quarta-feira, 4 de agosto de 2010

M232 - RANGER Inverno do 2º Curso de 1972



RANGER António InvernoAlferes Miliciano de Operações Especiais2º Curso de 1972GUINÉ 1972/74
Com uma Kalashnikov AK-47 

Mais um RANGER apresenta notícias suas neste blogue, o António Inverno que foi Alferes Miliciano na Guiné, comandando e combatendo por Portugal, nas 1ª e 2º Companhia de Caçadores do Batalhão de Artilharia 6522 e no Pelotão de Caçadores Nativos 60, na região de S. Domingos, nos anos entre 1972 e 1974. 



Conta-nos ele:
O meu Serviço Militar iniciou-se em 4 de janeiro de 1972, tendo assentado praça na Escola Pratica de Cavalaria, em Santarém, onde completei a recruta.
Dado o bom desempenho ao longo da recruta, fui enviado para o C.I.O.E., em Lamego, mais concretamente para o quartel de Penude, em Abril desse mesmo ano, onde concluí com aproveitamento o 2º curso de Operações Especiais/RANGER de 1972. 
Era hábito naquela Unidade, nesse tempo, os primeiros classificados serem convidados a ficarem por lá a prestar instrução e monitoragem, pelo menos ao curso seguinte.
Como a minha classificação final foi alta, aceitei o convite do comandante de instrução e fiquei por lá mais 3 meses a ajudar a “massacrar” o pessoal do 3º curso de 1972. 

Em Outubro fui integrado no Batalhão de Artilharia 6522, que embarcou para a Guiné em 6 de Dezembro de 72.
Chegado á Bissau embarcamos numa LDG para Bolama, onde realizamos o I.A.O. e onde conheci pela 1ª vez o Marcelino da Mata, que, com o seu grupo de combate, nos presenteou com algumas demonstrações e nos intruiu com várias dicas sobre os modos como se devia andar no mato, bem como sobre os cuidados a ter em relação ao IN. 

Logo no 2º dia em Bolama travamos o 1º contacto com o IN. 

Eles sabiam que tinham chegado os piras e resolveram flagelar Bolama a partir da ilha de S. João, digamos que a darem-nos as “boas-vindas”. 

Acabado o I.A.O., o batalhão foi colocado em Ingoré e procedeu-se à distribuição das companhias, pelo Sedengal, S. Domingos, Susana e Ponta Varela. 

Em S. Domingos, como um pouco por todo o território continuaram os ataques do P.A.I.G.C., com canhões sem recuo, morteiros de 82 mm e foguetes de 122 mm. 

Obviamente era costume manter a tropa frequentemente no mato, para tentar evitar que o IN se aproximasse muito dos aquartelamentos, segurança às colunas de viaturas, colocação de minas nos locais mais suspeitos, etc. 

Seria escusado dizer que todas as acções passiveis de maior perigo sobraram sempre aqui para este RANGER e, por isso, passei a comandar simultaneamente o meu grupo de combate e o Pel Caç Nat 60, já referenciado em anteriores mensagens neste blogue. 

Assim acabei por percorrer várias áreas do batalhão com o Pel Caç Nat 60. 

Mais tarde apareceu para comamdar o Pel CAaç Nat 60, o Alferes João Uloma (dos comandos africanos), de quem fiquei amigo e com quem fiz algumas incursões, por vezes dentro do Senegal e foi aqui que teve início a história da “Kalash”, que me foi trazida por ele juntamente com 5 carregadores cheios,experimentei-a,gostei dela e adoptei-a,e que passei a usar, não por ter algo contra a G3, mas porque era mais “maneirinha” e me dava mais mobilidade, além de ser útil porque confundia o IN. 

Soube mais tarde que o Alferes Uloma foi fuzilado pelo PAIGC, como aliás tantos outros. 

Em Setembro de 1974, fui eu que executei a cerimónia do arriar da Bandeira Nacional e testemunhei o acto de içar a bandeira da Guiné-Bissau, antes de partir para o porto local, onde me esperava uma LDM que me levaria para Bissau. 

Jamais esquecerei a tristeza que vi estampada nos rostos dos Felupes do Pelotão de Caçadores Nativos 60, quando me vim embora. Pareceu-me que aqueles Homens já adivinhavam o que os esperava, principalmente a do 1º Cabo Agostinho que muitas vezes me dava conselhos sobre a arte de montar emboscadas nos supostos percursos por onde o IN movimentava o seu material de guerra, a partir do Senegal para dentro da Guiné e nos locais de cambança. 

Nunca me arrependi de ter aceitado as suas sugestões. 

Por ultimo quero só dizer que jamais esquecerei a Guiné por todos os motivos já conhecidos e sentidos por todos nós e um, em especial, que não posso deixar de referenciar, que era o cheiro/odor da mata e da bolanha às 07h00 da manhã, que me entrou no sangue e perdurará para sempre.


Toca a gramar um dos diversos oficiais-de-dia
á companhia em S. Domingos na Guiné
Um abraço,
António Inverno
Alf Mil OpEsp/RANGER do BART 6522 e Pel Caç Nat 60

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