Texto da palestra proferida
no âmbito do 50º Aniversário da criação das Tropas Comando, no IDN, pelo Sr.
TCorPilAv João José Brandão Ferreira, no passado dia 26 de Junho.
50º
ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO DAS TROPAS “COMANDO”
ENQUADRAMENTO
POLÍTICO-ESTRATÉGICO
DAS
CAMPANHAS ULTRAMARINAS
1954-1974
O
MUNDO APÓS A II GUERRA MUNDIAL
“Não
deixeis que ninguém toque no território nacional.
Conservar intactos na posse da
nação os territórios de além-mar é o vosso principal dever. Não ceder, vender
ou trocar ou por qualquer forma alienar a menor parcela de território, tem de
ser sempre o vosso mandamento fundamental. Se alguém passar ao vosso lado e vos
segredar palavras de desânimo, procurando convencer-vos de que não podemos manter
tão grande império, expulsai-o do convívio da Nação”
Norton
de Matos
“Exortação
aos novos de Portugal”, 1953
No
fim da guerra, Portugal era um país mais coeso e próspero do que no início da
mesma e não perdera nada de seu. Apenas Timor tinha sido invadido e ocupado,
primeiro por holandeses e australianos e, depois, por japoneses.
Virtuosismo
diplomático e firme determinação do governo português, de então, fê-lo retornar
à nossa soberania plena, em 29 de Setembro de 1945, quando uma força militar
portuguesa ali desembarcou, ida de Moçambique.
Terminada
a guerra era preciso reorganizar o mundo. Nesse sentido foi assinada, em Julho
de 1945, a “Carta” que criou a Organização das Nações Unidas, durante a
Conferência de S. Francisco.
No
fim da guerra emergiram duas super potências: os EUA e a URSS.
Com
a Europa em ruínas e os exércitos desmobilizados a Oeste, veio o mundo ocidental
a ser confrontado com a ameaça ideológica e imperialista da URSS e dos seus
satélites. De facto este país, que tinha feito uma aliança contra - natura, primeiro
com a Alemanha nazi e, depois, com as democracias ocidentais, manteve os seus
exércitos, recusando-se a sair de todos os territórios que tinha ocupado na sua
ofensiva sobre Berlim, ao mesmo tempo que manobrava para colocar regimes comunistas
em todos os países de Leste.
A
guerra civil na Grécia, entretanto deflagrada, foi desfavorável ao PC grego e os
Aliados negociaram com os Soviéticos um acordo, ainda hoje algo obscuro, que levou
a que todos abandonassem a Áustria em troca da sua neutralidade futura.
Deste
modo foi criada a NATO, em 1949, para fazer face à nova ameaça militar, e
deu-se início ao plano Marshall para ajudar a recompor a vida económica e social
na Europa, que estava fora do jugo soviético.
Do
outro lado desenvolveu-se o Pacto de Varsóvia, em 1955 e o COMECON.
A
situação política militar entrou num impasse, com os diferentes exércitos alinhados
frente a frente pois, entretanto, tinha surgido a arma atómica cujo efeito destruidor
era de tal forma poderoso que, há partida, garantia a destruição mútua dos
contentores. Entrou-se, deste modo, numa espécie de equilíbrio do terror.
Para
obviar a este impasse desenvolveram-se diferentes estratégias indirectas
de fazer a guerra, a mais importante das quais foi a capacidade de influenciar
países terceiros.
Para
tal tornava-se necessário obrigar à retirada política dos países europeus,
ditos colonialistas, de todos os territórios que tutelavam fora da Europa.
Tal
desiderato foi facilitado por três grandes ordens de razões: primeiro porque as derrotas
ocidentais no Oriente tinham quebrado o mito da invencibilidade do homem
branco; depois porque quase todas as potências ocidentais fizeram promessas
aos povos indígenas de autonomia progressiva, se estes os ajudassem contra
as potências do Eixo; finalmente e mais importante, porque a saída dos europeus
de África e da Ásia interessava, por razões diferentes mas confluentes no propósito,
à URSS e aos EUA.
Na
América Central e Sul o conflito entre as duas super potências prolongou-se
através da política da canhoneira e protecção a ditaduras que defendiam os interesses
capitalistas dos EUA, e à criação de movimentos subversivos por parte da URSS.
