Porque não morri?! O último grande combate. 6º e último Capítulo. Um conto de Victor Cerqueira
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NOTA: Os autores deste excelente e histórico conto "Porque não morri?! O último grande combate", Victor Cerqueira, oferecem a quem o quiser ler, gratuitamente com uma úncia e facultativa condição, que a seguir reproduzimos.
A narração divide-se em 6 capítulos, que vamos publicar durante esta e a próxima semana, e nesta mensagem apresentamos o 2º Capítulo.
Diz o autor - Vitor Cerqueira:
"... tenho uma proposta a fazer-lhe: se considera que valeu a pena ler e que pode interessar a outros divulgue o conto pela mesma via que o recebeu, ou outra, se não gostou, deite fora.
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Aos autores apresentamos aqui o nosso abraço.
O ÚLTIMO GRANDE COMBATE
TCHAZICA | MOÇAMBIQUE
1974
VICTOR CERQUEIRA
6º CAPÍTULO
A traição
A manhã
daquele dia 15 estava fresca, iria aquecer conforme fosse avançando o dia…
O Lopes
foi tomar o mata-bicho, o Marco levou-lhe o café e umas torradas. Ele adorava
torradas.
Percebeu
que seria o encontro.
Perguntou
pelo Comandante.
- O
comandante onde está?
- Está
ali senhor chefe, respondeu o Régulo, ele está ali naqueles casa e quer fazer
banja com o senhor meu chefe.
- Mas
porquê ali, porque não nos encontramos aqui?
- Ah meu
chefe, é porque aqui é casa sua, ali não é de ninguém.
O sítio
indicado era a cerca de trinta metros do destacamento, só os separava uma vala
e era perfeitamente visível dali. Naquele momento estava a chegar o Jony Memba
e o séquito, bastante diga-se de passagem, vestidos a rigor e a avançar com um
“ar” muito decidido.
Chegara o
momento…
Olhou à
sua volta. Os seus homens, discretamente, iam-se colocando nos seus postos de
segurança.
Em
frente, avançando em direcção ao destacamento um grupo de “Frelimos” – para aí uns
dez – e junto do Jony estariam pelo menos uns 20 à vista…
Era gente
a mais…!
O seu
coração saltava, a cabeça pensava a cem à hora, tinha de tomar decisões
rápidas.
Foi-se
vestir, com o seu velho camuflado de combate. Começou a acalmar, era sempre
assim quando chegava o momento de avançar, a cabeça começava a ficar
concentrada, diria mais, super-concentrada Lopes da Gama passava a ser… só
cérebro uma autentica máquina de guerra!
Colocou o
galão. Ia de camuflado de combate, mas de boina e galão!
Entretanto
o Marco Chagas já se tinha ido vestir, e quando o viu assim fardado também foi
colocar as suas divisas de cabo e a boina.
Entraram
no “pincher”, ele e o Marco, desarmados, sem palavras um para o outro, com
frieza e uma determinação terrível!
Seria o
que fosse…!
Entretanto
reparou que vinham cerca de vinte “Frelimos” em linha, para uma das laterais.
Assim,
rapidamente na sua cabeça as contas eram de 10 + 20 + 20 = 50, gente a mais
para uma visita… e estavam ainda mais uns 10 dentro do destacamento. Estávamos
praticamente cercados!
Mau!
Foi o
erro fundamental dos turras. O mesmo pensaram os seus homens quando viram
aquela linha aparecer e ostensivamente foram todos eles buscar as suas armas.
- Isto
não é visita não é nada… isto não é visita… porra, porra… diziam eles.
Entretanto
o alferes e o cabo chegavam ao local. Estava armado o circo…! Na clareira
estavam duas cadeiras, que depois foram aumentadas para três - uma para o Marco
– os vinte homens em círculo, impecavelmente fardados, miúdos, quase todos
eles.
- Bom dia
caro Comandante parece que trouxe a tropa toda, disse o Alferes enquanto
estendia e apertava a mão ao comandante.
Sorriu…
- Bom dia
meu alferes, ainda tem os rolos das fotografias que tiramos?
- Não já
as mandei revelar, estou ansioso de as ver, retratam um momento histórico o
primeiro encontro da Frelimo com militares Portugueses em Tete/Manica e Sofala.
Era
mentira, ainda tinha os rolos, mas não os daria por nada deste mundo.
Mas não
tem mesmo? Gostaria de ser eu a mandar revelar.
Você?
Onde?
- Temos
os nossos meios de fazer chegar os rolos.
