Continuação das mensagens M462, M464, M465 e M485.
O RANGER Lino cumpriu a sua comissão militar em Angola, 1971 a 1974, integrado na CART 3454 / BART 3861 (Companhia de Artilharia 364 / Batalhão de Artilharia 361), nas zonas de Zala e Quinguengue.
Na Guerra do Ultramar, como em todas as guerras, os momentos mais temidos por todos os operacionais eram, sem dúvida nenhuma, o estar de baixo de fogo inimigo.
Um simples deslocação entre dois pontos, em que a dúvida permanente da eventualidade da existência das traiçoeiras e mortíferas, era já, por si só, para muitos combatentes um dos mais graves e compreensivos geradores da doença que se convencionou baptizar como stress pós-traumático de guerra.
Mas também outras situações ajudavam a agravar os sintomas, tal como as saídas para o mato, as patrulhas de rotina e as batidas a zonas suspeitas, a montagem de emboscadas e a participação activa em operações de limpeza de maior ou menor duração, os golpes-de-mão relâmpagos e cirúrgicos a acampamentos e instalações inimigas e os ataques apoiados aos nossos aquartelamentos.
Dizem aqueles Homens mais operacionais que os momentos mais traumáticos, iniciavam-se nas horas, minutos e segundos antes de entrar em acção, devido sobretudo à tensão psíquica - preparação psíquica para o pior (a morte física) -, e tinham continuidade no desconhecimento dos cenários que teriam que enfrentar, combater e eliminar, complementando-se com o perigo e o risco de estar debaixo de fogo inimigo.
Assim, não admira que muitos dos que estiveram na guerra e que na altura saíram aparentemente ilesos das diversas hostilidades, têm vindo a acusar, ao longo dos últimos anos, mazelas que ficaram então "escondidas" no sub-consciente e despertando para essas terríveis, desgastantes e torturantes marcas.
A abertura de novas estradas eram sempre pontos de perigo, pois a estratégia inimiga era atacar os construtores, quer para atrasar o mais possível as obras, quer para destruir o que já estava feito.
Como em todas as obras, no Verão era o pó um grande amigo do nosso inimigo e no Inverno era a lama. À falta de máscaras para proteger do pó recorria-se aos lenços do bolso.
As amizades entre tropas portuguesas (metropolitanas e locais) eram consolidadas no dia a dia e muitas delas tornaram-se eternas
A deslocação em Unimogs (burrinhos do mato), principalmente nas picadas de piso irregular era muito problemática e perigosa, devido à evidente falta de segurança, que muitas vezes apenas dependia do pessoal seguir agarrado uns aos outros. A retirada de todos os apêndices das viaturas (tampais e pára-brisas) era estudado, para evitar o aumento de estilhaços em caso de explosão de uma mina e para permitir a saída mais rápida e menos perigosa das viaturas em caso de emboscada. É de adivinhar que no inverno com a formação de longas manchas e poças de lama nas picadas, a movimentação das viaturas e do pessoal era muito retardada e imensamente penosa
Muitas vezes as colunas paravam ao serem detectados movimentos ou pontos suspeitos no mato e nas picadas
O avanço a corta-mato era muitas vezes a única solução, embora na selva densa se tornasse mais lenta e perigosa, quer pelos perigos apresentados pela natureza (cobras, abelhas, mosquitos, etc.), quer pela maior oferta de máscaras e camuflagem para o inimigo se acoitar
Em muitas das operações era apreendido ao inimigo grandes quantidades de equipamento diverso, evidenciando-se o informativo (mapas, instruções de guerra, cartas, etc.) e outro mais ou menos bélico
Mausers, Simonovs, Kalashnikovs AK-47, canhangulos, facas, catanas, etc. tudo servia para o combate
Mas havia sempre uns momentos para a foto e a boa disposição. Viver a vida com 22/23 anos, num bom ambiente de camaradagem, era mais importante que... passar todo o tempo em preocupação... e SOBREVIVER!
Mini-guião da colecção Carlos Coutinho (2012) © Direitos reservados.
Fotos de Lino Ribeiro (2012) © Direitos reservados.
Mini-guião da colecção Carlos Coutinho (2012) © Direitos reservados.
Fotos de Lino Ribeiro (2012) © Direitos reservados.
1 comentário:
Pira
Continuo na minha
Algo está errado na numeração da Companhia ou do Batalhão.
Não pode ser 361.
CCoutinho
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