Cuba é, ainda hoje, o expoente vivo deste confronto.
Estas
posições vieram a confluir no movimento anti - colonialista e terceiro-mundista
que teve o seu ponto alto na conferência de Bandung, em 1955, onde pontificaram
três líderes mundiais da causa: Nasser, Tito e Sukarno.
Começaram,
assim, a surgir um pouco por todo o lado movimentos emancipalistas,
normalmente liderados por naturais dos diferentes territórios, formados
na respectiva Metrópole. A esmagadora maioria deles era de inspiração marxista
com pendor, estalinista, trotskista ou maoísta. A luta no terreno passou, também
e progressivamente, para a ONU.
Portugal,
que não tinha em rigor, nada a ver com tudo isto, foi apanhado na tormenta
e sofreu-lhe as consequências.
Primeiro
no sub - continente indiano, onde após a sua independência da Inglaterra,
a União Indiana - sem qualquer razão da sua parte - começou a reivindicar
a posse dos nossos territórios de Goa, Damão e Diu; depois, quando entrámos
para a ONU, em 1955, e nos foi perguntado se, ao abrigo do artigo 73 da Carta,
tínhamos a declarar algum território não autónomo sob a nossa administração.
A
resposta negativa e pronta de Portugal desencadeou uma tempestade política
e diplomática dentro daquela organização, que pretende ser a fonte principal
do Direito Internacional, e que nunca mais parou até ao 25/4/1974.
O
Ataque
“Parta
V. Exª descansado que eu não deixarei ficar mal a bandeira portuguesa!”.
Aniceto
do Rosário (Para
o governador do Estado da Índia, antes da ocupação dos enclaves de Dadrá e
Nagar-Aveli, pela União Indiana, em 20 de Julho de 1954)
Como
se sabe Portugal foi atacado, militarmente em quatro locais diferentes, se
deixarmos de fora a ridícula e mesquinha ocupação pelo Daomé, da nossa fortaleza
de S. João Baptista de Ajudá, em 1 de Agosto de 1961, porque - segundo eles
- “constituía um perigo para a paz mundial”… Resta dizer que a Fortaleza estava ocupada
por dois funcionários, a mulher e a filha de um deles e um serviçal, os quais se
portaram com grande dignidade.
Estamos
a falar do Estado da Índia e de Angola, Guiné e Moçambique.
Há
aqui, todavia, que estabelecer uma diferença entre o que se passou no primeiro
e nos outros três territórios; de facto a agressão a Goa, Damão e Diu configurou
um conflito clássico enquanto os restantes três foram objecto de uma acção
subversiva que degenerou em guerrilha.
Assim,
no caso primeiro foi a União Indiana como estado soberano que se assumiu
como agressor - com o apoio da URSS e da maioria dos países terceiro-mundistas
(mas não da China); enquanto, nos restantes casos foram criados vários movimentos
independentistas que tinham as suas principais bases de apoio nos territórios
limítrofes aos nossos e uma vasta ajuda do bloco soviético ou por eles influenciados,
China, países da OUA e, até, o apoio moral e financeiro de alguns países
do bloco ocidental que se diziam aliados de Portugal.
O
ataque da União Indiana a Portugal pode ser dividido em quatro fases: a primeira
fase teve início em 1947 e durou até ao ataque ao enclave de Dadrá e Nagar-Aveli,
em 1954. Foi a fase de persuasão e pressão política para negociar a entrega;
a ocupação dos enclaves marcou o fim da via pacífica.
A
segunda fase diz respeito à reacção indiana às tentativas de recuperação dos
enclaves por parte de Portugal. A estas diligências Nova Deli respondeu com violações
de fronteira, subversão interna, propaganda, guerra de nervos, agitação internacional,
bloqueio, perseguições às comunidades goesas na União Indiana, etc.
A
terceira fase foi a do debate internacional que se prolongou de 1955 a 1960 e
que culminou com a sentença do Tribunal Internacional da Haia, favorável ao nosso
País.
Pode
dizer-se que Portugal conseguiu ultrapassar e vencer todas estas fases.