Estás bem
tramado, Jony Memba, nunca mais verás as fotografias, pensou o Lopes…
Estava-se
neste diálogo, quando chega o grupo do Joaquim – que tinha estabelecido os
primeiros contactos – com um grande sorriso de satisfação e um aceno alegre
para o Alferes Lopes da Gama.
O Jony
Memba levantou-se de um salto e vai falar com ele, diz-lhe qualquer coisa e
este avança para o destacamento.
Quando o
comandante regressa ao local onde estávamos faz um sinal e logo dois homens
agarram o Alferes por traz e o amarram enquanto um guerrilheiro, um puto,
saltava à sua volta aos gritos.
- Queres
morrer…? Queres morrer…? Queres morrer…?
E o Lopes
da Gama resistia, saltando e gritando insultos e rodando o corpo, enquanto eles
lhe pegavam nos braços e tentavam levá-lo em peso.
- Filho
da puta…! Traidor de merda! Não me levas vivo… larga-me imediatamente cabrão!
O covarde
do Jony Memba avançava para o interior do aldeamento em passo de corrida.
Entretanto
no destacamento o seu soldado condutor Inácio vê o que se estava a passar e
grita…
- O
Alferes está amarrado, o Alferes está amarrado!
E começa
o fogachal…
Mal os
soldados dispararam os primeiros tiros, os dois “heróis” que o agarravam
largam-no e fogem e ele atira-se para o chão.
Cai o
dilagrama… o Lopes ouve os estilhaços voar ao seu lado, os tiros na sua direcção
continuam, tiro a tiro, bala a bala, - os seus soldados certificavam-se assim
da sua segurança – e ele continua no chão fazendo-se de morto, enquanto sentia
os passos dos turras a correr em disparada.
O
tiroteio era intenso, corpo a corpo e de todo o lado.
Mas, para
a sua zona, só tiro a tiro, localizado, de forma a não o ferir e não deixar
ninguém aproximar-se dele.
O Lopes
da Gama já não suportava aquela imobilidade, tinha de ir em auxílio dos seus
homens, já há algum tempo que não sentia ninguém a passar e levanta a cabeça.
Dá de
caras com um turra que ia a correr e naquele exacto momento se virava para
disparar.
Os olhos
cruzam-se… ele faz uma espécie de sorriso, o Alferes encolhe-se em posição
fetal, é agora!… pensa.
O turra
dispara uma rajada, os projécteis silvam e batem no chão junto da cabeça e do
corpo do Lopes, ele sente um ardor terrível na cabeça…
Tinha
sido atingido…!
Encolheu-se
mais, sentia o cheiro a queimado, mas mexia-se… esperou um pouco e levantou-se.
Correu
para dentro da primeira palhota a poucos metros e tentou desamarrar-se - não
conseguiu!
Estava
possesso de raiva e angústia, os tiros já eram esporádicos. Voltou a correr,
atravessou uma rua e atirou-se para dentro de outra palhota.
Nessa
palhota rolou e puxou os punhos que sangravam, mas ele não sentia nada para
além do ódio e angústia.
Tinha de
se libertar para ir ter com os seus homens. Rolou novamente, puxou as cordas
com os dedos e conseguiu soltar-se!
Estava
livre!
Avança
para o destacamento, primeiro a correr depois a andar.
Alguns
dos seus homens avistam-no e gritam!
- O nosso
Alferes está vivo…! O alferes está vivo…! E correm a abraçá-lo.
Alguns
choram convulsivamente, com muita raiva à mistura, outros só encostam a cabeça
ao peito e na cabeça do Lopes, como crianças, e apertam-no.
As
lágrimas também corriam do rosto chamuscado e cheio de pó do Lopes, deixando
sulcos na face.
O disparo
do turra tinha-lhe queimado ligeiramente o couro cabeludo, o sangue já estava
seco, os pulsos é que sangravam mas nada de especial.
O
espectáculo que o Alferes via era dantesco. Mortos e ferido de ambos os lados
dentro do destacamento, em alguns casos quase lado a lado.
Deu um
berro para o rádio:
- Pede
apoio aéreo!
- Já
pediu, meu Alferes.
-
Evacuação zero horas, com puma!
- Sim
senhor.
Entretanto
alguém lhe tinha posto a sua G3 na mão, começou a correr, desceu o pequeno
declive, só pensava no Marco Chagas.
- Meu
Deus, o Marco, meu Deus… dizia para dentro de si.
Correu
para a zona onde se tinha dado a traição, lá estava o Marco, deitado de bruços,
um braço encolhido por baixo o corpo.
Morto!
