrodólares”) que permite ao
Federal Reserve, em Washington (FED, para os amigos), emitir as notas que quer;
manter o nível de vida americano alto (e o preço do combustível baixo),
imprescindível para não haver revoltas nos Estados da União e ir financiando o
já hiperbólico “deficit” americano.
Eis senão quando o
núcleo duro da UE decide avançar com o euro (entrada em vigor, a 1/1/2002).
O euro começou a
fazer concorrência ao dólar e aqui é que a porca torceu o rabo…
Saddam ameaçou
negociar o petróleo noutras moedas, até podia ser em euros, resultado, o Iraque
foi bombardeado e ocupado. Saddam enforcado. Na altura houve uma crise
transatlântica e surgiu a “nova Europa” versus a “velha Europa”, lembram-se?
Kadhafi fez a
mesma ameaça (até tentou criar uma moeda única entre todos os países africanos
produtores de hidrocarbonetos, para comercializar os mesmos), e passou
imediatamente de bestial a besta. Também já cá não está para contar como foi…
Outros casos se
deram e o Irão está a aguardar a sua vez. Aparentemente foi necessário tratar
da Síria primeiro (e a realidade não tem nada a ver com o que é veiculado nas
televisões).
Ora não sendo
possível atacar a França e, sobretudo, a Alemanha – que, insiste-se, continua a
ser um país ocupado militarmente e com uma constituição imposta pelos
vencedores da IIGM – teve que se inventar um novo método.
No meio da ganancia dos principais agentes
financeiros mundiais, concentrados do outro lado do Atlântico (e também na
“city” de Londres – onde a Rainha só entra depois de pedir autorização ao
“mayor” da cidade), ligados em rede pelas bolsas, a mais importante das quais
fica na Wall Street (nome originado numa paliçada para proteger os primeiros colonos
dos ataques dos índios),eis que apareceram essas figuras enigmáticas chamadas
de “mercados”. Estes “mercados” movem-se, então, através dessas outras não
menos enigmáticas figuras, apelidadas de “agências de rating”, obviamente
americanas.
Primeiro, através
da inflação do crédito barato fizeram disparar as dívidas de governos e
indivíduos; apostaram na especulação; inventaram “produtos tóxicos” (fantasmas)
e geraram biliões em dinheiro virtual que não tinha qualquer correspondência
com a economia real.
Compraram
políticos, comentadores e peritos para fazerem acreditar que tudo estava indo
no bom caminho; desregularam o sistema financeiro internacional, sobretudo o
Ocidental, depois de terem destruído os mecanismos de regulação, incluindo o do
próprio governo americano. O sistema cretino- democrático da caça ao voto, fez
o resto.
Muitos países endividaram-se a um nível
impossível de poderem pagar as dívidas. Portugal foi um deles e não foi o pior.
A Alemanha
resistiu, aguentou a indústria e não deslocalizou empresas, mantém uma
agricultura muito desenvolvida, óptimos níveis de serviços e muitas mais –
valias tecnológicas. Gerou “superavit” e os seus bancos emprestam dinheiro (sem
embargo de estarem enredados na trama geral). Com cerca de 80 milhões de
habitantes conseguem ter um PIB idêntico à China com 1.3 biliões de pessoas…
Resumindo, os
países do euro estão a ser atacados um a um através dos seus elos mais fracos
(a Espanha vai rapidamente ficar pior do que nós, seguindo-se a Itália e a
Bélgica), mantendo o euro e a economia europeia numa instabilidade e derrapagem
permanente. Tal criou clivagens entre os 27, paralisou o processo de tomada de
decisão que passou de Bruxelas para Berlim e fez patinar a fuga para a frente
do “federalismo europeu”, em que a Sr.ª Merkel pretenderia orientar o caminho,
único que permitiria à Alemanha (que está longe de estar unificada) manter a
supremacia na União.
A Grã – Bretanha
já iniciou, até, a criação de um cordão sanitário – uma espécie de EFTA
actualizada – para lhe fazer gorar os planos.
O pseudo governo
instalado em Lisboa, se fosse português, percebesse alguma coisa do que se
passa e não estivesse minado por conivências várias, faria os impossíveis por
nos tirar deste atoleiro.
Convinha que o resto da população ajudasse.
João J.
Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
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