Quando
o governo indiano se deu conta que Lisboa não cedia e vendo frustradas todas
as suas maquinações, urdidas durante 14 anos, resolveu deitar mão ao método
que lhe restava: a invasão militar para a qual nem sequer tiveram a decência de
nos declarar guerra. Tal aconteceu na noite de 17 para 18 de Dezembro de 1961, utilizando
45.000 homens (mais 25.000 de reserva), várias esquadrilhas de aviões de
combate e a esquadra que incluía um porta-aviões.
As
forças portuguesas com cerca de 3.500 homens, mal equipados, armados e municiados
(e também mal estruturados), sem aviação e apenas com um navio de combate
com 30 anos de serviço, renderam-se em menos de 24 horas, depois de algumas
acções heróicas isoladas.
Angola
“O
inimigo atira pela porta da capela paroquial. Salvem-nos. Morremos portugueses.”
Apelo
pela rádio dos heróicos defensores de Mucaba antes de serem salvos pela
acção da Força Aérea, 30 de Abril de 1961
Angola
possuía uma dimensão enorme com 1.264.314 Km2 (14,5 vezes a Metrópole),
com 4837 km de fronteira terrestre e 1650 de orla marítima. Luanda estava
a 7300 km de Lisboa e para se atingir Lourenço Marques era preciso percorrer
mais 3000 km.
A
maioria da fronteira terrestre era permeável à guerrilha que se movimentava
livremente no Congo, no Zaire e na Zâmbia. Só as fronteiras da Rodésia
e da República da África do Sul eram seguras para nós.
Angola
era escassamente povoada, apenas com 4.800.000 habitantes (cerca de
4/Km2), dos quais 95,5% eram negros, 3,5% brancos e 1,1% de mestiços.
Existiam
94 etnias diferentes, contando nove grupos étnico - linguísticos.
No
fim do conflito o número de combatentes portugueses contabilizava cerca de
70.000 homens e o inimigo cerca de 11.000.
Eram
dois os principais partidos clandestinos que actuavam em Angola; a União
dos povos de Angola (UPA), mais tarde denominada Frente Nacional de Libertação
de Angola (FNLA) - que chegou a formar o GRAE, governo provisório da
República
de Angola no exílio; e o Movimento Popular de Libertação de Angola.
Outros
movimentos menores vieram a desaparecer ou a integrar o MPLA ou a
FNLA.
Finalmente
surgiu, em 1966 e apenas no Leste de Angola, a União Nacional para
a Independência Total de Angola (UNITA), que era dissidente da FNLA.
A
FNLA foi fundada, em 1958, em Acra (Ghana), era chefiada por Holden Roberto,
não era marxista e era apoiada pelo Zaire; o MPLA, fundado em 1960, era chefiado,
desde 1962, por Agostinho Neto, de linha marxista soviética e apoiado pelo Congo
Brazaville e, mais tarde (1965), pela Zâmbia; a UNITA, chefiada por Jonas Savimbi,
foi criada no interior de Angola (Moxico), em 1966, apoiava-se no Congo Kinshasa
e era de ideologia algo indefinida.
Todos
os três movimentos lutaram entre si, pela via das armas e diplomaticamente,
para conseguirem o reconhecimento internacional, nomeadamente
no seio da OUA. Esta rivalidade foi sempre muito favorável a Portugal.
O
ataque a Angola teve início com o genocídio efectuado pela UPA a partir de 15
de Março de 1961, e tinha sido antecedido pelos graves incidentes da Baixa do Cassange,
em 11 de Janeiro de 1960, que foram duramente reprimidos pelas autoridades
portuguesas; e pelo ataque à cadeia de S. Paulo, à Esquadra da PSP e à Casa
de Reclusão em Luanda, em 4 de Fevereiro de 1961.
Guiné
“Não
Senhor, tudo isto foi feito pelos portugueses; nós não fizemos nada, nós só estragámos”
Cor.
Celestino de Carvalho CEMFA
da República da Guiné-Bissau – 1996
A
Guiné com 36.125 km2 (sensivelmente o tamanho do Alentejo), dos quais apenas 28.000
km2 estavam acima do nível do mar (os restantes eram submersos diariamente
pelas marés). A Guiné tinha 680 km de fronteira terrestre com a República
do Senegal e da Guiné-Conakri, onde o PAIGC tinha os seus “santuários”.