- Oh
Marco, meu Marco, perdoa-me… gritava o Alferes Lopes da Gama debruçado sobre ele
e deitando o corpo do Cabo no seu colo.
Alguns
dos soldados que o tinham acompanhado na corrida afastaram-no do cadáver.
- Ele já
não ouve, já não está cá, já foi embora…
Pegaram
no corpo e transportaram-no para o destacamento.
O Lopes
acompanhou-os enquanto tentava recuperar. Parou para fazer uma avaliação, era
uma coisa nunca vista, devia ser assim nas guerras clássicas, mortos das forças
em conflito perto uns dos outros, era disparar para a frente e para trás, num
corpo a corpo mortal.
Pelo
caminho tinha visto o Joaquim, morto, com um ar de completo espanto.
Tinha
morrido sem saber nada, até nisso o “camarada” Jony Memba (Machesse), era um
mau comandante - só os seus interesses e a sua segurança é que contavam.
Já o
enfermeiro lhe tinha dito, três mortos e cinco feridos. Dos feridos só um é que
lhe parecia grave. Tinha três tiros numa perna.
Foi para
junto deles, estavam a ser tratados. O dos tiros na perna volta que não volta
perdia a consciência e o Alferes agarrava-lhe as mãos. Numa das vezes que veio
a si disse:
- É só
pele, o sangue é igual, a gente sofre da mesma maneira… dizia apertando a mão ao
Alferes.
Havia
lágrimas, mas não gritos, era um sofrimento para dentro, sem queixumes ou
acusações, mas com muito ódio e um grande desejo de vingança.
Entretanto
tinham chegado os FIATs. Começaram a bombardear forte e feio a periferia… ”não queria
estar no lugar dos turras…” pensavam todos.
Devia ter
sido batido o recorde de prontidão da FAP (Força Aérea portuguesa), tal a
rapidez de resposta.
A
solidariedade na tropa não era de facto palavra vã!
Os hélios
estariam a chegar para a evacuação, naquele momento era só o que lhe importava.
O Lopes não deixava os feridos, embora precisasse de ir ao rádio para sossegar
todos – deviam estar a pensar o pior – mas só depois…!
- Meus
Alferes vêm aí os hélios, e vem o héli-canhão!
E vinha.
Os disparos não se fizeram esperar. Catchapum, catchapum, catchapum…
O puma
começou a baixar, as portas estavam já abertas, o pessoal que vinha dentro
estava parvo com o espectáculo e estavam mais pálidos do que o alferes. Nem
sabiam por onde começar!
Os GEPs
não perderam tempo, em poucos minutos estavam todos dentro do puma. Os vivos e
os mortos.
Três
mortos e cinco feridos. Mais tarde para desespero do Lopes da Gama o ferido da
perna, Moisés, viria a morrer com uma embolia pós-operatória. Da Frelimo três
mortos.
Feridos,
nenhum à vista! Mas teria havido muitos, pelos rastos de sangue que se viam um
pouco por todo o lado!
Quatro
GEPs mortos tinha custado aquela aventura.
E agora?
O rádio
estava silenciado desde os primeiros tiros. Alguns guerrilheiros tinham metido
as armas pelos buracos da palhota e dispararam a esmo. Só por acaso o homem do
rádio tinha saído incólume e este não tinha ficado inoperacional Depois
envolveu-se no combate e, acabado este,
nas
acções de evacuação. Toda a rede estaria naquele momento em suspenso…
Foi para
o rádio.
- Águia,
leão zero.
Sentiu um
“suspiro de alívio” na rede, mas o silêncio era a de um cemitério…
- Leão
zero águia, estás bem?
-
Tínhamos a informação que estavas ferido ou pior que tinhas sido morto ou
capturado.
Foi muito
mau isso?! Filho da puta, não se pode confiar nesses tipos.
- O que
correu mal?
- Tudo!
Tentaram um golpe de mão. Numa guerra de bate e foge tive um final de guerra
corpo a corpo. Tenho três mortos e cinco feridos. Não conseguiram levar
ninguém; eu levei uma rajada mas só me queimou ligeiramente o couro cabeludo e
tenho umas feridas nos pulsos.
- Nos
pulsos?
- Sim
amarraram-me e tentaram levar-me em braços, mas mal os meus homens começaram a reagir,
fodiaste, largaram-me logo!
- Tens de
fazer o relatório pormenorizado de tudo.
A “velha
veia” militarista burocrática dos papéis vem sempre ao de cima.