Era
à data do início da subversão, um território pobre, com um clima insalubre, com cerca
de 550.000 habitantes divididos por 17 etnias principais, das quais metade islamizados
e metade animistas. Existiam cerca de 3.000 brancos e 5.000 mestiços.
A maioria da administração pública era ocupada por cabo-verdianos com escolaridade
elevada. A economia do território era incipiente e baseava-se no sector primário.
Bissau
encontrava-se a 3.400 km de Lisboa e a 4.000 km de Luanda.
Os
movimentos subversivos na Guiné datam de 1952, ano em que foi criado o Movimento
para a Independência da Guiné, por Amílcar Cabral.
Este
movimento transformou-se, em 1956, no PAIGC dirigido por Rafael Barbosa
e o mesmo Amílcar Cabral. Outros movimentos surgiram, mas não singraram
à excepção da FLING, a Frente de Luta para a Libertação da Guiné, dirigida
por Mário Jonas Fernandes. A partir de 1964 só estes dois movimentos subsistiam,
mas a FLING veio a perder importância face ao crescimento do PAIGC, fortemente
apoiado por Sekou Touré, Presidente da Guiné - Conakri, por Cuba e pela URSS.
A
3 de Agosto de 1959, houve incidentes no cais do Pigiguiti, em Bissau, causados
por greves de que resultaram alguns mortos. Este caso é considerado como
o antecedente próximo do início da guerrilha. O PAIGC não cometeu os mesmos
erros que a UPA em Angola. Preparou melhor os seus quadros; treinou e armou
os seus homens e doutrinou melhor algumas populações antes de iniciar a luta
armada. Esta, porém, já não apanhou as autoridades portuguesas desprevenidas.
No
fim do conflito as tropas portuguesas somavam cerca de 32.000 homens e o
PAIGC rondava os 5000 combatentes (mais uns 1500 milícias).
A
insurreição armada teve lugar a 23 de Janeiro de 1963, com o ataque ao quartel
de Tite a que se seguiram acções militares na zona do Xime e na península de
Cacine. Daqui o PAIGC derivou para Nordeste para a região do Boé.
Em
fins de 1963 já se encontravam na Guiné cerca de 16.000 homens idos da Metrópole,
que desenvolveram, ainda nesse ano, a grande operação Tridente na Ilha de
Como.
Moçambique
“Foram-se
mais de três partes do Império de Além-Mar e Deus sabe que dolorosas surpresas
nos reserva o futuro…”
Mouzinho
de Albuquerque (in
carta ao Príncipe D. Luís Filipe de Bragança)
Moçambique
era um território cerca de oito vezes maior que a Metrópole, com
784.961 km2, tinha uma fronteira terrestre de 4.330 km e 2.000 km de costa.
Contava
com 6.600.000 habitantes (8h/km2) sendo 97% negros (com 86 etnias e dez
grupos étnico - linguísticos).
Dos
países fronteiros só a Zâmbia e a Tanzânia eram hostis a Portugal, mas o Malawi
não conseguia impedir o trânsito da guerrilha pelo seu território.
De
Lisboa à Beira (onde estava localizado o principal aeroporto da Província) era
necessário percorrer 10.300 km.
O
número de combatentes, no fim da guerra contabilizava cerca de 57.000 homens,
incluindo o recrutamento local, enquanto os guerrilheiros não passariam dos
7000 (mais uns 2000 milícias).
Deve
realçar-se, ainda, que os órgãos principais de comando e da logística, de início,
se situavam em Lourenço Marques, a 2000Km do terreno onde se desenvolvia a
guerrilha e que o Niassa distava 800 km da costa, o que tinha efeitos diversos
no desenrolar
das operações. O mesmo se podendo dizer do facto da esmagadora maioria
da população branca se encontrava estabelecida entre a capital e a Beira, ou seja
nunca sentiu a guerra. Além do que estavam muito influenciados pelos regimes da
RAS e da Rodésia. Esta situação era muito diferente da que se passava em Angola.
Tal
como sucedeu com angolanos e guineenses, também alguns moçambicanos
emigrados em territórios vizinhos, não resistiram à tentação de criar movimentos
independentistas, logo que a ocasião lhes pareceu favorável.