- Claro,
entretanto vou fazer a perseguição com uma equipa. Estou cheio de ódio, de
raiva, de pena de mim mesmo. Isto é um cocktail de sentimentos que nem sei se
choro, se rio da minha burrice, ou simplesmente dou um tiro na cabeça!
- Vais
nada ouviste!? Vai chegar reforços aí do 009 de Tete. Está quietinho e
acalma-te.
Precisas
de alguma coisa?
- Neste
momento só de vingança, não sei se alguém perceberá o que sinto!
- Tem
calma tem calma. Amanhã falamos.
- Águia
quando chegarem os reforços saio para o mato, aí não há volta a dar!
- Ok Leão
terminado.
Pouco
depois chegou um subgrupo do 009 comandado pelo Alferes, comandante do grupo.
Mal saiu
do hélio veio a correr dar um abraço ao Lopes da Gama. E como ele precisava
daquele abraço, forte e silencioso.
Naquele
momento não queria palavras. Queria acção!
Embora se
fizesse noite saiu com alguns homens para o mato, seguindo as pistas bem
patentes, dos turras.
Partiu na
direcção que o camarada Machesse tinha tomado na sua fuga. Olhos no chão,
atentos a todas as pistas, os seus homens, os mais especialistas em pistas,
abriram uma linha ao lado, para evitar emboscadas. Todos com grande atenção aos
sinais que eram muitos ali dentro do aldeamento.
Rapidamente
afastaram-se em direcção ao rio…
Foi fácil
seguir algumas pistas pelos rastos de sangue, esporadicamente no destacamento
ouviam tiros e explosões ao longe, depois deixaram de se ouvir, Lopes da Gama e
os seus homens, quase corriam, andavam de dia e de noite, conseguiram um guia
turra que tinham apanhado ferido num ombro que depois de explorado os
encaminhava para a base do Machesse, a alcunha do militar estava viva bem viva,
Alferes base, nada o impediria de descobrir e atacar a base.
Teve
sorte, a atenção às pistas e a necessária fuga aos trilhos foi tão grande que
quando deram por ela estavam a entrar pela base a dentro ao meio dia do segundo
dia, em linha e aos tiros.
Avistou o
Régulo na base, não ficou nada surpreendido, mais uma vez a sua “pulga atrás da
orelha” estava certa. O traidor que foi apanhado à mão em voo quando tentava
fugir por um dos homens do Lopes, levou um murro que o atirou contra outro
soldado que lhe deu um monumental pontapé, pôs-se de joelhos com medo e o
espanto espelhado no rosto quando olhava para aquele miúdo que estava vivo mas
velho, bem mais cocuana que ele próprio…
Gritava!
- Meu
alferes desculpa por favor, não queria isto, mas não queria mesmo, foi obrigado
pela Frelimo…
- Foste
uma merda, se não querias, se não foste cúmplice porque fugiste? Porque não me avisaste?
Porque estás aqui?
E ele
gritava e chorava com a G3 encostada à testa.
E o Lopes
disparou!
Do
comandante Machesse nada, tinha escapado.
Esteve fora
mais de três dias, sem rádio, num silêncio total e em silêncio voltou.
Quando a
andar mais lentamente voltava para o destacamento, parou num morro e formou um
círculo com os homens que o acompanhavam, olharam-se entre eles, olhos nos
olhos, não falaram, olharam-se bem e depois olharam para o céu e para o
horizonte.
Há
distância já cheirava a cadáveres putrefactos. E estando o céu cheio de
abutres, aquelas aves execráveis que juntamente com as hienas limpavam o mato,
outros estariam em decomposição espalhados pela floresta. Durante a noite bem
tinham ouvido as hienas a “rir”…
Um cheiro
a morte insuportável tinha aquele aldeamento e aquele destacamento.
As hienas
tinham desenterrado os turras e eles estavam todos esventrados e em
decomposição total.
O Lopes
não conseguiu deixar de pensar que tudo aquilo cheirava como ele se sentia.
Morto,
enterrado e…podre.
Ninguém
fez perguntas. Nos GEPs não há comentários não há…
Mandou
reunir a população do aldeamento.
Levou
consigo as armas dos turras mortos no destacamento e os dos outros. Não estava
muita população, mais mulheres e crianças e tinham um ar entre assustados e
envergonhados.
Perguntou
como era? Estava vivo para surpresa deles e queria saber o que pensavam e
porque tinham alinhado com o Régulo.
Um dos
velhos respondeu.
- O meu
alferes não teve culpa, nós estar contente com o chefe estar vivo e ter armas
deles; não foi bom a Frelimo, não era assim que agente queria; mas cabeças
deles é que sabe, quem paga somos nós com mais sofrimento… Mas o meu chefe tem
todo os razão de estar zangado.
Não podia
haver mais os guerra.
Lopes da
Gama tinha consciência que o facto de estar vivo e ter ido desarmado para o
encontro, mais o facto de usar barba e a luta que tinha havido, queria dizer
para aquelas almas que o seu “espírito” era muito forte. Incrível!
Não era
por acaso que quem falava era o feiticeiro mais velho do aldeamento…
E agora
perguntou-se:
- Agora
vão enterrar os mortos da Frelimo bem enterrados com bastantes pedras.
- Sim
senhor pode deixar.
Estavam
mansos que nem cordeiros. A família do Régulo não abriu a boca e não olhava de frente
para o Lopes.
Estavam
assustados.
E não era
para menos, a frieza e dureza na expressão daquele jovem, que naquele momento parecia
ter envelhecido uns anos, era de facto de assustar qualquer um.
Alguns
dias depois veio a ordem de regresso ao CIGE, o 006 iria ser substituído no
Massangano e em Tchazica.
Ele iria
fazer todos os preparativos para a rendição com todo o cuidado, não fosse o
diabo tecê-las e o Machesse ainda tivesse forças para tentar uma emboscada. O
Lopes iria mandar um subgrupo a pé para emboscar algumas zonas do percurso
entre o Massangano e o Tchazica de forma a proteger o grupo que vinha e depois
iria recuperando os seus homens ao longo do caminho.
Mas o
grande e secreto desejo do Lopes é que a emboscada sucedesse e que fosse
comandada pelo Machesse para ele o apanhar.
No Guro,
o Alferes Lopes da Gama iria fazer um relatório circunstanciado dos
acontecimentos e uma leitura da estratégia política da Frelimo que na sua
opinião estava a tentar algo de sensacional de forma a pressionar Lisboa nas
negociações que decorriam em Lusaca (imaginem o que seria aparecer um oficial
GEP amarrado em Lusaca) e que por isso todas as forças militares deviam estar
bem alerta.
Pouco mais
de quinze dias depois, para vergonha dos militares portugueses, aconteceu Omar!
O aviso
cairia em saco roto…
Entretanto
depois da banja, o Lopes que não tomava banho para aí há cinco dias e mal se
tinha alimentado, foi para o rio tomar banho. Levou a G3, a toalha, o sabão
“macaco”, deu uma série de tiros para o rio. E mergulhou.
Sentia-se
sujo com um cheiro pestilento que parecia sair dele próprio esfregou-se
ensaboou-se vigorosamente várias vezes e mergulhava no rio, mas nem o cheiro
saía nem ele se sentia limpo.
Parou e
olhou para a berma do rio, uma série de soldados mantinham a sua segurança e,
de vez em quando, lá davam mais uns tiros para a água à sua volta para
afugentar os crocodilos, outros dos seus companheiros despiam-se, para também
eles virem tomar banho. O Alferes comoveu-se depois de tudo aquilo que ele
tinha causado e do que tinham passado, estavam preocupados com ele e com a sua
segurança… estava a ficar uma merda de um sentimentalão.
Mas
talvez por isso mesmo o pensamento insidioso que o perseguia dia e noite desde
a morte do Marco Chagas, veio mais forte do que nunca do interior das suas
entranhas e martelava na sua cabeça e na sua alma…
PORQUE
NÃO MORRI?!
Pequeno
glossário:
Banja –
Reunião alargada
Pincher
– Pequeno veículo de transporte todo o terreno Mercedes Benz do tipo
Unimogue
mas bem mais pequeno e instável por ter rodas muito altas e ser estreito.
Pacassa
– “Alcunha” da chamada tropa normal.
Milando
– Chatices e confusões entre as pessoas (na dialecto Ronga).
Puto –
Como os negros chamavam a Portugal.
Muana –
Miúdo em dialecto Sena Como Mufana em dialecto Ronga.
Cocuana
– Velho. No dialecto
Se
acabou de ler este conto, tenho uma proposta a fazer-lhe: se considera que
valeu a pena ler e que pode interessar a outros divulgue o conto pela mesma via
que o recebeu, ou outra, se não gostou, deite fora.
Participe
na experiência da possibilidade dos autores se”livrarem” das editoras.
Pague
pela leitura deste conto entre ZERO e cinco páginas caso tenha, ou não,
gostado.
E
possa!
Transfira
para a conta da Caixa Geral de Depósitos 0120 009848600
Ou NIB – 003501200000984860084
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