O
primeiro a surgir foi a Associação Nacional Africana do Moatize, em 1959, no
distrito de Tete, outros se lhe seguiram, que seria ocioso enumerar.
Da
evolução de todos surgiu a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique)
em 1962, cuja presidência foi ocupada por Eduardo Mondlane, funcionário
da ONU, formado numa universidade americana e casado com uma cidadã
branca (de origem sueca), daquele país. Este movimento passou a receber apoio
quer do bloco comunista, quer de organizações americanas, quer ainda de países
nórdicos, com a Suécia à cabeça. Mais tarde veio a receber auxílio da China, via
Tanzânia. À semelhança de todos os outros movimentos independentistas que lutaram
contra a presença política de Portugal em África, também a Frelimo sofreu de
graves convulsões internas, que vieram a resultar entre muitos outros, no assassinato
de Mondlane, em 3 de Fevereiro de 1969.
A
sede da Frelimo situava-se em Dar-es-Salam, capital da Tanzânia e dispunha
de delegações em vários países como a Argélia, o Egipto e a Zâmbia.
O
outro partido que conseguiu desenvolver alguma actividade de guerrilha em
Moçambique, foi a Coremo (Comité Revolucionário de Moçambique), entre 1965 e
1967, no noroeste do distrito de Tete.
A
partir de 1961, Moçambique passou a tomar medidas preventivas antecipando
o início da subversão. Deste modo foi reforçado o dispositivo militar, a instrução
das tropas, desenvolveu-se o serviço de informações e a acção psicológica e
começou a organizar-se aldeamentos em auto-defesa.
A
subversão violenta ficou marcada pelo ataque da Frelimo ao posto do Chai (norte
do distrito de Cabo Delgado), a 25 de Setembro de 1964.
*****
Quando
as operações militares terminaram as forças portuguesas tinham sofrido um
total de 8831 mortos, 8290 do Exército, 346 da FA e 195 da Armada. Feridos e mutilados
contam-se 27.917.
Dos
mortos, 357 pertenciam às tropas “Comando”, não devem ser esquecidos!
Não
existem números, sequer aproximados, quanto a guerrilheiros mortos, feridos ou
capturados, e penso que nunca irá haver.
A
União Indiana nunca, até hoje, revelou as suas baixas durante a invasão de Goa, Damão
e Diu, acção que vitimou 25 portugueses.
CONCLUSÃO
“A
guerra é de facto uma coisa má. Mas existe algo ainda pior do que a guerra: é perdê-la”
Do
autor
Portugal
sofreu entre 1954 e 1974 o maior ataque à escala mundial – o que implicou
uma estratégia global de resposta - como já não assistia desde a Guerra da Restauração
(que agora querem apagar da memória colectiva ao proporem o fim do feriado
no 1º de Dezembro…).
Tal
ataque, nada teve a ver com questões de Regime Político ou de situação político-social
em Portugal.
A
Nação portuguesa combateu vitoriosamente em três teatros de operações distintos;
a milhares de km da sua base logística principal, que era a Metrópole, apenas
com as suas forças, sem alianças militares, sem generais ou almirantes importados
- o que já não acontecia desde Alcácer Quibir.
E
isto sem alteração de ordem pública, disrupção das actividades económicas ou
sociais, ao passo que se obtinha um crescimento económico na Metrópole como em
nenhuma outra época e se fez mais no Ultramar do que nos quatro séculos anteriores.
Foi
a melhor campanha que os portugueses fizeram desde os tempos do grande
Afonso de Albuquerque e nós em vez de nos orgulharmos disso, apoucamo-nos!
Só
não conseguimos fazer frente à força bruta da União Indiana, pela desproporção
dos meios em presença e pelo pouco empenhamento dos nossos aliados.
Tal configurou uma agressão militar execrável, que a Moral, o Direito e a convivência
entre os povos condena.
Mas
o direito da força não conferia a força do Direito, que nós alienámos em 1975,
quando um governo português, numa acção que nada justificava, reconheceu “de
jure”, aquela ocupação “manu militari”. De qualquer modo Portugal conseguiu resistir
a todas as malfeitorias indianas durante cerca de 14 anos. Não foi coisa de somenos!
SINTESE
FINAL
Foi
pois para fazer face a este ataque que as FAs Portuguesas, num esforço formidável
e extraordinário, tiveram que se adaptar às diferentes condições da luta.
É
neste âmbito que surgem as forças especiais e, entre elas, os Comandos.
Recorda-se
que as primeiras forças que se podem considerar “especiais”, foram
os sapadores de assalto, na engenharia militar, ainda nos anos 40 (1941), com os
ensinamentos obtidos na IIGM.
Destes
ensinamentos veio a resultar, também, a criação do Batalhão de Paraquedistas,
que apenas a relutância do Exército relativamente a estas forças, fez com
que eles fossem incorporados na Força Aérea.
Na
iminência da ocorrência de distúrbios nas parcelas africanas e com o que se
foi aprendendo nas guerras da Argélia, Malásia e Quénia, foram preparadas companhias
de caçadores especiais, cujo conceito foi abandonado pouco tempo após a
subversão ter ocorrido em Angola.
A
própria Armada cedo reconheceu que para o seu empenhamento nas operações
de contra - guerrilha, necessitava de uma força de intervenção em terra tendo,
logo em 1961, ressuscitado os fuzileiros, de que fizeram os herdeiros do Terço
da Armada que remontava ao século XVII (1621) e estivera adormecido durante
cerca de dois séculos.
Ora
o Exército, ramo sobre o qual repousava a responsabilidade do maior espectro
de operações nas zonas afectadas pela guerrilha, era o único que não dispunha
de verdadeiras forças especiais (que hoje em dia alguns autores não consideram
“especiais”, mas de recrutamento especial…). Essa necessidade foi sentida,
com alguma premência, em Angola, tendo a iniciativa e o apoio surgido entre
oficiais em serviço nesse território.
Assim
surgiu o primeiro centro de “Comandos”, em Zemba, em 1962, que ora comemoramos
o 50º aniversário. Em boa hora o fazemos e em boa hora eles foram criados.
Da
sua relevância operacional e táctica já outros falaram, ou irão falar. Resta-me
tentar chamar a atenção para a importância que as tropas especiais, no seu conjunto,
tiveram no sentido em que ultrapassaram a mais–valia operacional e táctica
para alcançarem uma dimensão estratégica.
Deste
modo a existência de “forças especiais”:
Veio revolucionar muito do pensamento e modo de operar, das FAs em geral e
do corpo de oficiais, em particular;
Permitiu um aumento significativo da capacidade de projecção de poder e de intervenção
nos diferentes cenários possíveis;
Colocou novas ameaças aos países limítrofes aos teatros de operações, que apoiavam
a guerrilha;
Aumentou o temor da guerrilha por via da ameaça que a actuação destas tropas
passou a representar e a sua intranquilidade, pois podiam passar a ser atacados
a qualquer hora, em qualquer local e em quaisquer condições meteorológicas;
Serviu de factor moralizador ao restante das nossas tropas, pela mais – valia que
estas unidades representavam;
Aumentou a apetência dos naturais dos teatros de operações em se alistarem
nas
FAs nacionais;
Melhorava a imagem da Bandeira das Quinas e a coesão militar e social.
FECHO
Não
posso, antes de terminar, de deixar a minha modesta homenagem às tropas “Comando”,
para o que vou pedir emprestado as palavras que a “velhinha” Revista Militar,
lhes consagrou, no seu número de Fev./Mar. de 1994, após uma muito contestada
e algo infeliz tentativa de “racionalização” das FAs (mais uma), em que se extinguiram
o Corpo de Tropas Paraquedistas e o Regimento de Comandos. Dizia assim
e esse dizer diz tudo:
“Ao
Regimento de Comandos, Pelos altos e relevantes serviços à Pátria, Apresentar
Armas!”
1 comentário:
A todos os Comandos Portugueses os meus parabens pelo 50º aniversario e os meus sinceros agradecimentos pelos serviços prestados há Patria tanto na Guerra do Ultramar como no pós 25A, não nos podemos esquecer do Novº de 75.
BEM HAJAM
Antonio Barbosa Ex Alf.Mil Ranger
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